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Transgressores do amor

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Sra.Kaya
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Resumo

Isadora Bertotti testemunhou um terrível crime. Em apuros ela entra para o programa de proteção a testemunha até que o caso se resolva e os culpados sejam punidos, e assim voltar a sua vida normal. Maurício Ferraz nunca pensou que defenderia a família Bertotti tantas vezes como advogado. Entretanto, há um novo incidente envolvendo um dos membros dessa família, e dessa vez é mais perigoso envolvendo a bela Isadora, irmã caçula de sua melhor amiga Fernanda, e o grande amor proibido do seu passado. Com o problema de Isadora, Maurício é solicitado mais uma vez para advogar um Bertotti no tribunal e proteger a pessoa mais importante de sua vida. Mas o que ele não esperava é que as coisas fossem sair tanto dos trilhos até o fim do processo. Muitas vidas em perigo. Um caso difícil de ser solucionado. E um amor há muitos anos adormecido. Qual será o resultado disso tudo? Até que ponto um ser humano aguenta a pressão, o risco de morte, e viver constantemente fugindo sem se deixar ser dominado pelo medo?

amorromanceRomance doce / Amor fofo

Prólogo Capítulo 1

Isadora

"Mamãe, por que o céu é azul?"

"Papai por que a grama é verde?"

"Nandinha, por que as pessoas crescem?"

"Mi, como os bebês nascem?"

Por essas e outras perguntas que sempre fui uma pessoa considerada muito curiosa, alegre e às vezes intrometida.

A Isa, como todos me chamavam, nunca era desobediente, nunca reclamava, tirava boas notas, era a garota mais bonita da turma no ensino médio, a sempre amiga e companheira de todas as horas.... uma verdadeira garota exemplar.

Essa sempre foi a Isadora que as pessoas enxergavam, ou que queriam enxergar. Entretanto, esse modelinho de perfeição não é exatamente o tipo de pessoa que eu sou. Boa parte de mim ainda é essa pessoa, mas há uma parte em mim que ninguém vê, uma parte escurecida por algumas situações que aconteceram comigo, coisas que me atingiram e pessoas que me marcaram de forma cruel. Contudo, me forço a olhar além de mim, existe um mundo inteiro pela frente e é por isso que sigo adiante.

A uma essência em mim que faz sorrir, que me faz querer que o outro se sinta bem, então eu ignoro qualquer problema para fazer o impossível pelas pessoas que eu me importo. Não há nada no mundo que eu não faria, não mediria esforços por quem amo.

E talvez, só talvez, esse seja o meu problema, quer dizer, o meu MAIOR problema.

Até porque se não fosse por esse meu coração mole, eu não estaria aonde eu estou hoje... No fundo do poço e muito ferrada.

Estou atolada, mas diferentemente de todas as outras vezes, essa, a coisa está bem feia para o meu lado. Ora, é o meu pescoço que está em jogo!

Não sei o que fazer, acho que dessa vez não tenho saída. Até porque, quem seria louco o suficiente para se meter nessa insanidade comigo?

Capítulo 1

Isadora

Era uma das noites mais felizes da minha vida....

Como sempre, eu estava em mais um casamento. Porém, não era um casamento qualquer, não que eu desvalorizasse os demais em que já havia presenciado, jamais. Contudo, esse era mais que especial por um motivo: era minha melhor amiga que estava vestida em um lindíssimo Vera Wang maravilhoso, escolhido a dedo por mim. É claro que ela também se apaixonou pelo modelo assim que seus olhos pousaram sobre aquela preciosidade.

***

Ela está tão linda, e todos os convidados estão atentos a cada movimento gracioso, adquirido após muito esforço e paciência, que ela exibia.

O noivo, agora marido, não parava de babar na visão que ela era em seus braços, enquanto dançavam a valsa nupcial.

Para quem conhece e acompanhou esses dois, sabe o quanto foi difícil e conturbado o caminho até o dia de hoje.

Mas, deixando de lado o passado e vivenciando o presente, me sinto plena e satisfeita com o rumo das coisas. Mesmo que eu esteja sozinha nessa fase da vida, não me chateio. Eu sei me alegrar com a alegria do outro, e fazer o dia dele ser o mais feliz possível. Porque é isso que melhores amigos fazem, apoiar uns aos outros, independente das circunstâncias.

