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Alícia começou a trabalhar na empresa de Guilherme. O via quase sempre.
Certo dia, um dos primeiros ali, sentada em sua mesa, viu, pelo canto do olho, a entrada de uma mulher espetacular. Ela era negra e alta, do tipo modelo.
A mulher foi anunciada e logo entrou na sala da presidência. Alícia não aguentou de curiosidade e foi até a secretária perguntar a respeito.
— É a noiva do Senhor Hayes. - Respondeu a secretária, uma mulher jovem e asiática, que beirava os trinta anos, chamada Rebeca.
A voz de Alícia parecia que não vinha. Como se tivesse presa em um daqueles pesadelos em que gritamos e gritamos em vão. Mas logo foi tirada de seus devaneios. Teria que enfrentar a situação já que foi incumbida de levar alguns papéis ao presidente.
Bateu à porta e esperou a voz grave de Guilherme, que pediu que ela entrasse. Assim o fez, dando de cara com um sorriso branco e perfeito da modelo a sua frente. Guilherme, rapidamente, se levantou ao ver a expressão, um tanto quanto, assustada de sua estagiária. Se sentiu culpado sem ao menos saber o motivo.
— Senhorita Alícia, - Ele percebeu não saber o sobrenome da moça e logo resolveria isto. - os papéis.
Ele estende o braço para sua estagiária, que mais parecia uma estátua agora. Ela sai de seu estupor e entrega os documentos.
— Seu mau-educado. - A negra a sua frente fala, e sua voz é igualmente bonita. Ela se levanta. — Não vai me apresentar?! Sou Anabela, noiva do Guilherme.
— Prazer, Senhorita. - Alícia estica o braço e aperta, firmemente, a mão da moça. O caroço em sua garganta nada impede que sua voz saia com clareza.
Em seguida, pede licença e sai da sala. Vai até o banheiro e tenta se recuperar do encontro inesperado, inoportuno, inconsequente, não sabia qual palavra usar para descrever. Ao sair do banheiro dá de cara com o chefe.
— A senhorita está bem? Me parece um pouco pálida.
— Estou bem.
— Já almoçou? - Ele abre seu sorriso. — Minha noiva me deu um bolo para fazer prova de roupas para um desfile, acredita?!
— Que pena do senhor. - Alícia tenta falar com humor, mas acaba sendo um pouco irônica de mais.
— Almoça comigo? - O convite é inesperado, tanto para ela quanto para ele, que não entendia suas reações, foi criado para fidelidade. Um almoço com sua estagiária não o tornaria menos digno e honrado, ele pensava.
— Me perdoe pela recusa, mas tenho muito trabalho e não tenho horário de almoço.
— Que tipo de chefe eu seria se não deixasse você tirar alguns minutinhos?! Conte como trabalho, se assim preferir. Não aceito um não como resposta.
Diante da insistência de seu amor de infância, Alícia não pôde recusar. Pegou sua bolsa e seguiu ao lado de Guilherme.
Foram a um restaurante que há algum tempo ela cobiçava. A conversa girou em torno do trabalho e era exatamente o que Alícia queria, não podia responder nada pessoal.
Guilherme se sentia a vontade com Alícia, uma mulher que chamava atenção, apesar de muito jovem. Não possuía tantas curvas, mas as que tinha eram notáveis e suas pernas eram as mais bonitas que ele já havia visto.
Sentia que poderia confiar naquela menina, ela passava segurança através da sua doçura e meiguice. Não se lembrava quando foi a última vez que se sentira tão confortável na presença de uma mulher.
Após o almoço, voltaram para a empresa. Ela seguiu para sua mesa e ele para sua sala. Nada mais foi dito a respeito do almoço.
(...)
Seguindo seus planos, naquela mesma noite, Guilherme telefona para sua mãe. Lindsay atende no segundo toque, ansiava pela ligação de seu filho único.
Conversaram amenidades e mataram um pouco da saudade. Guilherme prometeu que logo se veriam, e ele daria um jeito de cumprir sua promessa.
— Mãe, gostaria de falar com a princesa. Ela está? - Lindsay se surpreende diante daquele pedido inusitado.
— Por quê agora, filho?
