"Kapitel Fünf" (5)
"O mundo é indiferente ao nosso destino - não é de propósito que ele nos frustra."
(Arthur Shopenhauer)
3 anos antes...
A música preferida* de Joana tocava no rádio enquanto ela maquiava Fany para o baile de formatura de Nick. Esparramado na cama da amiga, Hugo folheava uma revista qualquer, achando tudo aquilo uma tremenda falta de tempo, preferia mil vezes sair com as duas amigas em alguma aventura com muita adrenalina do que dançar num baile todo engomado...
- Sério Hugo, se não levantar essa bunda daí agora e vestir seu Black Tie, juro que vou te obrigar a dançar com todas as desacompanhadas do baile. - Joana resmungou. Fany abafou um riso. Hugo continuou folheando a revista.
- Você não vai correr o risco de ficar sem seu par Joana, e para de fingir o quanto quer ir a esse baile. - Hugo disse calmamente. Fany sabia que os amigos estavam indo apenas para agrada-la e também protegê-la, afinal todo mundo sabe o que pode acontecer após um baile.
O olhar mortal que Joana lança em direção ao amigo, o faz engolir seco, ele sabe que ela tem razão. Sem pestanejar levanta e entra no banheiro do quarto de Fany para se arrumar por fim.
- Joana, você sabe que isso não é preciso. Estarei com o Nick o tempo todo. - Encara a amiga que a olha como se fosse uma pobre criança perdida.
- Nós vamos neste baile Stefany, e nada que você diga nos fará mudar de ideia. - Diz decidida dando os últimos retoques na maquiagem. - Prontinha!
Fany olhou-se no espelho, no mesmo instante que Hugo saiu do banheiro e a campainha tocou. Olhou nervosa para os amigos enquanto que Hugo a admirava em secreto, ou quase, já que sua cara embasbacada o denunciava, Fany nervosa demais para reparar, mas de Joana não passou despercebido.
- O que está esperando? Vá atender a porta! Esqueceu que você deu folga para os empregados e seus pais não estão em casa? - Joana incentivou.
Hugo fez menção de acompanhar a amiga mas Joana o barrou fingindo arrumar sua gravata borboleta.
Fany desceu as escadas, enquanto a campainha soava outra vez... Namorava com Dominic fazia um ano - depois de muita persistência do rapaz contra a desconfiança e timidez da garota - e estaria dando um passo importante naquela noite, estava disposta, ele havia sido perfeito até então, ela desejava entregar-se a ele de corpo e alma.
Abriu a porta esboçando um sorriso que murchou ao se deparar com uma cena de terror, por um breve segundo achou ser Halloween...Nick, o seu namorado "perfeito" beijava vorazmente a garota mais popular do colégio, Amanda, bem ali na porta da sua casa.
Estática, não conseguiu reagir... só os observou até que finalmente se desgrudaram. Estranhamente Nick não a encarou diretamente, ao contrário de Amanda que também tinha o sorriso nas orelhas.
- Tão patética Stefany! O que você pensou? Que namorar o veterano mais cobiçado do colégio era tão fácil? Se bem que durou... Você sentiu pena não é meu amor? - perguntou olhando para o rapaz, sem obter uma resposta, mas isso não a fez parar. Amanda despejava as palavras com sarcasmo e sem piedade alguma.
Fany não desviou o olhar do que dizia ser seu namorado por um segundo sequer. Tudo o que a garota falava, o olhar dele - para um ponto qualquer que não fosse sua "namorada"- dizia o contrário. Isso fez Fany pensar que eles apenas estavam encenando, mas por quê? Por que tamanha crueldade? Não conseguiu evitar uma lágrima que desceu dolorida.
Amanda ria debochada.
- Patética! Bonita, rica e patética! - contava nos dedos - Não tem nada a dizer? - A popular desdenhava.
A garganta de Fany ardia, e com muito esforço para não se desmanchar ali mesmo, conseguiu dizer algo.
- Foi... foi um ano maravilhoso Nick... Eu realmente não entendo o que está acontecendo aqui... Mas, tudo bem... Eu ficarei bem.
Dominic e Amanda por alguns segundos ficaram sem saber o que dizer, não esperavam está reação da menina... Mas logo Amanda voltou a gargalhar e quando finalmente Dominic olhou nos olhos de Fany virou as costas e foi embora levando a outra garota consigo.
Foi a última vez que Fany viu seu namorado. Ex namorado.
Dias atuais...
- Nick...? - Foi o que Fany conseguiu pronunciar. O que dizer para alguém que esperava nunca mais ver? O coração tamborilou.
- Stefy, como está? - O ex que era o único que a chamava de Stefy, perguntou menos espantado que ela, mas ainda assim seus olhos demonstravam surpresa e certa admiração.
Fany voltou a si para não fazer um papel de idiota, arrumou a postura e dirigiu a palavra ao advogado.
- Desculpe Dr. Fattori eu não sabia que estava acompanhado. Posso aguardar...
- Não, não... Fany foi bom que veio, assim podemos definir os últimos detalhes do que estamos planejando. - o doutor falou observando os dois com ar investigativo.
Fany cruzou os braços como se isso fosse o suficiente para amenizar o clima ruim.
- Por favor sente-se! - O mais velho pede gentilmente.
Desconfiada e incomodada por ter que sentar na poltrona ao lado do ex, Fany reluta entre ser madura ou infantil. Ainda de braços cruzados ergue a cabeça e senta bem na pontinha para facilitar a fuga se preciso for.
