Capitulo 6
Damion
Acordei como todos os dias, com Cristal pulando, sempre achando que a minha cama é elástica; vendo que ela estava para pular em cima de mim, me virei e peguei-a; quando viu que não deu certo a surpresinha dela, deu risada:
— Papai, não vale.
— Vale sim! Quem mandou você ficar vindo aqui? Pensou em dar um susto no papai, né? — Vendo que Cristal fez um biquinho bonitinho e falei pra ela: — Filha, você já tomou café?
— Sim, papai.
— Então vamos nos levantar da cama, princesa, porque o papai precisa se trocar.
Vendo ela ainda na minha cama distraída, a catei pelos braços, lhe abracei, sentindo seu cheirinho de bebê, ela ficou me dando beijos pelo rosto.
— Agora vai, meu anjo, se trocar! — Coloquei-a no chão, a vi calçando a pantufa do Piu Piu, saindo correndo pra se trocar.
Cristal nem sempre precisava de ajuda, mas tinha certeza de que a Sabrina já estava no quarto para trocá-la, arrumei a minha cama, era a minha obrigação fazer isso, tomei um banho, vesti meu paletó de sempre, peguei o celular e a minha bolsa de ombro e fui chamar a Cristal. que estava me esperando lá embaixo.
Dei um bom dia pra Sabrina e tomei meu café. A gente se despediu dela e fomos pro carro; vi meu motorista e falei pra ele levar Cristal para escolinha, já estava entrando no meu carro quando vi minha pequena correndo em minha direção. me chamando:
— Papai, papai.
Abri a porta do carro pra ela e falei:
— O que foi, Cristal, aconteceu algo?
— Não, papai! Liga hoje pra minha amiga lá da escolinha e pede o número da escola de dança.
— Pode deixar, minha filha, eu ligo pra ela assim que o papai chegar em casa, hoje eu chego mais cedo.
Dou um beijo nela e sigo ao meu destino, ligo o rádio, mudo a estação e começa tocar uma música sertaneja. eu gosto de ouvir. Aí, meninas, vocês ficam pensando que só ouve a Alpha FM, mas eu respondo, também gosto de outras emissoras, como a Gazeta, que nesse momento toca uma música do Bruno e Marrone, com a canção Agora.
A música acaba e vejo que estou chegando ao fórum, sempre passo nessa rua com esperança da minha deusa aparecer, mas como nunca aparece, fico pensando que estou enlouquecendo por causa de uma mulher que mal conheço e que virou a minha cabeça de pernas pro ar.
Chego ao fórum e vou direto pro estacionamento deixar o carro, subo no elevador e encontro a minha secretária e dou bom-dia pra ela, que me responde:
— Bom dia para o senhor também!
— Já te falei para me chamar de Damion!
— Tudo bem, sen ... Damion. — fala, já sem graça.
O que eu tenho hoje na agenda?
Às 10h, tem uma audiência, caso de guarda; depois, às 14h, se ocorrer tudo bem na audiência, uma reunião com seu Dimitri.
— Seu Dimitri não, Isadora — eu falo pra ela.
— Ele falou pra você também não chamá-lo de senhor, continue.
— Eu já sei que é pra chamar ele assim também... Bom, depois disso você está liberado.
— Será que nessa agenda tem alguma hora para eu tomar um cafezinho ou almoço, senhorita Isadora?
— Claro, senhor Damion, vai ter a hora que a audiência acabar — ela me responde com ar de riso.
Somente Dimitri e ela me tratam de igual para igual, muitos me conhecem como general. Me despeço dela, entro na minha sala e pego os documentos do primeiro julgamento de hoje, o da guarda compartilhada. Pela minha pesquisa, percebi que muitos casais se separam e querem a guarda total, mas quem sofre nessa história é a criança. No meu caso, Alanis não quis ficar com a filha. Pego tudo e vejo entrando na minha sala Dimitri, resolvo provocá-lo:
— Sabia que existe uma certa secretária ruiva na minha recepção que deveria me ligar pedindo autorização de certas pessoas para entrar na minha sala.
Vi que ele fechou a cara e me contive pra não dar risada da cara que ele fez.
— Hah, hah! Muito engraçado, Damion.
— Que isso, Dimitri, bateu a cabeça? Que mau humor esse? Não vê que eu estou brincando?