Enquanto passeio ao redor da pista de dança que se encontra no centro do salão de festa, sinto meu braço ser tocado.

Viro-me para saber de quem se trata, e vejo meu irmão logo atrás de mim.

-Dança comigo? -Kai perguntou.

-Você sabe que eu não perderia a oportunidade. -respondi estendendo-lhe a mão enquanto uma nova música se iniciava.

Ele nos levou até o centro onde os outros pares já se encontravam, e iniciamos os passos ritmados de uma baladinha que a banda tocava.

-É, acho que somos só nós dois agora. -ele disse entre um refrão e outro.

-Verdade. -eu ri. -Mas não há com o que nos preocupamos. Somos jovens, saudáveis e extremamente charmosos, faz parte da nossa abençoada genética. -gracejei.

-Você tem razão, ainda temos muito tempo pela frente. -ele respondeu de maneira pensativa.

Cerrei minhas pálpebras em sua direção, certamente havia algo que estava incomodando meu irmão.

-Vamos Kai, diga. O que está te deixando assim. -inclinei a cabeça para seu lado.

Em uma parte da música, Kaile fez um passo em que girava meu corpo em trezentos e sessenta graus, completando uma volta e retornava aos passos anteriores.

-Seja sincera comigo, Isa. Às vezes, você não sente falta de ter alguém, sabe? Para dividir os melhores momentos da vida, assim como o Miguel tem a Bella e a Fe também? -Kai indagou.

Ponderei por alguns segundos antes de responde-lo.

-Sim, eu também sinto, Kai. Mas sei, que mais cedo ou mais tarde, uma hora a gente vai encontrar nossa cara metade. Pode acreditar, eu sei que esse dia também vai chegar para nós. -eu disse com uma confiança que não era minha.

Entretanto o que me guiava a proferir aquelas palavras a meu irmão, era a certeza de que coisas boas acontecem para todos, uma hora ou outra elas acontecem, não é mesmo? Acho que sim.

Algumas pessoas gostam de me rotular como positivista ou uma romântica incurável. Já eu, gosto de acreditar que nem tudo no mundo é ruim e nocivo, que às vezes, o mundo pode ser um lugar melhor.

Se isso me faz soar como uma garota ridícula e utópica, eu não ligo. Prefiro ser vista assim, do que como uma pessoa cética que não acredita na vida.

Ao término da música nos separamos e deixamos a pista logo em seguida.

-Vá tirar Sofia para dançar, Itan acabou de sair da pista com ela. E você adora atazanar a pobre garota, não é como se você não fosse se divertir. -o cutuquei com o dedo indicador nas costelas.

-Tá bom, senhorita-sabe-tudo. Vou fazer esse enorme sacrifício. -debochou e foi em direção a Sofia.

No mesmo instante, Itan veio a passos largos e decididos em minha direção. Ele mantinha o contato visual durante todo o trajeto e um sorriso sedutor estampado nos belos lábios fartos.

Sorri em resposta quando ele parou a minha frente.

-Boa noite, elegantíssima dama. Me concederia a honra de ser o meu par na próxima dança? -sua voz rouca se pronunciou em bom tom.

-Ora, mas será um prazer. -respondi no mesmo nível.

Então ele segurou em minha mão e nos guiou para perto dos outros casais que já iniciavam os movimentos da próxima dança.

-Você está mais linda do que o permitido, Isadora. É praticamente um crime, tamanha beleza circular por aí sem um guardião. Eu posso ser o seu se você quiser. -ele iniciou sua artilharia de flerte. -Fui eleito o melhor segurança pessoal do estado, se quer saber. -piscou para mim.

-Nossa, mas que homem dotado de qualidades. Posso saber quem te nomeou ao cargo de bom moço? -indaguei entrando na brincadeira.

-Desculpe-me linda, mas não vai ser possível. Sigilo entre cliente e profissional.

Gargalhei de sua saída estratégica. Ele merecia pontos por ser além de um rostinho bonito.

Nessa hora os instrumentos finalizaram a canção e nós nos retiramos da pista.

-Foi ótimo dançar com você, Isadora. Espero que haja mais vezes como essa. -ele se inclinou em minha direção quando eu já me afastava dele.

Itan primeiro depositou um beijo um pouco mais demorado do que o comum em meu rosto, e em seguida beijou minha mão em um gesto antiquado, porém elegante ao mesmo tempo.

