Capítulo 2
Ela estava olhando para ele com aquela expressão inocente no rosto, os olhos castanhos pousados nos azuis dele, observando-o por trás daqueles cílios longos. Damien só queria dizer a ela que parasse com aquela farsa, que agora ele já tinha entendido que não havia nada de inocente e ingênuo nela. Mas ele também estava nesse jogo de sedução, até o pescoço. E não podia negar para si mesmo que aquela situação despertava sua curiosidade.
Portanto, ele permaneceu em silêncio, imóvel diante dela, lançando-lhe um olhar desafiador. - Jogue, então", o tom era sério e aquela frase soou como uma ordem. Ronaldo começou a entender a estratégia da garota e decidiu responder.
Um lampejo de excitação iluminou suas íris escuras, fazendo-a morder o lábio inferior. - Sim, professor", ela respondeu brevemente. E, enquanto caminhava ao redor da mesa, deixou que sua mão se estendesse, pousando-a na coxa do homem, acariciando-a através do tecido daquela calça elegante, fazendo-o arfar.
A garota sorriu satisfeita, ciente de que estava sempre à frente. E em poucos segundos ela também estaria naquele jogo.
O taco atingiu a branca novamente, encaçapando a última bola restante naquela superfície. A número oito era a única que restava e ainda era a vez de Ember.
Ronaldo ficou de pé, com os quadris apoiados na mesa de madeira, estudando a posição das bolas sobre ela. Ele sabia que não conseguiria colocá-las no lugar com um único movimento e pude ver o aborrecimento com a situação em sua expressão.
Ember decidiu jogar a seu favor de qualquer maneira, levando a bola para o lado oposto da mesa, em uma posição difícil para mandá-la para o buraco.
Mesmo que esse fosse um jogo jogado por diversão, iniciado por causa de uma aposta estúpida, a garota ainda não teria aceitado a derrota.
- Você é esperto", disse Damien.
Ember ficou ao lado dele, fingindo estudar seu próximo movimento. E quando ele estava prestes a se inclinar sobre a mesa, ela passou por trás dele, tocando suas coxas novamente com a mão e parando por mais alguns segundos em sua virilha.
Ronaldo virou-se para ela, agarrando seu pulso e olhando-a com severidade. - Vejo que você gosta de jogar sujo", disse ele, ainda segurando-a.
- Muito sujo", respondeu Ember, aproximando-se perigosamente dele e levando a outra mão ao seu peito. Mas dessa vez ela também foi impedida, pois Ronaldo havia colocado o taco na mesa e travado o pulso esquerdo dela.
Seus rostos estavam muito próximos, quase próximos demais. E o autocontrole do professor, sua racionalidade, estava diminuindo lentamente. Ele tentou com todas as suas forças ignorar a vozinha em sua cabeça que lhe sussurrava para tirá-la dali, levá-la de volta para casa e passar a noite inteira fazendo sexo.
Mas era muito difícil.
Os lábios de Ember se separaram, deixando escapar um suspiro, e aquela expressão inocente voltou ao seu rosto. Era como se, com o olhar, ela estivesse implorando para que ele a fizesse sua e, ao mesmo tempo, dizendo que ele nunca poderia tê-la de verdade.
Isso o deixou louco.
Pelo canto do olho, ele viu um dos garçons limpando as mesas e, de repente, lembrou-se de que estava em um local público, com uma de suas alunas, em uma posição e situação muito questionáveis.
Ele se afastou dela, soltando seus pulsos finos e passando a mão pelos cabelos, tentando acalmar todos os seus instintos irracionais. - Vamos nos concentrar no jogo", disse Ronaldo, pegando o taco novamente.
Ele estava pronto para fazer sua jogada, para acertar a bola branca e fazê-la atingir o número oito. Estava pronto para ganhar aquela aposta, mas o problema era que sua mente não parecia estar na mesma página.
Os pensamentos que passavam por sua cabeça eram confusos, misturados como cartas de um baralho nas mãos de um crupiê em uma mesa de pôquer. Era impossível para ele se concentrar em qualquer coisa que não fosse aquela garota.
Enquanto batia a ponta do taco contra a superfície esférica da bola branca, seus olhos se voltaram para a figura de Ember, que havia se mudado para o lado oposto da mesa e parecia estar muito atenta a tudo o que ele estava fazendo.
Ela odiava aquilo, odiava admitir que uma garotinha fosse capaz de mexer com seu cérebro daquela maneira. Mas era a realidade dos fatos. E agora não havia nada que ele pudesse fazer a respeito, porque ela tinha uma maneira de se comportar que poderia atrair qualquer um e uma mente tão intrigante que fazia você querer descobrir mais e mais.