- Não sei se tem ciência, mas Dominic esteve estudando e atuando em campo no Japão em uma Agência de Serviços de Inteligência. - Fany não sabia, mas não ficara surpresa, pois o rapaz certa vez compartilhou esse sonho de ser um investigador ou agente secreto - porém o que a fez franzir a testa foi o fato de que nada de relevante tinha ela saber disso. Era o que ela pensava.
- Poxa! Legal! - disse sincera, mas sem demonstrar felicidade, e sequer olhar para o rapaz. - Ainda não entendi o que isso tem haver com a minha situação. - fingiu-se de desentendida, sabia o que poderia significar.
- Quando soube que seus pais faleceram, eu peguei o primeiro voo disponível de volta para o Brasil. Infelizmente, não consegui chegar a tempo de ...
- De o quê? - Fany perguntou desacreditada... indignada na verdade.
Dominic calou-se, queria evitar momentos constrangedores sobretudo diante do seu pai, mas a verdade é que ele queria...sim... queria estar com ela naquele momento, mesmo não merecendo.
- Eu sou o seu responsável legal Fany, e sei que você pode aceitar ir para Alemanha com Gustav Muller, só que não posso lhe acompanhar... e preciso lhe deixar segura. - Fany começou a suar frio... não acreditava que o advogado tinha contado aquele segredo terrível, o seu segredo para alguém, para Dominic. Sentiu o rosto ferver, e a respiração acelerar.
- O que você contou a ele? - pergunta num tom estridente.
O advogado já sabia que ela teria uma reação parecida, e antes que a mesma viesse dar com a língua nos dentes, se pôs a explicar rapidamente.
- Disse que você está sob minha tutoria até completar 18 anos, o que ocorre daqui á 3 meses, e que não posso deixá-la viajar sozinha, mesmo que com o sr Müller! - Fany sentiu-se mais aliviada e ainda mais constrangida.
- O Senhor acha que isto realmente seja necessário? Eu tenho cara que preciso de babá? - a pergunta saíra mais rude do que gostaria.
- Eu acho que... - Dominic tentou argumentar...
- Foi uma pergunta retórica... é lógico que a resposta é NÃO! - ela continuou desta vez olhando bem dentro dos olhos do ex.
Dominic sorriu de lado. Ela havia mudado bastante, e ele achava isso atraente.
- Como estava dizendo... - ele continuou- ...acho que você precisa sim de proteção! Você acabou de perder seus pais multi-milionários, ficando com uma quantia exorbitante a disposição de bandidos, além do mais há suspeita...
- Dominic! - o pai o repreende!
- Há suspeita do quê? - Fany olhou para eles interrogativamente... e quando viu que nenhum dos dois falaria continuou - Suspeita de assassinato? - a sua pergunta, foi uma mescla de interrogação com afirmação, as fichas começaram a cair dentro de si. Ficou um tempo olhando para um ponto fixo.
Como ela não tinha pensando nisso antes... faz todo o sentido! Mas pelo quê? Pelo dinheiro apenas? Precisavam tirar a vida dos seus pais por causa de dinheiro? Maldito dinheiro.
Uma lágrima sua rolou finalmente.
- Dominic, peça para Greta trazer água e chá. - o pai pediu com um tom autoritário que Fany desconhecia até então. O rapaz meneou a cabeça e saiu em silêncio.
- Ele não sabe do seu segredo Fany, mas sinceramente não sei até que ponto isso é bom. - disse calmo, assim que estavam a sós na sala.
- Mas Gustav sabe, ele deve ter outros seguranças, não preciso do seu filho! - contrapõe.
- Não posso arriscar sua vida Fany! - afirma.
- Faça uma procuração para o primo do meu pai... qualquer coisa... você deve saber o que pode te livrar dessa responsabilidade descabida. - Fany já estava irritada.
- Não posso! Até completar seus 18 anos, essa responsabilidade é intransferível. - disse com mais firmeza. - Além do mais, já falei com Gustav, e ele já sabe da minha decisão. Dominic irá com vocês como seu guarda-costas pessoal ou você não irá! - O tom do advogado a deixou surpresa mais uma vez, embora mesmo assim fosse tranquilo no modo de falar.
Fany e o advogado trocavam olhares quando Greta, Dominic e agora Gustav entraram na sala.
A garota acabou cedendo e sentou na poltrona expressando o quanto estava infeliz com tantas imposições, não sabia se era por ter que ter um segurança ou por ele ser quem era.
Olhou para os três homens ali parados e não tinha certeza de quem mais a desagradava naquele momento.
(...)
Gustav observava Fany na trajetória até sua casa - mais uma vez Jackson o motorista fora despachado -, a garota era forte, pelo menos era o que demonstrava, ela lembrava muito seu filho mais velho, a rebeldia, a vontade própria, as escolhas...
- Eu sei que tudo parece injusto... - disse o alemão com seu distinto sotaque que aos ouvidos de Fany passara a ser agradável, mas ela jamais admitiria - são apenas três meses querida. Vai passar rápido, você verá! - finalizou ao estacionar em frente a mansão.
Ela o olhou, buscando nele algo que lembrasse seu pai, - mas seu pai era totalmente diferente, puxou toda a família de seu avô italiano. Assim como ela. Não era só a Alemanha que tinha um sangue forte afinal.- Porém somente o físico não parecia... o modo como ele falava com ela, a ternura, tinha o mesmo tom de seu pai e isso a fez desabar em lágrimas ali mesmo, na frente de Gustav Muller.
Ele parecendo compreendê-la, apenas a abraçou forte. Palavras não seriam suficientes agora, nem significantes.
A verdade é que Fany estava perdida, a morte dubitável de seus pais, a briga recente com seu melhor amigo, a volta de Dominic, era muito pra ela suportar naquele momento... ela não era tão forte como pensava, ninguém é tão forte assim.