Capítulo 7 - Marca Alaranjada como Fogo em Brasa.
Quando saíram e viram o vilarejo, os rostos das meninas se iluminaram. Era bom ver um local que não fosse o colégio.
Ao contrário de Jack, Mira gostou de Isabella e Mirelle. Elas eram divertidas e pareciam conhecer tudo ali.
— Há! — ela pulou de alegria. — Não aguentava mais ficar presa lá dentro.
— Venham, vamos dar uma olhada. — disse Rick.
O lado de fora do colégio era bem diferente da vila que as amigas conheciam. Primeiro tudo era iluminado com luzes coloridas, ou seja, magia. As casas simples eram substituídas por Torres e casas mais altas. As pessoas usavam saias, vestidos acima dos joelhos, cabelos coloridos, sapatos altos e outras roupas bem diferentes para quem só estava acostumada a usar vestidos e sapatos baixos. Claro que o uniforme era uma prova de como as vestimentas eram diferentes, porém ver aquilo fora do Luminus mostrava como tudo era incomum.
Elas caminharam pelo mercado, havia pessoas de várias espécies que Isabelle foi diferenciando conforme passavam por elas.
— Pessoas de orelhas pontudas, elfos e fadas. A diferença era que as dos elfos são mais retas. Também há os anões, homem pequenos e barbudos que costumavam fabricar armas e armaduras. Duendes ou gnomos, dependendo da região de onde vêem são seres pequenos que adoram a natureza, eles vendem produtos naturais, flores ervas e alguns remédios. Costumam ser pacíficos, mas não pise no calo deles. Depois temos os goblins, são semelhantes aos duendes, porém com uma aparência mais rude. Gostam de pegadinhas, por isso é necessário ter pulso firme com eles e um olhar atento para não ser enganado. Por fim há os magos, bruxos e feiticeiros, eles vendem o mesmo que elfos e fadas, no entanto possuem mais poder mágico. Além de fazerem contratos, invocações e feitiços.
— E comida? Ninguém vende? — perguntou Mira.
Os outros riram.
— Isso todos eles têm. — disse Elliot.
— Quero levar vocês a um lugar melhor. — disse Isabelle.
— Não chame aquilo de lugar melhor, Isa. — disse Elliot.
— Vai ter um torneio lá hoje — ela sorriu travessa.
— Não acredito que vai nos levar para competir! — respondeu seu irmão.
— Claro que não. Vamos comer também. — Ela se virou para Mira — Meu irmão é um idiota. Sempre muito preocupado. Você tem irmãos? — perguntou Isa.
Mira pensou no que o tal deus havia dito, sobre o imperador ser seu irmão. Mas ela nunca o conheceu, ou se o fez, não se lembrava dele. O mais próximo de afeto fraterno que ela conhecia era Kendra, e isso já bastava.
— Não, não tenho. Kendra é o mais próximo de uma irmã que eu conheço.
— Às vezes não precisamos ter laços consanguíneos para sermos da mesma família. — Rick sorriu.
Eles se aproximaram de um prédio de telhado arredondado com janelas grandes e quadradas, e uma porta de maneira redonda e enorme. Aquilo parecia uma taverna, porém quando as estrangeiras entraram, notaram que era tudo menos aquilo. As mesas eram redondas e feitas de madeira. Haviam mesas com 2, 4, 6 e 8 lugares. Várias pessoas jantavam tranquilamente no local. Não havia ninguém só ou bêbado.
Os jovens se sentaram em uma mesa para 8 e uma mulher jovem de pele verde água, olhos cinzas e orelhas pontudas veio atendê-los. Com uma saia vermelha e uma blusa de meia manga branca ela sorriu.
—Tudo bem, crianças? Trouxeram gente nova hoje?
— Sim, Ely. Trouxemos meninas novas. Elas são alunas novas. Kendra e Mira. — disse Jack
— Elas mal chegaram e vocês já as estão fazendo-as quebrar as regras? — Riu a garçonete. — O que vão querer?
As meninas estrangeiras olharam para os outros, sem saber o que pedir ou se o dinheiro delas era útil ali.
— Não se preocupem, eu pago. — Isabelle piscou para elas. — Ensopado de porco, suco de uva e pão.
— Não precisa pagar, Isa. Nós… — disse Kendra.
— Vocês são minhas convidadas hoje. Faço questão.
A comida era deliciosa, Mira nunca havia provado algo tão gostoso. Era melhor até que a do colégio.
