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3

Chegando a bela residência onde vive Linda Villani, logo noto a presença de segurança por toda a parte, como na mansão em Província di Roma, o lugar é imenso. Fabian abre a porta do carro para mim, enquanto Linda sai pela outra porta falando com alguém ao celular. Fabian Schiavo é minha escolta pessoal, e pela maneira que vem se comportando desde que saímos da Itália, Michael deve tê-lo ameaçado de morte por ter me jogado no banco do carro enquanto deixávamos o convento. O homem está me tratando como se eu fosse feita de cristal, abrindo portas, cuidando até mesmo se subo ou desço alguma escada, e apesar de ter achado divertido nas primeiras vezes, está começando a me irritar.

Linda me trata com muita gentileza, apesar de não confiar nem mesmo em minha sombra depois de tudo, me sinto bem na presença dela. Ela sorri calorosamente enquanto entramos na casa, passando por um pequeno hall e indo em seguinte para uma sala confortável de onde posso ver outros ambientes. Em um deles uma garotinha vestida em seu pijama de unicórnio nota nossa presença e em seguida corre para minha anfitriã.

– Mamãe! – diz ela, genuinamente feliz em ver Linda, que a pega no colo quase chorando – você voltou!

– Eu não disse a você que seria rápido? – ela olhava para a menina como se não a visse a semanas – Senti tanto a sua falta, minha princesa!

– Eu também – ela abraçou a mãe com força, beijando seu rosto em seguida – trouxe presentes?

Aprecio a conversa delas, como Linda me disse, Morgan é esperta e fala o tempo todo, um raio de sol! Então a menina se vira para mim, e me olha como se estivesse decidindo se gosta ou não da minha presença.

– Quem é ela, mamãe?

– Essa moça bonita é Giulia, uma amiga da mamãe – disse Linda encorajando a menina a chegar mais perto de mim – ela ficará uns dias conosco.

– Olá, Morgan – me abaixo para ficar da mesma altura dela, e ela sorri – sua mãe me mostrou fotos suas, mas você é ainda mais linda pessoalmente!

– Obrigada! – ela diz, e olha para Linda – Podemos ficar com ela?

– Morgan! – Linda a repreende, mas eu acabo rindo da pergunta – desculpa, Giulia!

– Ela é linda, mamãe, e você e a vovó sempre dizem que tio Michael precisa de uma namorada – Morgan fala, e sinto que meus rosto fica vermelho.

– Seu tio Michael, hum... – Linda tenta mudar de assunto – querida, o que quer pedir para o jantar?

– Qualquer coisa? – a menina perguntou sorrindo – Pizza!

– Ótimo! – ela concorda – Você vai escolhendo os sabores com a Tina – ela indicou a babá da menina que estava perto – enquanto eu acomodo Giulia no quarto de hóspedes!

Depois de prometer a menina que não demoraria, subimos para o andar superior, enquanto Linda me fala sobre aquela casa ter sido ocupada por seu irmão antes de se tornar capo, e que o quarto dele seria o meu nos próximos dias.

– Hum, ele não vai se incomodar com isso?

– Não se preocupe, ele é um irmão desnaturado, quase não vem aqui – ela ri – e essa não é mais a casa dele. Sabe, eu me mudei para cá por insistência dele, depois que Freddy morreu – ela havia me contado sobre a morte do marido durante a viagem – Michael ainda morava aqui.

– Vocês parecem se dar muito bem – digo, enquanto entramos no quarto, tons mais escuros predominam.

– Sim – ela fala, enquanto abre a porta do closet e indica a do banheiro – pode ficar à vontade – tanto ela quanto eu ouvimos a voz de Morgan pelo corredor, procurando pela mãe.

– Linda, eu não quero atrapalhar, posso me virar por aqui – disse, pois a menina precisa da mãe – vou tomar uma ducha e desço em seguida.

