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CAPÍTULO 3

HANA

Eu me lembro daquele dia como se fosse hoje, o dia em que a minha mãe me expulsou de casa pra que o relacionamento dela pudesse funcionar, como se fosse eu o motivo de todas as brigas que ela tinha com o namorado dela.

Por várias vezes eu me perguntei que tipo de mãe faria algo assim, colocando o amor de um homem acima do amor de uma filha, homem esse que não valia porra nenhuma, homem esse que ficava olhando eu me trocar pelas brechas da porta, que ficava me olhando com desejo, como se eu não tivesse consciência de tudo aquilo que ele gostaria de fazer comigo.

Quando eu falei pra minha mãe o que ele fazia e que ela precisava encontrar um homem que a respeitasse, ela mandou eu arrumar as minhas coisas e ir embora, eu quase não acreditei naquela atitude.

O único teto que eu tinha pra ir, era a casa da minha irmã por parte de pai, era a única pessoa que eu sabia que iria me acolher e me ajudar a levantar, sem passar exatamente nada na minha cara.

Às 23:00 horas daquele dia, eu saí sozinha de casa, carregando uma mala de roupas, e eu não consegui ver nenhum resquício de preocupação por parte da minha mãe ao me ver saindo naquela hora, eu mal atravessei a porta, e ela fechou sem nem ao menos me desejar boa sorte naquela nova vida que ela estava me obrigando a ter.

Eu fiquei me perguntando até que ponto uma mulher é capaz de ir pelo amor de um homem? E por mais que eu tentasse entender a loucura que alguém é capaz de fazer por amor, eu não me via exercendo aquele papel, eu jamais iria permitir que um homem tivesse tanto poder sobre mim ao ponto de me deixar cega.

Eu não me permiti chorar, eu guardei toda a dor que eu estava sentindo pois eu tentei me convencer que a mulher que me gerou não merecia nenhuma lágrima se quer, ela havia feito a escolha dela, e a partir dali eu passaria a fazer escolhas sem me importar com ela.

Quando eu cheguei na casa da minha irmã, ela não me atendeu, logo eu imaginei que ela estivesse em algum desfile importante, afinal ela era uma modelo bastante conhecida, e uma das mais lindas do país, e eu tinha orgulho dela.

Eu olhei em volta pra saber se eu não estava sendo observada, quando eu vi que a rua estava deserta, eu caminhei até uma enorme pedra que tinha próximo aos jarros de plantas e a levantei pra pegar a chave reserva que eu sabia que ela sempre colocava lá.

Já do lado de dentro, eu percebi que o imenso jardim que existia lá, havia sido reduzido e dado lugar a uma piscina, tudo estava absurdamente lindo, um luxo, as portas de madeira haviam sido substitituidas por portas de vidro, o lugar já era grande, mas naquele momento eu vi que todo o lugar havia passado por grandes reformas e se transformado em uma casa de gente rica.

Eu sabia que ela ganhava muito bem com os desfiles, mas também sabia que ela devia uma fortuna pelos procedimentos estéticos que ela fez e não conseguiu pagar, se tornando uma imensa bola de neve, e da última vez que nos vimos, ela disse que todo o dinheiro que recebia, era pra pagar a dívida.

— Será que ela arrumou um namorado rico?

A dúvida me consumiu, mas nós teríamos bastante tempo pra conversamos sobre aquele assunto.

Eu tentei entrar na parte interna da casa e não consegui, ela havia colocado fechaduras eletrônica em todas as portas, a minha única saída foi ligar pra ela, mesmo correndo o risco de atrapalhar algum trabalho que ela pudesse estar fazendo.

Eu liguei várias vezes e não obtive sucesso.

— Que droga, se eu colocar a senha errada aqui, o alarme vai acionar, é melhor eu não tentar.

Eu caminhei até uma cadeira de sol, deitei e tentei ignorar o frio, o sono logo chegou, me tirando por um momento da bagunça dos meus pensamentos.

Eu acordei com uma mão balançando o meu ombro, eu estava meio atordoada, mas logo me conscientizei do lugar onde eu estava.

Ingrid: O que aconteceu Hana? Você passou a noite no relento? Porque você não me avisou que vinha?

— Eu não sabia que eu vinha.

