05
Capítulo 05
GIOVANA Vitalle
Meus olhos arregalados estavam fixos naquelas órbitas negras, seu olhar mortal exalava o mais puro ódio sobre mim, sua face estava totalmente transfigurada, comecei a tremer.
“Ele vai me matar, antes mesmo de eu ter qualquer reação” – foi meu único pensamento.
E mostrar que eu estava certa, ele me deu uma bofetada, me fazendo cair com todo peso do meu corpo de encontro ao chão, lágrimas brotaram em meus olhos, minha face estava queimando. Saio do meu desespero quando ouço sua voz.
— Venha aqui.
— Não!
Ele me olhou como se fosse soltar raios mortais sobre mim e assim que começou a se movimentar, o pânico me dominou.
— Levanta agora, porra. — ele gritou.
Fiquei ali imóvel, sem desviar meus olhos do seu rosto. Ele abaixou-se, pegou-me pelos cabelos e saiu me puxando. Os puxões foram tão fortes, que meu couro cabelo doía. Tentei falar, mas só saiu um gemido, ele me arrastou por um corredor e quando chegamos ao final, ele me levou até uma porta e a abriu. O cômodo estava na completa escuridão, arregalo meus olhos tentando enxergar algo, mas não dava para ver absolutamente nada. Entro em pânico e começo a gritar em desespero.
— Por favor, não me deixe aqui.
— Entre — imediatamente abaixei, suplicando por misericórdia.
— Me perdoe, eu não farei mais nada ou me mate e acabe com tudo isso.
As lágrimas desciam descontroladamente, ele ignorou minhas palavras e começou a me puxar. Acabo perdendo o equilíbrio e caio sentada, nem tenho tempo de levantar, ele puxa minhas pernas, escada abaixo, minha cabeça batia em contato com o concreto, já não conseguia controlar os gritos quando cai bruscamente no chão. Minhas costas pareciam estar em carne viva, fiquei apavorada quando senti algo escorrer pelo meu rosto. Passei minha mão pelo local.
"Sangue".
— Você ficara aqui até aprender a lição de que agora me pertence — Meu coração disparou, olhando-me e o demônio disse. — Aproveite! Você não estará sozinha.
Ouvi sua risada diabólica, enquanto subia os degraus da escada, uma luz foi acesa no que suponho ser o banheiro, logo ouvi um estrondo quando a porta foi fechada. O local era úmido e sombrio, somente uma pequena luz que vinha do banheiro, o cheiro de mofo impregnado no ambiente era muito forte, olhei para o lado e meus olhos pousaram em um colchão, tentei me levantar e senti uma forte tontura, minha visão estava turva e a dor em minhas costelas estava mais intensa. Fechei os olhos tentando dissipar a dor em meu corpo, fui me arrastando até o colchão, após me deitar, fiquei encolhida.
Minutos depois ouvi um barulho como se algo estivesse se movimentando, me lembrei das palavras dele sobre não estar sozinha. Olho em volta de todo o ambiente, e, meus olhos não acreditam na imagem a minha frente, meus batimentos cardíacos aceleram, o pânico me domina, tenho pavor desse inseto. Elas começam a circular por todo o local.
Meu Deus, eu não vou aguentar ficar com esses bichos asquerosos, sem contar que são enormes.
Nunca gostei desse inseto que são vetores de doenças ainda mais em excesso, ainda lembro quando tinha dez anos e acordei com uma cascuda em cima da minha cama, gritei tanto que todos acordaram, passei dias tendo pesadelos e com medo de dormir novamente. Desesperada, comecei a gritar.
— Socorro! Socorro, me tira daqui, por favor.
O som da minha voz ecoou por todo o ambiente, as baratas se movimentavam pelo local. Fiquei ali completamente paralisada, pensando quando esse tormento vai acabar. Não sei ao certo em que momento, apaguei.
PIETRO Salvatore
Essa garota não pode mexer tanto assim comigo, nunca ninguém me fez perder o controle com tanta facilidade. Ao mesmo tempo em que demonstra ser frágil, tem algo por trás daquele olhar que me fascina. Sua ousadia e atrevimento em me desafiar só me deixam com mais vontade de castigá-la, em outra circunstância, teria a matado no mesmo instante, mas a maldita não sai da minha cabeça. Não posso demonstrar piedade. Sou Pietro Salvatore: frio, implacável e chefe da maior máfia italiana. Nunca terei sentimentos que não passam de besteiras.
Após adentrar meu escritório, fico observando-a, seus gritos de desespero ao ver os insetos são músicas para meus ouvidos, olhá-la naquela situação, me faz vibrar por dentro. Ela permaneceu encolhida como um frágil animal, tentando sobreviver ao caçador. Vai aprender da pior forma que é minha, somente minha. Enquanto não enjoar dela, deixarei que continue viva. Permanecerá no calabouço até minha viagem de volta à Sicília.
