"Kapitel Zwei" (2)
Diário de Eva Anna Paula Braun Hitler
Data de nascimento: 06 de fevereiro de 1912
Local de nascimento: Munique, Alemanha
Munique, 06 de Fevereiro de 1927.
*Liebes Tagebuch,
Hoje é meu aniversário de 15 anos. Ganhei você de minha querida mãe, e tenho certeza que será um grande amigo meu – talvez o único – por muito tempo.
(...)
Munique, 12 de Setembro de 1928.
Liebes Tagebuch,
Hoje estou muito triste, discuti com meu pai mais uma vez, e só não fui agredida fisicamente porque minha mãe o impediu. Não sei por quê, mas ele apenas prefere minha irmã mais velha Ilse, que parece também não gostar de mim. Ela diz que sou a preferida da mamãe. Eu estou cansada disso tudo. Minha mãe e minha irmã mais nova Gretl, são o único motivo de ainda estar nessa casa. Mas prometo. Na primeira oportunidade que tiver, sairei daqui para nunca mais voltar.
(...)
Munique, 19 de junho de 1929.
Liebes Tagebuch,
Comecei a trabalhar com Heinrich Hoffmann, um fotógrafo famoso. Você sabe que sou apaixonada por fotografia, e estou muito feliz de estar finalmente trabalhando com isso. Sinto que as coisas estão começando a funcionar para mim.
(...)
Munique, 09 de dezembro de 1929.
Liebes Tagebuch,
Hoje no trabalho conheci um homem encantador. Quando o vi, inexplicavelmente meu coração acelerou. Adolph Hitler seu nome. O Sr. Hoffmann é seu fotógrafo faz algum tempo. Ele parece ser importante, e quando olhou para mim, me senti importante também. O que será que está acontecendo? Jamais senti tal coisa.
(...)
Rio de Janeiro,Brasil - Dias atuais.
O Vento batia forte contra o rosto de Fany, tão forte que ela mal conseguia respirar, mas a sensação era tão boa que ela não ligava, sobretudo naquele momento.
Pilotar sua moto lhe acalmava a alma embora seu coração triste, agora acelerado pela adrenalina estivesse ainda mais descompassado.
Ela precisava estacionar logo, senão com certeza colidiria.
Foi o que fez assim que adentrou a Floresta da Tijuca, onde refugiava-se sempre que podia, para ler, para nadar ou simplesmente para pensar. O lugar era muito conhecido na cidade, mas em uma de suas aventuras quando mais nova descobriu um lugar secreto dentro do paraíso. Só ela e mais três pessoas no mundo conheciam aquele lugar.
Olhou ao redor para ter certeza de não estar sendo vigiada e ofegante adentrou uma das cavernas, retirou as folhas de bananeira que escondiam a passagem e arrastou-se por um vão no chão, onde só uma pessoa por vez passava com algum esforço. Mas valia à pena.
Fany sabia no fundo que não era um lugar secreto, mas gostava de pensar que era. E o fato de estar fazendo algo proibido lhe deixava eufórica e com um sentimento que não conseguia explicar com palavras, portanto, só vivia. Estar naquela caverna sempre lhe causava a mesma sensação, como se sempre fosse a primeira vez.
Tirou a calça jeans surrada e a jaqueta, ficando apenas de regata e lingerie. O calor do rio de Janeiro podia ser afogado naquela piscina natural, bem como suas mágoas recentes. - Ah se fosse fácil assim!- Pensou.
Enquanto mergulhava, flaches voltavam à memória...
As mãos de Fany tremiam sem parar, ela já estava achando ridículo tremer tanto assim. O que poderia haver naquela caixa? Quando toda a coragem que havia reunido para enfim abrir lhe moveram à isso, o Sr. Fattori espalma a mão na caixa a impedindo de prosseguir. Fany apenas franze o cenho para ele, esperando que ele falasse.