Depois que ela sai, fecho a porta, respiro profundamente e pela primeira vez no dia sinto meu corpo relaxando, meus ombros doem, meus pés estão me matando nesse salto, e silêncio e ao menos alguns minutos sem notar que alguém está me vigiando é tudo o que eu mais desejo! Tiro os saltos, e uma sensação de alívio percorre meus pés, tornozelos e panturrilhas, não eram tão altos quanto os que Linda havia sugerido que eu deveria usar, mas para mim eram altos o suficiente para considerá-los uma tortura.

Vou até o closet e reparo que há algumas peças de roupas lá, poucas, mas que devem servir até que como disse Linda, fossemos autorizadas a sair de casa. A anfitriã está animada para me levar as compras, e eu não tenho dúvidas que fará disso um evento. Além das minhas roupas, reparo que alguns ternos, sapatos, acessórios masculinos ocupam uma pequena parte do closet enquanto estou me despindo e paro imediatamente. Aquele quarto todo parecia ter a presença de Michael Villani, como se ele estivesse bem aqui, me olhando com aqueles olhos impiedosos. Termino de me despir no banheiro amplo e claro, ansiosa por uma boa ducha, enquanto os acontecimentos desde que fui levada pelos Villani. Foi tudo tão rápido que chego a me perguntar se é real, ou se é apenas um sonho ruim do qual não consigo acordar, mas sou trazida a realidade quando sinto que minha mão ainda dói depois do tapa em Michael. Respiro fundo, sentindo meus olhos lacrimejando ao lembrar da maneira grosseira como ele falou de minha mãe. Pensar que as palavras dele era exatamente o que as pessoas falam a respeito de Donatella aperta meu coração, e mais ainda o fato de que naquele momento ele e meu tio devem estar decidindo meu futuro e me negociando.

Não foi por isso que minha mãe fugiu, afinal? Para poder viver sua própria vida, sem que a máfia decidisse por ela, e aqui estou eu, prestes a vivenciar tudo do que ela havia fugido a vida inteira. Gostaria de falar com meu tio, ele é um homem poderoso e temido, tanto ou mais que Michael Villani, e minha mãe sempre confiou nele, não quero acreditar que ele me entregará a um casamento arranjado com um homem como aquele.

Quando volto para o quarto, não sinto fome, mas a vida com Donatella ensinou-me que quando estamos em desvantagem, criar problemas não é uma boa estratégia, e estou certa de que tenho tempo para pensar em uma forma de escapar daquele acordo. Coloco um vestido simples e um tênis branco, e logo, desço para o jantar.

Morgan é uma garotinha adorável, e faz questão de se sentar ao meu lado, contando-me sobre a escola, suas bonecas com quem ela pretende organizar um chá no dia seguinte, para o qual eu e Linda seremos convidadas. A risada da menina é contagiante e sua companhia me faz esquecer por um momento do real motivo de estar em sua casa. Depois do jantar, Linda deixa que a filha assista ao desenho que ela tanto gosta por mais alguns minutos enquanto me oferece uma taça de espumante.

– Não contarei a ninguém – ela diz, piscando para mim e servindo-me uma taça.

A bebida é suave e falamos sobre Joe Cavalieri, meu tio. Linda aparentemente não tem queixas a seu respeito, e me revela que no dia seguinte ele virá, em companhia de Michael para me ver. Fico feliz com a notícia, mas o fato de que Michael também virá frustra meus planos de conversar a sós com meu tio, e tentar convencê-lo a não aceitar aquele arranjo. Eu preciso de tempo, para pensar em uma forma de escapar daquela casa, e da vigilância constante que me foi imposta.

Logo, Morgan dorme no colo da mãe que sobe para colocá-la na cama enquanto eu permaneço ainda por um tempo, bebendo o que Linda disse ser chamado pelo irmão de "bebida para mulheres". Não posso evitar um revirar do olhos, assim como já havia percebido que as roupas escolhidas para mim, eram para agradá-lo, e que parecia que não importava a opinião alheia, a dele sempre permanecia.

Volto para o quarto sonolenta, o que é bom, pois ao menos posso ignorar a sensação de que aquele quarto me parece uma extensão do controle de Michael Villani. Tomo um analgésico pois a dor de cabeça constante que estou sentindo desde cedo parece ter ficado mais forte, e logo vou para a cama.

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