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04- Acerto de contas

Mari começa escolhendo um vestido preto muito curto de couro, bem colado ao corpo. Ela diz que tem que ser algo bem sensual, para Henry ficar excitado assim que me encontrar. Só para ter a dor de me ver e saber que não poderá mais me tocar. Depois de arrumar meu cabelo e fazer a maquiagem, ficamos no quarto por horas ouvindo música e cantando. Fico feliz por ter decidido vir para cá logo cedo.

Meus padrinhos dão uma passadinha aqui no quarto. Ricardo diz que já irá ligar para a funerária, porque quando Caio colocar as mãos em Henry, não sobrará nada. Nós rimos, mas depois penso se Caio poderá mesmo fazer alguma coisa com ele. Mas então me lembro que, se acontecer algo, não será culpa minha. Eu sempre fui fiel a ele durante esses dois anos, já ele... Camila entra e nos traz comida e passa um tempo conversando com nós duas. Mari puxou muito à mãe em questão de personalidade, mas também tem muito de Ricardo. Ela é uma mistura exata dos dois, e é perfeita até em suas imperfeições.

— Vamos pegar todas essas roupas — Mari aponta para as roupas que estão sobre a cama — e vamos tirar fotos novas pra você colocar nas suas redes sociais. Ainda mais agora que vai ficar solteira.

— Vai dar muito trabalho, Mari! — Me jogo em cima das roupas.

Ela me lança um olhar de repreensão, pois estou bagunçado meus cabelos, e no mesmo instante me sento.

— Estou te oferecendo meu serviço gratuito e você está reclamando só por ter de trocar de roupa? Meu amor, sua amiga é uma fotógrafa profissional.

— Me desculpa, fotógrafa profissional — digo, bem-humorada. — Posso escolher mais três peças de roupa? Se for colocar tudo que está na cama, Henry vai chegar e ainda estaremos aqui.

— Tá bom! Só espera aqui que vou buscar algumas coisas de iluminação na garagem. — Mari sai correndo do quarto.

Pego meu celular e vejo que tem várias mensagens de Henry perguntando onde estou, o que estou fazendo e com quem estou. A última diz que em quarenta minutos ele estará aqui. Quer dizer lá, em casa. Faço questão de visualizar e não responder. Me olho no espelho e quase fico surpresa ao me dar conta de como esse vestido me deixa bonita. Será que Nando vai gostar quando me vir?

— Ei, gostosa! Vamos começar as fotos.

Quando terminamos, Mari e eu nos sentamos na cama e ficamos admirando. Ela é uma fotógrafa excelente. As fotos ficaram perfeitas.

— Amiga, todas ficaram muito boas – obviamente, porque fui eu que tirei –, mas essa com o vestido, a que está com o dedo na boca e cara de safada, é pra deixar qualquer homem louco!

— Você que me mandou fazer essa cara, sua boba. — A empurro na cama e nós duas rimos. — Agora tenho que ir, ou Henry chegará lá antes de mim.

Após me despedir da família toda e agradecer por tudo, sigo meu caminho para casa. E assim que chego, vejo Henry descendo do carro. Ele me olha dos pés à cabeça, admirado.

— Onde você estava? E com essa roupa? Tentei falar com você o dia todo. O que está acontecendo, amor? — Ele vem até mim e tenta me dar um beijo, mas viro o rosto. — Aurora, não estou gostando disso.

— Nós precisamos conversar. Você...

Sou interrompida pelo barulho da porta se abrindo com violência e, quando nos viramos, vemos Caio saindo de casa bufando. Nunca o tinha visto tão furioso. Ele vem até nós, segura Henry pelo colarinho e o arrasta para dentro. Sigo os dois até a sala, onde Caio o joga no sofá e dá um soco em seu rosto.

— Você é um moleque safado! — Caio desfere outro soco, que faz seus lábios sangrarem.

Henry está sem reação. Dá para ver em seus olhos que não está entendendo nada. E está com muito medo.

— Chega, Caio! — Manu entra na frente.

— Eu não sei o que está acontecendo. Não fiz nada! — Henry limpa o canto dos lábios.

— Isso aqui é nada!? — Nando, que eu nem notei quando apareceu, pega o celular e mostra a foto.

Henry ficou branco. Parecia ter visto um fantasma. Ele se vira para mim e se levanta. Nesse momento, me seguro para não chorar novamente. Estou me sentindo tão humilhada.