Eles passaram algum tempo cada uma contando da sua vida. Isabella contou da sua e da do irmão, já que ele nunca conseguia dizer nada. Falou que eram filhos de mercadores, que viviam em um lugar tranquilo na cidade de Elstow, perto do reino de Idys. Algumas cidades pertenciam ao reino, mas eram povoadas por várias espécies, ao contrário das capitais que costumavam ser habitadas por uma única espécie.
— Que interessante. Parece o nosso mundo. — disse Mira curiosa. — Nossos mundos não são tão diferentes assim.
Agora foi a vez de Mirelle, ela contou que a mãe dela era a rainha do reino de Selares, o reino dos caçadores. Sua mãe era muito rígida e queria que todos os filhos seguissem o caminho da caça, porém a garota era a filha rebelde entre os 8 irmãos.
Finalmente, Rick contou mais sobre ele. Seu pai era um lobisomem e sua mãe uma bruxa. Eles viviam em Destriz, perto do reino de Selaris. Um local cheio de criaturas, filhos de espécies diferentes.
— E você se transforma? Digo, em Lobo? — perguntou Kendra.
— Ainda não, só quando completar 18 anos. Porém como sou híbrido só será doloroso na primeira vez. Depois posso me transformar sem dor e sem problemas.
— Sinto muito. Deve ser difícil. — disse Mira sincera.
—Tudo bem, é normal. — Ele deu um sorriso charmoso fazendo-a corar.
—Vamos, estão chamando para a amostra. — disse Elliot parecendo irritado.
Ely estava no centro com uma espécie de esfera dourada em sua mão. Quando ela falava o som ecoava mais alto para todos os cantos.
— Bem-vindos, prontos para a apresentação de hoje?
Todos no local bateram palmas e gritaram animados.
— Quem é o primeiro? — a fada perguntou.
— Eu, eu aqui. — disse Isabella animada enquanto se levantava da cadeira.
A jovem se levantou e foi até o centro do salão. Suas mãos se encheram de água e ela criou uma onda gigante que se transformou em uma estátua de gelo em formato de foca, enquanto moldava o líquido com as mãos.
Os aplausos podiam ser ouvidos por todo o salão.
— Minha vez maninha. — disse Elliot se levantando.
O fogo preencheu suas mãos, porém era um fogo comum alaranjado. No entanto, não significava ser fraco. Ele prendeu o fôlego e soprou o fogo, o moldando assim como a irmã. No fim, o fogo era um mini vulcão de lava que ocupava quase o centro do salão inteiro.
Mirelle deu um passo à frente e levantou a mão educadamente.
— Minha vez. — disse empolgada, porém tranquila.
Ao contrário dos outros, não apareceu nada em sua mão. Os seus pés foram os chamadores de poderes. No momento em que um deles bateu no chão, raízes começaram a surgir do solo. Agora suas mãos se moveram e ela entrelaçou as raízes uma sobre as outras, mostrando seu domínio sobre a terra.
— Eu. — disse Jack simplesmente.
O jovem não fez nenhum movimento. Ele simplesmente encheu pulmão com ar como Elliot, e Mira pensou que o ruivo iria moldar o fogo como o de olhos verdes, no entanto o que aconteceu foi algo ainda mais surpreendente. O elemento saiu de dentro dele. Enquanto se movia, a chama em sua boca se movia juntamente, criando um círculo ao seu redor.
— Jack tem uma habilidade muito rara. Poucos conseguem fazer algo do tipo. — disse Rick. — Minha vez agora.
O menino de cabelos negros se pôs a frente. Ar saiu de suas mãos, porém era um ar visível, roxo. Ele manipulou aquilo para formar um furacão lindo em tons de prata e roxo. Tudo ao redor começou a voar e as amigas pensariam que iriam junto, porém, logo o fenômeno foi parado e tudo voltou ao normal.
—Vocês são incríveis. — Mira exclamou supressa.
— Obrigado. Mas acho que é a hora de ir. — disse Rick.
— Sim, está tarde! — comentou Jack.
— Eu e as meninas ficaremos mais um pouco. — disse a ruiva.
— Isa... — Elliot reaprendeu a irmã.
— Só mais um pouquinho. — disse fazendo beicinho.
— Tudo bem, vamos na frente.
— Tomem cuidado. — disse Jack.
Enquanto os meninos iam embora, Mira pensou em como gostaria de ter poderes como aqueles. Talvez assim fosse mais fácil trazer sua mãe de volta. Pensando nela, um semblante triste lhe veio a face. Mas logo um sorriso tomou seu lugar quando Isa disse algo engraçado.
As meninas ficaram conversando por mais uma hora.
Mirelle chamou Ely e depois de pagar partiram.
— E agora? Como entramos sem ser notadas? — perguntou Kendra.