-Com certeza haverá. -respondi ainda mantendo o sorriso e caminhei para o lado oposto do salão.

***

Eu estava ficando exausta por ter ficado tanto tempo de pé dançando sobre o enorme salto em que estou, e minhas pernas protestavam por causa disso. Já estava cogitando a possibilidade de ir me sentar em uma das mesas espalhadas pelo local, quando fui abordada mais uma vez.

-Dança comigo? -a voz se pronunciou próxima de mais, logo atrás de mim.

-Eu já estava indo me sentar. -me virei para fita-lo.

-Por favor, só uma dança, é o que eu te peço. Não me negue isso. -Maurício insistiu.

-Tudo bem, vamos. -respondi e ele me seguiu de perto enquanto abríamos o caminho entre as pessoas.

Uma música suave começou a ser tocada quando nos colocamos em posição.

Demos alguns passos e Maurício fez questão de diminuir a distância entre nós, colando seu corpo ao meu.

-Não acha que está mais próximo do que o necessário? -indaguei com as sobrancelhas arqueadas.

-Não o suficiente. -respondeu encarando-me diretamente nos olhos.

Em nenhum momento ele não deixava de fitar meu rosto.

Seguiu-se alguns segundos de silêncio antes que Maurício o quebrasse novamente.

-O que conversava com Itan? -ele perguntou curioso e eu quase, eu disse quase, ri, de tamanha audácia.

-Desculpe-me, mas isso não é um assunto que seja da sua conta. -contra-argumentei.

-Eu sei que não é, Isa. Eu só... eu só não gostei de vê-lo perto de você. -disse.

-Rá, mas isso é no mínimo hilário, Maurício. Quem disse que eu me importo com a sua opinião? O que você gosta ou deixa de gostar, já não me diz respeito há muito tempo. Então é melhor guardar os seus pensamentos para alguém que queira ouvi-los. -respondi sem me alterar.

Eu já estava cansada dessa antiga história. Meus assuntos mal resolvidos com Maurício ficaram no lugar a que pertenciam, no passado.

-Não diga isso, Isa. Sabe que eu me importo muito com você, e só estou dizendo essas coisas porque conheço o tipo de cara que Itan é. Ele é meu amigo, mas também é um galinha sem compromisso. Não quero que se machuque com ele. -seus olhos cor de esmeralda perscrutavam meu rosto.

-Ainda bem que isso não é um problema de sua responsabilidade. Eu já sou uma mulher adulta Maurício, e sei me virar. Não preciso que um cara venha me dizer o eu devo ou não fazer. Eu sou madura, inteligente e linda, não há nada que eu não seja capaz de realizar. -afastei suas mãos de mim ao término da música.

Saí a passos apressados do salão e Maurício veio logo atrás. Porque ele não me deixava em paz? -pensei sem entender.

Maurício segurou meu cotovelo fazendo-me parar de caminhar.

-Você esmaga meu coração cada vez que diz algo assim. Eu jamais subestimei a mulher incrível que você é, Isa. Então não coloque palavras em minha boca que eu não disse. -Maurício disse com o semblante entristecido e chateado.

Olhei de maneira tão séria para sua mão que ainda estava em meu cotovelo, que ele se encolheu retirando a mesma do lugar em que estava.

-Maurício, escute com atenção. Pare de se preocupar, pare de me perseguir. O que aconteceu é passado, eu sou uma pessoa livre e desimpedida, então, vê se me deixa em paz. -me virei para ir embora mas me lembrei de algo e me virei de volta para ele. -Ah, e só mais uma coisa, é Isadora, não Isa, para você.

E fui embora com um enorme sorriso no rosto, satisfeita por não ter sucumbido aos verdes olhos charmosos pelos quais um dia fui apaixonada. Eu não era mais uma garotinha e não iria me rebaixar nunca mais por causa de um homem.

Vesti meu casaco no hall do prédio pois a noite estava fria, e saí. O som dos meus saltos era o único som a se ouvir na rua que estava se tornando cada vez mais deserta.

Em um certo ponto, não havia uma alma sequer transitando pelo local, e não achando seguro prosseguir sozinha, puxei o celular da bolsa para chamar um táxi. Porque eu não havia feito isso antes? -pensei comigo mesma.

