Capítulo 8
Bianca Almeida
Estou no escritório da casa do Sr. Brewer, neste momento estou sozinha e no caminho para a casa da sua família tomei liberdade em mandar uma mensagem para minha melhor amiga para preparar meu funeral. Claire conseguiu o papel que tanto sonhou, sendo um teatro da Broadway a sua rotina mudou completamente. Fico muito feliz pela minha amiga, mas confesso que sinto sua falta. Ela saberia muito bem como sair dessa encrenca que me meti ou agora estaria na cadeia, segunda opção é bem provável.
No banco de trás as crianças ficaram quietinha, Pedro sentou entre mim e a Danielle, Lilia sentou no meu colo. Percebi quando Christopher olhava para nós pelo retrovisor. Agora estou em um escritório sombrio na espera do meu chefe. Margot não fez questão de me olhar quando chegamos na casa da família Brewer, não posso arrumar problema com essa mulher. Talvez esteja com Christopher agora para decidi minha sentença. A porta é abre e dou um pulinho, me assustando.
— Não sabia que te causava tanto medo assim. — Não existia aquela agressividade na voz dele como antes.
— Não é medo. — Me arrumo nessa cadeira que vale mais que meu salário. — Estava distraída em meus pensamentos…
Christopher fica na minha frente, apoiando seu corpo na mesa e cruzou os seus braços. O tecido do seu terno se contrai em seus braços, os movimentos não passam despercebido por mim e me xingo mentalmente virando meu rosto. Já estive nesses braços antes… Droga, Bianca! Não vai por esse caminho.
— Cuidado com os pensamentos, não tolero distrações. — Olho para ele. — Sei que está jogando um jogo de cumplicidade com meus filhos, o que me intriga e não nego. Quais são seus planos, Bianca?
Me faço de desentendida. Christopher que me intimidar, preciso do meu emprego, mas não abaixo minha cabeça para ele.
— Meus planos são manter meu emprego, cuidar daquelas crianças e manter o pai delas tranquilo. — Dou meu melhor sorriso. — Sabendo que estão em segurança.
— Minha menininha que faz balé socou a cara de uma criança mais velha que ela…
— Ela protegeu o irmão com unhas e dentes! — Dou um soquinho ar com um sorriso orgulhoso.
— Meu filho está com o olho roxo…
— Poderia ter acontecido em um torneio ou na hora da aula mesmo.
— Você esqueceu a Danielle na aula de pintura…
— Ela não ficará traumatizada por causa disso, Christopher. — Reviro os olhos, mas logo me recomponho.
Pode ser impressão minha, mas acho que vi um leve sorriso em seu rosto.
— É me parece que você está muito empenhada na educação dos meus filhos.
— Esse é meu trabalho. — Minha voz não sai com tanta confiança como queria.
Christopher me olha com atenção, e não gosto do seu silêncio. Ele não é o mais falador, mas as poucas palavras me deixa ver como está seu estado de humor.
— Margot queria que demitisse você.
Margot tem que cuida da vida dela.
— Que bom que mudou de ideia…
— Quem disse que desconsiderei essa opção? — Ergue a sobrancelha, arregalei os olhos. Christopher sorri. Ele gosta de causar o desespero nas pessoas. Que homem perverso! — Preciso fazer uma viagem nesse final de semana e não tenho tempo para contratar outra babá.
Suas palavras soo-a como um estalar de dedos na minha cabeça e rapidamente me levanto.
— Sr. Brewer…
— Não se preocupa, pagarei um extra bom para você. — Christopher vai até o mini bar enchendo o seu copo com alguma bebida que não consigo identificar.
— Não é isso…
Christopher dar uma risada sádica.
— Algum encontro amoroso? — O tom soberbo em sua voz começa a me irritar. — Sabe, nessa altura da vida, deveria começar a se preocupar com uma vida mais estabilizada do que com romances sem futuros…
Do que ele está falando?!
— Lilia tem uma apresentação de balé nesse final de semana. — Coloco minha mão na cadeira e aperto com firmeza, não passa despercebido por Christopher que ao perceber volta a olhar em meu rosto. — É importante para ela. Você tem que ir…
— Eu…
— Houve quatro apresentações e você não foi em nenhuma. — fecho em punhos a minha outra mão.
Christopher finaliza o liquido em sua mão sem preocupação alguma.
— E isso te irrita? — diz, um tempo depois. Christopher inclina a cabeça levemente para o lado me analisando.
— Claro!
— Por quê?
Evito o seu olhar me segurando para não dizer umas boas verdades para ele. Não sou eu que devo dizer como ele deveria criar seus filhos.
— Porque é importante para ela. — Lilia não escondeu sua tristeza quando me contou que seu pai não foi em nenhum das apresentações. — Sr. Brewer…
— Christopher. — Me corrige. — Pode me chamar pelo primeiro nome.
Fico surpresa com seu pedido, mas não me distraio, Lilia é o meu foco.
— Christopher é importante para ela a sua presença. — Me arrisco em me aproximar mais. — Lilia é uma das mais elogiada na classe. Tem seus desejos bem alto e não esconde.
Christopher também se aproxima pela primeira vez, não me sinto ameaçada com a sua presença.
— Ela é uma Brewer, há surpresa alguma que seja uma menina ambiciosa. — Olha meus olhos. — Agora não perca seu tempo me dizendo onde devo ou não ir. Saia!
Sua mudança de humor repentina me assusta, mas não demostro. Com um aceno de cabeça sair do seu escritório sem dizer mais nada.