— Me desculpe, Damion, mas hoje meu dia não começou bem.
— O que aconteceu pra te deixar desse jeito?
— Minha ex-namorada resolveu me ligar, dizendo que está com saudade de mim, era só o que me faltava.
— Que namorada é essa que você nunca me falou nada? A gente é amigo há muito tempo e você nunca me comentou nada sobre ela.
— Eu nunca comentei porque, para mim, era passado, mas parece que resolveu voltar a me assombrar.
— O que ela quer com você?
Mostro a cadeira para ele se sentar e me sento na minha também, fico espantado com as revelações, olho a hora e vejo que ainda não está na hora da audiência, fico ouvindo:
— A louca fala que está com saudades e que não vê a hora de me ver, mesmo eu dizendo que está tudo acabado entre a gente, ela não aceita, nosso... vamos dizer... namoro começou quando a gente estava fazendo faculdade, seu nome é Adriana, a gente era da mesma sala, ficamos amigos e dessa amizade.
começamos a sair, e daí pro namoro foi um pulo, ficamos juntos por dois anos. — E por que vocês terminaram?
— A gente estava bem até que entrou uma aluna muito bonita, chamada Amanda, eu e ela nunca tivemos nada, mas, na cabeça da Adriana, a gente tinha, só porque a Amanda tinha dúvidas sobre algum assunto. Ela vinha me perguntar, aí, meu amigo, começou os ciúmes não só dela, mas de qualquer uma que viesse falar comigo, tive que dar um basta, conversei com ela, aí ela prometeu parar, a gente continuou, quando deu um mês, de novo, ela começou a me questionar e aí terminei tudo, troquei o número do meu celular, mas ela descobriu o número do meu celular de novo.
— Você não falou pra ela se afastar, inventa que você está namorando. E outra, como será que ela conseguiu seu número de novo?
— Vou tentar isso da próxima vez, ainda bem que ela não sabe onde eu trabalho, eu espero.
Vejo que está na hora da gente ir pra audiência e aviso:
— Vamos pra audiência e depois a gente conversa sobre isso. — Vejo que ele concorda e termino de pegar as minhas coisas, quando saio, ouço Isadora falando de mim e faço um gesto dizendo para anotar o número do telefone.
Dimitri não para de olhar pra ela, que fica corada.
— Você quer um babador?
— Vai à merda, Damion, olhar não faz mal.
— Realmente olhar não, mas ficar olhando como se fosse comê-la... — Mal acabo de falar, levo uma cotovelada na cintura. — Dimitri, essa doeu caramba, meu!
Faço massagem no local da agressão.
—Nossa, desde quando o Senhor Filip sente alguma dor? — ironiza.
—Vai, deixa quieto, vamos logo porque tomar café eu não vou poder, mas eu vou querer almoçar e depois temos uma reunião... sobre que assunto?
— Sobre mais um divórcio meu, caro.
— Caramba, o povo só quer se divorciar!
Dimitri dá risada, chegamos à audiência e vejo que está na hora e pergunto pra ele:
— Pronto?
— Sim.
E aí eu ouço:
— Todos de pé porque o juiz Filip vai entrar no recinto.
Eu entro acompanhado do Dimitri e vejo todos de pé, mando se sentarem e peço que o advogado comece a falar:
— Senhor juiz, a minha cliente deseja a guarda total da criança, porque o marido nunca está presente — fala o advogado. — Depois dou a palavra ao advogado do pai da criança:
— Senhor, nem sempre dava pra ele ficar porque tinha que ficar viajando.
Mal ele acaba de falar e a ex-esposa se pronuncia:
— Mentira, Seu juiz, ele faz isso até hoje.
Então começam as duas partes a brigar, nessa hora do graças a Deus pela criança não estar presente para ouvir essas coisas e grito:
— Ordem!
Todos ficam em silêncio, peço para recomeçar e assim vai; quando eu olho no relógio, já são 13h tarde e dou meu veredito. Depois de ouvir as duas partes, eu proponho a visita do pai à criança de quinze em quinze dias; nas férias, eu concedo a guarda ao pai, vejo a mãe gritar e o pai brigar, falo novamente e bato martelo para conter os gritos:
— Ordem aqui dentro e caso encerrado.
