Capítulo 2
- Espere, por que há uma senhora na porta ao lado? Você mora no dormitório dos meninos. A menos que... - Eu parei. - Você está na casa da Hanna! -
- Não." Ele suspirou. - Estou na casa da minha tia. -
- Como e por quê? -
- Ele me convidou para jantar. Ele mora aqui perto, você sabe? - Ele respondeu. - Sabe, eu liguei para você a noite toda, esperando que você viesse comigo. -
Eu podia até imaginar o olhar sujo que ele devia estar me dando naquele momento.
- Obrigado, mas vou passar. - Eu tremia. - Ainda tenho pesadelos com seu curry caseiro. -
Alex riu e depois grunhiu. - Sky, ele fez isso para o jantar. -
- Então orarei por você. -
- Você é terrível. -
Como havíamos saído do assunto, eu estava prestes a encerrar a ligação e me despedir calorosamente de Alex, quando me lembrei de suas palavras antes daquele grito aterrorizante que destruiu meus tímpanos.
- Espere, você estava me contando algo sobre o Blake. - falei, abrindo meu braço para que Chicken pudesse se aconchegar no espaço. - O que aconteceu? -
Pensei que Alex não tivesse me ouvido, dado o momento de silêncio que havia passado.
- Não entendo por que Caden não lhe contou. - Ele parecia confuso.
- Diga-me o que, Alex? -
- Blake escapou da custódia da polícia. - Ele respondeu.
Franzi a testa, surpreso, confuso e talvez até um pouco assustado. - O que isso quer dizer? -
- Ele fugiu da prisão, Sky. E há policiais por toda parte procurando por ele. - Ela disse. - Está em todos os noticiários na última semana. -
Não os que eu vi. Talvez eu devesse ter começado a procurar mais.
Eu me sentei e mordi meu polegar. - E quanto ao Kevin? - perguntei. - Ele também fugiu? -
- Não. Kevin foi transferido para uma instalação mais segura, você sabe, para o julgamento e tudo mais. - Ele suspirou. - E agora que Blake desapareceu diante de seus olhos, aposto que eles ficarão muito mais alertas e não deixarão Kevin sozinho nem por um segundo. -
Eu continuava franzindo a testa, tentando entender tudo aquilo. Por que Caden não havia me contado nada? Como Blake havia escapado? E, acima de tudo, onde ele estava agora?
- Então você está dizendo que Blake está lá fora. E ele pode estar em qualquer lugar. - Não gostei de minhas palavras. Não gostei nem um pouco delas.
- Bem... - Ele parou como se algo pior estivesse me esperando. O que poderia ser pior? - Eles encontraram rastros dele aqui. -
- O quê? -
- Na Filadélfia. Há uma grande probabilidade de que ele possa ser encontrado aqui. -
Foi isso que a Nora quis dizer antes? Um criminoso à solta.
Ele devia estar falando de Blake.
"Oh, Deus", murmurei baixinho. Por que isso estava acontecendo?
- Esperemos que eles o peguem. - murmurou ele. - Antes que ele faça algo ruim. -
Nada mais precisava ser dito.
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- Aqui está você. É perfeito. - Josh estava sorrindo enquanto olhava para a fileira de fotos retrô. - Você é muito bom, Sky. Realmente muito boa. -
Eu sorri em resposta. - Acabei de consertá-las. Foi você quem as tirou. -
- Isso não importa. - Ele apontou com uma das mãos para a prateleira onde estavam todas as fotos. - Você é minha salvação. -
Recostei-me em minha cadeira. - Se você o diz. -
- Agora, tudo o que falta fazer é empilhá-los no filme. Não vou demorar muito. - Ele passou a mão pelos cabelos castanhos escuros cuidadosamente penteados.
Ficar na universidade depois das aulas não era exatamente o que eu queria fazer. Mas, às vezes, eu podia abrir exceções.
- Você não precisa ficar. - Ele disse, olhando para mim brevemente com um sorriso gentil, antes de organizar todas as fotos umas sobre as outras. - Já perdi muito de seu tempo. -
Ele não estava errado. Mas meus pais haviam me ensinado um determinado comportamento e eu não podia ser rude, mesmo que quisesse.
