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Capítulo 6

Minha mãe parece ofendida, como se estivesse prestes a dizer que não foi assim que ela me criou e eu consigo perceber que o sorriso irônico de Alexander parece fugir um pouco dos lábios, como se ele estivesse começando a ficar com um pouco de raiva.

– Eles vão perceber que tem algo estranho. Eu chegando com você? – Pergunto tentando fazer ser essa a justificativa quando, na verdade, eu não queria era nunca mais pisar meus pés naquele carro novamente.

– Não tem problema. Eu te deixo lá na porta dos fundos e parto. Ainda vou ter que buscar meu pai. Ele também vai analisar o prato, ainda que seja eu o dono da última palavra. – Concordo balançando a cabeça, mas ainda não estou nada decidida de que compactuo com a palavra dele.

– Ah, Sara. Daí não tem nada a ver. E outra, ninguém vai ver ele. Nem vão perceber. – Disse minha mãe e eu tentei não rir pensando que seria sim perceptível e que seria sim um choque, já que as pessoas não estão acostumadas, por aí, em ver Sarinha com um namorado. E a simples ideia de que o homem do carro preto o fosse, já geraria um alvoroço tenebroso.

– Você pensa muito. É por isso que seus pratos são perfeitamente técnicos, amor, mas não cem por cento de alma. Você não se entrega. – Disse Alexander me fazendo ficar perplexa com seu comentário e boquiaberta por ele ter mal me conhecido há um dia e já parecer saber tanto de mim só de ter cozinhado ao meu lado.

Aparentemente, até minha mãe está boquiaberta com a sinceridade dele. Ninguém nunca chegou e disse algo assim para mim. E eu, obviamente, que não aceito isso. Ninguém pode dizer algo sobre o meu trabalho em apenas um dia. Eu colocava emoção sim! Eu colocava minha alma sim! E ele que se danasse, porque ele não sabia do que estava falando!

– Sai. – Digo entredentes para não dizer algo pior e acabar com a nossa ceninha amorosa na frente da minha mãe. Ele parece entender isso perfeitamente bem, já que ele rapidamente sai e se encaminha para o elevador e eu vou logo seguindo atrás, porque estou maquinando palavras boas para o dizer assim que eu estiver longe do espetáculo aos olhos da minha mãe.

O elevador se fecha e eu aproveito então o momento. Volto meus olhos para Alexander e sinto que estou tirando um peso das costas, já que agora não tenho mais que fingir. Nunca gostei de fingir nada.

– Olha só, eu não te dei o direito de falar assim comigo.

– Na verdade, ainda não conversamos sobre o trato, então ainda não aparamos as frestas do contrato para saber o que posso ou não fazer sem que você me xingue.

E o maldito parecia ter resposta para qualquer coisa que eu queria dizer! Mas isso não ia ficar assim!

– E temos que aparar mesmo! E essa é uma das coisas que me recuso que você fale! Não quero sua opinião sobre minha vida profissional! Na verdade, ainda que você seja o meu chefe, preferia que você não se metesse nessa parte. Se estamos tratando de uma troca, a nossa única troca é de aparências. E quanto ao trabalho vocês nunca aparecem no restaurante. Eu fazendo meu trabalho perfeitamente, está bom, não é mesmo?

– A inauguração é só daqui um mês, Sara. – Ele disse como se eu não soubesse disso.

– Que seja! – Bufei. – Quando vamos montar esse contrato, trato, sei lá? – Pergunto impaciente. Agora que ele já se meteu na minha vida e até se apresentou para minha Mãe e minha avó que nunca mais o esquecerão, eu preciso ao menos cuidar da parte importante, que é me assegurar que esse contrato seja o menos danoso possível a mim ao mesmo tempo que me dá uma oportunidade única.

– Hm... – Alexander parece pensativo até lançar-me um de seus outros sorrisos sínicos de canto de rosto. – Então você aceita fazer parte dessa grande farsa? – Reviro os olhos. Achei que isso já tinha ficado claro.

– Depois de você ter se tornado um santo canonizado na frente da minha família, acho que sim. – Respondo sarcasticamente enquanto a porta do elevador se abre. Alexander solta uma longa e gostosa gargalhada e seguimos em silencio pela parte onde o porteiro está, para ele não ouvir o nosso plano diabólico.

– Bom, talvez eu só seja canonizado porque você nunca apresentou um namorado para sua família. Você já teve um? – Pergunta Alexander. Encaro-o. Não sei dizer se ele está brincando com a minha cara, só para ver até onde vai minha paciência, ou se a pergunta é sincera.

– Isso seria uma boa coisa a se pedir no contrato. Nada de perguntas íntimas. – Alexander ri novamente.

– Vou aceitar isso como um não. – Sinto que minhas bochechas estão corando, porque Alexander parece ser muito observador e parece já ter percebido isso antes mesmo que eu fale um ai. – Preciso saber de algo ainda pior que isso? Tipo você nunca ter beijado na vida? – Quase engasgo com a minha saliva diante de tamanha pergunta evasiva! Não posso crer que Alexander seja tão entrão assim!

– Não! – Grito e pareço até um pouco sonora na hora de falar tamanha a vergonha.

– Meu Deus, você nunca beijou na vida então? – Ele pergunta e parece levemente assombrado enquanto para na minha frente. Quase morro com as bochechas quase tomando uma proporção escarlate.

– Não! Quer dizer, Sim. Eu já... – E não consigo terminar a frase porque por algum motivo falar de motivos pessoais me deixa sem jeito.

– Ah... – Alexander parece um pouco calmo. Não sei dizer até que parte é teatral. Até que parte ele está enrolando e fingindo que ficou assustado. – Você não é feia. Fiquei a pensar se não teria que morrer agora por ter escolhido uma santa! – Ele disse me fazendo abrir um pequeno sorriso, pois não podia negar que Alexander, mesmo que pudesse ser de mentira, era engraçado e simpático.

– Bom. Te acompanhei. Agora sai. – Digo enxotando ele com a mão. Alexander pareceu achar graça já que passou a mão pelo cabelo enquanto voltava a me olhar.

– Amanhã as seis, pode ser? – Ele me pergunta e por um segundo fico perdida tentando entender do que ele está falando.

– C-como? – Pergunto ainda confusa. Faço Alexander rir um pouco colocando as mãos no bolso levemente desajeitado, de uma maneira sexy, estranhamente.

– Te busco amanhã as seis, pode ser? – Arqueio uma sobrancelha.

– E eu tenho escolha? – Na verdade, já tinha aceitado que minha mãe ia falar no meu ouvido, minha vó ia falar no meu ouvido, ele ia falar no meu ouvido. A humanidade ia falar no meu ouvido para que eu aceitasse a carona do meu namorado de mentirinha logo de uma vez e parasse de ser uma cabeça dura, pois o Dobby ainda não tinha sinal de vida – uma hora eu teria que ir atrás dele, infelizmente – e eu não era lá muito fã de transporte público no horário das seis na cidade de São Paulo. Para quem conhece, só imagina o inferno que é.

Então talvez uma carona não fosse de todo o mal. Aliás, talvez não fosse de todo bem também. Mas agora a bosta já tinha sido jogada no ventilador e eu já tinha aceito uma das ideias mais malucas de toda a minha vida, fazendo parte do esquema mais absurdo de toda a face da terra! Então era isso, agora era sentar e esperar.

Só esperava que a bosta demorasse a cair do ventilador. Do contrário, eu e Alexander estaríamos ferrados com essa mentira e com tudo o que ela poderia gerar.

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