Ingrid: Vamos entrar e tomar um chá antes que você adoeça.

Eu apenas concordei com a cabeça e me levantei sentindo o meu corpo inteiro doer.

Ao entrarmos na casa, eu senti o cheiro de móveis novos, o lugar inteiro havia sido modernizado.

Eu parei no meio da sala incrédula e depois a encarei.

— Como foi que você conseguiu fazer tantas melhorias aqui tendo tantas dívidas?

Ela levou uma das mãos até o pescoço e logo ficou de costas pra mim, mas deu pra perceber perfeitamente as marcas roxas no pescoço dela.

— Que marcas são essas no seu pescoço Ingrid?

Eu segurei no pulso dela e a fiz olhar pra mim, o olhar dela estava frio, ela parecia outra pessoa, como se toda aquela doçura tivesse desaparecido em um piscar de olhos.

— O que você está escondendo de mim?

Ingrid: Vai tomar um banho quente Hana, eu vou fazer um chá pra você e depois conversamos.

Ela foi em direção a cozinha e eu fiquei preocupada com o tipo de coisa que ela estava metida.

Eu tentei tomar um banho rápido, depois coloquei uma roupa confortável e proucurei por ela que já estava sentada na mesa me aguardando.

— Pronto, agora me fala que marcas são essas no seu pescoço?

Ingrid: Você chegou aqui que horas?

— Eu te fiz uma pergunta primeiro e quero respostas Ingrid.

Ingrid: Você esqueceu que eu sou a irmã mais velha e que é você que me deve explicações e não eu?

— Se eu falar tudo pra você, promete que depois você me explica o que está acontecendo?

Ingrid: Sim, eu prometo.

Eu respirei fundo, buscando coragem pra revelar tudo o que eu escondi ao longo de dois anos.

— A minha mãe me expulsou de casa depois que revelei pra ela que o namorado dela ficava me espiando nua, e que ela merecia um homem que a respeitasse, ela não acreditou em mim, ela disse que o problema era eu.

A Ingrid se levantou transtornada.

Ingrid: Desde quando isso está acontecendo? Porque você nunca me falou nada? Você não podia ter escondido isso de mim Hana. E que lixo de mãe é essa que não acredita na própria filha? Anda, levanta, nós vamos denunciá-lo agora.

— Eu não vou, eu só quero poder viver a minha vida Ingrid, é por isso que estou aqui, pra você me ajudar a seguir em frente e esquecer que algum dia eu passei por isso.

Ela me abraçou e eu pude finalmente desabar.

Ingrid: Eu só não entendo o motivo de você não ter me dito isso antes Hana, você sabe que eu sempre estive aqui pra você.

— Desculpa, mas eu tinha medo de ninguém acreditar em mim, e quando finalmente eu tive coragem pra contar, foi exatamente isso o que aconteceu.

Ela segurou o meu rosto e me olhou no fundo dos olhos.

Ingrid: Eu acredito em você entendeu? Você promete que nunca mais vai esconder as coisas de mim?

— Prometo.

Ingrid: Você vai morar comigo, e juntas vamos conseguir viver bem e felizes.

Eu limpei as lágrimas dos meus olhos, e depois voltei a questioná-la sobre as marcas no pescoço dela, pois assim como ela não queria que eu escondesse nada dela, eu também esperava o mesmo.

Ingrid: Tudo bem, você já é grande o suficiente pra saber dessas coisas.

Eu não ganho dinheiro apenas desfilando Hana, eu ganho também fazendo book vermelho.

— Book vermelho? Que diabos é isso?

Ingrid: Eu desfilo pra um monte de filhos da puta, e se alguém se interessar por mim, pagam uma fortuna pra me levarem pra cama. É isso.

Eu fiquei horrorizada, tentando assimilar o que aquilo significava.

— Você está se prostituindo?

Ingrid: Eu estou ganhando dinheiro.

— A que custo?

Ingrid: O custo não importa, desde que eu tenha uma vida longe de dívidas Hana.

Naquele momento eu tentei me colocar no lugar da Ingrid, e cheguei a conclusão que eu não deveria julgá-la, afinal na situação em que eu estava, era bem provável que eu seguisse o mesmo caminho.

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