Capítulo 4 Você nunca gostou de ninguém?
Emma arrastou seu corpo exausto para dentro da loja. Florence, que estava cochilando lá dentro, foi rapidamente ao seu encontro. "O que há de errado, Emmie? Você parece muito cansada".
Emma acenou com a mão, indicando que estava bem. Florence conhecia o temperamento de sua amiga. Se houvesse algo sobre o qual ela não quisesse falar, não importava o quanto você a pressionasse, não obteria uma resposta. Mas se ela quisesse falar, você não precisaria perguntar, você saberia.
Era óbvio que aquela tarde não estava calma. Emma havia quebrado três pratos, duas colheres e um vaso. Além de outro garoto na cozinha dos fundos, havia apenas os dois na loja. As meninas olharam para a bagunça no chão, e Florence falou primeiro: "Querida, você deveria agradecer à Sra. Lew por não estar aqui. Ainda temos uma chance de fazer as pazes".
Emma olhou para ela sem entender: "Como podemos fazer as pazes?"
Florence a encarou com frustração, indicando que ela esperasse ali, e foi para a cozinha dos fundos.
Apenas Emma permaneceu, olhando aflita para a bagunça no chão. A essa altura, Florence já havia saído e viu Emma ainda parada ali, sem saber o que fazer. "Emmie?"
Emma olhou para ela: "Como você saiu tão rápido?"
Florence sabia que sua amiga não era muito inteligente, mas não esperava que ela fosse tão estúpida. "Fui falar com Jeff, pedindo que ele não dissesse à Sra. Lew que quebramos os pratos e o vaso. Podemos ir ao mercado de segunda mão e comprar alguns substitutos. São coisas velhas que foram usadas por muito tempo, podemos fazê-las passar por verdadeiras e a Sra. Lew não vai notar."
Emma não havia pensado nessa solução: "Isso é realmente viável?"
"O que não é viável nisso? A Sra. Lew não é uma pessoa que faz alarde." Ela disse isso com um pouco de tato. Florence originalmente queria dizer que a Sra. Lew sempre foi mesquinha e tratava os convidados da mesma forma, mas Emma não gostava de falar pelas costas das pessoas. Ouvir isso provavelmente a deixaria chateada, por isso ela mudou o texto.
"Mas, como você convenceu Jeff?"
Jeff era o rapaz meticuloso da cozinha dos fundos, responsável por tudo relacionado à culinária. Ele geralmente relatava até mesmo as menores coisas, como a falta de um pedaço de carne, para a Sra. Lew. Emma não tinha certeza se ele conseguiria ficar calado sobre algo tão importante como quebrar pratos.
Florence deu de ombros com indiferença: "Prometi ir ao cinema com ele neste fim de semana".
Emma admirou seu sacrifício. Então, foi um sacrifício de charme.
"Você gosta dele?"
Florence pensou cuidadosamente por um momento: "Ele é muito bonito, um garoto que não é bom em provocar, parece que ele coraria até mesmo ao dar as mãos. Acho que ele é muito bonito".
"Então, você gosta dele?"
A palavra "gostar" pareceu um pouco pesada: "Eu gosto quando alguém quer me agradar".
Emma suspirou, como era de se esperar.
"Você parece distraída hoje, o que há de errado?" Florence não pretendia continuar discutindo Jeff. "Sua mãe está bem?"
Uma nuvem de preocupação cobriu o rosto de Emma: "Nem um pouco. Ela está ficando muito frágil. Eu a segurei para tomar banho e não ousei colocá-la na banheira. Fiquei com medo de que ela se quebrasse. Ela está mais leve do que o vaso de plantas na porta. O que devo fazer, Florrie? Tenho medo de perdê-la a qualquer momento."
Florence deu um tapinha solidário em seu ombro, pois quem poderia entender a dor de perder entes queridos mais do que ela?
"Não fique triste. Pense com otimismo, embora possa parecer duro para você, partir pode não ser necessariamente uma coisa ruim para sua tia. Ela está tomando algum remédio?"
"Ela se recusa a tomar. Diz que tomar remédio faz com que ela sinta que seu corpo não é dela."
Florence tinha muita experiência em cuidar de doentes: "Então não a force. Nada faz com que o paciente se sinta mais confortável e respeitado do que seguir seus desejos."
Emma hesitou ao olhar para ela: "Mas não tomar o remédio fará com que seu corpo..." Ela não terminou a palavra "piorar". Ela sabia que a condição de sua mãe não ficaria pior do que já estava.
Florence agarrou seu ombro com ainda mais força: "Pare de se enganar, Emmie. Todos nós sabemos que não é assim. Ela está em estado crítico, por isso os médicos a aconselharam a tomar alguns analgésicos básicos, apenas para aliviar a dor, não para curá-la. Emmie, você tem que aceitar isso".
Emma pressionou as têmporas: "Entendo o que você quer dizer. É que... por tantos anos, eu nunca disse a ela que a amava. E quando finalmente percebemos que podíamos nos dar bem, descobri que não tinha tempo."
Florence disse suavemente: "Você precisa sair desse ambiente".
Ela também queria, mas Emma suspirou: "Não posso, Florrie. Tenho de estar com ela. Além disso, não tenho outras necessidades. Só quero deixá-la o mais confortável possível dentro das minhas possibilidades."
"Não cabe a você decidir isso, Emmie. O que você vai fazer com sua vida depois que sua mãe se for?"
Emma não respondeu: "Não sei".
Ela ainda não era maior de idade, incapaz de viver de forma independente. Talvez, como sua mãe sugeriu, ela tivesse que ir morar com o pai, mas ela não queria isso.
"Você já pensou em encontrar um parceiro?" Florence deu uma piscadela para ela. Emma ficou surpresa, depois abaixou a cabeça. Isso não era realista para ela.
"Não é possível, Florrie. Tenho muita coisa para considerar, contas e minha mãe. Alguém aceitaria incondicionalmente tudo isso? Eu quero amor puro, mesmo sabendo que é impossível."
"Esqueça tudo isso", disse Florence em voz baixa. "Imagine só se o seu parceiro ideal aparecesse e não se importasse com suas contas ou sua vida estressante, ele só quisesse você. Ele poderia ignorar tudo o que está acontecendo com você, você gostaria de estar com ele?"
Parecia um conto de fadas, sem fim à vista.
Emma riu: "Mas como isso seria possível?"
Quem poderia amar alguém sem considerar os ganhos e as perdas?
Florence parecia achar isso impraticável, fazendo beicinho: "Você não tem alguém em suas próprias fantasias, alguém em quem gostaria de confiar? Você nunca gostou de ninguém?"
Emma pensou: "Será que eu nunca gostei de ninguém? De repente, uma lembrança surgiu em sua mente. As meninas sempre fantasiam com seus heróis. Ela não era exceção. Ela não gostava de ir à escola, em parte por causa do bullying sofrido na infância, mas não conseguia separar as duas coisas.
Ela era maliciosamente encarada todos os dias na escola e, depois da escola, um grupo de crianças a encurralava no jardim e se revezava jogando pedras nela, porque todos sabiam que ela era uma criança selvagem sem pai.
Foi então que seu herói apareceu.