O que era uma mentira, de acordo com minha última conversa telefônica com minha mãe. Só porque eu dizia palavrões como um motorista de caminhão não significava que eu era necessariamente rude.
- Tem certeza? -
- Sim, muito obrigado, Sky. -
Aliviado por ter terminado por enquanto, peguei meu casaco e o coloquei sobre a camisa polo, depois soltei o cabelo do coque e o coloquei dentro do colarinho.
- Diga-me se ainda precisa dessas coisas. - Sorri para ele e peguei a bolsa. Viu? Eu poderia ser legal.
Meu celular acendeu quando o tirei e me dirigi à saída. Quando ele parou de piscar, percebi que havia recebido várias chamadas perdidas há alguns minutos.
Praguejando levemente sob minha respiração, disquei o número e mantive o telefone junto ao ouvido, caminhando silenciosamente pelos corredores vazios.
Ele tocou e tocou e finalmente atendeu.
- Houve silêncio. Eu não vi nenhuma das chamadas. - Eu falei primeiro. - Caso esteja se perguntando. -
Houve um momento de silêncio.
- Eu estava pensando, Osto. -
Tentei não sorrir. - Bem...
- E eu também estava me perguntando qual seria o sentido de levá-lo com você se você nem sequer o usa. - Ele me interrompeu.
- Eu o uso! -
- Apenas para ignorar minhas ligações. -
- Isso não é verdade! - sibilei. - Ignoro as ligações de todos. Não era minha intenção. -
Caden bufou de aborrecimento. - Eu liguei para você ontem. - Comentário. - Três vezes. -
- Da próxima vez, você deveria tentar sete. - Eu sorri de forma atrevida. - Dizem que sete é o número da sorte. -
Saí da universidade e o ar frio me atingiu de todas as direções.
- É claro, Osto. - Também pude ouvir o sorriso em sua voz. Isso me fez realmente desejar que ele estivesse aqui para que eu pudesse ver com meus próprios olhos. - Você continua sendo um idiota. -
- Ei, você é ruim agora. -
- Você saiu? - perguntou ele, mudando de assunto.
Havia um carro buzinando ao meu lado e as ruas estavam mais movimentadas do que nunca. Sempre há mais pessoas do que em Crestmont Hill. Isso me deixou com um pouco menos de saudade de casa.
- Mmmm", murmurei.
- Pensei que suas aulas terminassem cedo. -
Fiquei emocionado por ele ter se lembrado de tal detalhe.
"E assim é", respondi. - Fiquei para ajudar um amigo. -
Por sorte, meu apartamento não ficava muito longe da universidade. Mas, por sorte, esse também era o motivo pelo qual meus pais ainda não tinham comprado um carro para mim.
- Um amigo? -
Peguei a alça da minha bolsa. - Sim. Ela precisava de ajuda com seu projeto fotográfico. -
- E você teve a gentileza de se oferecer como voluntário. - Quase não percebi o sarcasmo que acompanhava seu tom de voz. Não sabia se deveria revirar os olhos ou sorrir tolamente - será que ele era tão patético a ponto de eu não perceber seu sarcasmo?
Provavelmente sim.
- Eu sou legal, Caden. - Eu me defendi.
- Eu nunca disse o contrário, Sky. -
Balancei a cabeça para ninguém em particular. - Então... como estão as coisas em Nova York? -
Normalmente não falávamos sobre isso. Nunca falávamos sobre casa. E, como eu disse, raramente nos falávamos ao telefone atualmente, e se eu começasse a mencionar a casa, sentiria ainda mais falta dela. Caden não deveria estar tão longe. Mas ele estava. Mesmo que eu quisesse o contrário.
- Não se preocupe. - Ele respondeu depois de um tempo. - Como sempre acontece. -
Eu esperava, esperava mesmo, que ele me contasse tudo sobre Blake, como Alex havia feito. Não foi por isso que ele me ligou três vezes ontem?
Surpreendentemente, Caden não disse uma palavra.
- Não aconteceu nada de especial? - perguntei com curiosidade.
