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Introdução

Pego uma vez mais na minha pluma, sofrendo com a luta que me vai no coração. Devo escapar a esta paixão que me consome, mas não sei como fazê-lo.

Esta noite vieste até mim. Senti a tua presença, o teu calor, antes de escutar as tuas passadas, a tal ponto os meus sentidos estão harmonizados com a tua proximidade. O feitiço que me lançaste fez de mim tua escrava com mais eficácia do que quaisquer grilhões.

Murmuras o meu nome e eu volto-me para ti. Os teus olhos negros são intensos, inquisitivos. Devolvo-te o olhar, fascinada. Basta esse teu olhar, e sou inundada por uma torrente de prazer.

Refugio-me nos teus braços sofrendo de amor e desespero. O teu contacto é como um bálsamo, a tua mão no meu peito alivia-me e excita-me ao mesmo tempo.

Fecho os olhos ao sentir a tua virilidade, a tua força, contra a minha fragilidade. Sabes muito bem o quanto sou vulnerável em relação a ti e à tua paixão feroz. Sinto o meu corpo inflamar-se com ela. Estremeço com as carícias dos teus lábios, do teu hálito quente, dos teus dedos hábeis à medida que me desnudas.

As tuas roupas caem no solo. À luz das velas perfumadas com almíscar, o teu corpo nu cintila de graça e poder, dono e senhor de todas as fantasias femininas.

As tuas mãos roçam o meu ventre e estremeço. Por minha vez, acaricio a intumescência compacta da tua dureza e não sinto vergonha. Ensinaste-me os desejos da carne, sensibilizaste o meu corpo para o prazer e aniquilaste toda a inibição.

Já estou a flutuar, o meu centro incendiado e pulsante convertido em líquido com o teu contacto, enquanto te deitas comigo. Com um olhar desafiante e repleto de desejo moves-te sobre o meu corpo e deslizas para o meu interior, penetrando-me profundamente. O meu grito é rouco de prazer enquanto me arqueio em jeito de rendição.

Tu dominas os meus sentidos. Estou desesperada, ansiosa por te provar, drogada com o teu opiáceo, com a necessidade de preencher e ser preenchida.

Inundas-me com a tua paixão. Estou a afogar-me e arrasto-te comigo.

Depois deitamo-nos juntos lado a lado, os nossos hálitos ofegantes misturam-se, as nossas peles húmidas aderem-se. Sinto que te manténs imóvel ao provar o sal das minhas lágrimas. Erguendo-te sobre mim, olhas-me nos olhos e vês a dor do meu coração, que não consigo ocultar.

O teu beijo intenso tinha a intenção de me acalmar, mas só aprofunda ainda mais o conflito que me despedaça o coração.

Dizes que a escolha é minha. Ofereces-me a liberdade, uma dádiva valiosa. Porque a minha felicidade significa mais para ti do que tu mesmo, deixar-me-ás partir.

Mas conseguirei suportar viver sem ti?

E caber-me-á realmente a mim fazer essa escolha? 

A cena era pagã: o homem seminu amarrado com correntes, o seu musculoso torso bronzeado pelo sol do Caribe. A sua silhueta, recortada contra os altos mastros do navio, mantinha-se desafiante, inquebrável.

Por um breve instante, Lady Aurora Demming sentiu o seu coração vacilar enquanto erguia o olhar para a amurada da fragata.

Bem poderia ter sido uma estátua esculpida por um mestre escultor, os músculos bem torneados de grande agilidade… só que ele era um homem de carne e osso e estava muito vivo. A luz do sol realçava os contornos bem delineados do seu corpo e dourava os seus cabelos louro-escuros.

Aquele tom de ouro fulvo era-lhe estranhamente familiar. No primeiro olhar, Aurora tinha estremecido com a recordação de um outro rosto perdido para sempre. Mas aquele homem impudente e quase nu era um desconhecido, e possuía uma masculinidade intensa que o tornava totalmente diferente do seu defunto noivo.

Usava apenas uns calções e, embora transportasse os grilhões de um prisioneiro, mantinha uma postura indomável e um olhar bravio e distante na direção do cais. Mesmo àquela distância, os seus olhos pareciam brilhar de modo perigoso, dando a impressão de estar a conter uma raiva latente.

Como se sentisse o seu intenso olhar, o homem voltou-se lentamente e fixou-se nela, deixando-a totalmente fascinada. O bulício e a agitação do cais desvaneceram-se. Por um momento fugaz, o tempo deteve-se e só existiam eles os dois.

