CAPÍTULO 6
HANA
Quando o dia do desfile chegou era notório o estresse da Ingrid, eu fiz o café da manhã e respeitei o silêncio dela, depois de alguns minutos nós ouvimos o celular dela tocar e ela correu para atender.
Ingrid: É da agência Hana, volto já.
Ela saiu para área externa e voltou alguns minutos depois com a fisionomia um pouco melhor.
— E então? Porquê ligaram pra você?
A pessoa que iria ficar no meu lugar no desfile não vai poder comparecer e estão precisando de mim, eu disse que aceitaria se eu não precisasse fazer o book vermelho, a Flávia ficou de me dar um retorno, disse que iria falar com o Carter.
— Você acha que ele irá concordar com isso?
Ingrid: O Carter é aquele tipo de homem que não se permite errar, o desfalque de uma modelo o colocaria em uma posição muito ruim diante da marca contratante e diante dos outros clientes, ele não tem escolha.
— Como você consegue ter tanta paciência com esse homem? Ele nem respeita as suas limitações.
Ingrid: Pra te falar a verdade eu já estou começando a perder a paciência com ele, se não fosse a quebra de contrato eu já teria saído da agência a bastante tempo.
O celular da Ingrid tocou outra vez, e eu fiquei atenta a conversa dela, aparentemente a pessoa do outro lado da linha estava tentando negociar com ela, eu notei que ela ficou um pouco pensativa, mas depois disse que aceitava e que queria uma entrada para que eu pudesse ver o desfile.
Quando ela encerrou a ligação eu percebi que ela ficou um pouco apreensiva de me contar o conteúdo daquela conversa, mas depois eu entendi o motivo.
Ingrid: Eu vou participar do desfile.
— E ele concordou com você não fazer o book vermelho?
Ingrid: Eu vou fazer o book vermelho.
— Como assim Ingrid? Você tá maluca? Não foi você que disse que precisava dar um descanso pro o seu corpo?
Ingrid: Ele me ofereceu 80% Hana, não deu pra recusar, nós vamos precisar de mais dinheiro, eu não quero que falte nada pra você.
— Então você tá fazendo isso por mim? Na casa da minha mãe eu sobrevivia com o mínimo Ingrid, eu não preciso que você me dê luxo nem nada disso, principalmente nessas condições.
Ingrid: Na casa da sua mãe você vivia uma vida miserável, com o psicológico abalado, sofrendo assédios do seu padrasto, e você acha que ao chegar aqui eu iria permitir que você tivesse o mínimo?
— Eu só acho que não vale tudo por dinheiro.
Ingrid: Você fala isso porque nunca recebeu uma proposta irrecusável, no dia que você receber você irá entender do que eu estou falando.
— Você disse que o seu patrão só pensava no dinheiro e você não está fazendo diferente dele.
Ingrid: Não, nós somos completamente diferentes, eu não penso só no dinheiro, eu sou humana.
— Tudo bem, você está certa e eu prometi para mim mesma que não iria julgar você e olha só o que eu estou fazendo, me desculpa.
Ingrid: O bom disso tudo é que você vai poder ver o meu desfile, vamos até o meu quarto pra que você escolha um vestido lindo e digno de você.
Eu comecei a me animar e fiquei fascinada com a quantidade de vestidos que ela tinha no closet, era um mais lindo do que o outro, e eu saí experimentando todos, até que eu me apaixonei por um vestido preto brilhoso, o vestido ficou perfeito no meu corpo.
— É esse...
Ingrid: Excelente escolha, pode ficar com ele pra você.
— É sério? Obrigada!
Falei ao abraça-la.
Tiramos o restante do dia para nos produzirmos, e quando a noite chegou fomos para o local do evento.
Eu sempre fui uma pessoa muito observadora, e era notório o desejo com que aqueles homens olhavam para nós, mas algo que me chamou a atenção foi que eles não tinham coragem de se aproximar da gente, ele sorriam e davam tchau à distância, o que me trouxe um certo tipo de curiosidade.
— Ingrid por que esses homens não se aproximam da gente?
Ingrid: Santo Deus Hana, não passa nada por você, como você é observadora menina.