- Acho que não. -
Por que você não me contou sobre o Blake?
Talvez porque ele não estivesse tão preocupado quanto eu com o fato de Blake ter fugido? Mas por que não deveria estar? Caden odiava Blake ainda mais do que eu.
"Ouvi falar de Blake", falei lenta e cuidadosamente. Dava para ver o prédio do meu apartamento se aproximando; suas paredes marrom-claras eram muito evidentes para passar despercebidas.
- Sobre? - O fato de ele não ter ficado surpreso com minhas palavras me confundiu ainda mais.
- Ouvi dizer que ele fugiu da prisão. -
Caden ficou em silêncio por um tempo - ele não sabia?
- Sim, é verdade. - disse ele, finalmente, com um profundo suspiro. - E daí? -
- Você não me disse por quê? -
- Porque não havia motivo para ele ter feito isso. - Ele respondeu com uma voz que parecia calma demais para esse tipo de coisa. Não me contive e revirei os olhos. Isso era tão típico dele.
-Como é isso?
- Sinto sua falta, querida. - Ele me interrompeu. Muito rápido.
Passei pelas portas do prédio e fui em direção às escadas. Nova e eu estávamos no primeiro andar. Talvez o mais decente e menos barulhento. Nova odiava quando eu aumentava um pouco o volume da nossa TV.
- Caden", eu disse, "você não pode evitar essa conversa. -
- Acho que sim, querida. - Ele respondeu em um tom que aqueceu meu rosto. - Que pena. -
- Bom. - Uma leve risada escapou de meus lábios. - Você está se tornando muito irritante a cada telefonema nosso. -
- Eu sei. - disse ela. - E eu tenho um desejo absurdo de beijar você. -
Embora fossem apenas palavras e ele nem estivesse na minha frente, meu coração disparou. E eu também queria muito beijá-lo. Fazia muito tempo que eu não o via. Isso era quase uma tortura.
"Caden", sussurrei, parando em frente à porta do apartamento. - Por que você não vem para cá? Só por alguns dias. Eu realmente sinto sua falta. Já faz dias desde que...
- Vai ser difícil voltar atrás, Sky. - Ele me interrompeu, sua voz suave, lenta e ligeiramente insegura. Eu queria que ele estivesse aqui para que eu pudesse ver tudo naqueles olhos verdes.
Suspirei, pois ele tinha toda a razão, e estava prestes a pegar minhas chaves quando vi uma pilha de correspondência embaixo da porta. Tirei tudo para fora e depois folheei. A maior parte era de contas e correspondências de Nova.
- O que você está fazendo? Essa... coisa de gangue, quero dizer. Você voltou a matar e ameaçar pobres almas inocentes? - perguntei. Era assim que as conversas eram se seu namorado estivesse em gangues perigosas. - Espero que não, Caden. -
- Não há mais sangue. - Ele estava sorrindo novamente. - Se é isso que você estava perguntando. -
- Que nojo. - Fiz uma careta e olhei para o restante dos envelopes. Um deles era muito menor do que os outros. - Nada de especial, então? -
Eu estava esperando que você me dissesse algo mais. O que exatamente, eu não tinha certeza. Eu tinha a sensação de que havia muito mais sobre o que ele não queria falar. Por exemplo, por que diabos ele estava de volta à estaca zero, lidando com todo aquele negócio perigoso de gangues quando tudo tinha acabado? Blake e Kevin estavam atrás das grades agora (ou pelo menos Kevin estava). Não havia mais sentido em fazer parte de uma gangue.
Lembrei-me de que Caden me disse que nunca quis se envolver com esses assuntos. Por que, então, ele estava refazendo seus antigos passos?
- Não. - Ele respondeu. - Como eu disse, é tudo a mesma coisa. -
Abri o envelope e tirei um pedaço de papel dobrado de dentro dele. Quando o abri, fiquei confuso ao encontrá-lo vazio. Exceto por algumas palavras em negrito escritas bem no meio.
Por um minuto inteiro, esqueci que Caden estava ao telefone.
Eu li as palavras e depois as li novamente.