Capítulo VII- Teu preço?
Cheguei a boate a noite, sozinho, olhei em volta, a procura de um sexo gostoso, intenso e nada mais, poderia pedir em casa, uma boceta in delivery, mas quero escolher com os meus olhos primeiro, uma caça privilegiada, tornando o jogo mais saboroso.
Percorri os olhos pelo bar, a pista de dança. — Mia que bom te ver por aqui! — Fui surpreendido pelo administrador que já veio rindo na minha direção, não gosto desse tipo de aproximação repentina. — Não trouxe nada pá tu não, vei, quero uma das tuas aí, qual a melhor que tem pra hoje?
Sorriu de canto a canto. — A melhor? Sério que esta me perguntando sobre isso, Mia? Adivinhe o que eu consegui exclusivamente pra você? — Revirei os olhos pra o seu puxa-saquismo. — A morena, uma morena de tirar o fôlego, se quiser ligo pra ela agora, você quer?
Suspirei fundo, ele não esqueceu a minha última vez que estive aqui, só estava levado por não ter pago, pra mim mulher é como um objeto, ir num parquinho de diversão, usou, divertiu, paga e acabou. — Eu pedi a melhor, quero enfiar o meu pau numa boceta até fazer calô.
Riu fraco, mas assentiu, lhe segui até o escritório, ao chegar vi duas loiras sentadas na sala, em poltronas pretas, uma aplicando droga na veia, seu braço branco relevando algumas veias azuis, essas mulheres só tem beleza, nada a mais, a outra tocando a tela do celular bem interessada no que via, não parecia drogada. — Tenho aqui comigo a Vanessa e a Juliana, quem você quer? — Olhei de uma a outra loira, a com o celular na mão me olhou, ela estava boa para uma sessão de sexo de umas duas horas.
Saímos juntos da boate, até que de repente, a mulher morena chamando atenção de alguns surgiu, de cabelos lisos brilhando, num vestido azul decotado, franzo o cenho, nós conhecemos? Mas a mesma passa por mim, sem me dá atenção, joga os cabelos para trás num rebolado tentador, salto fino, pernas grossas, um maravilhoso par de nadegas, gostosa pra caralho, o rastro de perfume fica no ar.
A garota a seu lado, baixinha, loira, ri, falando algo baixo com ela que olha em volta, dou risada fraca, evidente que sim, com este sorriso a reconheço, é a garota do outro dia, como ela conseguiu esconder tanta beleza naquela madrugada? Ou eu estava louco demais para perceber? Não importa, já lhe tive, e apesar de ser bonita é muito dura, não mexe, não rebola, fica parada estática como uma tábua.
Seus olhos verdes parecem procurar alguém em especial. — Mia o que tá pegando? — Olho para a loira perto de Iago, não sou de deixar conta em aberto. — Nada, entra no carro, já volto. — Aviso, vendo ele abrir a porta em seguida, volto pra boate, alguns passos lhe vejo de pé, falando com o gerente desta vez, sorri fraco, olha em volta como se caçasse algo.
Talvez um cliente velho, não sei, morde o lábio inferior, apesar de o batom fazer a boca ficar mais gostosa, do que é, pena que seja ruim de cama, só é apertadinha, mas isso não conta tanto. Me aproximo ao chegar a sua frente, me olha de baixo a cima. — Oi, posso ajudá-lo? — A voz sai suave, tão suave que desconfio que seja a mesma garota.
Nego, lhe olhando, sorri largo. — Nos conhecemos? — A pergunta vem quando dou as costas, é ela, só pode ser garota louca da outra vez. — Depende. — Respondo, mas ao me virar lhe vejo pálida. — É da faculdade? — Claro, mais uma universitária que vai contar uma história triste, em que estuda e sem trabalho veio para aqui.
Veja só. — Qual é o teu preço? — A vejo paralisar com a minha pergunta, olha em volta. — Desculpa moço, eu não estou disponível esta noite. — Avisa, me olhando de baixo a cima, dou risada, nem pago, só mesmo caso de extrema necessidade. — Tô perguntando o preço, não estou interessado no produto.
Abre a boca, indecisa, deixando de olhar em volta, esse olhar, essa boca, relembro alguns momentos em que chupei e mordi esses lábios, são deliciosos, macios, mas só a boca não compensa, pra me matar ela morde o lábio inferior como se estivesse nervosa outra vez, parece esmiuçar o lábio inferior como um pedaço de carne nos dentes, o olhar atento, me faz duvidar se ela só estava drogada naquele dia, ou é ruim mesmo de cama. — Mil reais, você não teria como me pagar, teria? — Pergunta como se desfizesse da minha figura, pareço um pobre? Deve esperar um engravatado achando que mil reais é muito.
Dou risada, o que ela esta pensando? Uma vagabunda desfazendo de mim, só que o me faltava. — Prontamente, mil né? Pegar na administração depois, diz que foi Mia que mandou. — Abre a boca depois de um olhar incrédulo, é até eu duvido que ela cobre mil, pra ficar parada, deitada sem fazer nada na cama, mas fazer o quê? É apertadinha, bonita, deve passar seus momentos com os clientes, agora entendo porque ela fugiu daquele.
— Licença! — Sai caminhando, vai em direção a um homem alto, moreno, cabelos grisalhos, me saio em seguida, chego ao carro, entro, sento pensativo, que tipo de pessoa essa mulher é? Tem merda na cabeça sou surpreendido pela pergunta de repente. — Algum problema chefe?— Balanço a cabeça ao ouvir.
