Capítulo 7
Bianca Almeida
Estamos no hospital. Bem, antes o hospital do que a delegacia. A mãe do Fernandinho surtou quando a Lilia deu um soco no olho do seu filho, então precisei agir. Fingir tropeça na calça e cai batendo o braço no chão sem dar um grito bem exagerado. Pedro acordou em um segundo e veio até mim desesperado, nunca vir esse menino tão desestabilizado. Lilia pareceu, o motorista também e logo um monte de gente. Virei a palhaça no final de treno? Sim, mas evitei uma discussão com a mãe do Fernandinho.
— Você não deveria ter feito…
— Te ajudei bobão! — Lilia estava irritadíssima, nunca a vi assim.
— Olha a boca. — Corrijo-a.
Estou com o braço todo arranhado e meu tornozelo doendo. Meus cálculos foram piores do que o imaginado e me machuquei muito.
— Que vergonha! — Pedro passa a mão pelo rosto de um jeito dramático. — Que vergonha! Fui defendido pela minha irmã mais nova, CINCO ANOS e tenho uma babá maluca.
— Ei! — Me senti ofendida.
— Mal-agradecido. — Lilia cruza os seus braços e passa a ignora seu irmão.
Posso ter nos livrado de uma dor de cabeça com a mãe do Fernandinho, todos pareciam bem preocupados comigo, mas tinha que ter pego a Danielle e não consegui falar com ninguém para dizer que parei no hospital. Por que a cada dia é como se fosse o último nesse emprego? Apertei o botão para chamar o elevador, Lili parecia super concentrada em ignorar o seu irmão e Pedro estava bem concentrado em não gostar de nós duas. Quando as portas do elevador se abriram foi como se a minha alma saísse do meu corpo. Christopher, Danielle e uma mulher ruiva estavam dentro do elevador, o olhar de Christopher parecia me queimar viva. Engolir em seco.
— Meu Deus! Você está bem? — A ruiva veio abraçar Pedro e Lilia, mas quando viu o olho de Pedro ficou assustada. — Querido, o que aconteceu com seu olho?
Pedro não falou nada, ele parecia acuado na presença da mulher. Danielle não perde tempo e se aproxima rapidamente de seus irmãos, mesmo ainda estando perto deles percebo que os três não estavam confortáveis. Quem é essa mulher?
— Três dias. — A voz de Christopher chama minha atenção. — Em três dias foi o suficiente para esquecer a minha filha em uma de suas aulas, o meu filho se meter em confusão e a minha filha mais nova socar a cara de alguém. Lilia nunca bateu em ninguém. — Sua voz grave e severa me faz tremer, não consegui disfarçar.
Queria correr em vez de estar na presença desse homem. Christopher é mais alto do que eu, era preciso erguer meu rosto para olhar em seus olhos, o tom de castanho escuro do seu olhar chega a brilhar de raiva.
— Quanta imprudência! Você deveria cuidar deles. — A ruiva me olha do mesmo jeito que Christopher. — Sua demissão é pouca. Christopher acaba logo com a vida dessa mulher e eu mesma iria assumir os cuidados dos pequenos. Deveria ter feito isso a muito tempo.
Christopher abaixa a cabeça passando a mão pelo cabelo.
— Não é responsabilidade sua Margot…
Margot coloca a mão no braço de Christopher, suavizando o olhar e a sua voz.
— Estou fazendo pela Amanda. — A menção desse nome faz com que Christopher olhe para Margot. — Já conversamos sobre isso antes. Sabemos do que os seus filhos precisam.
Olhei para as crianças que tinham os olhos levemente arregalados, pareciam preocupados e, ao mesmo tempo, tentando esconder suas emoções. Lilia olha para mim e nega com a cabeça, seus olhos marejados. Danielle aperta o ombro da irmã mais nova e Lilia abaixa a cabeça. Tem alguma coisa acontecendo, olhei para Pedro. Ele abaixou a cabeça e abraçou Danielle pela cintura. Respirei fundo, não posso e não devo arranjar problemas com essa Margot. É óbvio que ela é uma pessoa próxima da família, Christopher confia nessa mulher e é mais do que nítido que as crianças não estão bem na presença dela.
