CAPÍTULO 5
Já com tudo acertado entre ambas, tanto a senhorita Buarque como Eleonora foram dispensadas. Depois que retornou ao seu aposento entrando e trancando a porta Eleonora caiu em prantos, pois nem nos momentos que passou até fome não pensou em furtar uma maçã sequer de ninguém, aguentou tudo calada sem ao menos deixar que alguém soubesse de sua situação, dava graças a Deus, quando a amiga Iolanda, a convidava para ir até a cafeteria, pois assim, ela podia comer o que quisesse sem levantar suspeitas de estar dias sem fazer uma refeição decente, e mesmo assim levava sua vida sem demonstrar sua verdadeira condição perante as pessoas que a viram nascer e crescer naquela cidade. E quando achava que tudo em sua vida já se encontrava em plena ordem, um bak como aquele a atingiu derrubando-a e fazendo-a ver que nada era para sempre, nem mesmo fazendo tudo certinho como sua mãe sempre a ensinou.
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Meia hora depois de já ter se acalmado lavado o rosto e arrumando suas coisas, Eleonora ouviu batidas na porta de seu dormitório seguida da voz de uma servente da escola dizendo-a que a diretora estava a chamando para ir até o auditório se juntar a todos. Eleonora respondeu que já estava indo, claro que já sabia do que se tratava.
Depois que ouviu os passos do lado de fora se afastarem, ela levantou-se da cama que apartir daquele dia não iria mais ser sua, olhou no espelho arrumando mais uma vez seus longos cabelos castanhos claros, presos em um coque no alto da cabeça, passou as mãos em seu lindo vestido swing que apesar de ser antigo já que era de quando sua mãe ainda era viva, mais ainda estava em perfeito estado, pois sempre foi bem cuidadosa com suas coisas. Eleonora, que já tinha arrumado seus pertences, saiu do quarto e seguiu pelos imensos corredores em direção ao auditório, deixou sua pequena mala na cabine do designer do som, que saia no áudio, e então entrou no auditório e se posicionou ao lado da senhora Filin. Que logo em seguida como já estavam todos ali, a senhora deu o sinal para que a senhorita Buarque começasse a falar no microfone a qual foi passada para ela, depois de limpar a garganta, com o rosto totalmente vermelho de vergonha e jovem mesmo contra gosto, se desculpou justificando-se sobre o acontecido mais cedo com o mal entendido com seu colar. Fazendo um grande burburinho começar pois todos falavam ao mesmo tempo, já que acreditaram mesmo que a professora havia furtado a joia da família da senhorita Buarque.
Minutos depois, já com o comunicado terminado, todos foram dispensados. Não querendo mais ficar naquele lugar, Eleonora se despediu de todos e saiu da escola de boas maneiras com lágrimas nos olhos.
Antes do portão ser fechado, ela deu uma última olhada se deparando com a senhora Filin, alguns professores, alguns funcionários do refeitório e até algumas alunas que gostavam de verdade dela, que fizeram questão de se despedirem assim que souberam que ela estava de partida. Todos estavam de pé na grande varanda olhando-a com tristeza expressadas em seus olhos, pois sabiam que moça maravilhosa ela era, todos acenaram adeus.
Chorando, Eleonora acenou de volta, aquela experiência, ela iria levar para sempre em sua vida.
No entanto, infelizmente naquele momento, ela tinha que levantar a cabeça e seguir em frente e recomeçar do zero, pelo menos daquela vez, tinha um pouco de experiência em como lidar com pessoas fora de seu círculo de convivência e uma carta de alta recomendação a seu favor em mãos, que com certeza a ajudaria muito em sua nova jornada, pois sentia que o caminho a tomar a partir daquele dia, não seria nada fácil como tudo em sua vida vinha acontecendo desde que perdeu sua mãe.
Logo que chegou no centro da cidade, Eleonora se instalou em uma pequena pensão já que sua casa ainda está ocupada.
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No dia seguinte de ter deixado a escola de boas maneiras, logo bem cedo, Eleonora mandou um menino de recados entregar um bilhete para a amiga Iolanda, marcando um encontro, pois queria muito ver a amiga e colocar a conversa em dia antes de começar a procurar outro meio de ganhar uma nova remuneração e continuar se sustentando mesmo que para a sociedade ela não deveria fazer isso e sim procurar e contratar uma casamenteira pois na cabeças das pessoas ela já havia passado da hora de se casar, o que ela nem pensava naquela hipótese.
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Em sua casa, logo que recebeu o recado, Iolanda nem acreditou, pois já havia meses que não via a amiga pessoalmente, as duas só trocavam curtas cartas ou bilhetes, onde pouco falavam. Imediatamente em êxtase e saltitante, Iolanda mandou o garoto esperar, pois ela iria escrever a resposta a qual ele levaria para a mesma pessoa confirmando o encontro na tarde daquele mesmo dia, que foi marcado na mesma cafeteria que ambas sempre gostaram de se encontrarem.
Na pensão quando Eleonora recebeu a resposta da amiga, ficou muito contente e animada pois ao contrário das outras vezes, como estava livre de compromisso, poderia se encontrar sem pressa, pois não tinha horário para se recolher, como era quando estava na escola de boas maneiras.
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À tarde chegou, depois de se arrumar colocando mais um de seus lindos e confortáveis vestidos midi, Eleonora saiu da pensão e caminhou pelas calçadas das estreitas ruas de Várzea Grande, Mato Grosso. Seguiu para a cafeteria que não ficava longe.
Logo que virou a esquina, avistou a amiga que chegava naquele mesmo instante também. Ao ver a amiga, Iolanda, correu abraçando Eleonora sem se importar com que as pessoas ao seus redores iriam falar, pois já fazia tempo que as duas não se viam, já que Eleonora, não ia muito a cidade, pois em suas horas de folgas, sempre escolheu ficar em seu aposento na escola de boas maneiras, repassando tudo que tinha aplicado às suas alunas, e fazendo relatórios para as próximas aulas.
— Eleonora, que saudades amiga, você me fez tanta falta. — falava Iolanda enquanto abraçando a amiga apertada.
— Eu sei amiga porque também senti muito sua falta, principalmente depois do que me aconteceu. — falou com pesar na voz.
Ao ouvir a amiga, Iolanda logo afastou-se do abraço e olhando nos olhos da amiga perguntou-lhe:
— Do que você está falando? O que lhe aconteceu? Conta-me. — disse em aflição.
— Calma amiga, eu vou lhe contar tudo, mas não aqui no meio da rua. Vamos, te contarei enquanto tomamos um daqueles deliciosos cafés, que hoje é por minha conta. — falou em felicidade por está podendo pagar o que consumirem daquela vez, ao contrário de muitas das vezes que sequer tinha uma moeda em sua bolsa.
Assim que as duas entraram na cafeteria, e se acomodaram em uma das mesas em um canto bem afastado, como sempre faziam, pois não gostavam de serem incomodadas enquanto conversavam seus assuntos.
Iolanda exigiu da amiga que começasse logo revelar tudo que havia acontecido e que estava deixando-a cabisbaixa daquele jeito.