— Acho que é o momento, não consigo parar de pensar nela. - Ele desabafa. Sua mãe o entende, mas também deve acatar a decisão de Anna.
— Filho, ela pediu que transmitíssemos suas felicitações a você e sua noiva, mas não tem interesse nem de participar da comemoração e, eu sinto muito em dizer, nem falar com você.
Guilherme foi pego de surpresa, jamais imaginou que sua princesa o evitaria. Mas não desistiu.
— Entendo e respeito a decisão dela. Mas preciso que ela diga isso olhando em meus olhos. Estarei aí amanhã.
— Ela se mudou, príncipe. - Sua mãe adianta. — Está na faculdade, em uma outra cidade.
— Me diga onde?
— É decisão dela não contar a você. Respeite o espaço dela, querido. Lembre-se que você está noivo, foque nisso.
— Se é assim que ela quer, eu aceito. Mas eu preciso vê-la, mãe. Saber como ela está.
— Acredite quando digo que ela está muito bem.
Guilherme fingiu acatar a decisão de Anna, mas começaria suas investigações. A princesa tinha que aparecer, só assim ele se sentiria livre pra casar. E, a pesquisa sobre Alícia perdeu a importância diante da necessidade de ver a princesa.
(...)
Guilherme sabia que, no instante que colocasse um detetive particular a procura de Anna, ela apareceria, mas decidiu dar um tempo a ela. Esperar que ela digerisse a ideia do seu casamento.
Pensar em casar já não era uma ideia tão atraente agora. Não sabia se o problema era ele, cujo pensamento estava em uma garotinha que amou desde que nasceu, ou se estava em Anabela, que, desde que ficou noiva, tem seu tempo ainda mais reduzido, não pelas coisas do casamento, e sim por sua carreira que deu uma engrenada, graças ao compromisso assumido com ele.
Tinha também a estagiária que não tinha medo do olho no olho. Ela o intrigava. Ele a conhecia de algum lugar, disso tinha certeza. Ela também não negava, mas mudava de assunto sempre que ele tentava.
(...)
Era um fim de tarde, o dia seguinte seria um sábado. A secretária saiu mais cedo, deixando todo trabalho com Anna. Fazia um mês que ela trabalhava ali e já tinha pego o jeito.
Guilherme entrou em sua sala no início da manhã e até agora não saíra. Apenas fez alguns telefonemas enquanto Rebeca ainda estava presente. Perto da hora de Anna sair, o telefone toca, é o presidente.
— Pois não!
— Onde está a Rebeca, Alícia? - Guilherme estava exausto e impaciente. Aquele tinha sido um dia estressante e Rebeca cometeu um erro gravíssimo em alguns documentos.
— Ela foi embora mais cedo, senhor. Seu filho teve febre-
— Merda. - Gritou, a assustando. — Pode vir a minha sala?
— Sim, senhor!
Alícia não costumava ficar sozinha com Guilherme, evitava o quanto podia. Mas não teve escolha naquela hora. Entrou e viu seu chefe com a cara cansada, bolsas abaixo dos olhos, e as mãos em sua cabeça, demonstrando sua exaustão.
Mas, assim que a viu, Guilherme pareceu esquecer dos problemas. Quis ficar por um tempo só a admirando.
— Em que posso ajudar? - Ela falou de uma forma tão doce que ele a olhou com mais intensidade.
— Rebeca fez uma confusão com minha agenda, meus papéis, está tudo bagunçado. Não sei trabalhar sem organização.
A garota pediu licença e organizou tudo em questão de minutos, sob o olhar milimétrico de Guilherme. O problema é que já havia passado da hora, portanto ela não tinha como ir embora.
— Posso lhe oferecer uma carona? É o mínimo que eu posso fazer, acho que você salvou a minha vida.
— Só fiz meu trabalho. - Ela não sabia que ainda corava diante dele.
Alícia aceitou a carona e ele a levou até sua casa. Assim que estacionou em frente ao prédio, Guilherme parou novamente para agradecer, com um beijo no rosto da moça, que saiu do carro mais parecendo um pimentão.
?????
Oi gente,
Quando será que ele vai perceber que Anna e Alícia são a mesma pessoa?
Lembra da estrelinha antes de sair.
Amo vocês.
Beijos, S. ?
Instagram: @sarahcagiano