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Foram cinco anos. Cinco anos que Anna Alícia se guardou, não ligando para nenhum outro cara que se aproximava. Cinco anos que ela esperou, em cada data especial, em cada aniversário, em cada feriado.
Ela recebia notícias. Vez ou outra ele ligava para sua mãe, mas não pedia para falar, tampouco perguntava sobre ela. Mas ela ouvia sua voz através da outra linha, em segredo, sempre que ele ligava.
No início ela se iludia, achava que ele só precisava se adaptar e, se ouvisse a voz dela, tornaria tudo mais difícil. Foi a explicação que ela se deu quando ele nem ao menos ligou em seu aniversário de catorze anos.
Mas, em sua festa de quinze, sua ficha caiu. Ele não viria. Não por ela. E, a partir daí, Anna deixou seu príncipe, e a ideia do "felizes para sempre", de lado. Entendeu que era coisa de criança. Não conseguia chorar, muito menos sentir raiva. Esquecer algo assim não seria fácil, mas também não era impossível.
Sua tia Lindsay ia e vinha da cidade que Guilherme atualmente residia. Antes mesmo de se formar na faculdade, ele fundou sua própria empresa e agora era uma das mais importantes do país, tornando Guilherme um dos jovens mais ricos do mundo.
Só depois que Anna "aceitou" que ele já não voltaria, sua mãe e sua tia começaram a falar abertamente sobre sua vida. Não tão abertamente, na verdade. Quer dizer, elas conversavam, mas faziam o possível para evitar falar disso na frente dela.
— Não precisam ficar caladas só porque eu cheguei. Já sei que estão falando sobre o Gui. Está tudo bem. - Mas não estava. Ela nunca conseguiu esquecê-lo.
— Não é nada, querida. - Lindsay sorri.
— Fala, tia. - Anna puxa uma cadeira, se senta e apoia os cotovelos na mesa.
Sua tia olha para sua mãe, numa conversa silenciosa. Emma anuí, concordando que sua filha merecia saber.
— Guilherme chega amanhã.
A informação pegou Anna de surpresa. É óbvio que não esperava vê-lo tão cedo, ou tão tarde.
Quem ele pensava que era para aparecer logo agora? O que ele queria vindo aqui? Tudo bem que sua família está aqui, mas ele não ligou antes, por quê agora? Foi aí que ela entendeu: Não é a mim que ele quer ver.
Então ele não verá, decidiu.
— Poxa, Tia. Adoraria ver o Gui, mas já tinha marcado de passar um tempo na casa de praia da Elisa.
Não precisou de muito para as duas senhoras entenderem a situação. Elas apenas fingiram acreditar e torciam para que, em algum momento, tudo se encaixasse novamente.
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Guilherme estava ansioso. Há cinco anos não colocava os pés em sua cidade natal. Sentia falta de sua casa, de sua mãe, apesar de vê-la com frequência, sentia falta de sua tia-mãe e até da sua princesa.
Ele não fazia ideia de como ela estaria. Pelo tempo deve ter se tornado uma mulher, mas não sabia em que terreno estaria pisando, em se tratando de Anna. Jamais havia perguntado por ela, não por não querer saber, mas porque era melhor que os dois esquecessem a brincadeira que criaram na infância.
O hoje era muito diferente, ele voltaria a casa de suas mães para comunicar seu noivado. Não podia prever as reações de sua família. Porém, sua apreensão estava mais em Anna do que em qualquer outra pessoa.
Lindsay já não morava sozinha, mudou-se para casa da melhor amiga há alguns anos. Então Guilherme foi para lá e foi muito bem recebido por ambas as mães. Ao ver que Anna não aparecia, perguntou por ela pela primeira vez em anos:
— Onde está a princesa... Digo, a Anna?
— Acredito que você não a verá desta vez, querido. Ela passará alguns dias com uma amiga, já havia marcado esta viagem e pediu que nos desculpássemos com você. - Lindsay aumenta um pouco.
— Como ela está? Terminou o colégio? Está namorando? - A curiosidade de Guilherme o dominava.
— Ela está muito bem, filho. Tem se dedicado muito a seus estudos e, em algumas semanas, vai a faculdade. - Emma fala somente o essencial. Não pretende entrar em detalhes. — E você? Está tão grande, meu menino.
Conversaram amenidades por um tempo. Mas o pensamento de Guilherme estava em Anna. Como ela estava? Como ficou depois de cinco anos? Pediu para ver algumas fotos, já que ele não encontrou nenhuma exposta na casa e em suas buscas online. Sua curiosidade estava sem controle.
Emma, porém, cortou logo as asinhas de seu afilhado.
— Anna não é de se expor. Detesta ser fotografada.
— Eu nunca entendi, para falar a verdade. Ela se tornou uma mulher maravilhosa, tanto por dentro quanto por fora. - Lindsay põe lenha na fogueira.
— Ela sempre foi maravilhosa. - Guilherme se recorda dos momentos em que sua princesa fazia seus olhos brilharem.
As duas amigas se olham com esperança. Viram nos olhos de Guilherme uma possível faísca, isso as encheu de expectativas. Pelo menos por um tempo. Ele tinha uma missão ali, e logo a executaria.
Alguns dias depois e ele sentiu que já era hora de contar. Chamou as duas senhoras e começou a história:
Havia conhecido uma mulher no ano anterior. Bonita, meiga, compreensível e de boa família. Ela o fazia feliz, era boa companhia. Ele, criado para casar, a pediu em casamento há algumas semanas. E queria a benção de suas mães.
Com certa decepção, que não foi demonstrada, as duas amigas o abençoaram. E prometeram estar presentes no casamento, marcado para dali um ano.
Após a viagem, Guilherme só conseguia pensar em sua princesa. Não sabia como seria encontrá-la, mas ansiava por isso. Só não sabia que não vê-la seria tão frustrante.
Esta semana trouxe alguns questionamentos a vida de Guilherme, reacendeu algumas chamas e deu uma certeza: Precisava encontrar a princesa antes de casar e se "amarrar" em um laço eterno.
(...)
Anna voltou para casa assim que soube da partida de Guilherme. Ela queria saber o motivo de sua vinda repentina, mas não ousou perguntar. Sabia que uma hora ou outra saberia.
Não demorou muito para que acontecesse. Suas mães a chamaram e, quando encontrou seus olhares de - quase- piedade, soube que algo estava errado.
Ouviu algo que jamais em sua vida imaginou. Seu príncipe, futuro "noivo", seu primeiro e único amor, aquele que deu seu primeiro beijo e prometeu voltar para lhe tomar como esposa, ele que só tinha olhos para ela iria se casar com outra. E, o pior, queria que ela estivesse presente.
Forçou um sorriso amarelo, parabenizou sua tia e pediu que transmitissem suas felicitações ao casal. Imediatamente se retirou com a desculpa de finalizar algumas pendências de sua viagem.
Na segurança de seu quarto, chorou o que não havia chorado todos estes anos. Apesar da ausência de Guilherme, ainda esperava, mesmo que inconscientemente, que, em algum momento, ele voltasse para ela.
Por esta razão Anna havia escolhido frequentar a mesma faculdade de Guilherme. Para ficar mais perto de seu amado. E, em alguns dias, era para lá que ela iria.
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Oi gente,
Espero que estejam gostando.
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Amo vocês.
Beijos, S. ?
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