Capítulo 1
A vida é uma caixinha de surpresa com uma grande reviravolta. Nunca imaginei que a minha vida em Nova York fosse se tornar essa grande bola de neve de uma hora para outra, ou as coisas estavam tão explícitas que preferi simplesmente ignorar? O fato é que preciso de emprego o mais rápido possível, não estou feliz em estar endividada e podendo ser deportada para o Brasil. Quando fui demitida, achei que encontrar um emprego fosse mais fácil do que eu esperava. Calma, não fui demitida. A empresa faliu. Faz dois anos que estou em Nova York e assim que cheguei conseguir um emprego em uma lanchonete no centro.
O lugar era bem movimentado e nunca passou pela cabeça de ninguém que um dia aquela lanchonete fosse falir, também não imaginávamos que um dos sócios roubaria toda a grana e iria embora para Bahamas com a sua amante. Como havia falado, a vida é uma caixinha de surpresa.
— Olha, eu estou cansada de ouvir as suas amarguras. — Claire diz do outro lado da linha. — Vamos lá! A vida é bela e você precisa curtir mais.
A vontade de revirar os olhos era tão grande e mesmo assim não fiz. Claire Benítez, uma linda mulher loira, com corpo esbelto e olhos azuis, conseguia sempre ver a vida da melhor maneira possível. Ela também não é dos Estados Unidos, uma Argentina que largou tudo que tinha para correr atrás dos seus sonhos e eu só queria um lugar novo e uma vida nova longe de todos que um dia conheci. Eu com o passado triste e ela irradiando felicidade por onde passa.
— Claire, você está voltando para casa? — Vou até a geladeira e pego a garrafa d'água. — Precisamos passar no mercado e pelo que eu me lembre você tem uma entrevista…
— Ah, sobre isso… — Ouço som de buzina e gritarias no fundo. — Estou nesse exato momento em um táxi seguindo o caminho para Broadway. — Claire cantarolou a palavra Broadway.
Parei no meio da cozinha com a garrafa em mãos. E a chamada está no viva voz, estou praticamente gritando na casa para poder me ouvir. Dividimos um pequeno apartamento, então acredito que facilmente esteja me ouvindo. Uma cozinha compartilhada com a sala e dois quartos com um banheiro no final do corredor que constantemente é uma briga entre nós duas para quem vai usá-lo primeiro.
— Como assim, Claire?! — Apreensiva vou até o balcão deixando a garrafa de água de lado e pego o meu celular. — Você tem uma entrevista de emprego daqui a uma hora.
Sim, ela também está desempregada.
— Calma, Bianca. — choramingou. Sou eu que começarei a chorar daqui a pouco! — Está ficando estressadinha novamente. Ganhei um teste para participar de uma peça da Broadway é a minha chance e estou confiante quanto a isso. — Podia sentir confiança em suas palavras.
O sonho da Claire Cooper é se tornar uma grande celebridade, não duvido da sua capacidade e tenho certeza que um dia conseguirá. Porém, estamos precisando de dinheiro quanto antes e ela fez inúmeros testes e nada. Essa pode ser “A” chance, mas…
— E quanto à entrevista…
— Você se dá melhor com as crianças. Vá em meu lugar. — diz como se fosse a coisa mais simples do mundo. — Pensa, você indo no meu lugar, Bella não ficará brava comigo e poderia pedir outros favores futuramente.
Bella Watanabe foi a primeira amizade que Claire fez ao chegar em Nova York, é uma asiática com os contatos certos. Ela trabalha com eventos e é bem comunicativa. Poderia ter pedido para ela uma ajuda com um emprego, mas não somos tão próximas assim.
— Claire…
— Não pense, vá! Mais tarde te ligo e boa sorte. — sem esperar minha resposta, a ligação é finalizada.
