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Muito bem Beto, você conseguiu!
Feliz comigo mesmo, eu deslizo minha mão pelo colchão a procura de Elena, mas não a encontro. Confuso me levantando, sento sobre cama e vejo o lençol bagunçado sobre a mesma, após colocar meus pés no chão, eu suspiro aliviado. Não estranharia se acordasse e ela tivesse me abandonado aqui.
— Ele… — Sem dizer uma palavra a mais, me aproximo a observando enquanto a mesma se olhava no espelho. Estava com suas roupas íntimas, passava suas mãos sobre a barriga e as esticava a frente do corpo em direção ao espelho. Fazia tempo que isso não acontecia.
Pegando em uma de suas mãos, eu a viro para mim e observo dentro de seus olhos. Estava sonâmbula mais uma vez, e sonhava com algo que em algum momento da nossa vida eu já vi acontecer.
A guiando novamente até a cama, eu a faço se deitar com bastante cuidado e tomo meu lugar ao seu lado mais uma vez. Cobrindo nossos corpos, eu me aproximo até que possa colocar sua cabeça sobre meus braços e acariciar seus cabelos.
— Minha melhor escolha.
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— A não, de novo não! Elena! — Chamo me virando para o espelho. — Droga!
Vestindo minha roupa e pegando meu celular e chaves sobre o móvel, eu me retiro rapidamente do quarto e desço mais rápido ainda as escadas, era incapaz de esperar o elevador.
Quando finalmente havia pisado na recepção parei a primeira mulher que vi atrás do balcão.
— Viu uma mulher morena da minha altura? Ela tem os cabelos castanhos um pouco abaixo dos ombros e olhos azuis.
— Me desculpe, meu turno começou tem cinco minutos.
Agradecendo eu corro até a saída indo em direção ao meu carro enquanto discava o número do telefone de casa.
Dando partida, eu aguardo inquieto observando pelas ruas.
— Alô?
— Alô, Liu? Liu a Elena, ela chegou ai?
— Sim, tem alguns minutos. Agora eu preciso ir, alguém pelo menos se lembrou de que eu tenho trabalho hoje.
— Me desculpe, eu…
— Tá tudo bem, espero que tenham se divertido. Agora preciso ir, tchau.
Suspirando aliviado eu acelero a caminho de casa. Já estava acostumado a acordar sem ela do meu lado, e também sonâmbula ou seja lá o que é aquilo, mas nunca senti tanto medo quanto agora.
Assim que abri a porta lentamente, a primeira coisa que dei de cara foi com minha esposa parada na porta do quarto da nossa filha.
Me aproximando vagarosamente, eu parei ao seu lado e apertei meus olhos tentando entender o que havia acontecido.
Sem dizer nada a vi entrar no quarto e ver tudo ao redor. Isabel estava deitada sobre sua cama com os pés e as mãos sujas de terra preta, assim como todo o tapete de seu quarto e logo ao pé da sua cama o gato morro da Elena.
[...] As horas se passaram, Elena arrumou tudo enquanto eu distraia nossa filha e depois de algum tempo se sentou ao meu lado dizendo que ela não poderia ter feito isso.
— Não tinha terra nas unhas dela, e os pés não estavam pretos como de alguém que acabou de passar na terra. Não faz sentido, se ela tivesse tirado o gato com as mãos teria terra nas unhas,e por que faria isso se…
— Se ainda estava em choque pela morte do gato?
— Não foi ela. Tinha terra na janela, e o buraco foi feito com algum objeto.
— Amor — disse após respirar fundo e observar Isabel brincando no canto da sala — Mais cedo no hotel você estava sonâmbula, não acha que…
— Eu não fiz isso. Cheguei consciente em casa, alguém encontrou aqui ontem enquanto a Liu dormia. Não teria como ouvir no quarto de visitas alguém abrir aquela janela.
— Tudo bem, eu vou pedir que coloquem fechaduras em todas as janelas.
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3 SEMANAS E MEIA DEPOIS
— Onde está seu aparelho? — Pergunto colocando os cabelos dela em ordem. Elena estava em uma consulta e eu de folga, nada mais justo do que levar a Isabel para conhecer os novos pratos do parque.
— Ele estava fazendo um barulho muito ruim papai.
— Onde ele está?
