Capítulo 5
Sim, Damien.
Aquele que ela levara para a cama apenas para ganhar uma aposta estúpida consigo mesma e que continuara a provocá-la mesmo depois de ter alcançado seu objetivo, só porque ela ainda não parecia ter se rendido completamente aos pés dele. O mesmo que a socorreu no dia anterior, que lhe fez companhia, que a impediu de ter uma ressaca épica e de ceder à sua mente sombria e autodestrutiva.
Um estranho que lhe deu carinho.
Ele deveria ter se afastado dela, ele também sabia disso, e mesmo assim não hesitou nem por um momento em se certificar de que ela estava bem.
- Por que ele fez isso?
Por que ele fez isso?
Ele não merecia isso, eu sou a razão pela qual ele traiu a esposa e quebrou as regras da universidade. Eu sou a aluna com quem ele transou. Eu não merecia suas atenções. -
Era isso que ela se perguntava enquanto o rapaz a penetrara com paixão. Ember, o corpo estava presente, mas na realidade seus pensamentos estavam concentrados em outra coisa completamente diferente. Dessa vez, porém, ela foi muito boa em fingir que estava concentrada, mesmo com a mente, porque o garoto não percebeu nada.
Ela pensou no beijo que havia lhe dado e que ele claramente retribuiu.
Um gesto quase romântico, dado o contexto em que aconteceu. Que deixou sua mente girando e seu estômago revirando. Um beijo depois do qual ambos decidiram que era hora de ir para casa e se acalmar. Você estava processando e refletindo sobre todo o maldito dia.
Ela estava com raiva de seus pais.
Confusa.
Perdida.
E ele estava ao seu lado, derrubando completamente todas as crenças que ela tinha sobre si mesma. E ela continuava pensando naquele beijo, naquele dia, insistentemente. E ela estava pensando nisso mesmo quando Carter teve um orgasmo, esvaziando-se dentro dela.
Foi nesse momento que ela voltou ao mundo terreno, abandonando suas memórias e fingindo, com impressionante maestria, que ela também havia chegado ao clímax.
Enquanto ele lhe lançava aquele olhar cansado e sorria para ela, deixando um beijo em seus lábios, ela só conseguia ouvir a voz ensurdecedora de sua consciência.
- Você é terrível, Ember. -
VOCÊ É TERRÍVEL, EMBER.
O olhar dela apontava para a janela do trem. Ele observou as árvores passarem diante de seus olhos, o céu se alternando com aquelas folhas de cores quentes, que de vez em quando se quebravam e caíam desamparadas no chão. Era uma imagem que, ao contrário do que se poderia pensar, não a entristecia. Na verdade, ela lhe dava uma certa calma. Observar as folhas caindo lhe dava uma sensação de segurança, porque ela se sentia da mesma forma, como se pudesse cair a qualquer momento.
Sua mente estava sempre no limite, no limiar de um precipício sem fim. Ela olhava para baixo, tentando ver o fundo. E, de vez em quando, pensava no que teria acontecido se ela tivesse dado um passo à frente, se tivesse decidido se deixar cair, como aquelas folhas. Será que ela teria caído no chão? Ou será que ela levantaria voo e finalmente se libertaria de todos os seus demônios?
Observar a paisagem passar diante de seus olhos lhe confirmou que ela fazia parte de algo maior. E era assim que os outros a viam.
Fugitiva .
Impossível de entender com certeza. Em um segundo você sentia que tinha tudo em suas mãos, que finalmente havia entendido, e então, um segundo depois, você percebia que na verdade não tinha nada em suas mãos.
Era isso que Ember estava pensando enquanto estava no trem que a deixaria na pequena estação de Plymouth. Uma cidade com vista para o Oceano Atlântico e para onde ela costumava ir quando se sentia muito sobrecarregada por seus pensamentos. Aquele lugar era capaz de acalmá-la. Com suas praias desertas - naquela época do ano - e suas casas de veraneio completamente vazias. Era um bom lugar para limpar sua mente. Um lugar para você ficar sozinha. Um lugar onde ela também estava prestes a se refugiar naquele dia, depois de conhecer seus pais, antes de Ronaldo correr até ela.
