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06

Capítulo 06

PIETRO Salvatore

Como sempre, o homem que no momento em que entrei no meu escritório, já estava a minha espera, mostrou porque foi escolhido para ser o meu braço direito. Eficiência era o sobrenome de Lucca.

— Toda informação que encontramos sobre ela está aqui, puxamos uma ficha completa. Mas não entendi o porquê de tanto interesse por essa garota. Você nunca se importou com mulher alguma.

— Já pode se retirar Lucca, prepare tudo que em dois dias iremos para a Itália.

— Sim, senhor — além de sua eficiência, gosto que ele não rebate minhas ordens.

Reclino na minha poltrona com o arquivo em mãos, começo a ler. Há um mistério em meio a tudo isso e eu vou desvendar. Tomo uma decisão: ela irá comigo para Itália. Seja o que for lá será o lugar certo para acabar com todo esse mistério.

GIOVANA Vitalle

Eu estava aninhada em algo tão macio, lentamente abro meus olhos, e aos poucos vou tentando me acostumar com a forte claridade, meu corpo ainda está um pouco dolorido, mas me sinto melhor. Meus olhos vagueiam em volta do cômodo, fico feliz, pelo menos não estou naquele lugar tão sombrio. Logo as lembranças vêm a minha mente, num impulso, tentei me mexer e senti algo pontuado perfurando minha pele. Abaixei o olhar e vi o soro no meu braço. Saio dos meus devaneios ao escutar a porta sendo aberta e com isso, o pânico me domina, meus batimentos aceleraram, porém, fiquei aliviada ao constatar ser somente a Maria trazendo uma enorme bandeja em suas mãos. Ela se aproxima e fala:

— Que bom que acordou, vejo que está melhor. Esteve doente por três dias — assusto-me com suas palavras, ao perceber meu estado, ela volta a falar. — Você passou mal no calabouço, o senhor Pietro acabou tirando você imediatamente de lá e chamou o médico da família. Agora você precisa se alimentar, assim que o soro acabar, eu vou retirá-lo, terei que deixá-la sozinha, pois amanhã será a viagem do senhor Pietro de volta a Itália, tenho algumas coisas para organizar.

Arregalo meus olhos, até que fim, estarei livre.

Em algum lugar entre New York e Sicília

uma mente sombria e maquiavélica planeja seus próximos passos...

Meu nome é... Não interessa. Basta saber que sou membro da Cosa Nostra. Minha família sempre teve um ódio mortal pelos Salvatore. Fui crescendo na organização até me tornar alguém muito próximo e de confiança do maldito, não foi fácil, pois tive que mostrar a minha lealdade e concordar sempre com suas decisões. Por ser de sua total confiança, tudo se tornou fácil, já com Dimitri, encontrei algumas dificuldades.

Depois que formei a aliança com Alexandre Usoian, só restava tirar a peça-chave do quebra cabeça, ao tê-lo fora da jogada, abriria um atalho para atingir o grande Salvatore. Tudo deveria sair como planejado. A morte de Fillipo Greco e toda sua família, não poderia ter falha alguma ou tudo estaria perdido. A única coisa que não contávamos, era que Fillipo descobriria toda verdade. Agilidade seria essencial antes que ele revelasse tudo ao Salvatore.

Planejar tudo foi muito fácil, a viagem do Dimitri veio a calhar, assim não se investigaria ao fundo como tudo ocorreu, já que para todos, os corpos ficaram carbonizados.

Após a emboscada que até então acreditávamos que todos os Grecos, inclusive aquela fedelha chata faleceu, tudo caminhava como esperávamos. Seis meses se passaram, o Salvatore ficou totalmente devastado, acabou se afastando dos assuntos relacionados a Cosa Nostra. O que nos foi de grande utilidade, nunca cogitei que um homem tão frio, calculista e arrogante, iria sofrer tanto com a traição do seu braço direito e melhor amigo. O pequeno Pietro, ao contrário do pai, se tornou o próprio demônio após a morte daquele projeto de monstro mirim.

Por coincidência do destino, Anthony, ao viajar para Manhattan, acabou reconhecendo Fillipo em uma agência bancária no subúrbio da cidade. Mostrando eficiência como sempre, nos contatou imediatamente. O infeliz achou mesmo que se escondendo no bairro mais pobre, estaria livre. Ao vê-los dando seus últimos suspiros com meus próprios olhos, tive a certeza que o último passo estava próximo, acabar com Dimitri Salvatore. Porém, algo me deixou intrigado, no carro foi encontrado três corpos totalmente carbonizados. Antes de morrer, Angélica revelou que Ângela morreu no acidente, não conseguimos descobrir onde Fillipo achou os outros corpos que estavam naquele carro, já que se encontravam irreconhecíveis.

