Capítulo 4 - Lorenzo
O ar dentro do elevador estava cada vez mais quente, ou talvez fosse o fato de conseguir sentir o corpo pequeno e delicado contra meu tórax.
Mesmo usando saltos, os cabelos vermelhos batiam na altura do meu peito. Meus dedos coçaram para tocar os fios que pareciam tão macios, mas afastei o pensamento quando lembrei que ela era casada.
Baixei o rosto tentando ter mais um vislumbre das alianças, mas o que vi foi os olhos fechados. Me curvei um pouco e notei que sua boca estava apertada deixando os lábios esbranquiçados.
A pele branca parecia ainda mais pálida, dando mais destaque às sardas espalhadas por seu rosto.
— Está passando mal, Evans?
Segurei seus ombros com medo que ela desmaiasse a qualquer instante, e quando colei nossos corpos ela finalmente ergueu a cabeça, os olhos castanhos focaram em meu rosto e eu procurei por qualquer sinal de que ela estava mesmo mal.
— Não, eu estou bem, não é nada. — Isabella tentou se afastar, erguendo o tronco, mas eu não deixei que ela fosse a lugar nenhum.
Consegui reparar na respiração descompassada e o rubor em suas bochechas, ela não estava passando mal antes, mas agora parecia bem próxima disso.
— Viu o que dá não comer o dia inteiro — meu pai a censurou e seus olhos desviaram rapidamente dos meus, focando no chão. — Você tem que parar com isso e voltar a se alimentar direito.
Ele continuou a repreendê-la e pelo jeito aquilo era algo recorrente. Por que ela não comia normalmente? Tinha algum distúrbio alimentar, ou era aquele tipo de mulher que preferia passar fome a engordar uma grama?
Se reparar nela de longe não fosse o suficiente para dizer o quanto ela era magra, sentir seu corpo assim apoiado contra o meu era a confirmação.
— Prometo que vou comer, Senhor — Isabella respondeu sorrindo e eu desviei meus olhos para os lábios finos e rosados.
As portas de metal finalmente se abriram colocando um fim nos meus pensamentos e na nossa proximidade. As pessoas começaram a sair e ela se afastou no mesmo instante, parecendo com pressa para se livrar do meu toque. Meu pai passou na frente e Isabella se apressou em segui-lo, mas eu circulei meu braço em sua cintura.
— Não queremos que você caia, não é? — falei próximo a sua nuca, voltando a abraçado com ela como se não fosse algo corriqueiro.
A ruiva balançou a cabeça, parecendo inconformada, mas não disse nada, apenas andou rápido com o rosto abaixado. Seguimos em silêncio até o carro, atraindo mais olhares do que eu esperava, não sabia se isso era por estar com o braço em volta dela ou por ser a carne nova ali, o rosto que a maioria deles não conhecia.
— Vamos lá, mocinha, vamos almoçar e conversar sobre o futuro muito promissor que terão! — meu pai falou guiando-a para dentro do carro.
Suas palavras soaram estranhas, quase como se os dois compartilhassem um segredo que eu não tinha ideia. Não duvidaria que meu velho tivesse feito algum pedido inusitado a meu respeito, ele não confiava cem por cento que eu seria capaz de comandar a companhia.
Me sentei logo depois de Isabella e fiquei esperando que meu pai entrasse em seguida, mas tudo o que ele fez foi bater a porta. Encarei o homem enquanto ele dava a volta no carro e se sentava ao lado do motorista.
O que tinha dado no meu pai? Será possível que o medo de sua doença piorar estava fazendo ele agir daquele jeito? Eu não fui o único a notar quão estranho senhor Giovanni estava, Isabella não escondeu o cenho franzido enquanto encarava o banco da frente.
— Há quanto tempo vocês dois se conhecem? — perguntei tentando dar um fim naquele silêncio.
— Já se passou quatro anos, Isa? Por volta disso, mas faz só dois anos desde que ela começou a trabalhar comigo.
