Prólogo
Prólogo
Brownsville - New York
Dez anos atrás...
SUZANA VITALLE/ ANGELINA GRECO
Nunca conjecturei que nossas vidas mudariam tão inesperadamente, mesmo não gostando dos assuntos relacionados à Cosa Nostra, sabia que a famiglia sempre vem em primeiro lugar. No entanto, seis meses atrás, aquele infeliz conspirou contra meu marido, mudando todo o rumo das nossas vidas. Tivemos que nos esconder em um bairro pobre de New York e acabamos assumindo outra identidade.
Foi um milagre termos sobrevivido aquele atentando, porém, Ângela passou dias em coma e quando acordou, a pobrezinha não se lembrava de nada. Os médicos nos avisaram que poderia levar dias, meses e até anos para lembrar-se de algo, ou até mesmo o impensado, ela poderia jamais se recordar do seu passado. Saio dos meus pensamentos ao ouvir a voz do meu marido.
— Amor, cadê a Ângela?
— Você está doido? Sabe que não pode chamá-la por esse nome — falo em tom de repreensão. — Giovana foi tomar banho.
— Nunca irei me acostumar em ter o nome da minha princesa trocado, mas sei que tudo é pela sua segurança — seu olhar indica indignação. — Para Dimitri Salvatore, eu fui o traidor que vendia as informações aos russos, não o culpo por querer a nossa ruína. O homem que era seu melhor amigo e conselheiro, tramando pela sua própria costa, eles engendraram tudo nos mínimos detalhes, o fazendo acreditar que o traidor seria eu.
— De toda essa desgraça, a única coisa boa em tudo isso, foi ela ter pedido a memória, nunca consegui entender como uma criança pudesse ter um comportamento tão tenebroso. Sei que no mundo da máfia, ela sempre iria ver as piores coisas, mas lembro do dia que o seu cachorrinho estragou a sua boneca favorita, ela pegou o pequeno animal pelas pernas e acabou fazendo aquela atrocidade.
— Pior foi o dia em que ela e Pietro fugiram para o galpão, onde Dimitri iria executar alguns traidores, os seus olhos brilhavam e ela pulava eufórica ao ver os homens sendo torturados. Penso que esse foi o motivo pelo qual Dimitri exigiu que ela fosse a prometida de Pietro.
— Mamãe, acabei... — ouço sua voz vinda do quarto.
— Vou averiguar se ela escovou os dentes direitinho.
Assim que adentrei o quarto, Giovana já estava com seu pijama, após analisar se ela escovou os dentes, fui pentear seus longos cabelos. Estava perdida em meus pensamentos quando ouvi um estrondo vindo da sala e vozes alteradas.
— Filha, quero que fique debaixo da cama e por motivo nenhum saia de lá, você me entendeu?
— Sim, mamãe.
Assim que me aproximei da porta, senti uma mão de encontro aos meus cabelos, me puxando com força. Meus batimentos cardíacos se agitaram quando olhei meu marido ajoelhado, enquanto o infeliz estava com uma arma apontada para sua cabeça.
— Vocês acharam mesmo que poderiam se esconder por muito tempo? Para todos, a família Greco morreu naquele acidente e por seis meses, acreditei, até que um dos meus homens viu Felippo — ele solta uma risada tenebrosa. — Julgaram que se escondendo em um dos bairros mais pobres de New York, ninguém iria descobrir que estavam vivos, e onde está aquela fedelha?
— Ângela morreu naquele acidente que você provocou.
— Então será menos uma a ser enviada ao inferno.
Ouvi um disparo, olhei para meu marido que estava jogado ao chão com um tiro no meio da sua testa, não demorou muito e fui envolvida pela escuridão eterna.
Manhattan - New York
Dias atuais
GIOVANNA VITALLE
— Mamãe! Papai! Acordem, por favor.