E se, por um lado, Ember sucumbia ao peso de seus pensamentos destrutivos, por outro, Carter caminhava pelo jardim daquele campus, ainda com muitas perguntas na cabeça, que se chocavam com a memória fresca das palavras e gestos que ela lhe dirigira.
- Bom dia, professor Turner! - exclamou ele, no exato momento em que o homem apareceu à sua frente. Damien tinha acabado de terminar alguns papéis burocráticos no escritório da universidade e pretendia ir a uma cafeteria para tomar uma bebida quente, enquanto sua mente aproveitava o tempo para relaxar.
O pensamento daquele beijo havia se tornado um prego fixo em seu cérebro, acompanhado também pelo resto dos eventos que marcaram aquele dia que estava bem fora de sua normalidade. Ele realmente precisava dar um tempo de todas aquelas dúvidas que o atormentavam. Da lembrança dos lábios de Ember sobre os seus, das sensações quase celestiais que ele havia sentido e de como o desejo de aprofundar aquele beijo havia tomado conta de cada célula de seu corpo.
E ele provavelmente teria continuado, embriagado por aquelas emoções que lhe davam nova vida. Ele teria continuado, se ela não tivesse se afastado de repente, olhando para ele com preocupação e dizendo que era hora de ambos irem para casa.
Damien se sentiu um idiota, porque durante toda a vida ele acreditou que tinha a mente nas mãos, que se conhecia perfeitamente. Ele achava que entendia tudo sobre si mesmo. E, em vez disso, desde a primeira vez que viu essa garota, ele percebeu que, na realidade, não entendia nada.
A confusão era a única certeza em sua cabeça lotada.
-Olá, Carter. Como você está? ele perguntou, parando por um momento.
- Bem, acho que... - respondeu o garoto, franzindo a testa.
- Você acredita? -
- Olha, você tem algum plano para a próxima hora? perguntou Carter, olhando de seus olhos azuis para a pasta de couro em suas mãos.
- Hum, eu estava pensando em ir tomar um café, por quê? - respondeu ele, quase esperando que ela pedisse a ele que lhe fizesse companhia. Ele achou que o garoto seria útil para distraí-lo.
- Sim, eu também. Mas em um copo de uísque. -
- Você leu minha mente", disse Damien, começando a caminhar ao lado dele. Mas quando o sinal de Shay apareceu diante de seus olhos, o professor teve algumas dúvidas sobre se aquela saída seria capaz de impedi-lo de pensar nela.
E então, uma sensação de ansiedade ficou presa em sua garganta. Ele havia estado lá com Ember, no dia anterior, eles não haviam prestado muita atenção ao seu comportamento, talvez se empolgando um pouco demais em um lugar público. E se o barman ou o garçom que estava presente tivesse visto algo? E se eles tivessem dito algo a respeito quando cruzaram a soleira daquela porta?
Carter já estava lá dentro, antes mesmo que ele pudesse tentar dar uma desculpa, e dando um sorriso, ela estava esperando que ele fizesse o mesmo para que ela pudesse soltar a porta. Damien deu uma olhada rápida no local, percebendo que já estava cheio de pessoas determinadas a beber, comer e jogar. Elas poderiam facilmente estar confusas e a equipe não teria tempo para se perder em qualquer conversa com elas.
Então, ele respirou fundo e decidiu entrar. Mas logo percebeu que o maior problema não seriam os olhos curiosos, mas sua própria mente. A lembrança daquele dia com Ember estava mais vívida do que nunca. E quando seu olhar pousou naquela mesa de bilhar, ele pensou que, se sua intenção era se distrair, então ele havia falhado em grande parte.
- Sente-se na mesa que você preferir, eu vou pegar uma bebida", ele avisou, indo em direção ao balcão.
Depois de passar os primeiros minutos tomando bebidas alcoólicas e fazendo perguntas, Carter decidiu que era hora de mudar de assunto. - Tenho que perguntar a você", com essas palavras ele conseguiu a atenção total dela. - Você é mais do que um adulto, tem um histórico de trabalho invejável, é casado e é um homem muito bonito. Então, acho que ele passou a entender algo sobre as mulheres. Ou pelo menos espero que sim... porque eu realmente preciso de alguém que seja capaz de me dar respostas - ele falou sem pensar muito, precisando confiar em alguém mais velho. Alguém que pudesse abrir novas perspectivas para ele, com uma visão de mundo diferente da dele ou de seus amigos.