Capítulo 6 - Lorenzo
As palavras de Isabella davam voltas na minha cabeça, eu não podia ter me deixado levar daquele jeito. Travis Wayne era um filha da puta, eu já deveria esperar que ele fosse fazer de tudo para me tirar do poder.
Por sorte meu pai não tinha visto nada ou poderia ter tido um infarto e no seu atual estado de saúde não queria nem imaginar o que poderia acontecer.
— Então, sabe quem fez a gravação? — Isabella perguntou e se a situação não fosse tão séria eu estaria rindo.
— Tem ideia de quantas pessoas passaram naquele iate no fim de semana? Eu não conheço um terço delas.
Isabella sacudiu a cabeça inconformada e fechou os olhos por um minuto respirando fundo. Ela estava realmente irritada, parecia capaz de matar alguém se fosse preciso. Mas não deixava de ser sexy, com toda a sua fúria.
— Deixei um e-mail pra você, chegou a ler? — Neguei com a cabeça. — Olha só eu quero fazer isso funcionar e não por você, porque eu não poderia me importar menos! Mas pelo seu pai, que é uma pessoa maravilhosa e não merece esse desgosto. Então a partir de agora vai ter que entrar na linha, eu e você vamos ter uma longa conversa depois do expediente, vou te colocar a par de tudo.
Eu queria poder dizer que não precisava dela, que iria me virar sozinho, mas tinha ficado claro que não ia dar certo. Passei tanto tempo curtindo a vida que havia me esquecido como era aquela vida corporativa.
— Por que não fazemos isso agora?
— Porque você tem uma reunião em vinte minutos! — Isabella gritou aumentando ainda mais minha dor de cabeça. — Aposto que nem se dignou a olhar a própria agenda, ou a ler qualquer um dos papéis que te entreguei na sexta.
Mais uma vez ela estava certa, fiquei mais ocupado em me enturmar com as pessoas da diretoria, como Travis e acabei nessa merda.
Sentia como se cada vez que abria a boca era uma nova declaração da minha irresponsabilidade, apenas para aumentar decepção no olhar dela.
— Ok, esquece isso! — ela exclamou impedindo que eu falasse qualquer coisa. — Vou fazer um resumo verbal, a essa altura não confio que vá ler qualquer coisa.
— Eu ainda sou seu chefe, sabia? — Me sentei na mesa voltando a massagear as têmporas. Como uma cabeça podia doer tanto assim?
— Não por minha escolha! — A garota era desbocada mesmo, ela se afastou indo até o banheiro dentro do escritório e aproveitei para desenhar seu corpo com os olhos, a calça social que usava marcava bem a bunda arrebitada, quase como um convite sensual quando ela rebolava. — Mas se o senhor Bianchi o colocou aqui é porque tinha ao menos um pouco de fé em você, então vou me apegar a isso.
Ela colocou duas aspirinas e um copo com água na minha frente, então se sentou na cadeira à minha frente começando a resumir o assunto que seria discutido na reunião.
A mulher era uma força da natureza, eu tinha que admitir e não apenas na beleza. Isabella sabia bem como tomar as rédeas da situação. Agora eu entendia porque meu pai tinha escolhido ela para ser minha secretária.
Vinte minutos depois eu estava pronto para subir até a sala de conferência, me sentia confiante com toda a conversa que tivemos e torci para que não fosse um total fracasso.
— Você vem comigo? — murmurei pegando as pastas na mesa e me encaminhando para a porta.
— Na... não. — ela gaguejou pela primeira vez parecendo surpresa com algo que saia da minha boca. — Eu não participo de reuniões.
— A partir de hoje sim! Essa é uma das suas funções e não abro mão da sua companhia.
Não era apenas uma exigência por temer que me perdesse na reunião, mas também porque ela tinha se esforçado para que acontecesse, pois se dependesse de mim teria cancelado todos os compromissos do dia.
Ela me encarou por um tempo, mas quando se deu conta que eu não iria ceder finalmente aceitou.
Estar dentro do elevador com ela novamente era quase tentador demais, mas continuava pensando em tudo o que ela me disse, precisávamos decidir quais novos investimentos seriam a nossa prioridade nesse momento.
— Boa tarde, senhores, me desculpem fazê-los esperar! — falei entrando na sala e avistando todos os rostos ali presentes, até que meus olhos focaram nele.
Travis sorriu para mim, acenando como um belo filho da puta, antes que eu fizesse ou dissesse qualquer coisa senti uma cutucada nas minhas costas e continuei até sentar em minha cadeira.
— Bem vamos começar. — John puxou dando início a reunião, eu o conhecia desde o começo da empresa, depois do meu pai ele era o mais velho que continuava na ativa.