Eu os chacoalhei, mas eles não acordavam, seus corpos estão envolvidos por uma enorme poça de sangue.
— Não! Não! Vocês não podem me deixar... ACORDA, MAMÃEEEE... — grito.
Abro meus olhos e meu sonho se desvanece a luz da manhã. Descarto minhas lembranças que não me dão uma noite de folga. Não aguento mais passar por essa tortura. Saio da cama e ao adentrar o pequeno banheiro coletivo, olho com frustração para mim mesma no espelho.
No que me transformei após todo esse tempo?
Olho fixamente para o meu reflexo e vejo uma pálida mulher de cabelos castanhos, com olhos azuis enormes, porém, sem vida.
Tenho sobrevivido durante dez anos sem meus pais, após ter ouvido os estrondos vindos da sala, me encolhi ainda mais debaixo da cama, não demorou muito e um homem entrou no quarto, permaneceu ali por alguns minutos, até que o ouvi dizendo que não tinha ninguém. A minha sorte foi que tínhamos mudando há alguns semanas para aquela casa, a qual tinha somente um quarto, meus pais não pareciam ter muito dinheiro, pois o lugar era pequeno e eu dormia com os dois na mesma cama. E os poucos pertences que eu tinha, ficava escondido em uma caixa embaixo da cama.
Esperei algum tempo até sair do quarto e quando adentrei a sala, já não conseguia conter as lágrimas que caiam descontroladamente pelo meu rosto. Após gritos e sacudidas, ouvi um pequeno sussurro, meu coração batia freneticamente, olhei para minha mãe que tentava a todo custo abrir a boca, me aproximei e suas últimas palavras foram que nunca me separasse da Laurinha.
Quando a vi fechando os olhos, sabia que jamais voltaria a vê-los novamente, voltei ao quarto, fui embaixo da cama onde estive momentos antes, peguei a Laurinha que estava lá e saí correndo pela rua.
O tempo voou, eu já não sabia onde estava, o céu que antes era nublado, deu lugar a uma forte chuva. Minha barriga já estava doendo de tanta fome, quando dei por mim, estava próximo a uma praça, me encolhi no banco, apertando a minha boneca contra o meu corpo, tentando me proteger do frio. As horas foram passando, assim como a chuva, uma senhora parou a minha frente, não conseguia entender nada do que ela falava. Tentei falar, mas as palavras sumiram, minha cabeça doía, minha barriga doía, apertei a Laurinha com mais força ainda, tudo começou a girar e eu fui envolvida por uma escuridão total.
Quando acordei, estava em um hospital. Comecei a gritar quando senti falta da minha boneca, mas uma enfermeira entrou no quarto e mandou que eu ficasse calma. Ela andou até uma cadeira que estava próxima e voltou com a Laurinha em suas mãos.
Fiquei desnorteada quando a porta foi aberta e dois policiais se aproximaram. Eles queriam saber dos meus pais, eu só conseguia chorar, não sabia ao certo onde morávamos. Minha mãe nunca deixou que eu saísse de casa.
Assim que tive alta do hospital, fiquei em um abrigo e logo fui enviada para o Orfanato Angel Guardian Home, em Manhattan. Hoje, após ter se passado dez anos aqui, terei que ir embora, as irmãs conseguiram que eu permanecesse por mais um ano, mas hoje, infelizmente, terei que deixar esse lugar que foi o meu lar durante todo esse tempo.
(...)
Alguns dias atrás, enquanto mexia em minhas coisas, eu acabei achando a minha boneca. Já estava tão velha, que havia criado mofo. Resolvi por lavá-la, assim a levaria junto comigo. Ao esfregar o tecido manchado e envelhecido, acabei por rasgar o corpo da Laurinha e fiquei espantada com algo que achei: um conjunto de joias dentro do seu corpo. Penso que esse foi o motivo da minha mãe fazer questão que nunca me separasse dela.
