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Capítulo 06

Pedro é um excelente paciente, sempre delicado e carismático, não avança limites e tem uma conversa saudável, porém não posso desabafar com ele, aqui nunca sabemos quando é um cliente de verdade ou um teste para ver nossa conduta e ele é um dos mais antigos da casa.

— Não há sombras aqui, me fala de você, do seu dia, do serviço… — Mudo o rumo da conversa pegando em suas mãos, sentando-nos nas poltronas frente a frente no quarto.

— Sabemos que há, mas se não se sente segura em conversar sobre isso eu respeito sua decisão, não está mais aqui quem lhe perguntou. — Ele diz levantando as duas mãos em sinal de rendição. — Meus dias são solitários e frios, só ganham sentido quando estou sob seus cuidados, a melhor massagem é só você quem faz— Ele me elogia e me arranca um sorriso sincero.

Dentre todos os atendimentos que fiz desde que cheguei, Pedro é o único com quem não me sinto humilhada ou desconfortável, enquanto conversamos começo a tirar sua roupa e lhe entrego uma toalha para que ele se lave, embora não seja necessário, o homem chega aqui impecavelmente limpo e cheiroso.

Quando ele sai do banheiro o quarto já está todo preparado, então ele se deita e eu começo a fazer a massagem, começo pela relaxante em seus pés e pernas para então seguir com a Nuru, tudo vai bem até que um lapso de memória atinge meu coração e meus olhos se enchem de lágrimas.

O momento é delicado e eu agradeço a Deus por Pedro estar de costas para mim, passo meu antebraço nos olhos secando as lágrimas, dou uma respirada profunda e então continuo, realmente há uma nuvem carregada sobre mim e ela está densa.

— Tem certeza que não quer conversar? Eu consigo sentir daqui! — Pedro fala enquanto deslizo meu corpo sobre o dele.

— Tá! — Respondo me sentando ao seu lado e permitindo que as lágrimas desçam— Dane-se caso isso seja um teste, bom que eu sou demitida e acaba essa tortura.

— Calma! Fica tranquila, isso não é um teste, eu realmente estou preocupado com você, o que está acontecendo? — Ele pergunta com a voz tranquila e junta seu corpo ao meu.

Desabafo sobre meu casamento e esse emprego, não sei porque, mas eu coloquei para fora tudo que estou sentindo, em como odeio essa humilhação a qual meu marido tem me feito passar e em como eu desejo que tudo isso não passe de um pesadelo.

Ele me abraça e me escuta com atenção, abraçado ao meu corpo nu ele acaricia meus cabelos e da beijos suaves em meu ombro, quando finalmente recobro um mínimo de sanidade mental, percebo que já excedemos o tempo dele, isso significa que estou encrencada em mão um quesito.

— Você está com um machucado na face, foi seu marido? — Ele pergunta me olhando com atenção e passando o dedo com suavidade sobre o corte quase imperceptível devido a maquiagem.

Não uso palavras, mas o meu silêncio e meu olhar respondem por mim, ele soca a cama enquanto espregueja Lucas.

— Não fala assim, eu o amo! — Defendo, mesmo sabendo que não deveria.

— Você sabe que não ama, você está se prendendo a uma ilusão, mas sabe que merece muito mais do que essa migalha que tem recebido— Pedro fala sério, enquanto começa a se vestir.

— Não precisa pagar esse atendimento, eu não fiz sua massagem, ainda te aluguei com meus problemas.— Falo sem jeito, não é justo que ele pague tão caro por algo que não usufruiu.

— O menor dos meus problemas é o dinheiro, e o maior deles é a covardia que esse fulano tem feito a você… — Ele interrompe a própria fala e sai do quarto impaciente.

Começo a organizar tudo novamente e em poucos minutos Vivi chega com uma expressão séria, hoje ela tá cheia de cara e bocas e isso me deixa tensa.

— Como foi? Por que demoraram tanto? Teve um extra né danadinha… — Ela fala toda saliente.

— Foi normal, a demora foi por ficarmos conversando… — Começo a me explicar, mas sou interrompida.

— A sua gorjeta diz muito sobre o tipo de conversa que tiveram, mas fica tranquila que não vou lançar no seu atendimento para não haver problemas com seu marido, vai ser nosso segredo— Ela diz toda animada e volta para a recepção.

O dia graças a Deus não é com muitos atendimentos, eu não teria ânimo para ser simpática com diversas pessoas, fico pensando em tudo que conversei com Pedro e também na noite infernal que passou, por que Deus? Por que eu tenho que amar tanto o Lucas, um amor que me coloca em segundo plano e me faz aceitar esse tipo de situação.

Sem previsão para novos atendimentos me deito no quarto de apoio e fico assistindo uma série, mas meu sossego dura pouco, Vivi me chama para avisar que Samantha está no escritório e deseja falar comigo, um gelo percorre meu corpo, mas respiro fundo e vou até ela, nada é tão ruim que não possa piorar.

— Licença, pediu para falar comigo? — Falo abrindo a porta e me apresentando.

— Sente-se Thamires! — Samantha diz me olhando firme e me indicando a poltrona de couro em frente a sua mesa.

Obedeço a ordem, firmo meu olhar sobre ela e aguardo que ela comece, mesmo sabendo que tudo o que for conversado aqui chegará ao ouvido de Lucas, não estou disposta a ouvir nada que me deixe desconfortável, basta ter de me humilhar atendendo esses homens todos ué vem aqui.

— Sobre o que falaremos? — Pergunto impaciente.

— São tantos os temas, mas vou falar dos que me interessam verdadeiramente. — Ela fala se levantando e caminhando em toda a sala. — Digamos que nós duas pegamos o caminho errado e por isso estamos tendo alguns problemas, você não é uma inimiga, muito pelo contrário todas vocês são como filhas par mim e eu não quero ter que ligar para o Lucas e dizer que você está me causando prejuízos… então o que eu quero de você é cordialidade nos atendimentos, que você trate meus clientes bem e atenda seus desejos— Ela fala e meus ouvidos sangram com essas palavras.

— Você quer que eu transe com eles? — Pergunto levantando e olhando para ela seriamente.

— Não são todos e o que custa? Você vai ganhar mais por isso! — Ela fala com naturalidade.

— Foda-se você e seus "querer", eu não vou fazer nada só para te agradar e se quer mesmo usar o Lucas como ameça, liga para ele diz que eu acabei de te mandar enfiar sua massagem bem no centro daquele lugar, sua ridícula. — Grito alto e saio batendo a porta atrás de mim, pego minhas coisas e a cena se repete, digo que vou embora, mas dessa vez Vivi tenta me convencer a ficar.

— Esfria a cabeça, pensa em como foi da outra vez… — Vivi diz me puxando pelo braço

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