capítulo 2
"A morte nunca esteve longe, mesmo para eles; aceitar o poder sempre significou fazer um acordo com o túmulo."
L O R D E O W E N
O sol da manhã cintilou no domo do palácio, inundando Vêrmenia com uma promessa silenciosa de dias melhores que viriam. Enquanto todos seguiam com os seus afazeres logo abaixo, nós sem oscilar os observamos de cima, como abutres do mar prestes a mergulhar e atacá-los. O escritório do conselho ficava no topo do palácio cercado por vidros, com vista para o porto da capital. As velas dos navios, iluminadas pelo dia, brilhavam como fantasmas contra a água escura.
Além do jardim, dos portões, e da floresta que mergulhava próximo dos muros, o porto vendia uma série de mercadorias trazidas de outros reinos e exportadas para outros continentes, todas distribuídas por comerciantes de Allen. Gritos de crianças, burburinho dos negócios e o murmúrio de fofocas ecoavam pela distância, se moldando para atravessar a ponte e chegar na jóia do país.
Cinco meses se passaram desde o terrível ataque contra a falecida família real, desde então o caos é a palavra mais adequada para descrever a situação em que se encontra o reino. Allen sempre foi um país próspero e grandioso, nos últimos anos as investidas do até então rei Fren eram de maiores conquistas o que fez com quê Allen se tornasse o mais poderoso reino do continente.
Entretanto seu grande avanço causou danos internamente, danos que vinham sendo levados de forma maleável durante os últimos anos. As cidades nortenhas exalavam luxo e prosperidade devido ao seu comércio e influência externa, já os sulistas à beira da fronteira com os reinos vizinhos viviam miseravelmente e lidavam com o desprezo da realeza perante ao seu povo, mas nada disso tinha grande significância perante ao aumento acelerado de riqueza e poder crescente no país.
Consequências aceitáveis.
Um preço a ser pago.
A voz popular era oprimida, até um grupo de massas sulistas desfavorecidas se unirem e buscarem justiça com as próprias mãos, formando assim os rebeldes que causaram assassinado a família real e ao reino, que agora estava sendo mantido provisoriamente pelo poder dos Cinco Conselheiros cujo eu, e alguns outros quatro duques e lordes fazíamos parte.
— Todos os senhores estão mais do que conscientes da situação em que Allen se encontra, conseguimos enrolar os líderes dos outros reinos por um tempo, mas é pouco eu lhes garanto, o povo e o país exigem um governante, se não encontrarmos um logo, poderemos nos preparar para a queda do país e a tomada do poder pelos nossos inimigo que agem dentro e fora da nossa região. — Duque Clevaran começava mais uma de nossas reuniões. O mestre da moeda era um senhor pragmático e racional.
A grande mesa redonda de pedra negra pura como o sangue primordial dos poderosos governantes de Allen, era um grande símbolo de poder exposta bem no centro da sala. Cinco cadeiras para cinco conselheiros a cercavam, os assentos estavam ornamentados por raízes obscuras e profundas cuja força natural protegiam o reino, Allen e toda a sua extensão se esculpiam sobre a superfície da grande mesa, um mapa antigo que relatava o percurso dos rios, as fronteiras contra os mares e países, as montanhas e florestas, cidades e vilarejos. Um império ao toque de nossos dedos.
— Precisamos de alguém que conheça o reino, a monarquia, seus princípios e que tenha em mente a prosperidade do nosso país, Daaniel é perfeito para o cargo, além do quê, ele é carismático e o povo o adora. — o antigo primeiro conselheiro completou. Lorde Saeom era uma víbora oportunista e inteligente, o braço direito do falecido rei Fren e a pessoa mais próxima do egocentrismo que eu conhecia.
Não que cada um de nós não tivesse sua própria parcela de veneno naquele jogo, mas sem dúvidas, Saeom jogava mais sujo do que qualquer outro. Ele se aproveitou do momento de fragilidade para colocar seu fantoche no jogo; Daaniel era um bom garoto de fato, coitado não tinha culpa do tio que tinha. Sua ambição era notória, ele não escondia, queria todo o poder e riqueza que Allen poderia oferecer para si, e Daaniel era a escada mais fácil para o topo.
Mexi os anéis de meus dedos tentando não sorrir de sua proposta.
— Com certeza colocarmos um não Ferro pela primeira vez em centenas de anos no trono cujo o sobrenome manchado de uma família que traiu seu próprio povo em uma guerra passada, seria perfeito para acalmar a rebelião interna e os conflitos externos que Allen enfrenta. — pronuncie ironicamente, sentindo como consequência os olhares dos outros quatro se pesarem sobre mim, principalmente o de Saeom, seus olhos vorazes queimavam minha pele, aquela era a sua ferida, a mancha passada de seus ancestrais que retumbava. Os Astor sempre seriam lembrados como aqueles que traíram o seu sangue.