Alguns meses depois, Dimitri teve um ataque cardíaco, o que não esperávamos era que o infeliz do Pietro fosse assumir o comando da Cosa Nostra sendo ainda tão novo e se mostrando mil vezes pior que o pai. Mas seus dias estão contados, logo acabaremos com o último Salvatore, dando fim ao nome que domina a maior máfia italiana a gerações.

— Alô?

— Acabamos de interceptar o último carregamento. Espero que não tenha falhas no atentado contra o maldito.

— Amanhã será seu retorno a Sicília, terá uma recepção de boas-vindas, a qual jamais será esquecida. Pietro Salvatore terá seu último dia de vida.

— Ficarei no aguardo. Nada me dará mais prazer que a morte desse infeliz.

— Ok!

Instantes depois, ao encerrar a ligação, um largo sorriso tomou conta do meu rosto.

“Salvatore, o seu retorno será algo inesquecível.”

GIOVANA Vitalle

Maria não tem noção da felicidade que me proporcionou com essa notícia. Deus ouviu minhas orações. Aquele monstro vai embora, enfim, meu martírio chegará ao fim e logo estarei em paz novamente. Minha vontade era de sair dando gritos e pulos de tanta alegria. Termino de comer o que ela me trouxe, vejo algumas peças de roupa em cima de um móvel e me recordo que Maria disse que fiquei dois dias, desacordada, devo estar com a aparência horrível, levo as mãos até minha cabeça e sinto que meus cabelos estão grudados devido à umidade daquele lugar e a febre.

Quando me lembro das baratas, sinto um calafrio que arrepia todo o meu corpo, mas chega desses pensamentos. Amanhã tudo isso será somente uma lembrança ruim a ser esquecida. Pego uma camisola e me direciono ao banheiro, decido por tomar um banho de banheira por estar com meu corpo dolorido devido às agressões, minha cabeça ainda dói, nada comparada a dor anterior, onde achei que iria morrer.

Com a banheira já cheia de água quente, coloco alguns sais que acabaram perfumando todo ambiente, entro na água quentinha e solto um gemido de tão gostosa que está, a sensação de alívio é tão boa, que me perco em pensamentos, mais uma vez planejando o que farei quando aquele ser repugnante partir. Não tenho mais emprego, ele é o dono do estabelecimento onde trabalhava, talvez vou ter que mudar de cidade ou procurar outro emprego, porém, o que importa é que estarei livre novamente.

Perdida em pensamentos, nem percebi o tempo passar, fiquei até a água esfriar, saio e me enxugo, visto uma camisola bem fresquinha e volto a me deitar. Minhas pálpebras estão pesadas, deve ser devido aos remédios, não sei ao certo em que momento cai no sono profundo.

PIETRO SALVATORE

Estou no meu escritório com o dossiê da vida da Giovana, não encontro nada que ligue ela a minha pequena Ângela, mas não estou vivo até hoje e a frente desta grande organização mafiosa por acreditar em coincidências. Esses dois nomes e “Laurinha”, juntos, estão martelando em minha cabeça e eu não deixo de pensar que de alguma maneira, ela sabe da Ângela. Não perguntarei nada, vou dar corda e deixá-la se enforcar sozinha.

Ninguém engana Pietro Salvatore, se você for uma infiltrada, enviada pelos meus inimigos para me destruir, vai se arrepender amargamente do dia que nasceu – penso sentindo a raiva borbulhar em mim.

Mas como seria possível? Nada justificaria a semelhança dos olhos, a cor dos cabelos e ela passar bem no momento que eu estava lá, até a contratação recente no restaurante. Essa viagem estava marcada três meses antes, só não divulguei o dia que seria, eles não tinham como saber. No momento que a vi, mesmo de longe, me trouxe as recordações da minha Ângela, será que foi tudo planejado, até mesmo o ataque que ela sofreu? Não pode ser, mas seja o que for, eu irei descobrir.

A partir de hoje reforçarei toda segurança e estarei atento a cada movimento a minha volta. Por hora, deixarei esse mistério de lado. Agora vamos dar a notícia a bambina, sei que sua reação não será das melhores, mas eu não peço, eu mando e não vai adiantar nada suas lamentações. E dependendo do que descobrir, essa viagem não terá volta para ela.

Adentro o quarto em que ela se encontra, e ela está em um profundo sono, sento na poltrona ao lado e fico a observando, tenho que reconhecer o quanto a garota é dona de uma beleza incomparável, nunca em minha vida mundana, vi uma mulher tão bela. Meia hora depois, ela começa a despertar, sua expressão ao me ver é de puro medo, não dou tempo de ela assimilar nada e já aviso que amanhã bem cedo iremos viajar para a Itália.

— Esteja pronta às sete horas, não tolero atrasos. Isso não é um convite, é uma ordem.

Não esperei que questionasse nada e saí imediatamente do ambiente.

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