03
ALICIA SCOTT
EU ME ENTREGUEI DE CORPO E ALMA, assim como vi seus olhos brilharem diante do desejo, do amor que ambos sentimos um pelo outro. A princípio fiquei desorientada quando ele falou que estaria ocupado amanhã, mas quando estava tomando banho e adrenalina já tinha deixado o meu corpo, eu pude sentir o quanto estava dolorida. Então entendi que sendo um homem experiente, ele só estava dando-me um tempo para que viesse a me acostumar com tudo que era tão novo para mim.
Depois de vestir uma roupa bem confortável, fui me deitar no sofá e as lembranças de cada segundo que estive em seus braços martelam em minha mente, fazendo um sorriso largo tomar conta da minha face. Durante a minha adolescência, sempre ouvia as meninas da escola falando dos seus namorados e outras viviam a se jogar para cima dos meninos da nossa sala. Eu jamais me senti atraída por garotos que tinham a mesma idade que eu e ao conhecer Pablo, eu tive a certeza de que ele era o homem perfeito para mim e depois das sensações que tomaram conta do meu corpo hoje. Depois de ter sentido a minha pele arder em meio ao desejo, é somente em seus braços que desejo passar cada minuto da minha vida.
Minutos se passaram e eu acabei caindo num sono profundo e só despertei quando a minha mãe chegou do trabalho. No momento que fui me levantar do estofado, um gemido alto escapou da minha boca sem que eu pudesse controlar, pois embora tenha gostado muito de tudo que fizemos, eu não achei que mesmo depois de ter passado várias horas, ainda pudesse sentir essa sensação ruim entre minhas pernas.
— Está sentindo alguma coisa, filha?
Por alguns segundos eu achei que iria me engasgar com a minha própria saliva, mas sempre tivemos um relacionamento a base da confiança e sendo algo tão especial para mim, era com a minha mãe, a minha melhor amiga, que iria me abrir e dizer tudo que estava sentindo.
— Eu estou bem, mas vamos jantar primeiro e depois tenho algo que preciso lhe contar — disse já pegando as sacolas que estavam em suas mãos.
Trabalhando em um restaurante, ela sempre acabava por trazer a comida já pronta. Nos momentos seguintes, jantamos e depois de limpar tudo, seguimos para sala e comecei a contar tudo que havia acontecido. A cada palavra dita, várias feições surgiam em seu rosto e mesmo tentando disfarçar, a tristeza estava visível em seu olhar, porém, sendo quem era, assim que seus lábios se moveram, as palavras que ressoaram no ambiente acabaram por acalentar o meu coração ao receber todo o seu apoio, compreensão e carinho.
— Você sabe que não gosto dele, mas eu a amo acima de tudo, e se ele te faz feliz. Eu só tenho que te apoiar e desejar que você seja imensamente feliz.
— Obrigada, eu amo você, mãe.
Ela me envolveu com um abraço acolhedor e tendo o amor das duas pessoas mais importantes da minha vida, eu poderia superar qualquer obstáculo que viesse a surgir em meu caminho.
No dia seguinte...
Sempre fui uma boa aluna, mas desde que cheguei ao curso que meus pensamentos estavam distantes. Tudo que vinha em minha mente eram as lembranças dos toques de suas mãos em minha pele, dos seus lábios sedosos grudado nos meus. Do seu beijo que é um fogo que sacode todas as fibras do meu corpo e que ficou em chamas ao sentir o calor da sua pele junto da minha.
As horas se arrastavam, cada minuto parecia uma eternidade e quando o último horário chegou ao fim, meus passos eram largos e precisos ao ponto que atravesso o corredor numa velocidade impressionante. Embora ele tenha dito que não sabia se íamos nos ver hoje, eu tinha esperança de encontrá-lo na garagem do prédio onde sempre ficava me aguardando. Contudo, ao chegar ao ambiente, meus olhos passeiam em volta do lugar e ele não estava. Acabei deixando o recinto e percorri um longo caminho até chegar à estação de metro e depois que cheguei a minha casa, toda minha atenção estava para o meu celular. Minutos e horas se passaram e eu não recebi nenhuma mensagem ou ligação dele. Fiquei tentada a ligar, mas acabei por não fazer, já que não queria invadir o seu espaço.
Três dias depois...
Senti uma angústia dentro de mim que quase me tirava às forças para pensar. Durante os dias que se passaram, eu tentei disfarçar na frente da minha mãe, tentando mostrar que tudo estava bem e mesmo sem vontade, tive que comer para não deixar transparecer o quanto eu estava inquieta. Liguei por diversas vezes e só ouvia a voz de uma mulher dizendo do outro lado da linha que o número não existia. Tentei mandar mensagem, porém, só dava erro e a cada minuto, vários pensamentos pipocavam em minha mente dizendo que algo de ruim havia acontecido. O que só aumentava o meu desespero pela falta de notícias e como nunca fui a sua casa e desconhecia quem eram seus familiares, o meu tormento se tornava pior ainda.
— Sua louca!
Meus pensamentos foram interrompidos e eu tive um solavanco quando o homem parou o carro centímetros a minha frente e por muito pouco não fui atropelada. Eu estava tão desorientada, que acabei não prestando atenção.
Com passadas firmes, atravesso para o outro lado da rua e continuo andando até a estação. Minutos depois, quando estava prestes a chegar ao meu destino, sinto uma forte inquietação e acabo parando na tentativa de que aquele desconforto pudesse ser dissipado, no entanto, meu coração disparou, minha respiração ficou irregular e um nó imenso se formou em minha garganta ao mover a cabeça em direção ao outro lado da rua, me deparando com a imagem que fez as lágrimas grossas surgirem em abundância e começarem a inundar o meu rosto. Minhas pernas ficaram pesadas, meus pulmões funcionavam aos espasmos e totalmente incrédula, eu me negava a acreditar no que estava vendo.
Não sei quanto tempo fiquei ali parada sem mover um só centímetro do meu corpo, tudo parecia que havia parado ao meu redor e quando consegui sair do estado de estupor que me encontrava, o casal do outro lado havia parado de se beijar e não me dando tempo de ir até eles, os dois entraram em um carro luxuoso e como num abrir e fechar de olhos, o veículo entrou em movimento, correndo pela estrada em direção a um destino totalmente desconhecido por mim.
Uma dor profunda tomou conta do meu coração. Eu tinha a sensação de que algo havia se quebrado dentro de mim, mesmo com dificuldade, consegui chegar até a estação e não me importei com as pessoas que estavam me olhando. Alguns assustados, outros preocupados ao ver o meu estado, chorando copiosamente durante todo o trajeto, quando saí do metrô, era como se estivesse no piloto automático. Meu corpo se movia, mas a minha alma parecia estar fora dele, como se estivesse perdida e o meu coração completamente estraçalhado. Nem me dei conta de que já havia chegado a minha casa, mas ao lembrar que minha mãe hoje estava de folga hoje, respirei profundamente, e depois de alguns segundos, abri a porta, achei estranho não a ter encontrado na sala, então segui em direção a cozinha e de repente senti um calafrio atravessar o meu corpo inteiro e meu coração começou a bater forte como se fosse sair para fora do meu peito e ao chegar no cômodo, nada que havia sentido horas atrás poderia ser comparado com o desespero e a dor que me envolveu e sem que eu pudesse controlar, um grito ensurdecedor escapou do fundo da minha garganta.
— Mãeeeeeeeeee...