Os dias vão se passando, Christopher viajou a trabalho na quinta a noite. Assumo um compromisso de dormi na mansão da família quanto Christopher viaja, voltando para minha casa no domingo a noite. Não tivemos dores de cabeça nas atividades da semana das crianças, acredito que até eles não queriam problemas por algum tempo.
Não vi Margot nesses dias também, o que é um alívio. Parece que não gosta de mim e posso acabar perdendo meu emprego por causa dela, tenho trocado mensagens com Claire e ela sabe que é por segundas intenções. Queria saber se ela estaria livre no sábado a tarde e fiz com que desmarcasse um encontro. Lilia está empolgada com sua apresentação de balé e eu estou reunindo pessoas para aplaudi-la de pé. A Sra. Molloy ficaria responsável em reservar um tempo para nós em uma casa de jogos voltada para as crianças, é o lugar preferido da Lilia para depois da apresentação irmos para lá.
Tudo estava saindo perfeitamente bem, infelizmente não contaremos com a peça chave. Mas estou dando o meu melhor para não ver aquele rostinho triste.
Finalmente o final de semana chega, a Sra. Molloy ajuda Lilia a se arrumar para a apresentação. Ela está acostumada a arrumar a pequena para esses momentos e resta para eu ir preparar o resto da família. Dou duas batidas na porta do quarto do Pedro, escuto um entre. No quarto encontro um menino quase entrando na televisão quando vira manete para o carro fazer uma curva.
— Pedro vá se arrumar…
— Ah, por quê? — Pergunta sem tirar os seus olhos da televisão.
— Porque a sua irmã tem uma apresentação de balé hoje e…
— Ah, não! Balé é coisa de menininha, eu não vou. — Ele sorri quando consegue atingir alguma meta no jogo, vou até a tomada e puxei, desligando o vídeo game. — Mas o que…
O garoto de meio metro me olha irritado.
— Hoje é um dia importante para sua irmã mais nova, finja que está empolgado e feliz por ela. Mas você vai. — Coloco as minhas mãos na cintura. — Tenho certeza que você terá um momento importante da sua vida do qual vai querer que a sua família esteja por perto. O balé é importante para a sua irmã, então mostre para sua irmã mais nova quanto está feliz por ela.
Pedro suspirou e resmungou algumas coisas que não entendi, mas por fim se levantou e foi para o banheiro no seu quarto se arrumar. Missão 1: ok! Vou até o quarto da Danielle e não fico surpresa ao perceber que a porta está trancada. Ela só faz isso quando o pai dela não está em casa. Bati duas vezes e não tive resposta.
— Danielle…
— Estou ocupada!
Respiro fundo.
— Espero que seja porque está se arrumando.
— Sim, eu estou! — Grita para ser ouvida do outro lado da porta.
Estreito meus olhos, quando falei para ela sobre a apresentação da Lilia, Danielle parecia estar no mundo da lua.
— Danielle…
— Ah, o que foi?! — A porta é aberta com agressividade.
Arregalei os olhos ao ver o estado daquela menina. Batom vermelho em seus lábios é de um tom tão forte que não combina nada com ela, a maquiagem pesada em seu rosto que mais faz parecer uma adolescente de 17 anos revoltada com a vida do que uma garota de 13 anos.
— O que… — Fico sem palavras. Por fim, entrei no seu quarto contra sua vontade. — Ok, limpa esse rosto e se arruma. Sua irmã vai se apresentar daqui…
— Olha, não tenho tempo para isso. — Danielle vai até a sua penteadeira e começa a arrumar suas coisas. — Tenho um compromisso agora e…
— Com seu namorado? — Cruzei os meus braços. Danielle fica completamente parada e para de arrumar suas coisas, ela se entrega tão facilmente. — Não vou começar um discurso agora dizendo o quanto é nova. Você vai tirar essa maquiagem e se arrumar porque a sua irmã tem uma apresentação de balé, e precisa do apoio da família dela.
Danielle me olha com desdém.
— É só uma apresentação idiota…
— Como que você se sentiria se alguém chamasse as suas artes de idiota? Sinceramente não faço ideia quais são os seus planos do futuro, mas vi que tem talento e criatividade nos quadros que pinta. — Tenho uma posição mais séria e mantenho os meus olhos nela. — Imagina você estar em uma exposição com suas artes e não ter ninguém da sua família para te apoiar.
— Sou uma…
— Brewer! É, eu sei, o que adianta um sobrenome se não tem as pessoas que você ama ao seu lado? Pessoas essas que compartilham do mesmo sobrenome que você.
Danielle abaixa a cabeça, pensando em minhas palavras.
— Quer ajuda? — Me ofereço para tirar aquela maquiagem e a se vestir.
Danielle me olha.
— Por que você é tão gentil conosco? — Franze a testa. — Por que se importa?
Porque também tenho problemas na minha família e precisei mudar de país para encontrar minha felicidade, nossos motivos podem ser diferentes, mas sei que sente falta da presença do seu pai, é por isso essa rebeldia toda. Sorri para ela.
— Já fui criança e sei a importância de criar momentos. — Vou até a penteadeira, pegando o lenço umedecido. — Pode não fazer diferença agora. — Fui até ela, limpando seu rosto. — Mas quando crescer ficará feliz de ter criado esses momentos com seus irmãos, não precisa pular certas etapas da sua vida. Passe por cada uma com tranquilidade, a vida já é corrida demais para apressarmos as coisas.
Danielle não falou mais nada e deixou que cuidasse dela. É o nosso primeiro momento em uma paz duvidosa, porque a qualquer momento não ficaria surpresa se ela surtasse. Porém, nós duas nos comportamos e mesmo em silêncio.