Capítulo 5
Enquanto caminhava pelo enorme jardim de rosas, que devia ter mais de cinco quilômetros de extensão, lembrei-me do que havia acontecido na noite anterior. Dante mais uma vez fez o truque de curar meu ferimento com a saliva. Bem, imaginei que fosse por meio da saliva, pois seria ainda mais absurdo se a cura viesse da própria língua. Passei os dedos pelas rosas amarelas que serpenteavam ao longo de um dos caminhos que eu havia escolhido, admirando a maciez das pétalas, quando ouvi um barulho atrás de mim. Virei-me rapidamente, todo o meu cabelo foi parar no meu rosto e eu o puxei rapidamente para baixo, tentando encontrar a fonte do som alto. Qualquer coisa. Não havia ninguém atrás de mim, mas eu podia jurar que tinha ouvido passos. Respirando fundo, comecei a caminhar em direção à árvore que estava procurando, quando ouvi o barulho atrás de mim novamente. Dessa vez, corri.
Quando comecei a correr em direção às árvores, percebi que tinha feito uma besteira. Eu deveria ter corrido para o lado oposto, onde estavam as casas e Elisabela, a única pessoa em quem eu podia confiar naquele lugar, mas não, corri mais para dentro do jardim de rosas, fugindo da segurança. Ouvi uma risada atrás de mim e então algo se materializou na minha frente.
Não, não foi algo. Alguém.
Eu achava que a coisa mais assustadora naquela corte era o Dante, mas quando confrontado com aquele vampiro de olhos vermelhos e pele branca como a neve, com caninos expostos e um olhar assassino, considerei o Mestre praticamente inofensivo.
- A garota humana. - Ele afirmou com prazer, olhando para mim com malícia. - Quando o Mestre Dante a cortou ontem, mal consegui me conter quando senti o cheiro do seu sangue. E agora aqui está você, sozinha.
Ele não disse nada. O que ele poderia dizer? Se esse cara quisesse me matar, ele teria feito isso. Dei um passo vacilante para trás, fazendo-o sorrir ainda mais.
- Não sei como Kyle Relish conseguiu a proeza de ter uma filha humana, uma aberração, mas é hora de acabar com isso.
Respirei fundo, preparando-me para correr, quando me lembrei de outra coisa que havia acontecido na noite anterior.
Que sangue precioso...
Quando senti o cheiro do seu sangue, pensei que estivesse ferido.
De repente, eu sabia o que tinha de fazer. Dei as costas a ele e corri, corri o mais rápido que pude, enquanto levantava a mão em direção às rosas, mal registrando a dor dos cortes enquanto os espinhos me arranhavam e o sangue jorrava. Menos de dez segundos depois, o vampiro estava na minha frente novamente e eu agarrei a roseira para evitar colidir com ela, o sangue escorrendo quente quando o espinho entrou com força na minha palma. Eu senti essa dor.
Ok, Dante, agora estou machucado.
O vampiro olhou para minha mão, sorrindo largamente quando viu minha mão ensanguentada.
- Não desperdice minha comida, humano.
- AJUDA! - Gritei quando percebi que Dante não estava vindo.
O vampiro sorriu com mais prazer e agarrou minha garganta com uma das mãos, cortando imediatamente meu ar. Tentei gritar novamente, mas sem sucesso.
E então tudo aconteceu muito rápido.
A criatura cravou seus dentes em meu pescoço, soltou sua mão e eu gritei. Gritei de dor, de medo, de desespero. E então os dentes foram arrancados de meu pescoço, causando-me ainda mais dor.
Caí de costas na grama do jardim de rosas, os espinhos arranharam meu rosto, mas tive tempo de ver o que havia me salvado.
Dante, em todo o seu esplendor negro.
Eu não conseguia registrar nada além da dor excruciante que se espalhava pelo meu pescoço, doendo tanto que me fez gritar novamente, em completa agonia. Mãos fortes me viraram, colocando-me de frente para o sol, que queimava meu rosto e minha visão. O rosto de Dante apareceu na minha frente, olhando para mim com as sobrancelhas erguidas e os lábios formando uma linha fina, antes de me puxar para seus braços.
Dessa vez, tudo foi ainda mais rápido. Em um momento, eu estava sendo puxada para os braços dele, no outro, Dante estava correndo comigo a uma velocidade vertiginosa e, então, eu estava em uma superfície lisa, longe do sol. Gemi de dor e senti lágrimas escorrendo pelo meu rosto quando tudo ficou escuro e trêmulo.
Dante estava mais uma vez diante de mim e abri bem os olhos, aterrorizada, enquanto suas presas cresciam e seus olhos ficavam vermelhos. Se eu não estivesse sentindo tanta dor, teria gritado, mas minha garganta estava bloqueada. Parecendo não se importar com meu medo, Dante mordeu seu pulso e, enquanto o sangue jorrava furiosamente de sua pele, ele o colocou contra minha boca.