— A senhorita Evans ainda está aqui...
— E vai continuar! — interrompi aquele pedaço de merda, Travis, já não estava feliz por ter que encará-lo. — A partir de hoje a senhorita Evans vai fazer parte de todas as reuniões e qualquer um que tenha um problema com isso pode falar diretamente comigo.
— Com todo respeito, senhor, ela não faz parte da diretoria e pode acabar colocando nossos futuros acordos em risco. — Eu não me lembrava bem o nome dele, tinha a impressão de que era Mitchell.
Não me importava o nome dele naquele segundo, mas sim o que ele falou e o olhar de desdém sobre Isabella.
— Está insinuando que ela venderia informações para nossos concorrentes, Mitchell?
— É Michael senhor e hã... de certa forma sim, ela pode se beneficiar do que discutimos aqui. Foi por isso que mudamos a politica da empresa, as secretárias executivas não participam mais de reuniões dos acionistas.
Ela estava sentada perto da porta de entrada, quase como se quisesse se esconder e agora eu entendia o motivo, assim como o porquê de ter sido tão relutante em participar.
— Assim como poderia ter se beneficiado com as informações que ela sempre lê em todos os relatórios antes de entregar ao meu pai e vejam só, ela tem feito isso por dois anos já. Ou poderia se beneficiar vendendo informações pessoais de qualquer um aqui dessa empresa. — Não consegui segurar minha língua, foi mais forte que eu e precisei alfinetá-lo. — Mas ao invés disso a senhorita Evans tem cuidado muito bem dessa empresa e de todos os segredos que poderiam ser escandalosos demais para a imagem da empresa. Então eu sugiro que a passem a ter mais respeito por ela!
Eu vi o momento que ela abriu a boca em choque e nossos olhos se encontraram, mas rapidamente voltou a unir os lábios vestindo a máscara de naturalidade.
— Podemos prosseguir, senhores? — Dessa vez nenhum deles discordou de John, mas eu senti o olhar de raiva de todos eles, era como se a energia de ódio pudesse ser sentida.
Ficamos ali por mais tempo do que eu esperava, todas as vezes que eu apoiava ou discordava de algo a maioria fazia questão de ir para o caminho oposto, nos obrigando a ficar ali girando em círculos só para voltar depois no mesmo assunto.
Eu tinha plena noção que estavam fazendo aquilo de propósito.
— Os japoneses vão estar aqui na semana que vem. — John falou finalmente puxando um assunto que todos concordaram. — Eles estão dispostos a ouvir nossa nova proposta.
— Já está na hora de fecharmos esse acordo. Travis vai almoçar com eles na segunda-feira para amaciar as feras e na terça teremos a nossa reunião. — Foi Wilson que deu por concluído o assunto, com um sorriso vitorioso que eu estava prestes a arrancar.
— Estou ansioso para segunda, confiante que dessa vez faremos negócios.
Deixei que comemorassem por alguns minutos, fazendo planos, Isabella revirou os olhos deixando claro que ela também não compactuava com aquilo nem por um segundo.
Pois éramos dois, se Travis acreditava que ainda estaria à frente de qualquer acordo que fosse fechado de agora em diante, ele estava redondamente enganado.
— Infelizmente terei que corrigir os senhores — me pronunciei fazendo o silêncio voltar a reinar na sala, até mesmo a ruiva se endireitou, ficando atenta. — Eu me encontrarei com os japoneses na segunda-feira...
— Mas o senhor não está a par de todas as negociações que venho tentando fazer há meses! — Travis me interrompeu, o rosto branco agora estava ficando vermelho aos poucos.
— Você disse bem, vem tentando há meses e não conseguiu nada! — rebati semicerrando os olhos em sua direção e tentando ignorar o sorrisinho de Isabella. — Está na hora de uma nova abordagem e de conseguir resultados, tenho certeza que você vai entender, amigo. — Deixei o deboche transbordar em cada palavra. — Acho que essa reunião acabou, se me dão licença tenho outros assuntos pra resolver fora daqui. Tenham um ótimo dia, senhores.
Me levantei sendo seguido pelo olhar de todos, com toda certeza meu pai estaria ouvindo uma série de reclamações ao meu respeito antes do fim do dia. Andei para fora dali com Isabella ao meu lado, agora ao menos havia um pequeno sorriso em seus lábios, um avanço comparado ao que foi o começo do nosso dia.
— É parece que tem mesmo uma veia italiana escondida aí dentro. — a ruiva murmurou com sarcasmo quando finalmente entramos no elevador.
— Vai descobrir que tem muito mais italiano aqui do que apenas uma veia!
E eu estava louco para mostrar a ela cada pedacinho meu italiano.