Tratamento para o Chefe
Sophia POV
Entrei novamente no 42 andar, a maioria dos quartos já haviam sido liberados, ficando apenas aqueles 3 ocupados. Entrei primeiro no quarto de Andreas e vi ele sentado na cama já, com a esposa do lado e a mulher que antes estava no quarto de Perseu, agora estava ali também.
“Boa tarde, senhor Andreas Lykaios, vejo que está se sentido muito bem.” Falei sorrindo de leve, me aproximei, peguei a luva na mesa do lado e comecei a checar as informações e as bandagens.
“Estou sim, realmente este hospital está a altura dos prêmios que ganhou.”
Olhei primeiro que estava no centro do peito dele, vendo que já não tinha mais nenhum sangue e também parecia bem cicatrizado.
“Somos o hospital número um do país, é óbvio que nossa equipe seria uma das mais bem equipadas.”
Respondi calmamente, terminei as verificações.
“Hahahaha, bem que me disseram que você era muito séria."
Sorri de canto, um tanto irônica.
“Só com quem merece e faz observações como se fosse um deus em pessoa.” Respondi e me afastei, anotando tudo no sistema, tirei as luvas e joguei no lixo tóxico ali.
“Er, desculpe. Não quis soar dessa forma.”
Escutei a voz dele e virei o rosto na direção.
“Normal, pessoas como vocês não querem soar arrogantes, mas já estão tão acostumados a isso que não percebem.”
Abaixei o tablet e segui em direção a saída.
“Você também fala como se fosse superior, mas é só uma humana qualquer.”
Era a primeira vez que escutava aquela voz, então sabia que vinha da mulher que tinha estado no quarto de Perseu e não sei exatamente porque aquilo me irritou profundamente.
“Cala a boca, Dafne! Se continuar com essa atitude vai acabar sendo expulsa!”
A voz de Andreas era forte e determinada, tinha um certo poder, era menor e diferente do que Hiperion emanava.
“Eu gosto de ser uma mera humana.” Falei baixo, aquelas pessoas realmente se achavam melhores que os outros. Sai do quarto antes que falasse mais alguma coisa e escutei as vozes abafadas lá dentro, uma discussão tinha se iniciado.
Entrei no segundo quarto e olhei para Aquiles, ele também estava sentado e pela primeira vez senti um cheiro de musgo de carvalho, misturado com flor de laranjeira e ao fundo um sândalo.
“Acho que o senhor Aquiles não está tão bem assim a ponto de usar perfume.” Comentei e sorri de canto, me aproximando da cama e da mesinha do lado, coloquei o par de luvas, começando a anotar os dados dos monitores e então senti um pequeno choque no meu braço.
“Hey!” Olhei para ele, me assustando um pouco, odiava quando isso acontecia e dei uma risada baixa. Percebi que o olhar dele tinha arregalado. "Eletricidade estática, relaxa, não vai te machucar.”
Percebi que varias bandagens já tinham sido retiradas e as que sobraram estavam bem secas.
“Você que é a Sophia Turner?”
O tom de voz dele era baixo e rouco, senti um calafrio passar pela minha espinha. Era uma voz que me fez pensar em subir no colo dele e beijá-lo como se não houvesse amanhã. Lembrava definitivamente um locutor de rádio.
“Yeap.” respondi uma única palavra, porque não sei se conseguia controlar minha voz o suficiente para não deixar transparecer como eu estava me sentindo. Pelo menos tinha controle do meu corpo para não me deixar ficar excitada.
“Como está Perseu?”
Na pergunta havia um tom de confusão.
“Não posso liberar informações sobre outros pacientes.”
Respondi de forma profissional, fiz questão de manter meu contato com o corpo dele o mais profissional possível, mas era melhor eu sair do quarto logo.
“Entendo.”
Senti que ele ia me segurar novamente, mas me afastei rapidamente. Melhor evitar qualquer outro contato, não confio em mim mesma se sentir o toque dele sobre minha pele.
“Desculpe, não quis te deixar desconfortável."
Soltei a respiração que nem sabia que estava prendendo.
