Capítulo 2
Desde pequeno, nunca levantei a voz para meu filho. Embora às vezes fosse severa, sempre conversava com ele em um tom amigável. Nunca fiquei tão descontrolada como agora. Assustado, ele me golpeava com os punhos, chorando.
— Tenho medo da mamãe! Eu não gosto da mamãe! Eu gosto da dona Isa! — exclamou o menino.
Apesar de jovem, meu filho tinha muita força. Seus punhos batiam em mim, causando uma dor que fazia minhas lágrimas jorrarem sem parar. Olhei para ele como se olhasse para um inimigo mortal.
— Você não é mais meu filho! Meu filho não é um monstro como você! Foi você que matou meu pai! — gritei para o menino.
Ricardo rapidamente puxou nosso filho para trás de si, protegendo-o.
— Beatriz, já chega! Não basta mentir, agora quer assustar o menino desse jeito? Ele é tão pequeno! Ele só quis agradar o avô dando algumas bolinhas de chocolate. Precisa fazer esse escândalo todo?
— Eu mentindo? Agradar o avô? — olhei incrédula para Ricardo. — Você acha que trocar o remédio de um paciente cardíaco por bolinhas de chocolate é para agradar o doente? Você não sabe que meu pai já está morto? Ele morreu com os olhos vidrados!
— Você não vai parar, vai? Guarde o seu ciúmes da Isa para você. Não precisa amaldiçoar o seu pai com palavras tão cruéis. Não tem medo que seu pai tenha sido assassinado por essa sua boca maldita?
Depois de falar, Ricardo pegou nosso filho nos braços e saiu.
— Opa! Vamos ver a dona Isa! — O rosto do meu filho imediatamente se iluminou com um sorriso.
Olhei para a silhueta dos dois, com o coração petrificado de tanta dor.
— Esperem! — gritei.
— Assine isso e desapareça da minha vida. — Mostrei o acordo de divórcio.
Ricardo ficou surpreso apenas por um instante.
— Apelando desse jeito para conseguir o que quer? Você é mesmo uma cobra manipuladora! — ele zombou. — Assim você só me faz te odiar ainda mais. Pare de usar esses joguinhos sem sentido para testar meus sentimentos!
A porta foi fechada com a força proporcional ao quanto Ricardo me desprezava.
Meu coração estava cheio de amargura.
Antes, sempre que brigávamos, eu era a primeira a ceder, a pedir desculpas humildemente, pois temia que ele e nosso filho me deixassem. Mas agora é diferente: sou eu que não os quero mais.
Apoiando meu corpo fraco, arrumei rapidamente minhas coisas e deixei esse lugar, que só me trazia tristeza. Voltei para a antiga casa que meus pais deixaram. Lá tudo estava ainda do jeito que me recordava.
Mas agora eu estava só.
Há dez anos, a minha mãe, em um incêndio, salvou Ricardo e a mãe dele, mas perdeu a própria vida nas chamas.
Nessa tragédia, perdi minha mãe e entrei em desespero, chorando todos os dias. Naquele tempo, foi Ricardo quem me ajudou a superar aquela prova dolorosa.
— Vou ficar com você para sempre para te proteger. Nunca vou te abandonar — ele dizia.
Nós nos casamos e tivemos um filho, como era de se esperar.
Mas depois, a aparição de Isabella destruiu completamente o nosso amor e a nossa família. Ricardo simplesmente parou de se comunicar comigo e voltava para casa cada vez mais tarde. No meu aniversário, bastou Isabella dizer que não se sentia bem para ele me abandonar sem hesitar.
Uma vez, quando tive febre alta e, fora de mim, liguei para ele, ele pediu para que eu não o incomodasse, pois precisava passear com o cachorro de Isabella.
Em seu íntimo, Isabella passou a ser a coisa mais importante. Estou casada com ele há sete anos, mas importo menos que o cachorro da Isabella. Gradualmente, Ricardo ficou ainda pior, chegando a levar nosso filho para se encontrar com Isabella.
Meu filho, tão jovem, passou a me odiar cada vez mais.
— Por que a dona Isa não é minha mãe? — suspirava ele.
Eu não podia acreditar que tais palavras saíam da boca do meu filho.
— Por que você pensa assim? — perguntei com o coração apertado.
— Porque a dona Isa é mais bonita que a mamãe e também é bem mais gentil. Ela me leva para comer o que eu quiser, e não me obriga a fazer a lição de casa. A dona Isa me leva para passear, e o papai também gosta muito dela... — respondeu o menino.
Eu pensava que meu filho era apenas jovem demais para entender quem realmente se importava com ele, por isso ainda mantinha paciência e esperança em relação a ele. Mas, no dia em que Isabella e eu ficamos em apuros ao mesmo tempo, meu marido e meu filho, sem hesitar, escolheram ajudar Isabella.
Os dois, a versão adulta e a versão mirim, cercaram Isabella de paparicos, cuidando dela com toda atenção, sem sequer me lançar um olhar.
Finalmente, meu coração se partiu: decidi me divorciar.
Mas foi justamente nesse momento que meu pai veio da nossa cidade para me visitar.
Desde que minha mãe se foi, a saúde do meu pai piorou ainda mais. Seu maior desejo era me ver com uma família harmoniosa e feliz. Por isso, não quis deixá-lo triste. Então, coloquei de lado o assunto do divórcio, esperando para falar sobre isso depois que ele voltasse para casa. Mas jamais imaginei que a minha pessoa mais querida morreria nas mãos do meu filho e do meu marido!
O meu ódio por eles é ainda maior que a minha dor.
Mas o mais importante agora é dar ao meu pai um descanso digno. Para que ele fosse em paz, convidei os parentes mais velhos da vila para participar no funeral do meu pai, esperando que, quando a alma do meu pai finalmente ficasse em paz, ele pudesse ver a mobilização dos seus parentes e amigos lá do céu.
Durante todo o funeral, contive minha dor. Quem me visse diria que sou uma mulher forte.
Mas ao voltar para casa, diante da casa vazia e das fotos em preto e branco dos meus pais, não pude mais me controlar. Deixei cair todas as máscaras sociais e chorei em voz alta.
Nesse momento, no entanto, ouvi um estrondo repentino.
No segundo seguinte, vi que a porta havia sido arrombada.
Ricardo entrou pela porta com uma expressão furiosa e cheia de rancor. Ao seu lado estavam Isabella e meu filho, Breno.