— Tem uma passagem por baixo. Se vocês não ligarem de ficarem molhadas... — riu Mirelle.
Mas as meninas não estavam rindo.
— O que foi? — perguntou a ruiva.
Ela olhou para a frente e havia uma criatura que nunca tinha visto. Um lobo enorme de olhos brancos e pelagem preta que oscilava para a cinza, dentes e garras também prateados e patas conectadas com luzes azuis.
— O que é isso? — perguntou Isa.
— Um Dowykai. — disseram Mira e Mirelle juntas.
—Vou perguntar novamente, que raios é isso? — disse a de cabelos ruivos, se preparando para atacar.
Um fio de água apareceu em sua mão. Isa estava notoriamente tensa, enquanto Mirelle parecia tranquila com uma adaga de prata na mão.
— São criaturas do imperador. — disse Mira. — Eu não os havia visto, mas de alguma forma sei…
Uma memória distante veio a sua mente naquele momento.
Ela se viu com 5 anos de idade correndo em um jardim.
Um Dowykai pequeno apareceu diante dela e a criança parecia não ter medo.
— Dylan! Deixe esses animais longe da sua irmã. Pode ser perigoso. — Ouviu uma voz que ela reconhecia.
Provavelmente era sua mãe. Ela não podia ver seu rosto, mas seus cabelos brancos e o vestido azul-claro eram notáveis.
Um menino alto que talvez estivesse com 9 anos, não era possível saber, pois seu rosto também não era visível, apareceu.
— Mi vai ficar bem, mamãe. Eu os treinei para não a machucar.
Ele se aproximou dela, seu rosto não era visível, e afagou seus cabelos.
— Não se preocupe, Mi. Eles nunca vão te machucar. É uma promessa.
Mira retornou para a realidade.
—Tudo bem? — perguntou Kendra. — Você parecia fora do ar.
A jovem se pôs na frente das amigas.
— Eles não podem me atacar.
— Como? — perguntaram as outras três juntas.
— Não me sinto confortável ao falar disso agora.
— Isa, por onde é a passagem? — perguntou Kendra.
A ruiva apontou na direção sem entender nada.
—Vamos! — Ela correu e as outras a seguiram.
O animal não se aproximou. Ficou cada menor conforme elas iam se distanciando.
Isa e Mirelle pararam.
— É aqui!
No local só havia pedras e árvores.
— Onde? — perguntou Kendra.
— Lembra do que eu disse sobre se molhar? — falou Mirelle.
A menina tocou um local com pedra e água surgiu as molhando. De repente elas foram substituídas por água e esta formou um lago.
—Vamos. — disse.
No lago, seguiram Mirelle e viram uma porta transparente, quase invisível. Isa abriu a porta e elas encontraram a continuação do lago. Subindo para a superfície era possível se ver algo verde. Quando finalmente chegaram em terra firme, podia-se ver que era um jardim.
Era o mesmo local que Jack havia trazido Kendra.
Mas a água estava fria. Ela corou ao pensar naquele dia.
— O que foi, Kendra? Seu coração acelerou de repente. — perguntou Isabella.
A loira havia se esquecido do poder dos Amnus.
Sentir os sentimentos dos outros.
— Não é nada. Eu estou bem.
— Hmm. — disse Mira desconfiada. —Tem algo a ver com Jack?
Kendra estava pronta para negar, mas a expressão séria da amiga acabou vencendo.
— Sim. — disse quase num sussurro.
Chegando ao corredor as meninas se despediram, Isa e Mirelle foram em direção ao quarto que partilhavam e as outras duas foram para o delas.
Então Kendra contou tudo sobre aquele dia.
— Sabia que você ficaria chateada.
Mira estava de cara fechada, como sempre ficava quando se tratava de Jack.
— Bem, não é como eu pudesse lhe impedir de algo. Jack me dá uma sensação estranha, como se não fosse confiável. Mas se você confia nele, eu confio em você.
Mira deu um longo suspiro e se jogou sobre o tapete do quarto.
Kendra quis contar sobre o sonho e o bilhete, porém notou que os olhos da amiga estavam se fechando.
Não era que ela não estivesse acostumada a acordar cedo. Elas já haviam várias vezes ido dormir de madrugada e acordaram poucas horas depois. Mas ter que acordar sem nem ter dormido pelo menos uma hora era diferente. Algo queimou em sua pele, ardia e ela quis gritar.
Quando abriu os olhos viu em seu peito um símbolo de uma raposa estampado como se ele tivesse sido marcado com brasas. O rosto da mulher encapuzada lhe veio à mente. E Kendra sabia que aquilo não era algo bom.