Olhei para a tela do celular e superei. Bem, não há muita coisa a se fazer. Após comer, fui me arrumar e enfrentar o trânsito de Nova York que hoje está mais intenso do que o normal. Por tão pouco não cheguei atrasada na casa do Sr. Brewer, um dos bilionários mais cobiçados da atualidade. Sua fama não é uma das melhores, não é por conta de mulheres, a sua má fama é pelo jeito grosseiro de ser. Christopher Brewer é dono da empresa multimilionária da área alimentícia, sua esposa morreu há dois anos e as imagens dos seus filhos não são permitidas em meio a mídia.
Parei com táxi em frente aquele casarão que me deu arrepios, nunca entrei em uma casa tão grande assim e com certeza não teria condições de morar em uma, exceto se fosse uma funcionária. Ao passar pelos grandes portões, uma mulher passa por mim chorando. Uma tosse fingida chama minha atenção. Uma mulher com uma roupa bem formal como uniforme militar na cor preta, o cabelo em um coque perfeito me olha me fazendo sentir calafrios.
— Siga-me. — Ordenou.
Fiquei um pouco sem reação, mas logo tratei de segui-la. Não fui tão rápida e acabei me perdendo da mulher terrorizante. Parando para decidir qual lado iria seguir, fechei os olhos e respirei fundo, virando rapidamente para o lado esquerdo.
— Ai! — Cai de bunda no chão.
Coloquei a mão no nariz, sentindo dor.
— Você não olha por onde anda mulher?! — A voz grossa e nada gentil, me faz encolher.
Ainda com a mão no nariz, olhei para cima. Meu Deus! Que homem lindo. Seu cabelo com fios negros caíram sobre seu rosto que fez seu maxilar travar mais, ele passou uma mão pelo cabelo colocando a mexa no lugar. O olhar de cima para baixo era como se pegasse fogo.
— Vai ficar no chão? Como um tapete?! — O homem que vi diversas vezes pela televisão, arrumou o terno em seu corpo e passou por mim. — Que perda de tempo!
Os passos são firmes enquanto se distanciam.
Segui Christopher Brewer com o olhar, indo à saída.
— Você é sempre um cretino assim ou ganhou um diploma para isso. — Me levantei arrumando a roupa em meu corpo.
Quando levanto meu olhar, arregalo os olhos. Christopher está me olhando. Droga, droga e droga. Nem fiz a entrevista ainda e já serei manda embora?
— Cuidado com suas palavras… — Sua voz foi assustadoramente baixa. — Posso não está de bom humor na próxima. — Um sorrisinho rápido surge em seus lábios e vai embora.
Bom humor? Da vontade de rir, se esse é o bom humor dele, não quero vê-lo quando estiver de mal humor. Bianca, respira! Você precisa desse emprego, pensei. E aquele sorriso? Deve ter sido coisa da minha cabeça.
— Senhorita Benítez, o que houve com seu cabelo? — A mulher assustadora aparece novamente me olhando abismada.
Dou um sorriso sem graça, passando a mão no cabelo, percebendo estar realmente bagunçado. Abaixei um pouco a cabeça, agora entendo o sorriso daquele arrogante. Olhei para a mulher na minha frente.
— Então… hum… Não sou a senhorita Benítez. — Dou de ombros, me desculpando. — Sou Bianca Almeida. — Endireitei meu corpo. — Estou aqui para a entrevista de emprego para ser babá dos filhos do Sr. Brewer.
E pela primeira vez a pronúncia desse sobrenome fez o meu corpo esquentar ao lembrar do olhar daquele homem em mim. Com certeza já fui tratada melhor e não gostei de como falou comigo. Mas Christopher é de tirar o fôlego de qualquer uma. Ah, mas meus planos não são abaixar a cabeça para ele, devido à sua beleza. A senhora aterrorizante não parece se preocupar ao saber o meu nome, sigo ela a uma sala privada onde fala um pouco sobre mim e mostre os meus documentos. Percebi quanto estava cansada, lembro da mulher passando por mim chorando. Será que aquela mulher estava tentando uma vaga de babá?