Saio de lá acompanhado do meu amigo, pegamos o elevador e seguimos para o nosso restaurante, eu ligo pra Isadora avisando que nem vou passar lá, que a gente ia almoçar, então ela me avisa:
— Damion, uma moça te ligou.
— Isadora, depois você me passa. Ela falou que era urgente?
— Não, mas ela deixou o número, vai almoçar e depois eu te entrego o bilhete.
A gente se despede desejando um bom almoço e desligo, chegando no carro, ouço Dimitri.
— Ainda não mandou arrumar o carro, Damion!
— Não tive tempo, eu tenho que entrar em contato com o seguro da minha deusa.
— Deusa? Meu, você está me parecendo apaixonado.
— Não estou, não.
— Meu amigo, parece que o cupido te flechou, hein?!
— Que nada.
— Não? Ah, então tá bom, me dá o número do cartão dela e entro eu mesmo em contato.
— Ah, mas você não vai mesmo chegar perto da minha deusa.
— Não? Você tem certeza de que não consigo entrar em contato com ela? — me provoca.
— Vai rindo, besta, eu não posso estar apaixonado por ela em tão pouco tempo — falo enquanto estaciono no restaurante e vamos almoçar.
Durante a refeição, repassamos o caso de hoje e aproveitamos o ambiente e fizemos a nossa reunião ali. Ao terminarmos, pagamos a conta e voltamos ao fórum. Nos despedimos ao chegarmos na minha sala, Dimitri se despede.
Ao entrar no meu escritório, analiso um relatório que está em minha mesa; perco a noção do tempo quando escuto uma batida na porta, mando entrar e pergunto a Isadora se há algum problema.
— Não, Damion, só esqueci de te dar o bilhete. Você chegou e acabei não te entregando quando vi, foi agora, quando estava me preparando pra ir, que lembrei.
— Eu esqueci também, Isa, qual era o nome da moça que me ligou.
— Nome dela é Samantha Fer....
Olho atônito e fico pensando se seria a minha deusa, Isa me olha estranho.
— Damion, tudo bem com você?
— Sim, Isa, você falou Samantha Ferrari, é isso mesmo?
— Foi, ela ligou aquela hora de manhã, falando sobre o acidente que fez no seu carro.
Sim, foi isso mesmo. E ela deixou o número?
Deixou, sim, eu falei que você estava em audiência, e ela falou que você não ia conseguir falar com ela naquela hora também porque ela ia dar aula.
— Ah, tá, vou ver se consigo falar com ela agora, obrigado, Isa.
Vejo Isa sair e nem acredito que a minha deusa Afrodite me ligou. Não vejo a hora de ouvir a voz dela e vê-la de novo, disco o número e vejo que só chama, tento de novo, quando olho, já estava passando das 17h30. Resolvi que depois tentaria de novo, em casa, peguei as minhas coisas, saí da minha sala e vi Isa indo embora.
— Damion, conseguiu falar com a moça?
— Não, ela deve estar em aula.
— Por que você não ligou pro celular dela?
— Celular? — Ela me olhava como se estivesse vendo um bicho de sete cabeças.
— Sim, Damion, esse número aqui é do celular dela.
Eu não tinha visto, a ansiedade era tanta que eu não via a hora de ligar.
— Foi mal, Isa, não tinha visto.
— Não tem problemas, depois você fala com ela.
A gente pega o mesmo elevador com Dimitri e dá para perceber que o clima ali está pra pegar fogo e, para descontrair, eu falo para o Dimitri:
— Dimitri, a minha deusa ligou.
— Sério, e você não ligou ainda?
— Claro que sim, mas só estava chamando, eu imagino que estava dando aula, a Isa falou que ela ia dar aula.
Vendo Isa confusa, o Dimitri fala:
— Seu chefe está gamado na Samantha.
— Percebi, parece que está apaixonado.
Nem ligo pra que eles falam e penso que não vejo a hora de chegar em casa.
Chegamos ao estacionamento e Dimitri fala pra gente:
— Damion, Isa falou que ela dava aula, não?
A gente concorda, e fico confuso.
— Onde você quer chegar com isso, Dimitri? — pergunto, confuso.
— Seria muita coincidência se sua Samantha for a dona da escola de dança chamada Samantha.
— Será, e como acha isso?