- Fany... quero que saiba, que eu não tenho ciência do que contém à caixa. Seus pais tinham motivos plausíveis e concretos para confidenciar o conteúdo. Ele já havia marcado uma reunião para enfim me dizer do que se tratava mas... - engole seco e não prossegue. Não era preciso. Ela tentava entender o por quê do linguajar culto do advogado com ela, até mesmo naquele momento. E como algo tão sigiloso que até mesmo ele dizia não saber do que se tratava, estava em seu cofre guardado tão despretensiosamente? Fany estava desconfiada, mas tratou de afastar maus pensamentos, não costumava julgar as pessoas antes de conhecê-la, mesmo sendo a pessoa o pai de seu ex-namorado traidor.
Não disse nada. Apenas esperou que ele retirasse a mão de cima para que ela pudesse desvendar o mistério. Exitou por um momento... deveria abrir na frente dele? Nem que quisesse, a caixa estava chaveada.
Compreendeu então a forma displicente que o objeto fora protegido.
Arqueou as sobrancelhas.
- Onde está a chave? - Perguntou com uma ponta de ironia e impaciência.
- Não está comigo. - Ele fala com uma expressão de que enfim chegou onde queria chegar.
- Então para quê isso me serve? Temos que quebrá-la. - Indagou.
- Senhorita Fany - ela forçou-se a não revirar os olhos, aí uma forma de tratamento ridícula para uma pessoa tão jovem como ela, discutira muito com Jackson e os outros empregados de seus pais por isso, mas nunca teve êxito - não que eu tenha tentado abri-la, mas esta caixa é de madeira talhada por fora e revestida de aço inoxidável e titânio por dentro. - Ou seja, ela não vai abrir senão com a chave - concluiu Fany em pensamento.
- Então isto é inútil? Nem deveria ter se dado ao trabalho de me mostrar. - Sua curiosidade estava lhe fazendo ser rude no modo de falar.
- Me desculpe. - Disse ela, sentando-se derrotada.
- Eu entendo você - olha... um progresso, um pronome pessoal normal e compatível com a minha idade. Pensou Fany - senhorita! - Agora não conseguiu resistir e além de revirar os olhos, também bufou exasperada. - Mas jamais a chamaria aqui, para lhe mostrar algo indefinido. - Prosseguiu o advogado.
- Está achando que a chave está comigo? Pois não está! - A garota disse já desgostosa com o assunto.
- Sei que não, mas sei com quem está! - Ergueu os olhos surpresa.
O advogado interfonou para sua secretária.
- Greta, se o senhor Müller já está presente? -pausa- peça para que entre!
Um homem ao que parecia ter a mesma idade do seu pai, barba cerrada, com incríveis olhos azuis, cabelos dourados e desordenados que lhe davam um aspecto jovial e sedutor entra na sala acompanhado pela secretária que traz consigo uma bandeja com café, chá e biscoitos.
Fany o encarava absorta, tentava lembrar onde viu aquele rosto.
- Stefany... este é Gustav Müller, primo do seu pai. - Ah! lembrei, ele estava no enterro. Mas... primo? Como assim primo? - Pensou Fany, ao mesmo tempo que estendia a mão em resposta ao homem a sua frente.
- Prazer imenso finalmente conhecê-la minha querida. Mesmo que em um momento tão desolador. - Falou com seu sotaque inconfundível. Ele era alemão.
Fany desconcertada, engoliu seco. Ele era primo do seu pai. Então quer dizer que era seu primo. Quer dizer que ela tinha uma família, e até aquele momento não tinha ideia alguma disso. Ela só desejava entender por que de tudo aquilo.
- Por favor tome assento. - Sr. Fattori sugeriu ao alemão, já que Fany nem conseguira levantar-se da poltrona, sabia que se tentasse suas pernas não sustentariam seu corpo. Estava impactada. E algo lhe dizia. O pior ainda está por vir!
Houve uma troca de olhares desconfortantes entre os três. Até Gustav, servir-se de uma xícara de chá e oferecer a mesma para Fany, que negou veemente.
- Por que nunca soube de sua existência? - ela perguntou-lhe tranquilamente.
Antes de responder, bebericou o chá em seguida repousando-o sobre a mesa.
Sem responder a pergunta da prima, Gustav retirou do que parecia ser o bolso interno do seu blazer em sarja acetinado azul marinho, uma chave.