Tentei afastá-lo, tentei gritar, morder, mas ele não tirava o pulso ensanguentado da minha boca.
- Beba! Minha saliva não vai ajudar nesse caso, preciso que beba meu sangue para curá-lo. - A voz de Dante soou estranha aos meus ouvidos, mas ainda assim consegui seguir a ordem.
O sangue dele era espesso e quente, tinha gosto de ferro amargo, e tentei vomitar assim que ele desceu pela minha garganta, mas Dante pressionou o pulso com mais força contra meus lábios, impedindo-me de cuspir o líquido horrível e viscoso. Quando finalmente pareceu ser suficiente, o mestre puxou o braço para trás e eu tossi descontroladamente, levando a mão ao pescoço, onde percebi que o corte dos dentes do outro vampiro já havia cicatrizado.
- Oh, meu Deus...", sussurrei, sentando-me no que só agora percebi ser um sofá. - Puxa vida.
Dante continuou a manter seus olhos azuis fixos em mim enquanto eu me sentava no sofá vermelho vinho. Olhando ao meu redor, tudo estava escuro, quase preto. Desde os sofás até as cortinas na parede, o piso de mármore preto e as paredes... Brancas? Levantei as sobrancelhas.
- Obrigado... - Limpei a garganta. - Por literalmente salvar minha vida.
O Dante olhou para mim com desdém, quase como se não valesse a pena passar o tempo comigo.
-Quem era aquele homem? - perguntei por fim, me enroscando no sofá macio.
-Um homem morto. - Dante disse com tanta naturalidade que parecia estar falando sobre o tempo. Eu engasguei. - Eu quase não fui atrás de você. Imaginei que, mais uma vez, eu havia achado divertido ser despedaçada por minhas rosas.
Eu estava prestes a dizer que não achava nada disso engraçado, quando me dei conta de algo.
- Suas rosas?
Dante desviou o olhar para algo atrás de mim e eu me virei também. Pela janela, eu podia ver a vastidão do jardim de rosas, tão grande que parecia infinito. E então, olhando ao redor, percebi onde estava.
- Estou em sua casa, não estou? - perguntei baixinho, levantando-me para olhar pela enorme janela. Se aquela era sua casa, do outro lado do jardim de rosas ficavam as mansões e o prédio principal. - O jardim de rosas é seu jardim.
Dante também foi até a janela e seu olhar se tornou contemplativo ao contemplar a imensidão de rosas de todas as cores possíveis. À luz do sol, era ainda mais bonito. Seus olhos azuis-celestes ficaram mais claros, assim como sua pele branca parecia quase pálida demais para ser real. Seu cabelo preto brilhante não era mais claro, pelo contrário. O preto reluzia à luz do sol, brilhando como óleo exposto ao sol. Quando ele me viu olhando para ele, desviei o olhar.
Dante me surpreendeu novamente, aproximando sua mão da minha no corrimão, e a onda de choque quase me fez pular. Por um momento, mil pensamentos passaram pela minha mente; assim como nos livros, o vilão intocável se aproximou da garota indefesa, mas quando o vi erguer as sobrancelhas, assim que esse pensamento passou pela minha cabeça, afastei minha mão com força, dando dois grandes passos para trás.
- Você pode ser o rei de tudo, mas não tem o direito de invadir meus pensamentos, certo? Sem direitos!
- É impossível eu tocá-lo sem ler sua mente, mas fiz isso para verificar sua saúde. - Dante disse em seu tom frio habitual, mas havia um brilho de diversão em seus olhos. - Não posso negar que seus pensamentos são um deleite para o meu ego.
Meu rosto estava completamente corado, eu podia sentir isso. Filho da puta. Dei mais passos para trás, tentando colocar o máximo de distância possível entre mim e o Mestre, mas eu não tinha ideia de como sair dali.
- Você pode me levar até Elisabela? - perguntei derrotado. - Ela deve estar preocupada.
O Dante assentiu e deu uma última olhada no jardim de rosas antes de se aproximar lentamente.
- Vou tocar em você.
Foi seu único aviso antes de envolver os braços em volta do meu corpo e deslizar pelo vento, soprando meu cabelo para longe. Gritei de medo e, felizmente, quando ele me soltou no chão de cascalho em frente à mansão, percebi que nem tive tempo de pensar em algo que me envergonhasse ainda mais.
- Dê isso a Elisabela. - Disse o mestre, tirando do bolso interno do paletó um anel de ouro, com uma pedra de safira no topo.
Nossos dedos se tocaram levemente quando ele me entregou o anel e pude ver seu sorriso, pois não consegui controlar o pensamento que me veio instintivamente ao olhar para a safira.
Azul como seus olhos.