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Capítulo 6 - Olhos amarelos como o sol.

As figuras encapuzadas andavam pela rua. Uma delas, vestindo um capuz azul, virava a cabeça a todo momento, como se conferisse se ninguém as estava seguindo. Logo viram barracas e lojas enormes de diferentes tipos e tamanhos, entraram em uma particularmente bizarra. Caveiras negras e prateadas decoravam o local, juntamente com olhos e cérebros em vidros. O lugar cheirava a mofo e não era limpo há tempos.

A pessoa fez uma exclamação de nojo ao ver um rato passando pelas prateleiras.

— Tem certeza que aqui é o lugar certo? — disse com uma voz feminina.

— Sim — respondeu a outra, usando um capuz verde —, tenha paciência.

Um homem careca, velho, corcunda, vestindo roupas pretas se revelou. Deu um sorriso com seus dentes tortos e fez uma referência.

— Olá... Milady! Não a esperava tão cedo.

— Preciso de uma informação... Sobre aquela pessoa e a família dela. A verdadeira. — disse a de vestimenta esverdeada.

O sorriso do homem pareceu aumentar.

— Oh. Eu tenho o que a senhorita deseja. E você já conhece o pagamento.

A mulher estendeu o braço que continha uma tatuagem azul de uma raposa. Puxou uma adaga da bainha e cortou o braço logo acima da marca, fazendo com que o sangue fosse despejado dentro do pequeno vidro que o velho havia proporcionado.

— Está feito! — ele disse roucamente.

— Que bom que ninguém nos seguiu. — disse a de azul.

— Eu não teria tanta certeza! — respondeu a outra. — Tem alguém aqui.

A figura encapuzada olhou em direção a um espelho redondo, velho e sujo, com uma moldura dourada totalmente adornada. Retirou seu capuz verdejante e revelou sua face.

— Vejo que anda espiando demais, menininha. O show acabou.

A mulher com cabeça de raposa a encarou. Os longos cachos ruivos caindo em seu busto, e os olhos amarelos penetrando no fundo da sua alma.

— Kendra! Kendra! — alguém a chamava.

A loira acordou assustada. Não percebeu que havia pegado no sono antes do início da aula.

— Tudo bem, Kedy? Estava tendo uma visão? — perguntou Mira preocupada.

— Algo do tipo. Uma espécie de mulher raposa.

— Mulher raposa? Como as Kitsunes do reino de Mantua?

— Acho que sim. Mas como você sabe sobre isso?

— Eu li nesse livro sobre seres mágicos. E adivinha? — disse a amiga sorrindo de orelha a orelha. — Acho que descobri o nome dele. — Você estava falando, desculpa.

Kendra riu. Mira continuava avoada como sempre. Desde o momento em que pisaram novamente no colégio, elas começaram a pesquisar sobre o colar de sangue e Mira lhe contou sobre o homem misterioso que aparecia em seus sonhos. Desde que a amiga viu o livro de criaturas e seres mágicos, a amiga começou a busca por um nome, ou espécie do estranho.

— Haviam duas mulheres em uma loja esquisita. Estava pedindo informações sobre alguém, algo como verdadeira família. Uma delas tinha um rosto estranho de raposa. — Kendra parou e pensou por alguns momentos. — Pensando bem, acho que ela estava se referindo a você.

— A mim? — perguntou Mira, confusa.

— Bom dia, classe — as garotas foram interrompidas.

Uma mulher negra entrou, os olhos amarelos olhavam para cada um naquela sala, seus cabelos roxos presos em um coque de tranças, perfeito sem nenhuma mecha fora do lugar. A professora vestida uma calça amarela e uma regata preta. Em sua orelha direita, um brinco em formato de dragão e mais cinco menores acima dele.

— Sou a professora Maya Trys e hoje iremos começar a aula de magia primária.

Mira se remexeu na cadeira feita de madeira, colocando seus braços sobre a carteira média a sua frente.

A professora notando que todos estavam prestando atenção, continuou:

— Temos quatro elementos de magia primária: ar, terra, fogo e água. — Ela desenhou quatro símbolos na lousa, pequenos círculos, seguidos de pedras, chamas e depois ondas.

Maya fez um movimento com as mãos e os desenhos se moveram, formando pequenas miragens azuis de um redemoinho, pedras caindo, uma fogueira e uma onda a sua frente.

— Toda e cada criatura mágica nasce com sua magia primária. Porém existem aqueles que podem controlar todas elas, controlando a energia do universo e talvez tendo contato com os deuses. Não se sabe muito sobre esses seres, porque eles foram extintos há séculos. Essas pessoas especiais que nasciam em diferentes tipos de raças diferentes eram chamadas de sacerdotes.

Ao ouvir aquela palavra, o coração de Mira pareceu parar por alguns segundos. Mesmo que ela não entendesse o porquê.

— Os únicos que ainda podem ter um resquício desse poder, são os descendentes destes. Porém seu poder não é nada comparado a um sacerdote de verdade. — Continuou a professora.