— Não, pegou uma pra tu não pô? — A loira sorri ao me ouvir. — Se quiser, nos podemos brincar a três, ou revezar, o que acham? — Observo os seus peitos siliconados, Iago me olha pelo espelho, balança a cabeça, tô ligado que a neguinha dele tá nas horas pra dá cria, mais uma barriguda na quebrada. — Não, chefe, tô de boa!
Recusa, lhe fazendo olhá-lo, mais grana, não importa quantos batam na porta, a loirinha só quer fatura. — Posso? — Lhe olho de cima a baixo, ela sorri mordendo meio lábio, mas logo a mão vem a bermuda, sinto a sua mão em meu membro, vamos pra o motel, desta vez.
Minutos intensos dentro de um quarto, experimento algumas posições, gosto de ir nas portas dos fundos algumas vezes, é mais apertado neste caso, para aliviar qualquer estresse, tristeza ou consciência pesada que possa surgir, a mulher grita para caralho, chora, e pede mais, se rasteja diante de mim, pra me agradar e no final ganhar bem, não, é algo anormal, tanto na favela como no asfalto é assim.
Pago mil conto, ela sorri animada, como se isso fosse dinheiro pra a vida dela inteira. — Se precisar me liga tá? — Afirmo indo ao banheiro por fim, lhe vejo levantar meio que dolorida no fim, é mais uma noite assim, prazer, prazeres, sexo e drogas. Tomo um banho, volto pra a favela.
Minha fortaleza, só me afasto por pouco tempo e volto, algum tempo depois leio a mensagem. — Mia estou precisando de mais mercadoria, só as meninas estão acabando com o meu estoque! — Aperto um pouco a orelha, é tem que fazer mais entrega.
— Tá, pode deixar! Amanhã vou dá um jeito! — Aviso por mensagem. — A morena veio, mas como você estava com a Vanessa, ela saiu com outro cliente, uma pena, material de primeira. — Dou risada, coitado dele, certamente teve que trabalhar pelos dois. — Pagou a grana a ela?— Pergunto.
— Qual grana Mia? Ninguém falou sobre isso. — Dou meia risada, ela talvez não se lembre, seria cortesia da casa? Não, é uma estudante que certamente deve ter uma mãe doente, um pai ausente, e um irmão pra criar, sempre todas tem uma historinha triste pra contar, como motivo de porque caiu nessa vida. — Dá mil pra ela, assim que pintar aí. — Envio antes de desligar a tela.
Caminho pra o cafofo, é mais um dia de baile por aqui, a turma se anima, e quem vender tem lucro, quem não, paciência, amanhã é outro dia, é um meio de sobrevivência, o sistema não tem emprego pra todos, e quando tem, paga pouco, uma miséria pela vida, pior que eu já me sentir excluido disso, agora nem tanto, eles deviam nos agradecer, não nos julgar.
— Vai pra o baile Mia? — A voz de Nanda não me surpreende. — Vou pô, tu vai? — Se olha de pé, usando uma saia de couro marron, salto preto, e top também, mas com brilho, os cabelos cacheados, a maquiagem caprichada. — O que tu acha? — Levantei, me vesti, segui pra o baile, depois que a delegada foi afastada, a delegacia ficou as moscas, tem nada interessante por lá.
Mais uma noite de festa, o povão comemorando, curtindo, gastando comprando os meus produtos, isso é o melhor, o mais interessante pra mim. — Oi chefe, quer que eu... — Olhei para a mulher de tom escurinho de pele, enrolando a trança no dedo. — Fala! — Mais uma que subiu pra o vip, nada muda por aqui.
Depois de um sexo regado a bebida, droga e dinheiro voltei pra o cafofo, fizemos as contas, somente sossego por aqui, parece que a última operação serviu de orientação pra eles, se soubessem ao menos da terça a metade, não teria esta comoção em volta do que aconteceu. O caixa fechou no azul mais uma noite por aqui. —Hoje tem providenciar um quilo pra a Ananconda, viu, o povo lá tá com uma fome do caralho.
Leleo me olha afirmando. — Tô ligado chefe, mas aí vou ter que tirar da casa, porque o produtor até agora nada. — Afirmo, o produtor até agora não mandou o nosso bagulho, e sem ele, não mercadoria. — Vou resolver isso hoje pô. — Aviso preocupado, já deveria ter chegado. — Então pode tirar da casa aí? — Pergunta, afirmo. — Pode! — Vou pra casa depois de uma noite, esgotado, trabalho é trabalho, ser chefe de tráfico numa favela é quase como ser prefeito, só que um prefeito é de uma cidade, e um chefe é de um morro.
Um é ilegal, outro não, um administra, outro é bandido, olha só as ideias da sociedade, sigo para casa, me jogo na cama cansado, acha que lidar com essas preocupações diariamente não se cansam? Não esgota? Só te contaram a parte boa no bagulho. O celular vibra quando estou despertando. — Mia, houve algum engano, Monique disse que não tem dinheiro nenhum na tua mão pra pegar, tem certeza que é ela? Só tem uma semana aqui.
Jogo o celular pra o lado, que porra seria Monique? Sento na cama, abro a gaveta, a droga se tornou a minha pílula diária, despejo o pó na cabeceira, trituro com o cartão, enrolo a nota e só mando pra dentro, sem contar conversa, uma cheirada de manhã, outra nas horas de máximo estresse, é o que faz segurar a cabeça do chefe.