— Concordo que Daaniel não é a escolha mais sensata no momento. — um dos outros conselheiros pronunciou. Hill, um homem baixo e corpulento, mestre dos navios. — Ele é um bom garoto mas não acabaria com a rebelião. Allen precisa de um sangue escuro, um Ferro. As pessoas precisam de esperança, nem que seja um resquício dela.
— O trono só aceitará alguém que nasceu para pertencer- ló, o sangue da escuridão precisa correr sobre as veias do próximo governante. — me levantei pronunciando firmemente.
— Olha, — uma risada rouca reverbera, erguendo as sobrancelhas com ar de censura, ele age como se eu tivesse sugerido algo que não existisse. — se vossa graça achar algum Campbell de sangue escuro vivo.. — Ninghtgart o mestre de armas sorriu, e os demais o acompanharam, entretanto, mantive meu semblante serio. Sem deixar qualquer emoção inflamável transcender. Os fios avermelhados do mestre de armas foram soprados pelo vento que escapava da janela.
Com o soprar do mundo, ergui os olhos;
— E se tiver um Campbell vivo..? — as risadas se perderam, ótimo! Esperei que não encontrassem mais o caminho de volta. — mas especificamente uma, me dêem uma semana que a trago para o castelo e poderei provar que há uma Ferro para o trono.
Todos me olharam com expressões curiosas e avaliativas, como se a proposta que dançou por meus lábios fosse a coisa mais ridícula que eles já haviam escutado. Clevaran na direita não escondeu, arqueou a sobrancelha assustado.
— Isso é impossível Lorde Owen, todos os sangues escuros morreram. — ele franziu a testa em expressão de zombaria e deu um suspiro abafado de exasperação. Mas percebi seu olhar se transformar quando apontei para o quadro da antiga família real, pendurada no centro da parede creme. — Amberly.. ela não estava morta? — ele perguntou quando não apenas viu, mas compreendeu o que eu queria dizer.
— A irmã do rei Fren? Ela era a primeira na linha de sucessão e recusou a coroa. Por que alguém que recusou governar uma vez iria querer de novo? Sobre estas circunstâncias ainda por cima.. Isso não faz sentido algum. — Ninghtgart logo entendeu minha jogada e começou a sorrir talvez por não compreender o que realmente eu queria dizer. Na verdade, nenhum deles havia entendido.
Ergui os ombros. Abrindo o melhor sorriso em tempos para encarar o conselho sem temor algum;
— Não ela!..Mas a verdadeira herdeira, sua filha..
ههههه
Golden Fox, ao sul de Allen
4 dias depois
— Lorde Owen, chegamos em Golden Fox. — disse o general quando o veículo perdeu velocidade.
Abri levemente a cortina da carruagem vislumbrando Golden se anunciar sobre algumas colunas finas de fumaça, então pelo mosaico de telhados espiando por sobre as colinas.
Dentro do muro de pedra baixo uma fileira de casas se inclinam umas contra as outras feito pessoas em uma multidão, como se, ficando próximas, pudessem afastar o frio, o bosque ou a miséria assustadora que corrói os ossos de seus herdeiros. As pessoas são vultos que passam pelas calçadas conforme a carruagem corta o vilarejo, com corpos escondidos sob camadas de roupas e cabeças abaixadas contra o vento elas seguem com suas vidas pacatas.
O contraste com o norte nunca foi mais visível, mais assustador e mais doloroso. Tentei não pensar em que custo Allen havia progredido na medida com que a carruagem se chacoalhou para longe.
Não demorou para que a pequena igreja, as casas modestas e as pessoas esguias ficassem para trás. Com o tempo logo avistamos uma pequena propriedade e pude notar que enfim havíamos chegado em nosso destino; a propriedade dos Megan, uma pequena fazenda afastada do centro do vilarejo.
A carruagem atravessou a cerca gasta, passando com facilidade pela terra batida até alcançar a casa sobre a colina. O novo cenário ganhava forma conforme meus dedos se remexiam inquietos e ansiosos sobre minha perna.
Quando o veículo parou e os cavalos rasparam seus cascos contra o chão, os guardas desceram e se apresentaram formalmente para o casal proprietário que estava na parte externa da residência. Através da janela observei suas expressões confusas, as olhadas desconfiadas sobre os homens impostos em suas fardas. Minhas mãos em luvas finas deslizaram sobre a maçaneta com uma fluidez que eu não esperava, destravei a porta pisando com cautela sobre o degrau antes de tocar a grama pitoresca.
A senhora que batia os pés na varanda levantou os olhos até a minha direção. Então dei alguns passos à frente, retirando o chapéu da cabeça e o levando para o peito quando sussurrei a convocação;
— Senhor e senhora, perdoem-me o incômodo meu e de meus guardas, mas estamos aqui para falar com a senhorita Victoria Megan.