Ember havia habilmente tecido uma teia intrincada e Ronaldo havia caído nela.
No final, a bola marcada com o número oito não entrou no buraco, mas parou a poucos milímetros dele. - Obrigada, professor Turner", disse a garota, mal tocando a bola com sua bola branca e ganhando o jogo.
Ronaldo passou a mão no rosto, balançou a cabeça e se amaldiçoou por ser tão facilmente distraído. - Suponho que agora você queira beber para comemorar", disse ele, guardando o taco.
- Sim, eu ganhei e você tem que honrar a aposta", ela o lembrou, antes de se virar e caminhar em direção ao balcão.
- Você veio aqui para ensinar e acabou cuidando de um de seus alunos. -
Sua consciência falou, fazendo-o suspirar diante da situação e da virada totalmente inesperada que sua vida havia tomado.
As horas se passaram acompanhadas de algumas risadas, algumas doses e algumas batatas fritas. O sol havia se posto, dando lugar à tarde, calma, silenciosa, quase confortável. E quando o lugar começou a se encher com os primeiros clientes, os dois foram embora.
O professor não estava nem um pouco preocupado com o clima ou com o fato de que todo o programa daquele dia, que deveria ter sido passado em absoluto relaxamento, havia desaparecido. Ele não se importava porque, pela primeira vez desde que se casou com sua esposa, ele se sentia vivo novamente.
Passar um tempo com essa garota, de maneira tão genuína, rindo e conversando sobre as coisas mais frívolas, fez com que ele se sentisse como se ainda fosse uma criança. Isso o fez pensar que talvez nem tudo estivesse perdido. O tempo poderia, em parte, se recuperar.
Antes que se desse conta, ele se viu na Memorial Drive. Uma longa estrada que levava a Boston e que, ao longo do canal, permitia que ele admirasse todo o horizonte da cidade vizinha.
Estrelas iluminavam o céu esporadicamente e um segmento da lua era visível à distância. Os prédios de Boston se erguiam do outro lado do rio, com suas luzes refletidas na água escura.
Ember sentou-se em um banco, colocou a mochila no chão e esfregou as mãos para aquecê-las um pouco. Era final de outubro e o ar mais frio, o ar que antecipava um inverno longo e rigoroso, estava começando a se fazer sentir.
Ronaldo sentou-se ao lado dele e se perdeu por alguns segundos admirando a vista. Ele ainda não tinha ido ver o rio, estava tão ocupado com as aulas e tentando organizar a casa da melhor maneira possível, que não tinha deixado um momento sequer para descobrir os lugares mais bonitos daquela pequena cidade, ou para aproveitar Boston.
Ember decidiu falar, atraindo toda a atenção do professor novamente e afastando-o da linha do horizonte. - Obrigada a você por hoje... sim, pela companhia", disse ela, parecendo um pouco desconfortável. E, pela primeira vez desde que ela começou a brincar com ele, isso não era um truque. Ela se sentiu muito constrangida e envergonhada ao dizer aquelas palavras, embora ainda estivesse um pouco bêbada por causa do álcool que bebeu mais cedo. Porque ela não estava acostumada a agradecer a alguém por se preocupar com ela.
Damien sorriu. - Não precisa me agradecer, eu só fiz a coisa certa", respondeu ele com sinceridade. Quando ele decidiu correr atrás dela, depois de testemunhar a conversa com os pais dela, ele não pensou que ela era a mesma garota com quem ele havia traído a esposa. Ao fato de que, se ele tivesse a chance, faria isso de novo e de novo e de novo. O quanto ele a achava bonita e sensual. Porque todas essas coisas ficaram em segundo plano, desde o momento em que ele percebeu que, naquela situação delicada, ele só precisava de alguém, quase um estranho, ao seu lado.
Ember queria responder a ele, contar-lhe tudo, desabafar, porque sabia que ele a ouviria. Talvez até a consolasse. Mas ela não o fez. Ela conteve esse impulso, bloqueando suas próprias palavras na garganta e se forçando, pela enésima vez, a manter tudo dentro de si.
Ele achava difícil se abrir com alguém. Ela não gostava nem um pouco de reviver todos aqueles momentos infelizes, porque eles a faziam se sentir fraca, vulnerável. E ela odiava se sentir assim.
Ela pegou sua mochila, enfiou a mão no bolso da frente e tirou um maço de cigarros um pouco danificado. Ele colocou um na boca e depois olhou para o professor.
- Você gostaria de um, ou vai fingir que não fuma esta noite para não quebrar alguma regra imaginária? - ele zombou, colocando uma de suas muitas máscaras novamente e escondendo a tristeza que se escondia por trás de seus grandes olhos escuros.