“Espero vê-la em breve.”
Eu deveria falar alguma coisa, mas não tem como eu fazer isso sem entregar o que estava pensando e sai do quarto, queria me encostar na parede e ter um tempo para me recompor, mas eu precisava terminar a ronda.
“Sophia! Calma! Você não comeu nada e já veio direto pro trabalho.”
Virei o rosto e vi Alexander chegar com um pacotinho de cookies e um suco.
“Toma, melhor se sentar um pouco, você está um tanto pálida.”
Comecei a andar em sua direção, mas tenho certeza que quando sai de perto da porta escutei um grunhido.
“Obrigada, Alex.”
Agradeci e sorri, ignorando o que eu tinha escutado, caminhei até uma das cadeiras mais próximas da recepção. Peguei o pacotinho e abri, tomei um gole do suco de goiaba, assim que fiz isso já me senti melhor, com mais energia.
“Hum… Definitivamente eu precisava disso.” Fechei os olhos e comi mais um cookie.
“Hehehe. Aposto que faz muito isso, esquecer de se alimentar enquanto está trabalhando.”
Olhei para Alexander que estava encostado na parede,de braços cruzados me olhando divertido.
“Bom, na verdade não.” Tirei do meu jaleco uma barrinha de cereal sabor chocolate. “Eu não posso ficar muito tempo sem comer, acho que acabei me esquecendo por estar cansada.”
“Se você pudesse parar de trabalhar, você faria isso?”
Inclinei a cabeça de canto, tentando ler o que estava implícito naquela pergunta.
“Por quê?” Perguntei
“Nada, é que não consigo imaginar você fazendo outra coisa.”
“Hum… Eu gosto de ser enfermeira, mas pretendo me aposentar sim, comprar uma casa na beira da praia e só curtir o dia no mar e beber muita água de coco.”
Sorri de canto imaginando como seria isso, se em algum momento meus problemas se resolvessem, isso poderia acontecer, mas com certeza não seria tão cedo e muito menos de forma tão simples.
“Pensei que você queria algo mais complexo, isso parece ser bem simples.”
“Bom, o que pode ser simples para alguns é bem complicado para outros.”
Terminei de comer e fechei os olhos por alguns instantes, recompondo meus pensamentos, voltando para o presente, abri os olhos respirando fundo, peguei meu celular e olhei as notificações e o horário.
“Hum…” Torci a boca, fazer um turno extra me pegou desprevenida, as 22h eu tinha um compromisso, mandei mensagem no grupo.
[Hey gente, parece que vou fazer um turno extra, não sei se vou conseguir jogar com vocês.] Eu
[Sério???? Hoje é o final da campanha!!!] Angel
[É eu sei, mas devo ficar cuidando da maquina de hemodialese.] Eu
[Poh, vê com a Mi, já que são umas 5h para o processo completo, será que não dá para jogar enquanto fica de olho?] Vic
[Bom, posso perguntar, mas é para a familia Heroux, sei lá né…] Eu
[Tudo playboy… Eles tem uma hierarquia bizarra… Escutei falando de Alphas, Betas, Gammas, essas coisas…] Claire
[Hahahahah! Ué, Heroux=Exercito de Lobos, vai que tão levando ao pé da letra a descrição do nome da família.] Eu
[KKKkk, faz sentido! Uffa, mais aliviada até.] Claire
[Mas que eles dão medo, dão…] Claire
[Normal, eles só se acham melhores que os outros.] Eu
[É, fiquei sabendo que teve treta entre vocês… É verdade que tu pediu para o chefe da familia ficar de joelhos?] Vic
[Mentira não é.] Eu
[Cara, queria ter 10% da sua confiança.] Claire
[Bom, uns 10 anos de terapia ajuda!!! E mais uns 4 remedios ai.]Eu
[Hahahahaha!] Vic
[KKKKKK]Claire
[Vou ver com o chefe da familia se tu pode jogar enquanto fica de olho no paciente.] Mi [Mas não posso garantir nada.]
