~04~
Evelyn
Eu não sei o que sentir primeiro. Pavor, vergonha, ódio, nojo... Mas cá estou eu convulsionando com o rosto enterrado no ombro dele. Mesmo que tudo se mistura, suas palavras antes do ato me deixam confusa com meus próprios sentimentos.
A confusão maior é que fui usada para um ato de vingança. O mensageiro disse que a irmã do rei sofreu muito... E o próprio rei disse que ela foi estuprada por meu pai e mais três homens. Mas eu paguei por um erro que não é meu.
A dor que sinto é muito mais que física. Eu quero morrer, porque mesmo que eu quisesse matar o homem a minha frente, minhas mãos sem força me trairão, e eu poderia sofrer muito mais do que no momento posso imaginar. A escolha de voltar enquanto fugia foi minha. Eu sabia que podia ser muito pior se eles me pegassem depois.
Ele é cruel com aqueles que entram em seu caminho, mas ele insistia em dizer que seria rapido, que não iria me machucar, mas ainda assim, eu preferia ter morrido degolada como meus irmãos e minha mãe, do que usada dessa forma baixa por uma vingança.
Sinto algo gelado sendo posto em minha mão e tento apertar o frasco.
— Minha irmã... Ela era apenas uma garota, mais nova do que você é agora. Ela veio para o seu bale... Eu estava viajando a negócios com meu pai por isso não pude acompanha-la. E seu pai a levou para o estábulo, onde lá aestuprou. Ela gritou, implorou por ajuda, mas ninguém veio, eles a machucaram de diversas formas. Quando eles acabaram, a mandaram para casa... Eu conhecia minha irmã. Ela era sorridente e falava muito, o tempo todo, mas ela se calou de uma forma assombrosa. Dandara parou de comer e beber, ela não saia do quarto. Até o dia em que fui vê-la e a fiz contar o que havia acontecido aqui... Eu jurei a ela que a vingaria, na esperança de que ela voltasse a comer. Mas ela não voltou ... Minha irmã faleceu de tristeza e desgosto pouco tempo depois.... Não demorou a meu pai morrer de tristeza também. Dandara era a garotinha de seus olhos, ele a amava... E ela se foi.
— Eu sinto muito! _ engasgo com o choro e balanço a cabeça em negativa. _ Eu não sabia! Eu juro! Eu não sabia!
— Você não tem culpa! Eu sei disso! Eu acredito nisso! Beba rápido o veneno, mas antes me diga se quer morrer aqui ou prefere um lugar mais pacífico...
Fungo com força levantando a cabeça e olhando para o frasco em minhas mãos que não conseguem se fechar. Tento não parecer apavorada, mas mal consigo respirar.
O ar parece faltar em meus pulmões e vejo aquele grande homem se por de pé diante de mim me olhando de cima com pena.
— Você seria uma boa rainha...
— Não!_ nego e ouço gritos desesperados vindos em nossa direção.
— MINHA MENINA!_ Meredith grita apavorada e um guarda a impede de entrar.
Minhas pernas criam forças de onde não sei que seria possível e arrisco alguns passos e sou traída por elas próprias. Caio no chão molenga, batendo a boca no chão. Os guardas abrem passagem e Meredith me alcança me aninhando em seus braços.
— Oh minha princesa! O que fizeram com você..._ ela chora desamparada afundando meu rosto em seu tórax. _ POR QUÊ VOCÊ FEZ ISSO? _ ela grita para o rei me apertando mais ao seu corpo. _ VOCÊ É UM MONSTRO! MINHA PRINCESA NUNCA FEZ MAL ALGUM! NEM MESMO PARA INSETOS! COMO VOCÊ PODE FAZER ISSO COM ELA?
Choro com força me agarrando a Meredith. Ela retira a sapatilha e joga no rei e volta a me abraçar.
— Oh minha menina ... Porque fizeram isso com você? Logo você... Você estava falando tão bem desse tirano mais cedo e de sua corja... Eu disse a você, minha princesa... E olhe o que ele fez com você!
— Eu fui gentil com ela ...
— GENTIL? VOCÊ A ESTUPROU! A USOU PARA UMA VINGANÇA BAIXA! QUE MATASSE O REI, MAS DEIXASSE MINHA EVE EM PAZ!