— Não é nada do que parece, Aurora. Você sabe que amo só você. Isso deve ser montagem. — Ele tenta chegar mais perto, mas Nando o impede. — Nós vamos resolver isso juntos.

Caio dá uma risada irônica.

— Você não chega mais perto dela, seu.... Olha, eu nem tenho palavras pra descrever o que você é. Qualquer insulto ou palavrão vai parecer um elogio. — Caio coloca o dedo em seu peito. — Se te vir perto dela de novo, eu te quebro e não vai ter como Manuela me impedir.

— Ele já entendeu o recado, Caio — Manu diz, afastando-o dele.

— Me perdoa, Aurora. Fui fraco, mas não quero te perder.

Eu me forço a me manter firme. A não chorar. A não deixá-lo me ver sofrendo.

— Não. Tudo entre nós acabou no momento em que você ficou com outra. Agora tudo o que quero é esquecer que já estivemos juntos.

Henry tenta dar um passo em minha direção, mas para quando ouve Caio bufar.

— Meu pai já deu o recado dele — Nando diz, aproximando-se rapidamente dele. — Agora falta o meu.

Ele dá um soco atrás do outro em Henry até ele cair no chão, atordoado. Por um instante, penso que ele irá revidar, mas parece ter um pouco de consciência da sua desvantagem. E não vou mentir, vê-lo ali caído no chão com o rabo entre as pernas é muito bom.

— Não vou conseguir segurar os dois! — Manu diz, ainda agarrando Caio, que parece louco para se juntar ao filho.

— Já deu, Nando. — Eu o puxo e olho para Henry e para o sangue em seu rosto. — É melhor você ir embora.

Ele assente.

— Você vai sentir minha falta, Aurora — murmura assim que põe o pé na porta.

— Menino, se você não quiser morrer hoje, sugiro que corra — Manu diz e Henry sai como um foguete.

— Você está muito bonita — Nando fala baixinho.

Percebo que ainda estou segurando sua mão, então a solto.

— Estou me sentindo mais relaxado agora. — Caio abre um grande sorriso.

— Já eu estou tensa. Vou tomar um banho de banheira pra relaxar — Manu diz, dando um sorriso malicioso ao marido.

— Vejo vocês depois — é o que ele diz, mal nos olhando enquanto a segue.

Me sento no sofá e Nando faz o mesmo, acomodando-se muito perto de mim. Sinto meu coração acelerar no mesmo instante.

— Aurora, não consigo ficar longe de você, ainda mais te vendo assim com esse vestido. — Sua mão desliza para a minha perna.

— Nando, não podemos. — Mas no fundo, eu sei que minhas emoções contradizem as palavras, principalmente com ele me olhando com tanta admiração e desejo.

— Mas eu quero e sei que você também quer. — Nando chega perto do meu ouvido. — Sua pele está arrepiada, Aurora. Ela está pedindo meu toque.

Nesse momento minha respiração falha.

Deus! Que mulher em sã consciência conseguiria aguentar uma provocação dessa?

Quando dou por mim, já estamos aos amassos no sofá. Nando me beija com urgência, como se sua vida dependesse disso. Sua mão toca meu corpo intensamente e minha vontade é de arrancar suas roupas e me entregar a ele aqui mesmo. Seus lábios agora exploram meu pescoço e deixo um gemido baixo escapar.

— Não geme assim, se não vou te arrastar pro meu quarto e beijar cada parte do seu corpo. — Sua voz rouca no meu ouvido deixa transparecer o tamanho de seu desejo.

Isso é tudo que quero nesse momento. Senti-lo por inteiro. Escutamos passos vindo das escadas e nos afastamos rapidamente. Arrumo minha roupa e meus cabelos e Nando coloca uma almofada em seu colo, para ninguém ver o volume que se formou. Não consigo conter o riso. Ele me olha com os olhos semicerrados e um sorriso malicioso.

— Vou começar a fazer o jantar. Vocês querem algo especial? — Manu pergunta, sem tirar os olhos do celular que está em sua mão.

— O que você fizer pra nós está bom — Nando diz.

— Tudo bem então. — Ela dá de ombros e vai a caminho da cozinha.

— Preciso de um banho gelado. — Nando suspira.

Ele se levanta, mas ante de ir, se aproxima do meu ouvido.

— Deixe a porta do seu quarto destrancada. Essa noite irei te visita de madrugada. — Com um sorriso, ele pisca e sai da sala.

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