Prólogo 1
*Primavera de 2008*
Cássio entra em casa e escuta um choro.
— Lucas? Filho? — Fala Cássio seguindo o som do choro.
— Filho? O que foi? — Lucas abraça o pai.
— Papai eu tô com fome.
— Sua mãe não te deu almoço?
— Não.
— Mais está quase na hora do jantar. Vem vou te dar comida. — Cássio serve o filho.
— Cadê sua mãe?
— Ela bebeu uma garrafa de pinga e foi dormir.
— Tá bom, fica aqui comendo. — Cássio vai para o quarto da esposa.
— Marcela?
— Hummm...
Ele entra acende a luz e fecha a porta.
— Acorda, precisamos conversar.
Ela senta meio tonta devido à bebida.
— O que quer?
— Como teve a coragem de deixar o Lucas sem comer o dia inteiro?
— Ele já tem 9 anos, se vira.
— Bolacha não sustenta e pelo que vi, ele anda comendo só isso. Fiz compras a três dias e não tem mais bolacha.
— Criança se diverte com qualquer coisa. — Ela fala fazendo careta pelo sono.
— Fiz o jantar. Venha comer. — Cássio dá as costas e volta para a cozinha e come com o filho, sabe que Marcela voltará a dormir.
Pretende se divorciar, essa situação em sua vida está insustentável, isso que ela fez foi a gota d'água. Irá conversar com o tio dela.
— Papai, estava muito gostoso.
— Que bom amor. — Se senta com o filho. — Quer mais algo?
— Não, comi bastante.
Após se alimentarem vão assistir tevê. No meio do filme o filho dorme com a cabeça em seu colo.
Pega o garoto e o leva para o quarto, volta para a sala e olha a tevê sem prestar atenção. Chora em silêncio, como tanto amor se transformou nisso? Amou tanto a Marcela, agora nem do filho mais ela quer cuidar.
Sua vida é beber e fica jogada pelos cantos da casa. Como se não bastassem as fofocas que está tendo na cidade, de que sua esposa está dormindo com todo mundo.
Marcela não o procura tanto quanto antes e ele nem faz questão. A última vez que ela tentou fazer amor com ele foi semana passada, Cássio a negou, como vem fazendo há muito tempo.
Ele se casou para ambos fazerem amor entre si, não com a cidade toda. Ainda essa semana irá pedir para ela ir embora.
Mais antes vai contratar advogados e contar o que anda acontecendo, não quer perder a fazenda por um casamento infeliz e uma mulher adúltera.
Cássio ainda é jovem só tem 24 anos com um filho de 9, vai pedir ajuda para a mãe cuidar do filho enquanto não acaba o processo do divórcio, não quer seu filho sofrendo mais.
No dia seguinte de manhã cedo, Rodrigo vai procurar o Cássio.
— Patrão, o senhor pode me dar uma carona para a escola?
— Claro, já estou indo levar o Lucas. O Alexandre não vai hoje?
— Não, como só ele tem idade e habilitação fico dependente.
— Quando precisar eu os levo para a escola, mais quero que se matricule na auto escola assim que fizer, irei precisar que dirija às vezes. Dito, Benê e Daniel também vão?
— Sim, estão vindo.
Cássio contratou todos para trabalhar com ele, são menores de idade mais não fazem serviço pesado.
O serviço deles foi consentido pelos pais. Rodrigo está como Capataz desde ano passado hoje tem 19 anos. Dito tem 16 e Benê 15, Daniel tem 12 anos está com Cássio a poucos meses, desde que os pais faleceram.
Eles estudam de manhã e trabalham metade do dia. Cássio é como se fosse o paizão de todos.
São amigos desde muito crianças. Cássio leva todos para a escola, chegando na cidade os meninos percebem que Mariza ainda não chegou.
— Patrão, sempre nos reunimos antes de entrar. Mariza não está aqui. — Fala Dito.
— Entrem vou buscá-la. — Cássio vai até à chácara Pérez.
— Mariza! — Cássio a chama da porteira.
— Cássio, o que está fazendo aqui? — Ela pergunta surpresa ao vê-lo na porteira.
— Vim te levar para a escola.
— Você veio trazer os meninos hoje?
— Sim, o Alexandre não pôde vir.
— Certo, já vou.
— Obrigada.
— De nada, depois venho pegar vocês.
Cássio a deixa na escola e volta para a fazenda.
Mariza entra alguns minutos atrasada. No intervalo a turma toda se reúne para comer.
Rodrigo e Alexandre são os mais velhos, eles que cuidam do restante da turma.
— Oi amor. — Tatiane cumprimenta o namorado Rodrigo.
— Tati, pensei que tinha faltado. — Fala Rodrigo feliz ao vê-la.
— Cheguei na segunda aula. Acordei atrasada. — Rodrigo dá um selinho rápido em Tati, na escola é proibido.
— Vai comigo para a fazenda hoje?
— Hoje vou ao salão de beleza. Não vai dar, fica para amanhã tá?
— Certo, vou adiantar o máximo meu serviço para ter mais tempo para nós amanhã.
— RS, tá bom.
Dito e Benê não gostam da namorada do Rodrigo, os dois saem de mãos dadas para conversarem depois que comem.
— Cabra. — Fala Dito.
— Quê? — Fala Benê.
— Que você acha da mina do Rodrigo?
— Para mim não fede e nem cheira.
— Porque vocês não deixam a moça em paz? — Fala Daniel. — Eles se amam.
— Mano, não parece que ela gosta dele. — Comenta Dito.
— Eu também percebi isso e você Mariza? Você é garota, vê as coisas melhor que nós. — Fala Benê.
Antes de Mariza responder, Dito fala:
— Para com isso a Mariza só tem 13 anos. Nunca namorou na vida, nem deve ter dado seu primeiro beijo ainda.
Mariza se defende:
— Posso não ter namorado, nem ter beijado ninguém ainda. Mais isso não quer dizer que não sei o que é amar. — Dito e Benê olham com os olhos arregalados.
— E você gosta de quem? — Dito pergunta curioso.
— Podemos saber? — Pergunta Benê, também curioso.
— Não vou dizer, meu amor não é correspondido. É mais um amor platônico.
— Se você quiser nós damos uma forcinha. Quem é o garoto? — Pergunta Dito.
Eles pensam que ela gosta de alguém da idade dela.
— Na verdade, ele já é maior de idade. — Ela fala envergonhada.
— Ixi, então esquece lindinha. Não vamos te ajudar a ficar com alguém mais velho.
— Tá tudo bem, eu sofro de amor platônico a um ano. Não posso fazer nada.
— A um ano que gosta do cara? Rapaz! — Fala Benê.
— Mudando um pouco de assunto. Alguém sabe porque o Alexandre faltou? — Pergunta Daniel.
— Rodrigo disse que aconteceu algo com os pais dele. Mais não sabe o que. Depois da escola nós vamos lá. — Fala Dito.
— Quero ir com vocês. — Fala Mariza.
— Depois a gente te conta. — Fala Benê.
— Somos amigos todos ou não? Alexandre também é meu amigo e vou com vocês. — Fala Mariza, decidida.