03- Um turbilhão de sentimentos
Nesse momento, já estou por cima dela na cama. Nosso beijo é maravilhoso. O gosto de Aurora é diferente. Seus dedos entram por minha camisa, as unhas arranhando minhas costas. Ela me excita como nenhuma outra. Enquanto a beijo, uma de minhas mãos passeia pelo seu corpo, tocando-a como se pudesse desaparecer a qualquer momento. Encosto a ponta do dedo em seus seios e vou descendo até a cintura. Separo os nossos lábios e olho em seus olhos; brilhantes, tão perdidos quanto os meus. Sua respiração está irregular, pesada, e vejo quando a expressão muda em seu rosto e os primeiros traços de pânico começam a surgir.
— O que estamos fazendo, Nando? — ela pergunta.
Tentando esconder a decepção, me afasto e me deito ao seu lado. É claro que ela está arrependida.
— Pra ser sincero, nem eu sei — confesso. — Pode parecer loucura, mas a sensação de estar com você em meus braços é tão boa.
— E se Caio e Manu descobrirem? Não quero decepcionar nenhum dos dois. — Aurora recua, distanciando-se cada vez mais de mim, e se senta. — Não quero ser uma decepção pra eles.
— Você nunca será uma decepção — murmuro. — Eles te amam e sentem muito orgulho de você. Assim como eu.
— Acho que é melhor ir para o seu quarto, Nando — ela diz, fugindo do meu olhar.
— Você não vai tentar me afastar novamente nem me pedir pra esquecer o que aconteceu aqui, né?
Mesmo sabendo que Aurora é legalmente minha irmã, não consigo vê-la mais da mesma forma. Agora tudo mudou. Nós mudamos. E por que isso deveria ser errado?
— Não vou te pedir pra esquecer e nem vou te afastar — ela diz, mas não sinto nenhum pingo de firmeza em suas palavras.
— Aurora, não faz isso comigo. — Seguro seu rosto e a faço olhar para mim novamente. — Quero ficar com você, nem que seja escondido.
Aproximo nossos rostos e a beijo. E quando os seus lábios se movem com os meus, devagar, hesitantes, meu peito se aperta com o gosto de despedida em minha língua. Ela se afasta e acaricia a minha bochecha. Há tristeza em seu olhar.
— Boa noite, Nando — ela sussurra.
— Você tem certeza que quer que eu vá? — pergunto, baixinho, e ela assente.
Mesmo contra minha vontade, me levanto, calço meus chinelos e saio do seu quarto sem fazer barulho. Volto para o meu e me deito com as mãos embaixo da cabeça.
Tudo isso está parecendo uma montanha-russa. Uma hora as coisas fluem bem, na outra tudo desmorona. Não sei o que fazer! Ela diz estar confusa com tudo isso, mas eu também estou. Mesmo assim, quero ficar ao seu lado. Por que ela não compreende que não há mal quando não somos irmãos de sangue? Por que insiste em me manter longe?
***
Acordo meio atordoado. Não consegui dormi bem essa noite. Me levanto e vou ao banheiro, tomo um banho, me arrumo e desço para o café da manhã.
— Bom dia — digo, me sentando à mesa.
Percebo que só meus pais estão presentes. Aurora ainda deve estar dormindo.
— Vejo que nenhum dos dois acordou muito bem hoje — minha mãe fala, preocupada.
Então quer dizer que Aurora já acordou. Será que já voltou para o quarto?
— Só estou com dor de cabeça, mãe. Não precisa se preocupar. Aurora já tomou café?
— Já. Ela se levantou cedo, tomou um café rápido e foi pra casa de Camila.
Ela está me evitando. Já imaginava que isso fosse acontecer.
— Como rolou tudo aquilo com o vagabundo do Henry, ela deve estar precisando de um tempo com sua melhor amiga. Tenho dó daquele garoto. Quando ele aparecer na minha frente... — Meu pai balança a cabeça; um sorriso perigoso nos lábios.
— Caio, você não vai dar uma surra nele! Já conversamos sobre isso. — Minha mãe cruza os braços e o encara, séria.
— E eu já disse que não garanto nada. Aquele moleque safado machucou minha filha e não vai sair impune. Pode ter certeza disso.
Enquanto os dois discutem sobre dar uma surra em Henry ou não — se bem que ele merece, e eu até ajudaria meu pai com isso — meu pensamento está em Aurora. Estará mesmo buscando consolo com a amiga ou uma fuga?
