4. As novas chances
Joss estava cansada de ligar e mandar mensagens para Leonel e não obter resposta alguma. Ela estava com tanta raiva de Leonel que se aparecesse na sua frente era bem capaz de quebrar-lhe um vaso de cimento em sua cabeça, não que fosse adiantar muito, mas já ajudaria a aplacar um pouco da raiva que sentia.
Já se passava das 04:00 horas da madrugada, Joss tanto na forma humana quanto na de loba já havia percorrido boa parte de Londres e nada de Leonel. Agora encontrava-se numa rua próxima do Prédio do Parlamento, ou melhor dizendo, quase olhando o relógio da Torre do Big Ben. Pelo menos ali conseguira sentir o sutil cheiro do Leonel para ela, ele parecia conseguir esconder seu cheiro como nenhum outro lobo - ah, quando encontra-lo, aquele lobo cabeçudo em vez de ter ficado e conversado com ela, preferira fugir.
Joss trincou os dentes rosnando de raiva ao voltar a forma humana - isso só aumenta minha frustraçãoe de tanto focar em Leonel nem percebera que vários lobos surgiam ao redor de si.
- Droga, Leonel, olha os problemas que você me causa - murmurou-seus olhos amarelos encarando os lobos que surgiam, mas seu coração batia tão depressa- sinal de que havia mais lobos- suas garras também surgiram.
Leonel finalmente conseguira tirar um cochilo com o rosto molhado por lágrimas de saudade de Joss, e de tanto esfregar os olhos e o rosto furiosamente por ter se rendido a elas, dormira e sonhara. E no momento estava tendo um sonho bem ardente com as curvas deliciosas dela a se enroscarem em seu corpo até que o cheiro dela adentrou seu nariz, mas ele apenas sorriu e permaneceu de olhos fechados.
Os olhos de Joss estavam bem acordados para o perigo, bem como todos os seus sentidos.
-E ai, loba gostosa, está perdida?- perguntou uma voz predatória surgindo das sombras, todo de preto, incluindo seus olhos ao verem Joss se acenderam em chamas reluzentes.
-Não, mas obrigado por perguntar - Joss sentia o nervosismo crescer em seu íntimo, pois nunca se vira sozinha numa luta, se bem que nem em uma luta jamais estivera, e agora só piora quando os lobos se fecham ao seu redor fazendo-a se sentir como uma ervilha sobrando no meio da salada a qual todos querem provar.
-Que pena – murmurou outro, e a partir dele os outros se transformaram em lobos ferozes salivando por carne.
De supetão, Leonel abriu os olhos e o sorriso que trazia em seu rosto sumiu ao sentir o cheiro de medo vindo de Joss e muitos outros cheiros de testosterona lupina colidindo com o da sua mulher.
-Joss- murmurou ao levantar-se do chão onde estivera encostado á parede interna do relógio e, sem pensar, correu para o meio onde os ponteiros se encontram e se cruzam, e dali jogou-se usando de suas garras para diminuir a velocidade com que descia, e com graça imperiosa, caiu de pé ao chão e correu para Joss.
Um baque surdo ecoou do beco, e Joss sentiu como se seu cérebro tivesse se partido – era uma loba e tal, mas até agora nunca havia se visto sozinha em uma luta nem contra um, muito menos contra vários- sempre estarei ao seu lado prometera Leonel - mas onde você está agora?
Os lobos a cercaram novamente, muitos voltaram a forma humana, e um deles pegou Joss que tentou afastar sua mão, e pelo pescoço levantou-a. Imagine essa loba na cama-murmurou sádico e com a mão livre, subiu-a pela camiseta dela que tentava respirar e se soltar, e apertou-lhe o seio. Isso em qualquer mulher humilhada desperta uma fúria intensa, imagine em uma loba.
Joss usou suas garras e rasgou o rosto do lobo de cima abaixo, que urrou em dor e raiva, e a arremessou de lado para a calçada iluminada.
Maldita! - exclamou ele enquanto os lobos se reuniam as suas costas.
-Seja o que Deus quiser – murmurou Joss ao levantar-se e correr, e para a sua sorte, não havia ninguém em seu caminho, mas os lobos vieram em seu encalço.
A lua guiava os seus passos enquanto seu coração batia enlouquecido dando-lhe ainda mais energia. Joss sentia o cheiro de Leonel cada vez mais próximo, mas ao desviar os olhos para um dos lobos que surgira ao seu lado esquerdo, outro surgira do nada á sua frente, abocanhando seu ombro, ela gritou, e a jogando para o meio da rua com um grito abafado.