Além de um colar, tinha uma linda pulseira. Tia Cecília conseguiu vender a pulseira por um ótimo valor, pois, conhece algumas pessoas importantes. Acabei dando parte do dinheiro para o orfanato, a situação aqui não é muito boa, embora o governo sempre faça de tudo para manter o local.
O colar, eu não irei me desfazer. É uma lembrança da minha mãe, que guardarei para sempre. Com o dinheiro que fiquei, vou alugar um pequeno apartamento e procurar um emprego o mais rápido possível para poder me manter daqui para frente.
Enquanto isso... Na Sicília / Itália
PIETRO SALVATORE
Após algumas horas de interrogatório, Michael, meu chefe de segurança, ainda não tinha conseguido extrair nenhuma informação daquele infeliz. Se sua lealdade com os russos é maior que o amor pela sua própria vida, veremos como vai reagir ao encontrar o próprio demônio em sua frente.
— Tragam a roda da destruição. Quero ver até onde vai sua coragem.
Assim que meus homens colocaram a roda em minha frente, ordenei que colocassem o maldito sobre a mesma, o prendendo ao mecanismo pelos pés e pelas mãos, com o abdômen voltado para cima. Embaixo do instrumento, foi colocado lanças, assim, toda vez que a roda for girada, seu corpo será mutilado.
— Te farei somente duas perguntas e talvez, só talvez, eu tenha paciência em não matá-lo agora mesmo — ele me olha aterrorizado. — Quem está por trás dos roubos das cargas?
— Eu já falei que não sei.
Fiz o sinal para um dos meus homens, que logo girou a alavanca, em questão de segundos só se ouvia os gritos do infeliz ao ter o corpo sendo mutilado aos poucos. Assim que ordenei que parasse, voltei-me para o homem que estava todo ensanguentado e fiz a última pergunta.
— Quem são seus aliados? Você, sozinho, não conseguiria desviar mais de cinco milhões em mercadorias.
— Tenha piedade, senhor! Eu tenho esposa e dois filhos pequenos, só estava dirigindo o caminhão...
— Te encontro no inferno — o cortei, sem paciência.
A raiva já estava inflamando em minhas veias, peguei a alavanca e comecei a girar várias vezes, seus gritos ecoaram por todo ambiente e seu sangue começou a respingar em minha direção. Logo todo o seu corpo foi despedaçado. Saí do galpão coberto de sangue. Ao adentrar a mansão, encontro minha mãe na sala conversando com Lucca, meu conselheiro.
— Oh! Mio Dio, Pietro, o que aconteceu?
— Assuntos da máfia. Você sabe que odeio que me façam perguntas.
— Pietro, precisamos conversar. Amanhã a Sophia estará completando 21 anos, já está na hora de oficializar seu compromisso.
— Essa será a última vez que você tocará nesse assunto, não casarei com Sophia ou com mulher alguma. Meu pai queria essa união, mas agora que está morto, sou o chefe e mando nessa porra toda.
— Até quando você vai sustentar as lembranças da filha do homem que traiu seu pai e toda a máfia? Ângela morreu há mais dez anos e isso não é motivo para você odiar todas as mulheres.
— QUE PORRA...
A fúria já me consumia, levantei a mão.
— Você teria coragem de bater na sua própria mãe?
Respirei fundo e tratei de controlar meus demônios que estavam em ebulição.
— Verônica, se você tocar mais uma vez nesse assunto, esqueço que você é minha mãe e te coloco naquele maldito quarto branco. Vê se entende de uma vez... A única coisa que me interessa nas mulheres, é o prazer que podem me proporcionar e quando não fazem isso, você já sabe o que acontece. A tua sorte é que você é minha mãe, caso contrário já estaria debaixo de sete palmos por falar demais.
Seu olhar não me comove, viro para Lucca e antes que diga algo, me pronuncio.
— Lucca, se prepare, amanhã iremos para New York. Vamos ver o que me aguarda lá.