— Eu joguei no lixo que fica do lado da mesinha da titia. — Levantando minhas sobrancelhas,eu peguei na mão de Isabel, e a jogo em meu colo, caminhamos juntos para dentro da escola até que ela soltou uma gargalhada. — Te peguei! — Gritou enquanto fazia os sinais com as mãos.
— Você me deu um susto. — Fiz os sinais após a colocar no chão.
— Grandão?
— Sim, um susto grandão, e agora você vai ter o que merece! — A pegando pela cintura, nós saímos correndo pela rua gargalhando enquanto Isabel fingia ser uma heroína. Com as mãozinhas para frente ela nós guiava dizendo por onde deveríamos passar.
Quando finalmente chegamos no parque, Isabel pulou de meus braços e correu até o grande lago. Parando em sua borda, ela bateu com as mãos na água para chamar a atenção dos bichos.
— Ei, Beto! — Assim que me viro já sou puxado pelo braço para um aperto de mãos. — Aqui, eu encontrei a chave, estava na sala no meio das pastas. Acho que hoje não rola aquele joguinho né?
— A Elena não está em casa. — Respondo já pensando na vitória.
— Como assim? Ela saiu com a Isabel?
— Não a Isabel está ali… com os patos… — Sem entender eu começo a olhar a nossa volta. — Isabel! — Grito correndo para mais perto do lago.
— Beto!
Correndo até as pessoas e perguntando se haviam visto minha filha, eu entro em desespero e pego pela gola de Hu Wang que abre seus olhos assustado.
— Ela estava aqui, estava aqui!
— Vamos olhar melhor se não encontrarmos nada faremos um pedido de busca na sede.
Rodamos tudo cada parte daquele maldito parque, mas não encontramos.
O desespero corria por cada parte de mim, estava em completo desespero, não sabia como agir onde procurar... não sei como isso foi acontecer tudo que eu sei é que ela estava lá, estava lá naquele maldito lago.
Estávamos a caminho da sede e eu não tinha uma palavra para dizer, tudo que entrava em meus ouvidos era motivo demais pânico. Olhava a rua como se ela não tivesse fim. Onde estava minha filha, como deixei que isso acontecesse?
Quando finalmente passamos pela porta da sede eu ainda não tinha palavras para dizer não encontrava nem sequer uma em minha garganta, estava seca e meus lábios mais ainda, eu queria chorar, gritar, mas o que adiantaria ela não voltaria não com essas atitudes não dessa maneira.
— Faremos uma busca. — Declarou Hu Wang olhando rapidamente para mim.
— Uma busca? — Ma Lin questiona colocando seus cotovelos sobre o balcão e descansando sua cabeça enquanto aguarda. — Beto? — Seus lábios avermelhados se moviam rapidamente, parecia com raiva, muito raiva. — Beto!
— Hã. — Rapidamente volto minha consciência, Ma Lin ainda estava na mesma posição, todavia agora enrolada a seus cabelos lisos que batia em seus ombros. — A Isabel.
— O que tem a Isabel?! — Pergunta em voz alta vindo da porta atrás de nós. — O que tem a Isabel? — Ignorando Liu eu suspiro ouvindo mais uma vez a voz do meu colega.
— Precisamos fazer uma busca nas proximidades do parque dos patos isso inclui a floresta também.
— Ta, mas para fazer uma busca precisamos saber quem vamos buscar, não acham? — Perguntou Zhou Zhu com seu controle pendurado no cinto.
— Isabel. Nós vamos procurar pela Isabel.
— Perdeu a sua filha?! — Liu Yang se balançava para frente e para trás com toda a força que tinha, seus cabelos iam ao sentido contrário de nós dois e facilmente eu conseguia ver as lágrimas em seus olhos. — Você perdeu sua filha!
— Tudo bem, já chega! — Zhou Zhu a pegou pelo braço a entregando nas mãos de Ma Lin que a sentou em uma cadeira para acalmá-la. — Podemos rastreá-la correto?
— Não. — Digo
— Do que estão falando?
— Eu queria testar um novo modelo de gps então usei o aparelho auditivo da Isabel para isso. Coloquei um dispositivo gps no aparelho, mas ele apenas funciona quando ela está usando, é ligado aos batimentos dela, então além de saber onde ela está, também saberíamos se é ela, mas se não podemos rastreá-la significa que ela não estava com ele. — Concordo.