— Majestade, devo mata-la? _ Willy pergunta e me afasto de Mery e engatinho até os pés do rei, me agarro a sua calça o encarando diretamente. Ele pode ter matado toda a minha família, mas eu não permitiria que ele machucasse Meredith.
—Majestade, eu imploro, não a mate! Não a machuque!_ começo a chorar e convulsionar e o rei se abaixa e me põem de pé, segrando meus ombros e me olhando nos olhos._ nao machuca a Mery, eu imploro...
— Faremos o seguinte então. Eu não a matarei pelos insultos, mas você vem comigo para Dazzo em troca. Viverá como minha propriedade.
— Eu faço qualquer coisa, mas apenas não a machuque!_ continuo implorando e ele suspira pesadamente e olha para Meredith. _ Não machuque meu povo, eu pago pela mostruosidade do meu pai, mas os poupe...
— Você pode leva-la com você se desejar...
— Obrigada, majestade! Obrigada por poupa-los!
Ele me obriga a andar e me senta no trono, rapidamente retira sua camiseta e veste em mim a contra gosto.
— Servirá por hora. Partimos agora mesmo para Dazzo!
Ele se vira saindo e Meredith se levanta e se joga de joelhos a minha frente e me abraça com força, me amparando emocionalmente.
— Por que implorar por mim sua boba?
— Eu não poderia me perdoar se algo acontecesse a você Mery! _ sussurro chorosa e ela se afasta e tira os cabelos de meu rosto.
— Ele te machucou em mais algum lugar? _ nego e ela beija minha testa. _ Seu pai era um tirano! Ele merece um castigo por isso! Mas você não! Não tente pagar pelos erros dele, Eve!
— O rei... ele iria matar todo mundo, Mery, mas permitiu que você vivesse. Não importa o que custe, eu vou cumprir minha promessa de fazer qualquer coisa desde que você possa ficar segura! E não tente me impedir!
Um guarda se aproxima com a mão repousada sobre o cabo da espada. Ele acena com a cabeça para irmos. E Meredith me ajuda a andar mesmo que isso seja um grande esforço. Ela esconde meu rosto em seu ombro quando passamos pelos corpos de minha mãe e meus irmãos, meus pés caminham por cima da poça de sangue, e saio do castelo.
Abro meus olhos e vejo que os portões do castelo foram todos abertos para o exército do rei de Dazzo. Olhares se voltam para nós, principalmente para mim.
Archie olha por cima do ombro me vendo cair de joelhos no chão forrado de cascalho.
— A princesa Evelyn é minha posse agora! Ninguém tem o direito se toca-la, e o que fizer, perderá muito mais que a mão! Alguns de vocês devem estar se perguntando porque a deixei viva! Eu o fiz, porque ela foi boa quando ninguém mais foi! Estão todos avisados!
— Sim, majestade!_ o exército ecoou de forma estrondosa.
E vejo o mensageiro Rupert correr em minha direção trazendo um manto e me cobrindo com ele.
— Oh alteza ...eu sinto muito! Eu sinto muito mesmo!
Abraço o manto cobrindo melhor o meu corpo e vejo o rei vindo em nossa direção. Ele segura meu braçocom cuidado me obrigando a ficar de pé. E de repente, sou tirada do chão por seus braços.
— Vamos para Dazzo!_ ele ordena aos seus e uma movimentação rápida acontece. Uma carruagem chega e sou posta la dentro por ele. Archie se vira olhando para Meredith. _ Cuide bem dela! Não me faça arrepender de ter a deixado viva, velha!
— Velha é a sua mãe!_ ela resmunga e o rei a estrangula com o olhar enquanto Mery entra na carruagem e me ajeita mais perto de seu corpo.
— Venha Rupert!
O mensageiro corre e entra, parando na porta.
— Que fique claro que eu tenho repúdio pelo que você fez com ela!
— Lhe darei o direito de fazê-lo! Porque eu também não queria, por isso, não vou castigar você, por ajudá-la a fugir...
O rei fecha a porta da carruagem e ela começa a se mover. O trotar dos cavalos do exército de Dazzo treme o chão e nem mesmo vejo quando desmaiei sobre o colo de Meredith.
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Boa leitura!