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Capítulo 1

Maya

Estava servindo vinho a um senhor quando ouvir barulhos vindo da parte interna do bar, havia uma portinha que nos dava entrada e como uma pessoa sedenta por saber o que estava se passando eu fui lá ver a cena e me deparei com uma coisa horrível. O homem de porte grande estava escorraçado com a cara do oficial para obter informações, mas minha sorte não durou muito tempo, o homem juntamente com seu amigo abriu a porta e me viu parada e de fato tinha certeza que eu ouvi e vi tudo. Meu peito arfou quando eu ouvi os passos deles vindo até a porta. Eu juro que eu tentei correr, mas minhas forças não existiam mais. Mesmo já tendo presenciado várias cenas iguais a essa, eu nunca estava preparada para mais uma delas.

— Olha só, não sabia eu até aqui dentro eu também tinha olheiros. — A voz grave do homem mal que estava á minha frente, eu deveria estar sentindo medo, mas eu não estava sentindo nenhuma emoção na verdade.

— A gente tem que matá-la agora, chefe! — Disse o seguidor do homem que acabara de tirar a vida do oficial de forma fria e sem dó.

Nossos olhares se cruzaram por alguns segundos e senti umas fisgadas dentro do meu peito, uma mistura de adrenalina com medo e borboletas no estômago. Ele era belo, mesmo que seja mau, ainda sim muito bonito.

— Desculpem-a senhores, Maya é uma excelente funcionária e está passando por momentos difíceis, peço que não levem-a a sério, ela nem mesmo sabe porque estava aqui. Na verdade, eu que pedi para que ela viesse pegar mais uma garrafa de vinho. — O meu patrão tentava me defender, mas a carranca dos homens que estavam com o assassino eram de pura frieza.

— Pode deixá-la ir. Mas antes que saia por esta porta, eu acho melhor você não sair dizendo por aí o que vou aqui, ou será ruim para você mesma. – O aviso veio do chefe.

— Eu… eu juro que não vi nada aqui, não direi nada do que vi

Depois de beber um copo de água com açúcar, meu patrão disse que eu estava liberada para ir embora. A imagem do homem forte, com barba cerrada e cabelo com corte militar me chamou a atenção, ainda mais quando suas palavras se dirigiram a mim, mas que culpa tenho eu mesmo?

O vento gélido tocava meu corpo, fazendo com que os pelos do meu corpo se arrepiarem, mas sem permitir que eu sinta frio. A cena que eu vi ficará marcada em minha memória para sempre, infelizmente.

Cheguei no portão de casa e ouvir meu pai conversando alto, abrir o ferrolho enferrujado do portão e entrei o mais rápido possível, o homem que antes conversava, ou melhor, gritava com o meu pai, quando me viu sua feição mudou para fúria e ele saiu sem falar mais nada.

Marcus

Seria muita hipocrisia da minha parte se eu perguntasse a ela se está tudo bem! A feição era de apavoro, mas me limitei a perguntar alguma coisa e com isso acabar perdendo mais tempo.

— Filha, preciso que venha comigo ao jardim. — Pedi carregando a caixa que segurava em minhas mãos.

— Por que isso agora, pai? Algum tipo de caça ao tesouro?

— Isto é coisa séria, minha filha. Protege esta caixa como a si mesma. — A pedi e em seguida entrei e a deixei cavando um buraco para enterrar a caixa.

— Está pronto. Agora o que vamos fazer caso alguém descubra a caixa? Estaremos perdidos. Aliás, por que o senhor está enterrando esta caixa? Por acaso está escondendo armas ou drogas aí dentro?

— O que é isso minha filha, não respeita mais o seu velho pai? Isso são modos, Maya?

— Me desculpa, mas o senhor está desconfiando de mim. Se não confiar em mim, em que vai confiar? Eu sou sua filha e sempre soube das suas tramóias, nunca lhe julguei. Mas, eu também já fui sua amiga e agora parece que não confia mais em mim.

Eu e Maya sempre fomos melhores amigos. A vi chorando em um baile porque o cara que ela gostava, na verdade gostava da melhor amiga dela. Depois disso elas se afastaram, e ela desistiu dos estudos, querendo se envolver em tudo que eu estou. A curiosidade desta vez passou do limite.

— Filha. — Segurei seu rosto com as costas das minhas mãos e olhei fixo em seus olhos. — Preciso que me liga com atenção

(...)