— E quem não perceberia isso? Eles parecem notar a gente ao mesmo tempo que parecem evitar.
Ingrid: A maioria desses homens pagam pelos nossos serviços, e a regra é bem clara, nós não podemos nos envolver com eles sem a permissão do Carter, como também eles não podem nos pagar por fora, se por acaso isso acontecer, nós somos demitidas da agência e eles não podem mais sair com nenhuma das garotas.
— E quem é o Carter desses homens?
Ingrid: Eu não estou vendo ele aqui, agora procura um canto para você se sentar que não estejam com as plaquinhas, pois essas são de clientes.
— Tudo bem.
Enquanto eu estava sentada, vários homens cochichavam entre si enquanto me olhavam, eu parecia um prato delicioso da qual eles gostariam muito de comer, eu tentei ignorá-los e esperei pelo desfile.
Algum tempo depois um lindo homem muito elegante e extremamente sexy sentou de frente para a passarela, eu confesso que eu nunca havia visto um homem tão lindo, eu notei que ele cumprimentou várias pessoas antes de sentar, e por alguma razão eu fiquei me perguntando se ele também pagava para foder as modelos da agência, e naquele momento eu adoraria ser uma delas.
O desfile começou e eu fiquei perdida com tanto luxo, as peças daquela coleção deveriam custar uma fortuna, e eu fiquei fascinada com o poder da Ingrid na passarela, ela havia nascido pra fazer aquilo, os homens não tiraram os olhos dela nem por um segundo.
Quando o desfile acabou eu fui tentar encontrá-la, mas como também ela estava me procurando, não foi difícil achá-la.
— Você foi perfeita na passarela.
Ingrid: Você gostou? Eu pareço experiente mas eu sempre fico nervosa.
— Os homens daqui são uns tarados, parecia que eles queriam devorar você.
Ingrid: Eu já estou acostumada com isso, agora eu preciso ir, você já sabe a senha da casa, então tranca tudo e tenha cuidado, eu tenho uma coisa para te contar mas não posso falar agora, quando eu chegar em casa se você ainda tiver acordada a gente conversa.
— Você não quer antecipar o conteúdo dessa conversa não? Você sabe que eu sou ansiosa e não vou conseguir dormir pensando nisso.
Ingrid: Antes de eu entrar na passarela o Carter anunciou que haverá uma seleção.
— E eu vou poder participar?
Ingrid: Eu não acho que você deveria querer isso para a sua vida, mas eu não vou ficar escondendo as coisas de você, quando eu chegar em casa a gente conversa, tudo bem?
— Tá bom.
Eu abracei ela e me misturei entre as pessoas até encontrar a saída.
Quando eu cheguei em casa eu tomei um banho, bebi um copo de leite e me deitei pra dormir, mas eu não consegui, eu pensei por várias vezes se eu seria capaz de aguentar as mesmas coisas que a Ingrid aguentava, e estava me sentindo uma hipócrita por ter a julgado mais cedo e depois estar me questionando sobre aquilo.
Ela chegou em casa às 02:30 da manhã, ela não parecia abatida, nem irritada, muito pelo contrário, ela estava feliz.
— Pelo visto dessa vez valeu a pena fazer o book vermelho.
Ingrid: Eu nunca havia saído com esse cliente, ele devia ter uns 35 anos, um verdadeiro gostoso, me fez gozar, e não me tratou feito um lixo, a única coisa que eu não entendi foi o fato dele não querer me dizer o nome dele.
— Talvez ele seja comprometido com alguém.
Ingrid: É, eu também pensei isso, mas mudando de assunto, porque você ainda está acordada?
— Eu não consegui dormir pensando na seleção que você disse que iria ter.
Ela mudou a fisionomia pra séria e sentou do meu lado.
Ingrid: A seleção é pra encontrar uma garota virgem, ela precisa ter entre 18 a 20 anos, precisa ser linda, atraente, sexy, pois esse é o padrão da agência, a garota precisa aceitar ser submissa, isso significa que o cliente vai amarrar você, fazer você sentir dor, vai tirar a sua virgindade com força, poderá enforcar você e tudo mais, então pra ser bem sincera com você, acho que você não precisa passar por isso, você pode se traumatizar, se sentir humilhada e pode até passar a rejeitar homens pela experiência traumatizante que teve logo na sua primeira vez, eu não gosto da ideia de você seguir o meu exemplo Hana.