A chave.
Suspendeu por um tempo no ar, e depois colocou sobre a mesa, ao lado da caixa.
- Seu pai e eu além de primos éramos muito amigos. Sou o único vivo que tem conhecimento do que tem aqui dentro. - aponta para o objeto - Não porque vi, e sim porque ele me confidenciou. Você pode abrir, e ver por si só, mas eu gostaria de lhe contar resumidamente e de forma mais altruísta se me permitir.
Fany olha para ele e depois para o advogado, com o coração célere e ela agradece mentalmente por não ter casos de infarto na família. Ao menos é o que achava. Pensando bem, não tinha certeza. Não tinha certeza de mais nada.
- Se preferir que eu saia Fany... - o advogado propõe.
- Não... não é necessário. Meus pais o deixaram como meu tutor legal. Isso quer dizer que confiavam em você plenamente. - diz complacente. E tomando um fôlego como se fosse imergir sob águas obscuras e profundas, ela fez um gesto para que o alemão comece a falar.
(...)
O que Gustav Müller confidenciou naquela sala, o resumo, levou mais duas horas, a história mais trágica que Fany ouvira em toda a sua curta existência. Era ruim. Muito ruim. Não conseguia enxergar nada de bom naquilo tudo, aquilo tudo havia dizimado grande parte de sua família. A outra parte estava viva, exatamente porque o segredo tinha sido mantido sobre a verdadeira história. Mas até quando?
Uma pequena lágrima correu no rosto da menina.
- Sou descendente de Hitler? - sussurra a pergunta para ela mesma, quase inaudível.
- A única viva! - O Sr. Fattori levantou-se e ele mesmo alcançou a jarra de água enchendo um copo para Fany.
- Fany, agora que sabe da verdade uma porcentagem... - o alemão continua sem prorrogar - inclusive que tem uma família que quer te conhecer, o meu desejo é que passe um tempo conosco na Alemanha. Sei que tem muitas perguntas e farei de tudo para respondê-la. Venha comigo!
Tudo era novo demais para Fany. Ela não era uma esponja que absorvia tudo com tamanha facilidade. Precisava pensar, precisava de um tempo.
- Pode pensar -ele falou como se lesse os pensamentos da prima -, partirei na sexta-feira, tenho assuntos da minha empresa aqui no Brasil para resolver. Aqui está o telefone do hotel onde estou hospedado. Me procure se precisar de mim. - Ele se levanta entregando o cartão, e ela arranja forças de não sei onde para levantar-se, toma o cartão de sua mão e seu olhar penetra nos de Gustav. Ele pareceu sentir sua dor, envolveu-a em seus braços fortes. Ela fechou os olhos forçando-se para não chorar, ao invés disso desejava acordar e ver que tinha sido apenas o pior dos pesadelos.
Fany parecia estar em outra dimensão. Mas não... era tudo verdade.
(...)
No quarto após ler algumas páginas do diário de sua bisavó que aparentemente era"louca", temeu enlouquecer também. Levantou repentinamente do chão aonde havia espalhado o interior da caixa - fotos, recortes de jornal, cartas, e um diário - voltando a posição de antes numa velocidade incrível, guardou tudo o mais depressa possível e escondeu a caixa no fundo falso que ela mesma criara no seu closet preto que uma vez tinha sido rosa. Tirou seus óculos de leitura que a deixavam um tanto irreconhecível, vestiu sua jaqueta, alcançou as chaves de sua moto e saiu, ignorando pela décima vez a chamada de alguém ao celular.
(...)
Ainda mergulhada nas águas límpidas da caverna e em suas lembranças recentes, Fany não havia notado que tinha companhia. A luz da lanterna do guarda local-embora fosse dia, a caverna não era provida da luz do dia, a não ser por um feixe - ofuscou suas vistas. Ela fora descoberta. Seu lugar secreto, não era mais secreto. Sem dizer palavra alguma, saiu da água e seguiu o guarda, sem antes olhar para trás de si mais uma vez. Sabia que nunca mais veria aquele lugar.
Sua tristeza estava completa.