— Ele disse que ele estava fazendo um barulho ruim, então o tirou.
— Então isso significa que se ela colocar o aparelho poderemos encontrá-la, correto? — Confirmo olhando para Hu Wang.
— Na verdade se ela o colocar uma mensagem chegará no celular do Beto, então é bom ficar de olho.
— Eu não sei exatamente onde deixei meu celular.
— Tudo bem, acho que posso mudar o sinal para o meu computador, eu só preciso fazer alguns ajustes. — Dito isso ele apenas corre.
[...] as horas passavam e eu não parava de soar frio, nada dava resultado, minha filha não dava sinal de vida, as viaturas que circularam as ruas não encontravam nada, ninguém sabia de nada.
— Precisa ir para casa, a Elena ela também precisa saber disso. Beto, está me ouvindo? — Assento com a cabeça baixa. — A gente vai encontrar ela, não deve está muito longe. — Tentou me confortar se colocando abaixo de meu rosto.
— Eu não sei Ma Lin, olha pra Liu, quando a Elena souber… — As palavras simplesmente somem da minha boca. — A gente já passou por tanta coisa.
— Vão superar, acredite, nós a encontraremos.
…
— O que está acontecendo? Por que as viaturas estavam em circulação? — Colocando-me de pé, eu observo meu chefe o mais sério que podia.
— Estávamos fazendo uma busca. — Explana Hu Wang antes que eu abrisse a boca.
— Busca? — Questiona encarando a todos enquanto coçava sua cabeça careca.
— Estávamos fazendo uma busca para encontrar minha filha, senhor. Hoje pela manhã ela sumiu.
— Isso não tem nem quarenta e oito horas, sabem bem que apenas consideramos desaparecimento com dois dias de sumiço, ela simplesmente deve ter ido para a casa de algum colega, crianças…
— O que você quer dizer com isso?! — Questiona Liu fazendo Ma Lin correr e segurar seus ombros.
— Fique tranquila, Yu Yang está certo, é preciso dois dias para ser considerado um desaparecimento, sempre foi assim vocês sabem.
— Mas senhor! — Rebati olhando dentro dos olhos de Yu Yang.
— Eu já disse Beto. Quando completar exatamente quarenta e oito horas, todos vocês podem ir e pegar quantas viaturas quiserem, mas enquanto isso farão seus trabalhos, afinal de contas tem outras crianças desaparecidas, por que não começam por elas?
Após ver o chefe e o imbecil do seu sobrinho saírem, soco a parede sem dó alguma. Quarenta e oito horas, teria que esperar a merda de dois dias para que investigassem o desaparecimento da minha filha! Malditos dois dias!
— Se acalme. — Pediu colocando uma das mãos sobre meu ombro, irado eu apenas ouço meu ombro para mim afastando o dono da mão. — Se acalme, Beto!
— Eu não quero me acalmar! — Brado o jogando contra a parede e prendendo seu pescoço sobre meu ante braço.
— Beto, já chega!
— Ma Lin, está tudo bem. Olha cara, você precisa ir para casa, precisa descansar e deixar a Elena a pá de tudo. — Prestando atenção em suas palavras eu o solto o assistindo arrumar suas roupas. — Não se preocupe procuraremos por ela, afinal nunca ouvimos o chefe, não é mesmo? Agora vá.
— Me desculpa. — Peço olhando para as três pessoas sobre a sala, Liu ainda estava sentada ao lado de Ma Lin que nos olhava com os punhos fechados.
— Está tudo bem.
Ao abrir a porta a primeira coisa que vi foi o grande sorriso da Elena, antes de dizer que havia encontrado meu celular dentro da geladeira, ela me mostrou o pequeno, ou melhor, a pequena gata branca que havia trazido para Isabel.
Eu estava encarando meu celular olhando a porcaria do sinal do aparelho auditivo, mas não tinha nada.
— Elena.
— Onde ela está? Acha que ela vai gostar?
— Sim eu acho.
— Ótimo, eu fui muito longe para buscá-la. Onde ela está?
— É sobre ela que devemos conversar.
— Entendi, ela prendeu você até agora naquele lago.
— Ela sumiu. A Isabel sumiu. — Sem entender, apenas a observo rir alto enquanto segura a caixa de presente com o gato dentro.