Foi então que um carro popular prata, cruzou a esquina há poucos metros de distância em tamanha velocidade que não conseguiu completar a curva, indo parar de encontro com muro de uma casa.

Um homem, que agora estava muito machucado, com cortes profundos na testa e sua roupa bem suja de sangue, abriu a porta amassada do carro e se arrastou com dificuldade para fora do veículo. Eu estava tão paralisada com tal cena, que não conseguia mover um músculo sequer do corpo.

Depois de alguns segundos de letargia, saí do estado de transe ao ver a cara de dor que o pobre homem sentia ao se locomover por alguns metros no asfalto. Eu estava um pouco longe, mas nada me impedia de ajuda-lo enquanto o socorro não vinha.

Disquei o número polícia e fui caminhando em sua direção. O telefone chamou por alguns instantes mas nada de alguém atender. Tentei novamente enquanto me aproximava do local do incidente.

Foi quando um outro automóvel de cor escura, entrou na rua parando em frente ao carro que acabara de colidir contra o muro.

Então, uma jovem mulher, com um moderno corte chanel em seus fios alvos como a neve, desceu do carro com suas botas de cano longo e saltos agulha, vestindo um sobretudo negro, caminhou de encontro ao rapaz que se desesperou ao vê-la.

Um pouco atordoada, me encostei na parede fria de uma padaria fechada e fiquei das sombras observando o que viria a seguir. Meus dedos trabalhavam frenéticos na tela do celular, tentando fazer contato com alguém que pudesse resolver essa situação que estava para lá estranha.

Prestando mais atenção, vi que a mulher possuía traços orientais, devido a marcante presença de seus castanhos olhos puxados. Ela também tinha, uma extensa tatuagem com dizeres que eu não sabia identificar o idioma, em sua coxa direita, que iniciava um pouco acima da barra do sobretudo e se alastrava para dentro do cano da bota.

Para o meu espanto, ela puxou de dentro de seu sobretudo uma arma de fogo cumprida e negra feita a noite. A luz da lua refletia-se no cano da arma no momento em que ela direcionou-a na mira do cara ferido.

-Nǐ zài wǒmen zhōngjiān yòng xuè zhīfù de pàntú. (Com sangue pagará, o traidor entre nós.) -ela disse algo em sua língua antes de atirar na cabeça do homem, que no instante seguinte estava caído no asfalto sem vida.

Sufoquei um grito na garganta colocando as mãos na boca. Assustada com o que meus olhos acabara de ver, dei alguns passos para trás, o que foi o pior erro da minha vida.

Quando meu pé dirigiu o segundo passo para trás, esbarrei em algo que fez um barulho consideravelmente alto para uma rua deserta. Acho que foi uma lata de tinta ou seja lá o que for, só sei que isso chamou a atenção da mulher, que no mesmo segundo se virou na direção da qual vinha a fonte do ruido.

Me escondi atrás de uma das várias caçambas alaranjadas de lixo que haviam por ali, e fiquei espreitando por entre as frestas o movimento do outro lado.

A mulher disse algo que eu não consegui ouvir e de dentro do carro saíram dois homens vestidos de pretos da cabeça aos pés, e com gorros que lhe cobriam a maior parte dos rostos. Eles acenaram com a cabeça e vieram na direção em que eu me escondia.

Entrei em desespero sem saber o que fazer, correr não ia adiantar e me entregar é que eu não ia. Certamente eles iram me matar.

Mas eu não queria morrer, Deus sabe que não. Fiz uma prece silenciosa e mais rápida do universo, e quando abri meus olhos uma ideia surgiu em minha cabeça.

Resolvi entrar na caçamba de lixo atrás de mim. Aproveitei que a tampa estava aberta, fiz impulso com o corpo, subi na beirada e me joguei para dentro.

Não sei o que havia no lado de dentro, mas, algo afiado rasgou minha pele na parte interna do braço, um pouco acima do pulso até a altura do cotovelo. Aquilo ardeu como o inferno. Mordi os lábios entre os dentes para segurar o grito de dor que percorreu meu braço.

Ouvi o som de passos se aproximando, e estremeci de medo da cabeça aos pés. Escutei a tampa de algumas caçambas baterem contra a parede, eles estavam procurando dentro das lixeiras, eu ia ser descoberta! -pensei em pânico.