— Que seja! — A mulher levanta do sofá. — Faremos um teste de uma semana com você. Sobreviva e pode ser que até aumente o seu salário. — senti um leve deboche na sua voz com essa última informação.
Sobreviva? O que de ruim pode acontecer? São crianças! Quem não ama crianças? Além de saber que posso ter um aumento, seria uma motivação a mais. Estou sendo babá dos filhos de um grande bilionário, é óbvio que não ganharia pouca coisa. A mulher aterrorizante, conhecida como Sra. Molloy me entregou alguns papéis. Neles diziam que eu receberia pelos dias que ficasse e após uma semana assinariam minha carteira, além de ter alguns papéis dos quais não poderia tirar foto dos filhos de Christopher e muito menos compartilhar com outras pessoas e informações dessa casa. Confidencialidade, havia umas 10 folhas para assinar sobre isso.
— Hum… quando começo? — perguntei, entregando aquelas folhas para a senhora Molloy.
Meu pulso doía de tantas folhas que precisei assinar e a minha carteira nem foi assinada ainda.
A mulher me dá um olhar superior.
— Hoje! — com um aceno de cabeça, ela pede que eu a siga. — Irá conhecer as crianças agora mesmo. Temos empregados disponíveis 24 horas por dia, qualquer coisa que precise não deixe de falar conosco. Procure falar com alguém a cada uma hora.
Estranhei o seu pedido, mas nada falei. Estou tão empolgada, não esperava que começaria hoje mesmo. Mas não estou me importando, farei o meu trabalho e serei a melhor babá do mundo. Entramos em um longo corredor e fico imaginando como seria essa casa à noite, me dá medo só de imaginar. Caminhamos em uma em direção a uma porta enorme e quando aberta nos damos em um grande salão onde tinha três crianças no meio dela.
— Aqui é onde acontecem os eventos na casa. — Sra. Molloy me informa enquanto caminhamos até as crianças. Ela suspirou. — Esses são os herdeiros Brewer. Danielle de 13 anos, Pedro de 8 anos e Lilia de 5 anos. — ela se vira para mim e me entrega um punhado de folhas novamente. De onde ela tirou tudo isso? Sra. Molloy olha para as crianças. — Sejam gentis! Essa é a última chance.
Um olhar rigoroso a Sra. Molloy se retira me deixando sozinha com as crianças. Os três me olhavam com atenção, todos com as mãos para trás.
— Oi, como vocês estão? — Não me respondem. Fico completamente sem graça.
Começa a olhar os papéis, a Sra. Molloy entrou e fiquei assustada ao ver que era um dossiê de cada criança. Danielle com seus 13 anos tem cabelo e um tom castanho, sua pele é branca diferente do seu pai que é um moreno bronzeado. Pedro com seus 8 anos é uma cópia do Christopher, tem o mesmo olhar que o pai e espero que quando abrir a boca não seja tão grosseiro. O cabelo preto caído em sua testa o deixava com um olhar mais rígido, sem nenhum sorriso. Lilia quais são os cinco anos é uma lindinha e muito fofa, tem um olhar mais meigo comparado aos seus irmãos e seu cabelo em um tom preto faz parecer mais com seu pai diferente da Danielle que parecia mais com a sua mãe. Nunca vi o rosto da Sra. Brewer, mas Danielle com certeza é uma mistura dos dois. Lilia tem a bochecha mais gordinha, sendo mais clarinha que Pedro, sua bochecha estava rosada. Sinal que alguém apertou muito suas bochechas recentemente.
— Então…
Antes que pudesse terminar a frase, os três finalmente mostraram as suas mãos onde tinha armas de brinquedos, agora com sorrisos sapecas em seu rosto, tinta das cores branca, azul e amarelo foi jogada em mim repetidas vezes. Gritei sendo pega de surpresa e deixei o dossiê cair no chão tentando me proteger dos tiros de tinta.
— Seus pestinhas! — Gritei.