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Capítulo 4 - Inquietação

Liam

Eu não consigo entender o que está acontecendo com Marta ultimamente. Ela parece estar cada dia mais estranha e até mesmo com raiva de mim. Eu sei que não sou um chefe fácil de lidar, mas isso não justifica essa mudança de comportamento, afinal, ela já trabalha comigo há mais de cinco anos.

Pensava sobre isso quando Caíque entrou na minha sala sem ser anunciado e logo Marta estava atrás dele, preocupada com a minha reação, como já aconteceu outras vezes.

— O que está fazendo aqui, Caíque? — Perguntei furioso, ficando de pé por trás da minha mesa — Essa sala é minha e você não pode entrar aqui sem a minha autorização.

Caíque não demonstrou preocupação alguma com as minhas palavras, sentando-se na cadeira em frente a mesa e cruzando as pernas sobre o tornozelo com tranquilidade. Ele demonstrou estar bastante à vontade.

— Por pouco tempo, meu caro.

Eu encarei o meu primo sem conseguir entender o que ele estava tentando insinuar com aquela frase, e quando o questionei, ele respondeu com grande satisfação.

— Tenho certeza de que você sabe sobre o que eu estou falando — Caíque usou de grande cinismo para falar comigo — Afinal, você não atendeu às condições impostas pelo tio Frederico e a empresa será minha em breve.

— Primeiro ponto — Comecei a enumerar nos dedos, raiva me consumindo — Eu ainda tenho dez dias para cumprir a exigência de meu pai. Segundo ponto: A empresa não será sua caso isso não aconteça. Você apenas será o presidente da companhia.

Caíque soltou uma risada sarcástica.

— Serei presidente e você não será nada, além do filho do dono. Nem mesmo poderá trabalhar aqui.

A verdade contida nas palavras de Caíque me incomodaram, mas eu não iria deixar que ele percebesse que conseguiu me atingir. Eu mantive minha postura arrogante e desdenhei do que Caíque estava dizendo.

— Você acha mesmo que eu me importo com isso? Essas condições absurdas impostas pelo meu pai não significam nada para mim. Eu farei o que eu quiser e ninguém poderá me impedir.

Caíque sorriu de forma provocativa, como se soubesse algo que eu não sabia.

— Ah, Liam, você sempre foi um tolo. Acha mesmo que pode desafiar a vontade do tio Frederico? Não seja ingênuo. Ele tem um plano, e você não está seguindo as regras.

Aquelas palavras me irritaram profundamente, mas tentei manter a calma.

— Eu não vou me submeter a nenhum plano ou chantagem.

Caíque se levantou, me encarando com um olhar de superioridade.

— Você pode até pensar assim, mas a verdade é que você sempre viveu à sombra dele. E agora, está prestes a perder tudo o que acredita ter conquistado.

Aquelas palavras atingiram em cheio meu orgulho, mas eu não deixei transparecer. Mantive a postura altiva e o olhar desafiador.

— Veremos quem sairá vitorioso no final. Não me subestime.

Caíque deu de ombros, como se tudo aquilo fosse apenas um jogo divertido para ele.

— Quero a minha sala livre em dez dias.

Ele se retirou da minha sala com um sorriso de satisfação, deixando-me com um misto de raiva e preocupação.

Quando Marta veio até a minha sala alguns minutos depois, eu ainda estava com o sangue fervente pela raiva que senti do Caíque, então, ao ver a expressão de desagrado no rosto da minha secretária, decidi colocar um ponto final naquela situação de uma vez por todas.

— Marta, o que está acontecendo? Não entendo o motivo de toda essa raiva repentina. E não me venha com desculpas tolas.

Marta me encarou com um brilho de determinação e percebi naquele instante que agora ela me dirá a verdade. Não estava enganado, logo constatei.

— Eu não entendo como o senhor pode ser tão duro e cruel com uma pessoa que não fez absolutamente nada de mal — Marta disse de maneira audaciosa.

— Está falando sobre a garota da limpeza? — Perguntei com grande surpresa.

— Cecília. O nome dela é Cecília, senhor — Marta me corrigiu — Ela é uma jovem humilde que realmente precisava do trabalho. Saiba que o padrasto dela ameaçava expulsá-la de casa, se ela não ajudasse com as despesas.

— Acredito que isso tenha sido apenas uma ameaça vazia, Marta — falei com fingida tranquilidade — Você está sendo dramática.

— Não foi uma ameaça vazia! — Ela protestou com veemência — Eu fui até a casa onde ela morava com a família e o padrasto realmente a expulsou. Ela não tinha economias, nem mesmo um aparelho celular ela tinha, senhor. Eu a chamei para morar na minha casa, mas Cecília não aceitou. Agora não tenho a menor ideia de onde ela possa estar.

Marta pareceu genuinamente preocupada com a garota. Seus olhos estavam a um passo de derramar as lágrimas neles acumuladas. Confesso que até mesmo eu consegui perceber o quanto fui insensível em minhas ações.

As palavras de Marta ecoaram em minha mente, despertando um sentimento de culpa e remorso.

— Espero que você consiga encontrar a sua amiga, então — Falei, fingindo voltar a minha atenção para o computador e dispensando Marta de maneira arrogante.

Marta entendeu a minha intenção e saiu da minha sala após me lançar um olhar de desânimo, os ombros caídos, como se o peso do mundo estivesse sobre eles. É realmente admirável a amizade dela pela garota.

Depois que Marta saiu, eu me peguei imaginando onde a garota poderia estar e se está passando por dificuldades tão sérias como Marta acredita.

— Ah, era só o que me faltava! — Eu me repreendi em voz alta, odiando essa sensação estranha no meu peito.

Eu já tenho um grande problema para resolver e não posso perder tempo pensando nos problemas dos outros. Mesmo assim, a imagem de Cecília sendo expulsa de casa e recusando a oferta de Marta para morar com ela continuava a insistir em permanecer na minha mente. Voltei a concentrar-me no trabalho, tentando afastar os pensamentos intrusivos. Contudo, uma mistura de inquietação e desconforto me incomodava.

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