Episódio 2
“Eu não acho que é da sua conta o que eu faço então me diga o que você quer e depois vá embora, por favor.” Ela não tinha interesse em agradar esse cara e acima de tudo não tinha intenção de suportar a presença dele na frente. de mim por muito tempo.
O cara me olhou primeiro indignado depois resignado e por fim indiferente quando me pediu o número de Kora e enquanto eu fazia dei a ele um número improvisado naquele momento, com mais dois dígitos, o menino estava tão bêbado que não conseguia distinguir o preto do branco. Não era a primeira vez que ele dava números falsos, não exigia nenhum esforço e era a melhor maneira de manter as pessoas indesejadas afastadas: dar a elas o que elas queriam.
O menino cambaleou e quando terminei de beber aquela bebida horrível, Kora se juntou a mim:
-Vamos Riley... levanta desse banquinho - ele puxou meu braço - Daqui a pouco vai ser meia noite e vai ter fogos de artifício!-
Sempre gostámos de fogo de artifício, lembravam-nos a festa de fim de verão no nosso país. Quando éramos pequenos, costumávamos admirar os fogos de artifício junto com nossas famílias e naquele momento, era como se tudo desligasse por um instante, os fogos de artifício captavam nossa atenção, anulando tudo de belo ou feio ao nosso redor.
Acompanhei Kora enquanto ela se aproximava das janelas que agora estavam cheias de pessoas com o rosto voltado para o vidro, prontas para admirar o espetáculo que logo terminaria. Foi nesse momento que a minha atenção e a de Kora foram atraídas por um brilho no céu, um brilho avermelhado que iluminava a noite.
Era muito parecido com os filmes que eu assistia nas tardes de domingo: um meteorito atingindo a Terra colocando em risco toda a humanidade. Mas isso não parecia um pedaço de rocha incandescente vindo sabe-se lá de onde com o objetivo de destruir a vida, parecia mais uma simples luz, quase como se fosse um sinal enviado ao céu para ser visto.
"Você vê Riley também ou estou ficando louco?"
-Acho que tinha algo naquela bebida que me faz ter alucinações.- respondi.
Ninguém parecia ter notado nada, todos esperavam pelos fogos de artifício, alheios ao que acontecia bem na frente deles.
“Essa luz me dá arrepios e então por que parece que somos os únicos que notaram isso?” Kora ficou irritado. As crianças ao nosso redor ainda riam, gritavam, mas ninguém parecia notar o que brilhava no céu.
Aquela simples luz avermelhada instilava um certo medo, dava arrepios. Kora não estava errada, o que quer que estivesse acontecendo não era um bom presságio.
-Tini, pare de olhar para esse computador, a Terra não vai ser invadida por alienígenas, relaxe!- eu disse enquanto preparava um café.
A temporada de férias acabou, naquele dia eu teria voltado ao trabalho e teria que voltar aos meus estudos também. Lá fora o céu estava terrivelmente azul e, embora fosse início de janeiro, brilhava um sol quente, típico de junho. Passei um copo do líquido marrom para Kora enquanto levava um simples suco de laranja sanguínea, meu favorito, aos meus lábios.
Kora ainda estava obcecado com a questão da luz no céu e já tinha visto todos os tipos de documentários tratando de avistamentos estranhos no céu e possíveis ameaças alienígenas.
Eu tenho que admitir que na manhã seguinte ao estranho evento, eu também investiguei e olhei para ver se alguém além de nós tinha visto alguma coisa naquela noite, mas aparentemente nós éramos os únicos.
-Tini, como é possível que você esteja tão calmo quando parecemos ser as únicas testemunhas oculares de uma tentativa extraterrestre de chegar à Terra-.
Desde pequenas nos chamávamos de Tini, foi um apelido que usamos por tanto tempo, tanto tempo que nem lembramos mais de onde veio.
Tínhamos vivido tantas aventuras juntos que agora havia tantos eventos para lembrar que até minha mente muito precisa e atenta havia esquecido.
"Kora, seja razoável, aquilo não era uma nave espacial, e se você desligar o computador e tentar pensar sobre o que realmente vimos, você descobrirá." Ele desligou o computador e pareceu pensar no que eu havia dito. Eu apenas disse a ele, e não importa o que passasse pela cabeça dele, com certeza foi uma bênção quando ele se levantou, tomou seu café e correu para o banheiro para se arrumar.
Já estávamos morando sozinhos há mais de um ano, havíamos deixado nossas casas e famílias para começar nossa nova vida. Kora ainda mantinha relações com a irmã, elas se falavam periodicamente; enquanto conversava quase todos os dias com minha irmã que, apesar de ser dois anos mais nova, frequentava uma escola na Inglaterra, felizmente longe de nossos pais e infelizmente também de mim.
Denise e eu sempre tivemos uma relação especial, eu era a irmã mais velha, a fria e rígida, com poucos amigos e que preferia um bom filme a uma noitada; ela, por outro lado, era a alma das festas, tinha muitos amigos, sabia se divertir e adorava estar em contato com o mundo. Nossa vida foi feliz por um tempo, ouso dizer perfeita, até que as coisas começaram a mudar na família.
Acordei dos meus pensamentos e resolvi terminar meu suco e me acalmar antes de ir trabalhar. Garreth não ficaria muito feliz se eu aparecesse para trabalhar de pijama rosa com ursinhos voadores.