Maya explicou um pouco mais sobre os elementos, que cada um fazia algo já esperado. Água, controlava tudo o que era água ou se derivava dela, gelo, sangue, gás, era a magia de cura, da visão do outro e do subconsciente. O ar era o elemento da previsão, do sopro, da psique, do oxigênio, podia-se extinguir a vida de uma pessoa somente retirando o ar dela; o fogo era belo e mortal, existiam vários tipos de fogo, cada cor com uma eficiência diferente, porém só os mais hábeis tinham a habilidade de torná-lo mutável, era o elemento do poder e do calor. E por fim, a terra. O elemento do conhecimento, da criação, podendo se criar criaturas estonteantes em seu comando, controlar a natureza e quase tudo que havia nela, sendo a base de todas as outras.

Terminado assim a primeira aula, a segunda veio logo em seguida.

A professora era uma mulher de cabelos castanhos, nariz pontudo e óculos quadrados. Usava um lindo vestido vermelho que combinava com seus olhos da mesma cor. Mira chutou que ela fosse uma vampira, o que os estudiosos consideravam inimigos da espécie da primeira professora, os lobisomens.

Mira olhou impaciente para o relógio. Ainda faltava meia hora para a aula de feitiços básicos acabar e ela só queria comer alguma coisa. Passou a noite inteira pesquisando sobre colares de sangue. Mas nada a ajudou a descobrir o motivo do imperador desejar o seu. Ela não podia sangrar sobre o colar. Mas o que aquilo importava para aquele homem? Por que ele levou sua mãe ao invés de si? As perguntas vagavam pela sua mente e a jovem estava cansada de não ter as respostas.

— Senhorita Collins? Está prestando atenção?

— Hmm... Sim! Me perdoe, senhorita River.

Ouviu-se o sinal, finalmente. A segunda aula não era tão interessante quanto a primeira, já que ela não podia fazer nenhum feitiço. Por isso acabou divagando um “pouquinho “.

Olhou para Kendra que havia saído da sala, estava curiosa para saber mais sobre o sonho dela.

Alguém estava na porta. Pelo sorriso de Kendra era Jack, e ela acertou. Porém tinha mais gente com ele. Eram quatro acompanhantes no total, uma menina ruiva, um pouco mais alta que Kendra e um pouco mais baixa que si, de olhos azuis, uma menina negra com olhos laranjas e cabelos cumpridos volumosos com uma flor os enfeitando, um menino ruivo como a primeira moça só que seus olhos eram de um verde água e um sorriso de que ia aprontar alguma e um asiático de cabelos negros, olhos roxos e semblante tranquilo.

— Olá! Como estão? O que fazem aqui? — Kendra disse.

— Viemos ver vocês. — disse a ruiva olhando para Mira e estendendo a mão um pouco acanhada, não confiava em pessoas novas.

— Sou Isabella Amnus, prazer em lhe conhecer. Você deve ser a Mira, certo? — continuou a ruiva.

— Mira Collins — sorriu. — Prazer em conhecê-la.

— Eu sou Mirelle Seles, prazer — a de cachos volumosos acenou.

— Não se preocupe, Mirelle não gosta que a toquem. — disse o ruivo.

— Sou Elliot, irmão da Isa. — disse ele ainda sorrindo.

— E eu me chamo Rick. Wing. — O asiático apertou sua mão.

— Eu e Mira já nos conhecemos. — Jack disse sorrindo.

— Infelizmente. — A morena respondeu seria.

As meninas lhe passavam confiança de certa forma, não pareciam pessoas que lhe faria mal. Porém ela ainda ficaria atenta. Já os meninos pareciam tranquilos, mas ainda não confiava em Jack. De qualquer jeito, se sentia desconfortável com estranhos. Por isso ela e Kendra se davam tão bem.

— Viemos levar vocês para um passeio. — disse Isa.

— Pensei que não podíamos sair daqui. — falou Kendra.

— Só não podemos ir muito longe. E voltaremos antes do toque de recolher. Se passarmos do tempo tenho um jeito de entrar. — Piscou para as duas.

— O que estamos esperando? — Mira disse empolgada.

Não se importava em quebrar as regras, nunca se importou. Além disso, estava cheia da senhorita Astrid não lhe passar nenhuma informação sobre sua mãe e o que estava acontecendo.

Elas partiram atrás de Isa que liderava o caminho e Kendra parecia estar apreensiva.

— Sempre tem uma primeira vez para quebrar as regras, Kendra. — disse Mira. —E só vai valer se não chegarmos na hora.

— Você é certinha, então? — perguntou Mirelle à Kendra.

— Sim, ela é. — respondeu Mira por ela. —Por isso, gostaria de saber como vocês se conheceram. Já que ela nunca fala com ninguém.

— Ela é amiga do Jack. — disse Mirelle. — E além disso, Isa e os outros intrometidos a abordaram. Não havia como escapar.

O sorriso de Mira sumiu.

— Do Jack, hein? — disse a menina o olhando seria.

— Você parece não gostar muito dele, Mira. — comentou Rick.

— Realmente! Eu não gosto. — Mira respondeu seria.

— Ela me odeia desde o primeiro dia que me viu. — Jack riu.

Ao dar o primeiro passo para fora da escola, Mira pensou:

“Finalmente liberdade.”

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