Os lobos voltaram a forma humana e riram, mas iriam se arrepender. Antes de Joss fechar os olhos, ela viu um lobo com pelagem de leão surgir das sombras; ela sorriu e apagou. Leonel venho direto para o lobo que ousou ferir Joss, mal lhe dando tempo para se transformar, abocanhou seu pescoço e o quebrou no ato como a um galho seco, e como quem joga um brinquedo quebrado for a, ele o fez com o lobo aos pés dos demais, que rosnaram loucos pela afronta e para lhe atacarem. Ambos os lobos se encararam rosnando e vendo seu ‘irmão’ morto aos seus pés, partiram com fúria para cima de Leonel que não pensou duas vezes em aceitar o desafio só para proteger a mulher amada.
A luta fora violenta: arranhões e mordidas profundas que mesmo se curando rapidamente, deixavam a pelagem manchada, patadas que arrancavam pelo e pele, e ossos quebrados, principalmente, por parte de Leonel que mesmo ferido mantinha-se firme a frente de Joss que permanecia desacordada.
Uivos, urros e arranhadas no asfalto ecoavam no subconsciente de Joss que tremia as pálpebras, e um baque surdo de um corpo pesado ao seu lado, ela os abriu prontamente. De canto de olho ela viu um lobo morto ser arrastado pelo pescoço quebrado por outro para longe de si.
-Leonel - sua voz saiu fraca, mas seu corpo já estava se erguendo do chão.
Leonel a olhou e posicionou-se a sua frente e fora ai que Joss vira a pelagem de leão toda manchada de sangue seco, e nessa hora, ela com a própria mão recolocou o ombro no lugar e mostrou toda a sua fúria num rosnado estridente transformando-se em loba e ficando ao lado de Leonel como um convite - vão nos encarar?
Os poucos lobos que haviam resistido a morte ou a burrice de encarar Leonel acabaram por rosnarem e fugir, sumindo nas sombras. Ambos voltaram a forma humana, mas Leonel teve de ficar segurando o pulso quebrado, graças a Deus, a única parte de seu corpo que conseguiram quebrar.
Fora uma armadilha – dois lobos vieram de frente, e na distração, outros dois, um de cada lado. Conseguira desviar de um, esmagar a pata de outro, e arrancar, literalmente, as patas de outro, mas fora aí que surgira um quinto e abocanhou seu pulso, quase arrancando-a, mas Leonel pegou seu cangote e arrancou seu pescoço.
Joss sabia que o orgulho de Leonel não o deixaria pedir ajuda, e então, hesitante levou sua mão ao braço dele, se entreolharam, ela confusa pois nunca concertara uma quebradura, até agora estava espantada por ter concertado o seu ombro, e ele hesitante.
-Seja rápida e precisa -recomendou orgulhoso de Joss.
Joss assentiu, pegou seu pulso com cuidado, e com um puxão e depois uma empurrada, ambos ouviram o estalar de ossos se juntando, e quando a tortura acabou, Leonel enganchou Joss pela cintura e a beijou com fervor e saudade.
Raína acabara de recolocar o telefone no gancho após a breve conversa com a sobrinha, e agora desfrutava da companhia do marido, que encontrava-se no sofá com o laptop no colo, mas atento as palavras da esposa.
-Estão todos bem? - perguntou assim que Raína sentou-se ao seu lado.
-Já estão na fronteira de Lacrimal city dirigindo-se para a casa de Malvina.
Ivan desviou os olhos do laptop - e como ela está?
-Bem, apesar de tudo o que sofreu nas mãos daquele demônio, e para concretizar a fase ruim, foram atacados no caminho de volta.
-Atacados? - Ivan fechou o laptop e deu atenção total a Raína que parecia um pouco hesitante.
Uma matilha de lobos nômades os encurralou próximos daqui, mas graças a Deus, o líder reconheceu Soraia pelo que fizera com Julio Cesar e lhes deu passagem.
Ivan assoviou
-Ainda bem que sua sobrinha tem grandes feitos no currículo.
Raína riu – e o que mais? - e o sorriso dela sumiu.
- Como assim?
Ivan fez uma cara de ‘pensa que eu sou idiota’.
-Raína, meu amor, estamos casados a anos, então não tente me esconder coisas porque eu sei ler os seus olhos, e nesse momento eles estão me dizendo que há algo mais.
Raína suspirou.
-Parece que aqueles que estão sendo mordidos por vampiros que carregam a partícula de ouro em si não precisam dela como seu criador.
-Como assim, não precisam?
Não é justamente essa partícula de ouro que os protege do sol?
-Parece que a corrente sanguínea daquele que carrega a partícula a absorve por completo, assim quando morde alguém que não a tenha, o sangue transporta os minerais contidos nela direto para o sangue do receptador – explicou.
-Deus – Ivan uniu as mãos em prece em frente ao rosto - o que vai ser do mundo quando todos os vampiros descobrirem isso?
-Em uma palavra? O apocalipse.