A intensidade do olhar dele paralisou-a, contudo Aurora sentiu-se estremecer e, de repente, o coração começou a bater-lhe no peito a um ritmo doloroso, quase selvagem.

− Aurora?

A voz do seu primo Percy sobressaltou-a e fê-la recordar-se do lugar onde se encontrava. Estava no cais do porto de Basseterre, em St. Kitts, diante dos escritórios do agente marítimo, com o sol cálido do Caribe a incidir sobre ela. Os odores penetrantes a peixe e a alcatrão impregnavam o ar salgado junto com os gritos estridentes das gaivotas. Para lá do cais buliçoso estendiam-se as águas azulesverdeadas e brilhantes do oceano, enquanto à distância se vislumbrava a exuberante ilha montanhosa de Nevis.

O primo seguiu a direção do seu olhar até ao prisioneiro da fragata naval.

− O que te mantém tão fascinada?

− Aquele homem… − murmurou. − Por um momento fez-me lembrar Geoffrey.

Percy semicerrou os olhos num esforço para ver para lá do cais.

− Como é que consegues discerni-lo a esta distância? − Franziu o sobrolho. − A cor do cabelo talvez seja similar, mas qualquer outra semelhança deve ser superficial. Não consigo imaginar o defunto conde de March como um condenado, e tu?

− Suponho que não.

Todavia, não conseguia afastar os olhos do prisioneiro de cabelos louros. E, ao que parecia, ele também não conseguia afastar os olhos dela. Ainda continuava a observá-la enquanto se encontrava de pé no topo da prancha de desembarque, pronto para sair. Tinha as mãos agrilhoadas e estava guardado por dois marinheiros armados e de constituição robusta da Marinha Britânica, todavia, não deu pela presença dos seus captores até um deles puxar violentamente pela corrente que lhe unia os pulsos.

A dor ou a fúria fizeram-no cerrar os punhos, mas não ofereceu nenhum outro sinal de resistência enquanto era conduzido à zona dos mosquetes, no final da prancha de desembarque.

Uma vez mais, Aurora ouviu alguém chamar pelo seu nome, desta vez com mais firmeza.

O primo tocou-lhe no braço com um olhar repleto de simpatia.

− Geoffrey partiu, Aurora. Não te fará nenhum bem continuar a cismar na sua perda. E a tua dor só pode ser prejudicial para o teu próximo matrimónio. Estou certo de que o teu futuro esposo não apreciará que estejas de luto por outro homem. Pelo teu próprio bem, deves aprender a reprimir os teus sentimentos.

Sentia vergonha de admitir que não era exatamente na sua perda nem no matrimónio não desejado a que o seu pai estava a obrigá-la que estava a pensar, mas assentiu para tranquilizar o primo. Não fazia sentido demonstrar interesse por um desconhecido seminu. Ainda para mais um criminoso. Alguém que evidentemente tinha cometido algum crime execrável para merecer um castigo tão brutal.

Com um ligeiro estremecimento, Aurora obrigou-se a desviar a atenção. A primitiva exibição não era espetáculo para uma senhora, muito menos para a filha de um duque. Raramente tinha visto tanta carne masculina nua. Não havia dúvida de que nunca se havia sentido tão perturbada por um homem como há momentos, quando o olhar dele se cruzara com o dela.

Repreendendo-se a si mesma, voltou-se para permitir que o primo a conduzisse à carruagem aberta. Tinha vindo com Percy ao cais para confirmar a sua passagem para Inglaterra. Devido ao conflito com a América e à ameaça de pirataria havia poucos navios a saírem das Índias Ocidentais. De acordo com a programação, o próximo navio de passageiros devia partir da ilha de St. Kitts daí a três dias e estava apenas a aguardar uma escolta militar.

Temia regressar a casa, e retardara-o durante tanto tempo quanto se havia atrevido, muitos meses mais do que o originalmente previsto, utilizando a desculpa de que era perigoso viajar em plena guerra. Mas o pai tinha-se mostrado inflexível e havia-lhe exigido que se apresentasse de imediato a fim de preparar a boda com o nobre que tinha escolhido para ela. Na sua última carta ameaçara-a dizendo-lhe que a iria buscar pessoalmente caso deixasse de honrar o acordo que tinha feito em seu nome.

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