(*** Aurora ***)
Estou deitada no colo de Mari e ela tenta me animar. Hoje estou me sentindo pior que ontem.
— Amiga, não fica assim. Pensa pelo lado bom. É melhor ter descoberto agora do que nunca descobrir e Henry te enganar por anos. Você já falou com ele?
— Não. Ele me ligou várias vezes, mas não tive coragem de atender.
Meu celular começa a tocar, e sei que é ele. Mari o toma de minha mão e atende. Olha-a sem entender.
— Oi, Henry. Ela não pode atender. Agora estamos na casa de uns amigos. Aurora está na piscina nadando com Júlio. Sim, esse Júlio mesmo. Você já vai voltar pra casa?! Mas ela disse que você ficaria uma semana fora. Vou avisar, espera aí... Aurora, amiga! — Ela faz uma pausa. — Henry, ela está muito distraída conversando, mas depois eu aviso. Até. Tchau!
— Não acredito que fez isso. Ele morre de ciúmes de Júlio.
Mari abre um grande sorriso.
— Eu sei. Você tinha que ouvir, ele ficou louco.
Eu rio.
— Você é maravilhosa, Mari! — Me sento e a abraço.
— Nós somos. Mas sinto que não é só isso que está te incomodando. Aconteceu mais alguma coisa?
Mari me conhece tão bem. Ela, Nando e eu sempre fomos muito ligados. Crescemos juntos e seus pais são nossos padrinhos.
— Aconteceu uma coisa ontem que me deixou mais atordoada.
Mari me olha com curiosidade.
— Coloca tudo pra fora. Você sabe que não vou te julgar.
Respiro fundo para tomar coragem de entrar nesse assunto.
— Nando e eu nos beijamos.
Mari fica literalmente de boca aberta.
— Menina, que babado! Me conte os detalhes.
Nós duas nos deitamos na cama e ficamos olhando para o teto.
— Eu te contei como descobri sobre Henry, mas omiti a parte do beijo. Quando estava sentada na cama dele, estava com os olhos fechados, sentindo seu toque. Nem sei por que fiz isso, mas Nando aproximou seus lábios dos meus e me beijou.
— O que você sentiu? Seja sincera.
— Eu gostei muito! Isso me deixou ainda mais confusa. Ele é meu irmão! — Coloco as mãos no rosto, a angústia me consumindo.
— Nem sei o que dizer sobre isso. É muita coisa pra uma pessoa só! Nem sei como você não surta.
— Mas estou a ponto de enlouquecer — admito. — E ainda tem mais — Mari se vira para mim. — Nando foi ao meu quarto após uma conversa rápida que tivemos na cozinha. Já era de madrugada.
— Vocês...?
— Não! Mas foi por tão pouco. Estava tão perdida no momento. Sério, Mari, Nando me deixou louca de desejo. — Solto um suspiro só de lembrar de seu toque, seus beijos.
— Imagino, amiga. Nando é um pedaço de mau caminho, igual ao pai.
— Mari!— exclamo, em tom de repreensão.
— Amiga, eu não tenho culpa se os dois são gostosos. Pegaria pai e filho juntos se eles quisessem. — Ela dá um sorrisinho. — Só não dou em cima deles por respeito a você e sua mãe.
— Mari, você é muito safada!
— Só sou realista. — Dá uma piscadela. — Agora, voltando ao assunto, o que vai fazer em relação a Nando? E a Henry?
— Ainda não sei sobre Nando. Vou tentar evitá-lo ao máximo, até entender tudo. E claro que vou terminar com Henry assim que o vir pessoalmente. Vou esfregar aquela foto na cara dele. Mas pra isso preciso falar com Nando, pra que ele me envie. Sabe qual a pior coisa, Mari?
— Não faço ideia.
— Nando disse que quer ficar comigo mesmo que seja escondido.
— Se fosse eu, já estava afogando minhas mágoas no leite, se é que me entende.
— Você não disse isso! — Olho para ela incrédula.
— Ah, eu disse sim! E você me ama pelo jeito que sou, então não reclame. — Dá um tapinha em meu braço. — Tive uma ideia! Vamos nos levantar, separar uma roupa bem bonita, fazer o cabelo e uma maquiagem perfeita, pra quando Henry chegar, ver o que realmente perdeu. Ele vai se arrepender amargamente de ter te traído.
— Não sei o que faria sem você. — A abraço e beijo sua bochecha.
— Nós somos irmãs. Mas não vamos nos pegar! — Mari ri dá própria piada. Essa menina é impossível. — Agora vamos começar nosso programa de beleza.