Estava voltando para casa quando fui surpreendido por dois homens que nunca vi, sem dúvidas alguns dos inimigos os mandou. Mas não conseguia me mover, passei duas noites em um puteiro barato, porque era o lugar perfeito para se esconder. Quando as dores do corpo passaram um pouco eu voltei para casa.

Maya

Acordei após um pesadelo onde minha cabeça estava encenando toda aquela cena. Mesmo que eu não tenha visto o momento exato, eu lembro de cada detalhe.

(...)

Após mais um dia de trabalho, eu cheguei em casa e não vi meu pai, apenas Mel que estava deitada e ainda dormia.

— Ei, papai não te levou à escola hoje? Está faltando demais, desse jeito vai acabar reprovado.

— Papai não voltou, Maya. Passei a noite sozinha! — Mel tinha lágrimas em seus olhos, porque isso nunca havia acontecido.

Peguei o telefone e no momento em que eu estava discando o número para ligar para ele, ele adentrou a porta com vários hematomas espalhados pelo seu corpo, mas o olhos roxos foi o que mais me chamou a atenção.

— Levanta e vai tomar um banho, irei fazer seu jantar. — Fechei a porta e deixei que Mel fizesse ao menos isso sozinha.

Voltei pra sala onde meu pai estava me esperando com ansiedade.

— O que lhe causou essas marcas? O senhor nunca foi brigar na rua, meu pai.

— Eu adoraria te explicar, mas não posso. Neste papel está o endereço para onde deverás ir, ela saberá o que fazer e ajudará vocês duas. Eu não tenho muito tempo, minha filha. Preciso que me escute e faça o que lhe peço.

Tentei conter as lágrimas mas foi algo impossível.

— O que está acontecendo, pai? O senhor passou dois dias fora de casa e aparece todo machucado. — Implorei para que ele dissesse algo, mas sem sucesso.

— Eu não tenho tempo para explicar isso agora, filha. Mas peço que cuide de sua irmã como cuida de si mesma.

— Eu sempre cuidarei de Mel, meu pai. É uma promessa que lhe faço.

— Então pegue sua irmã e vá até esse endereço!

Abrir o papel e o endereço no qual meu pai me deu era em outro país.

Meu pai sempre cuidou muito bem de nós duas, mas seu envolvimento com o tráfico de drogas nos colocava sempre em perigo e mesmo não sendo isso que quiséssemos, não tínhamos escolhas. Além disso, Mel sofre de Claustrofobia e mesmo assim, sempre faz o possível para se manter calada nos lugares mais obscuros que nós duas já nos escondemos, uma menina muito inteligente, mesmo tendo apenas 10 anos.

Fui até o quarto de Mel e ela estava pronta e mexendo no seu tablet, como de costume.

— Meu amor, precisando sair daqui agora mesmo. Você sabe como nossa vida funciona. — Ela fez um muxoxo e revirou os olhos, mas não contraditou.

— O papai vem ou desta vez ele vai ficar como da última vez?

— Será apenas nós duas. Mas sabe de uma coisa boa? A gente vai ficar juntinhas o tempo todo, como sempre fizemos.

Eu tentei convencer meu pai de vir conosco, mas ele se negou até que eu desistisse de chamá-lo. Ele sempre nos protegeu, mas eu sempre gemi em perder ele, a única família que eu tenho e não quero nem imaginar se eu e Mel ficarmos sozinha no mundo. Nossa vida não é das melhores mas nós amamos, nosso pai não ama de uma forma incondicional e eu já não sei o que será de mim quando ele se for.

(...)

Liguei para o meu patrão e pedi demissão sem lhe dar motivos, disse que precisaria cuidar da minha irmã e que estávamos de mudança, mas não dei muita satisfação também. Ao abrir a porta, me deparei com Ulisses no portão, para minha sorte ele não me viu.

— E então meu bem, está pronta? Temos que ir embora agora, mas tenta fazer o menor barulho possível, está me entendendo? — Mel apenas assentiu. Por ela ter 10 anos deveria ser mais esperta, mas as mudanças de cidade e tudo que ela já viu não é nada fácil.

— Estou! Por que está com tanta pressa?

Ignorei Mel e fui tentar convencer meu pai de vir com a gente pela última vez.

— Pai, ainda dá tempo do senhor vir conosco. Ele não abriu o portão ainda, o que vai fazer aqui?

— Não importa filha, agora fuja e não deixe sua irmã para trás. Eu amarei vocês para todo o sempre. Jamais esqueçam disso, agora vá.

— Eu sempre o amarei, por favor, volte para nós duas. – Pedi com lágrimas nos olhos.

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