— Sim, quatro anos quando nos conhecemos no jantar de natal na empresa. Luke nos apresentou, se lembra?
A voz dela mudou no momento em que falou aquele nome, seja lá quem fosse esse homem mexia com ela, dava para perceber. Só não poderia saber se de uma forma boa ou ruim. Será que era seu marido? Se fosse, ele ainda trabalhava na empresa?
— Ahh, claro! Como poderia me esquecer daquele jantar? — Meu pai balançou a cabeça se virando para nos olhar sobre o ombro. — Luke era um dos advogados da empresa na época.
Eles não disseram qual era a ligação dos dois, mas pelo que eu via só podia ser o marido, já que Isabella começou a brincar com a aliança de forma nervosa.
Ao chegarmos ao Alinea fomos recebidos pela hosts que rapidamente nos levou até a mesa reservada. Papai não parava de falar com a ruiva sobre lembranças daquela época, os dois conversavam como se já fizesse muitos anos e não apenas quatro.
Eu não deveria prestar tanta atenção assim nela, mas foi inevitável não observar tudo o que ela fazia. Iria precisar de uma boa distração de agora em diante, de preferência uma que se parecesse com aquela ruiva.
— Pelo que estudei, estão querendo fazer uma fusão com uma empresa Japonesa. — Joguei as palavras me dirigindo ao meu pai, precisava parar de olhar aquela mulher. — Seria um ótimo negócio para a empresa expandir assim para tão longe.
— Seria, mas estamos tentando negociar com eles há muito tempo demais. Travis até chegou a visitar a sede deles, infelizmente nada do que oferecemos parece do agrado deles.
— Com licença, vou ao toalete. — ela murmurou se levantando e saindo da mesa.
Bastou aquilo para que meus olhos fossem atraídos para a silhueta esguia enquanto ela se afastava rebolando dentro da saia social preta. Seria um martírio trabalhar com uma mulher como ela todos os dias.
— Ela é linda, não é? — A voz do meu pai me fez desviar os olhos no mesmo instante, eu estava sendo mais do que indiscreto.
— Por que o marido dela não trabalha mais para você? — questionei levando o vinho à boca, querendo disfarçar meu interesse na vida da ruiva.
— O marido dela morreu, Lorenzo! — A exclamação fez com que minha garganta se apertasse e o vinho tinto descesse com dificuldade. — Faz três anos e a bambina ainda não superou. Luke era um excelente advogado, mas eu queria que a pobre voltasse a viver.
— Ela é tão nova — resmunguei olhando na direção que ela tinha ido, querendo vê-la novamente.
É incrível como uma pequena informação como aquela te faz ter uma ideia diferente sobre a pessoa, antes era a secretária sexy e casada, mas bastou meu pai dizer aquilo para se tornar a secretária sexy e viúva.
Aquela palavrinha de cinco letras dizia muito sobre alguém.
— Ela é nova e estava se afundando quando ofereci esse emprego a ela, tinha prometido a Luke que olharia por ela caso algo acontecesse.
— Você prometeu a ele?
— Foi em um momento de brincadeira, não levei a sério, mas depois de alguns meses da morte dele eu a encontrei. Eu e sua mãe temos muita consideração pela bambina — Meu pai fez uma pausa, olhando em volta nas mesas, como se quisesse garantir que ela não escutaria. — Ela tinha acabado de ser demitida do museu onde era curadora, nunca tinha trabalhado como secretária e mesmo assim me surpreendeu muito nesses dois anos.
No mesmo instante ela apareceu contornando uma das mesas, desfilando entre as pessoas até nos alcançar. Isabella se sentou sorrindo e meu pai já foi puxando outro assunto, enquanto eu encarava o rosto coberto de pequenas sardas e imaginava aquelas bochechas banhadas de lágrimas, chorando a morte de alguém que ela amava muito.
Agora mais do que nunca eu sabia que precisava me manter longe dela!