[EEEEEE!! Você sabe que eu te amo né?] Eu [Agora vou voltar pro trabalho, amo todos vcs]
Apaguei a tela do celular e me levantei, me espreguiçando e estralando as juntas do pescoço e fazendo um breve alongamento, quando terminei dei uns três pulinhos.
“Ok, agora acordei. Hahahah”
Falei rindo baixo, peguei o tablet e verifiquei as notificações dos outros pacientes enquanto andava em direção ao quarto de Perseu, abri a porta e novamente o cheiro amadeirado, como pinheiro, macieira, pinhos, misturado com algo que lembrava couro envelhecido, só que dessa vez um pouco mais forte e desta vez ele estava sozinho. Será que estava vindo do corpo de Perseu?
Anotei as informações mostradas nos monitores e olhei as bandagens, nada havia mudado, pelo menos ele não havia piorado, não havia mais nada que eu pudesse fazer por ali, mas aquele cheiro era intoxicante, isso eu não podia negar. Obvio que um homem como aquele teria também um cheiro unico que parecia um perfume. Soltei uma risada baixa e sai do quarto, se eu não me conhecesse, diria que estou interessada.
“Então?”
Escutei a pergunta de Alexander e apenas sorri de canto.
“Não posso divulgar informações de pacientes.”
Não me importava que eles soubessem de outras fontes, mas eu me mantinha profissional, a política de informações médicas apenas deveria ser reportada à família.
“Já é a quarta vez, acho, que escuto você falando isso. Será que não tem como tirar informações suas não?”
Não pude deixar de rir baixo.
“Não, se colocarem no prontuário que eu posso divulgar informações para outras pessoas além da família, então tudo bem. Tirando isso, não, nops, nem pensar.”
Passei meus dedos ao longo da minha boca e girei no final, como se fosse um zíper e sorri de canto escutando a risada de Alexander. Realmente para um cara grande e musculoso, ele era legal.
“Então, para onde vamos?”
“Tenho pacientes nos andares 25, 15 e também preciso olhar o pessoal da emergência.”
Enquanto passava pelos outros guardas a impressão que tinha era que eles estavam com ciúmes do jeito que eu e Alexander estamos nos tratando. Estranho, não? Paramos em frente ao elevador e não demorou muito para ele chegar.
“Hum… Desculpa me intrometer, mas você e o Joshua?”
“Estamos juntos há 4 meses.” Foi a única coisa que consegui responder, já não sei mais se vou ter algo a mais com ele, ou se sequer vou continuar com ele.
“Entendi, ele parece ser um cara legal.”
Olhei para o Alex e sorri de canto irônico.
“Por quê? Já está querendo me chamar para sair é?”
Vi ele ficar vermelho e sem graça, desviando o olhar de mim.
“Não… Não… É só curiosidade mesmo!” A voz dele estava um pouco mais fina que o normal. “Eu não ousaria, definitivamente, não.” A última frase dita em um tom mais solene, me fazendo pensar o porquê daquela frase.
“Hum… Sei.”A porta do elevador abriu e comecei a andar em direção ao primeiro paciente do andar 25. “Mas, se você me chamasse para sair, eu com certeza iria pensar no caso. Você não parece ser como os outros para quem você trabalha.”
Escutei ele se engasgando e olhei para trás, vendo ele dar vários passos para trás e então joguei a cabeça para trás e ri alto, chamando a atenção de algumas pessoas do corredor.
“Relaxa, falei que só ia pensar.” Comentei no final, voltei a andar e parei na frente do primeiro quarto.
Depois daquela brincadeira percebi que Alexander ficou mais sério e começou a responder com monossílabas até que finalmente parei de tentar conversar com ele. Se ele não suportava uma brincadeira sem pretensão, então tanta faz. Ou talvez fosse algo do trabalho dele, de não poder se envolver, mas de qualquer forma, não mais forcei a conversa.
O andar 15 e o de emergência passaram sem incidentes e sem conversas com o meu novo guarda costas. Olhei a notificação da situação de Perseu e percebi que já haviam coletado e separado o sangue para começar a hemodiálise.