Mas não são os meus filhos. Estou com eles há apenas três dias. Daqui a alguns segundos seria demitida. Seguirei a minha vida procurando outro emprego. Margot aproveita esse momento de conversa com Christopher e se afasta um pouco continuando a conversa, seja lá qual, seja os planos para o futuro. As crianças não estão tão distantes de mim, me abaixo olhando para eles.
— Olha, farei uma única pergunta e espero que me responda com sinceridade. — Olhei para cada um. — Vocês gostam da Magort?
— Não. — Pedro e Lilia dizem ao mesmo tempo.
— Ei… — Danielle repreende os irmãos.
— Dani, ela se jogou no chão e fez escândalo igual uma criança na frente de todos para evitar mais confusões com a mãe chata do Fernandinho. — Pedro olha para irmã mais velha com um olhar suplicante. — Prefiro ela do que a Tia Margot.
Lilia puxa a mão da Danielle.
— Não quero a Tia Margot conosco, Dani. — Lilia abraça a irmã. — Não quero ir embora.
Estranhei a última frase, mas não digo nada e continuo olhando para eles. Danielle fica pensativa e me olha.
— Ok, qual é o plano?
Sorri.
— Me abraçam e fingem que estão tristes com a minha possível demissão. Sei que vocês vão conseguir fingir muito bem. — eles conseguem ser um amor perto do pai e consegue ser uns pestinhas longe dele. — Pedro, você vai ter que contar sobre as implicâncias desse Fernando com você. Não pode ser o saco de pancada desse garoto.
Pedro concorda. Todos estavam concordando, o que me fez me questionar o quão víbora essa Margot deve ser para eles concordaram tão facilmente assim. De repente, Pedro e Lilia me abraçam bem forte. Já estão colocando o plano em ação.
— Não quero que você vá embora. — Lilia choramingou.
— Desculpa, Tia Bianca. — Pedro se afasta. — Não queria te colocar em confusão.
Pedro olha para trás de mim e os seus olhos brilhavam. Me levanto.
— Sei que não sou fácil de lidar, mas sentirei a sua falta. — Danielle me abraça, beijei a cabeça dela.
Estou impressionada com tamanha atuação dessas crianças. Me afastei com um sorriso triste no rosto, preciso atuar também. Quando eu me viro para falar com o Sr. Brewer, Pedro fica à minha frente.
— Papai, desculpa. — Abaixou a cabeça. — O Fernandinho vive mexendo comigo e nunca consigo me defender, ele me bateu hoje.
— Papai, você me ensinou que devemos proteger uns aos outros. — Lilia fica ao lado do irmão. — Fiquei com muita raiva que o Fernandinho bateu no Pedro de novo, então fui lá em bati nele também. Sei que não foi certo papai e vou pedir desculpas para ele.
Christopher e Margot estavam chocados com tudo que haviam visto e com que as crianças falavam.
— Eles abraçaram ela? — Christopher perguntou em um sussurro, desacreditado.
Margot estava do mesmo jeito. Dona de um belo corpo, um cabelo ruivo que vai até a altura da cintura e usa roupas elegantes, olhava para as crianças como se fosse ETs.
— Sim… eles abraçaram ela. — Sussurra em resposta.
Percebendo que não havia visto coisas, Christopher endireitou seu corpo arrumando o terno em seu corpo.
— Tem alguma coisa para dizer também Danielle? — Prendi a respiração, já está forçando a barra demais. — Seus irmãos estão bem comunicativos hoje, minha filha. Você é a mais velha e a confidente deles, é verdade o que estão dizendo?
Danielle dá um passo à frente e concorda. Sem hesitar. Acredito que ela tenha confirmado, mas pelo que Pedro vem sofrendo na aula de karatê e não por me manter no emprego. É bom ver que seus irmãos têm a sua lealdade.
— Sim, pai.
Christopher agora me olhava com atenção em silêncio. A mulher do seu lado estava completamente sem palavras, ao contrário de antes que estava disposta a acabar comigo.
— Vamos para casa. — Christopher fala sem tirar seus olhos de mim. — Temos muito com o que conversar.
Fico feliz ou não?