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Capítulo 1

Rio de Janeiro, Brasil.

Setembro de 2015

Por alguns dias, Alexander correu por quilômetros na areia da praia. Nadou no mar e chorou. Depois de sete dias lutando contra as armadilhas da mente, ele passou mais tempo se exercitando na musculação e trabalhou mais do que nunca. Contudo, o sentimento devastador prevaleceu. 

Em uma tarde chuvosa, ele ajeitou a haste prateada dos óculos, podia ouvir as batidas suaves da chuva fina contra o vidro enquanto lia a carta do pedido de demissão de Nicole. 

Ele tirou o telefone do gancho e ligou para um número que não existia mais. Bateu o telefone com força e olhou para a porta com uma fisionomia inescrutável.

― Entre!

― Com licença!

― O que você quer, Isabella?

― Bom dia para você também, Alexander! ― Isabella jogou as longas madeixas cor de fogo para trás. ― Eu só quero saber como você está e oferecer meu apoio, caso você precise de alguém para conversar. Desde o jantar que eu não vejo você.

― Não pense que eu sou tão ingênuo para confiar na sua boa vontade. Eu vi a troca de olhares entre você e aquela que se diz minha mãe.  Isso é culpa de vocês!  ― Tirou os óculos e coçou o olho direito com o dedo do meio. ― Eu não preciso de você e muito menos da Josephiné. Entendeu?

Aquela reação inesperada de Alexander a fez se remexer na cadeira. Nada acontecia da forma como Louise planejou.

― Isso é tudo, Dra. Dufour! Pode se retirar. ― Fez um gesto com as mãos mostrando a porta.

― Alexander, eu realmente...― Se movimentou ao ouvir o barulho do punho dele contra a mesa.

― Por favor, doutora Dufour!

Isabella ajeitou o jaleco branco que cobria a saia envelope preta e camisa rosa. Encarou Alexander, mas não disse uma palavra, apenas retirou. Passou por Jenny pela sala de espera e cumprimentou ao acenar a cabeça.

― Com licença!

Jenny ajeitou a blusa azul combinando com a calça da roupa que ainda usava após uma cesariana de emergência. Seguiu até a sala da diretoria assim que recebeu a solicitação de Alexander.

― Preciso conversar com você

― Se é sobre a Nicky, eu não quero me envolver.

― Sente-se! ― A voz gutural ordenou.

― Eu sei que você está com raiva, mas tudo tem um limite. ― A obstetra o enfrentou. ― A Nicky precisa de um tempo. 

Alexander levantou da cadeira e seguiu até a janela, olhou para as gotas de chuva que caíam por entre as copas das árvores no pátio do prédio.

― Avise a ela que eu quero ver os meus filhos, é um direito meu e eu não abrirei mão disso! — Colocou a mão no bolso lateral. —  Caso ela se negue, eu tomarei as providências necessárias.

― O que está acontecendo com você? ― reclamou, a voz afiada. ― Eu não estou te reconhecendo. O Alex e o bebê que ela está esperando não mereciam passar por tudo isso, muito menos a Nicky. Você devia protegê-la e não a atacá-la desse jeito.

― Chega, Jenny! O jardineiro da mansão viu o David ajudando-a com as malas. Ele viu quando a Nicky entrou no carro do seu primo. ― A carranca de Alexander a encarou. ― Ela foi embora com o David!

 ― Olha o que você está deduzindo! Você está deixando o ciúme afetar seu julgamento.  Eu pedi pro David buscar a Nicky e o Alex e levar pro apartamento da Lana. ― Jenny levou a mão esbranquiçada à boca.

Pegando o telefone, Alexander apertou o ramal da secretária e solicitou os dados da enfermeira Lana Salvatori. 

Antes que Jenny dissesse mais alguma palavra, ele organizou e guardou os documentos assinados que estavam sobre a mesa. Colocou o blazer slim preto sobre a camisa branca e pegou as chaves do carro.

― Que merda, Alexander! ― Ela resmungou. ― Por que você é tão impulsivo?

― Preciso vê-los. ― A expressão suavizou. ― Não durmo e não como direito há dias.

Jenny o acompanhou logo que ele pegou o endereço com a secretária e saiu apressado pelos corredores da administração. Nada o impedia de sair em busca da família, nem mesmo os argumentos e os pedidos de Jenny.

Copyright © 2.021 por Ana Paula P. Silva

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