— Eu não posso simplesmente ser modelo, sem precisar passar por isso?
Ingrid: Eu já expliquei sobre isso com você, pra ser modelo tem que fazer o book, mas tem algo que eu ainda não te falei.
— O quê?
Ingrid: O Cliente vai pagar 5 milhões pra quem aceitar.
— O quê? Perguntei enquanto levantava da cama quase sem acreditar naquilo.
Ingrid: As meninas da agência também tiveram essa mesma reação, pra quem nunca teve nada, realmente esse é um valor muito alto.
— Eu só teria que fazer isso uma única vez.
Ingrid: Você realmente está considerando participar da seleção Hana? Mesmo depois de tudo o que eu falei?
Hana: Isso mudaria a minha vida, e eu nunca mais iria precisar da minha mãe e daquele macho escroto pra nada.
Ingrid: Não era você que estava me dando lição de moral hoje mais cedo?
— Por favor Ingrid, eu sou capaz de suportar uma única vez pra não precisar suportar nunca mais.
Ingrid: Você promete que essa será a primeira e a última vez? Que se o Carter te oferecer uma proposta de contrato pra permanecer na agência você vai recusar?
— Prometo.
Ingrid: Tudo bem Hana, se é o que você quer, logo pela manhã eu irei levar você na agência pra seleção, agora vai dormir, já está tarde e não queremos olheiras nesse rostinho lindo.
Ela me deu um beijo e eu tentei dormir.
Pela manhã nós tomamos café e ela me perguntou outra vez se eu tinha certeza daquela decisão, mas apesar de eu estar apreensiva eu nunca estive tão certa.
Quando chegamos na agência eu vi muitas garotas lindas, e eu fiquei me perguntando o tamanho dos sonhos de cada uma delas. Será se eram tão grandes quanto os meus?
Como eu fui a última a chegar, eu também fui a última a entrar, a Ingrid ficou esperando na recepção enquanto eu resolvia tudo com a secretária do tal Carter, ela me explicou tudo o que a Ingrid já havia explicado e me fez assinar um termo de confidencialidade, ou seja, se eu não fosse aprovada eu não poderia falar pra ninguém sobre aquela proposta e nem sobre o que acontecia na agência.
Depois de longos minutos finalmente chegou a minha vez.
Secretária: Pode entrar Hana, levante a cabeça, mantenha a coluna ereta, e só responda aquilo que for perguntado.
Eu balancei a cabeça concordando e entrei no salão.
Quando eu vi aquele homem diante de mim eu tentei disfarçar o impacto que ele me causou, aquele era o mesmo homem que eu havia achado lindo na noite anterior, eu não sei como eu consegui me manter em pé em cima dos saltos.
Eu não tinha nenhuma experiência com homens, mas eu podia jurar que ele estava me olhando com desejo, eu me virei pra que ele pudesse olhar todo o meu corpo, mas quando ele pediu pra eu olhar novamente pra ele e ele se levantou, eu tive a certeza de que aquele homem estava querendo me usar de todas as formas possíveis, cada pergunta que ele me fazia, mais tensa eu ficava, e vários questionamentos passaram pela minha cabeça em uma fração de segundos, ninguém havia falado que eu teria que passar pelas mãos dele pra adquirir experiências, mas o que mais me deixou assustada foi ter ficado com a calcinha molhada diante daquelas informações.
A realidade era que pra mim ganhar 5 milhões de dólares, aquele homem que tanto a Ingrid dizia ser sem coração, teria liberdade pra fazer de tudo com o meu corpo, e eu iria aprender a deixá-lo de pau duro, e essa última parte me deixou com a respiração tão pesada que foi impossível disfarçar.
Aquilo não era nervosismo, era excitação, e ele sabia disso, tanto que riu, eu poderia ter recusado ao saber que nenhuma outra garota passaria por aquele teste, pois ele deixou claro que aquilo iria acontecer somente porque eu havia impressionado ele, mas em vez disso eu me retirei mesmo já sabendo a minha resposta, no fundo eu sabia que queria ser tocada por ele.