Vejo que acabou adormecendo, assim que concluir algumas ligações, vou acordá-la só de pensar naquela bocetinha apertada, já sinto meu pau latejando dentro das minhas calças. Nunca senti nada igual por mulher nenhuma. Giovana Vitalle, temos um longo caminho pela frente.
Horas depois...
Enquanto tive algumas reuniões por videoconferência, dei ordens a Maria que levasse algo para aquela insolente comer, roupas limpas e uma pomada para passar em suas costas. Passei algumas horas analisando alguns documentos, resolvi então observar como a bambina estava. Assim que fiquei em frente aos monitores, notei certa movimentação, ela estava se contorcendo, aumentei o volume do som para saber o que de fato estava acontecendo.
Aproximei a imagem e vi o quanto seu corpo estava trêmulo, no entanto, seus olhos permaneciam fechados quando ela começou a se debater, parecia está delirando e algo que ouvi em seguida me deixou totalmente atordoado.
Algum tempo antes...
GIOVANA Vitalle
Quando acordei, Maria não demorou a aparecer naquele lugar asqueroso. Ela me ajudou enquanto tomava banho, pois mal conseguia me equilibrar. Todos os músculos do meu corpo doíam em contato com a água. Ela cuidou de mim com tanto carinho, como me arrependo por tê-la machucado. Após o banho, caminhei com dificuldade. Maria fez um pequeno curativo na minha testa e passou pomada em minhas costas, que de imediato me causou um grande alívio.
Ela me entregou a comida e logo se retirou, olhei para o recipiente em minhas mãos, levantei o olhar e ao ver àquelas baratas em minha frente, e no mesmo instante, me arrependi, pois isso fez todo o meu estômago se revirar. Deixei a comida de lado e fiquei encolhida sobre o colchão. Não sei quanto tempo estou aqui, mas a dor em meu corpo só aumenta, estou com a cabeça doendo, sentindo muito frio e meus olhos estão pesados, não consigo mantê-los abertos.
Minutos depois…
— Laurinha! Laurinha!
Acordo em um sobressalto, mais um maldito pesadelo. Coloco a mão sobre a testa tentando conter a dor que provoca calafrios e percorre o meu corpo inteiro. Minha camisola está colada ao corpo, empapada com um suor frio e viscoso, olho para o lado e as baratas vagam por todo ambiente, a fraqueza em meu corpo é tanta, que não penso em nada, só queria cair na escuridão do esquecimento. Quero voltar a dormir um sono profundo, assim eu não sinto, eu não penso, mas infelizmente, ele não vem.
Tento me levantar, mas a dor em minha nuca é insuportável, meu coração acelera quando sinto uma forte pontada, vindo da minha cabeça, meus olhos ardem, olho em volta e vejo tudo desfocado, começo a gritar.
— Socorro... — minha voz morre e eu acabei caindo em uma escuridão sem fim.
PIETRO Salvatore
Quando vi a bambina se debater, ajustei de imediato o controle do áudio do calabouço, ela repetia sem parar o nome Laurinha, fiquei completamente atordoado na hora.
Não pode ser... Ela está morta.
Sem que eu pudesse controlar, as lembranças do passado vieram à minha mente.
“Mamma, o que aconteceu?”
“Angélica ligou para Fillipo e contou que Ângela está ardendo em febre. O cachorro "Toty" que você deu de presente, acabou destruindo sua boneca favorita, ela ficou com tanta raiva que bateu no animal. Pietro, espero que você não esteja influenciando no comportamento da Ângela. E pensando bem, acredito que tenho algo que você poderia dá-lhe, a “Laurinha”, ela está na minha família há gerações, sempre cuidamos bem dela. Como ela é sua prometida e logo será uma Salvatore, tudo ficará em família.”
Afasto as lembranças quando ouço os gritos de desespero da Giovana, volto a olhar para tela a minha frente e ela estava desacordada, porém debatia-se muito. Levanto-me e saio às pressas para o calabouço e assim que adentro, sinto algo que jamais pensei que voltaria a sentir na vida: medo. Com agilidade, a peguei em meus braços, ela estava quente demais, com o corpo todo trêmulo.
— Você não pode morrer, preciso de respostas — vocifero furioso.
Não estava em meus planos tirá-la agora do castigo, porém, preciso dela viva para obter mais informações.
Com passos apressados, deixei o lugar, a levando para o mesmo quarto que esteve antes. Assim que Raul e sua equipe chegaram, começou examiná-la, após horas intermináveis, ele acabou me relatando que Giovana iria precisar de muito repouso, como ela não parava de se debater em meios aos delírios, acabaram por sedá-la. Assim que tudo se normalizou, liguei para Lucca e perdi um arquivo de toda a vida dela.