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Capítulo um

Ela jurou que aquela festa seria ótima.

Gabriela me atormentou a semana inteira, pediu e implorou para acompanhá-la e eu acabei cedendo.

Ela prometeu que seria incrível e que eu precisava conhecer pessoas novas.

Mas eu já conhecia: ela.

Nunca fui muito de socializar com as pessoas, presumo que fortaleci meu elo com ela por conta de trabalharmos juntas na mesma empresa.

Por ser uma empresa de materiais cirúrgicos e ela ser uma das vendedoras, conheceu um médico jovem que a convidou para uma festa.

Não imaginava que essa festa voltaria à tona depois de tantas semanas. Cá estou eu, olhando desacreditada para o teste positivo na minha mão, jogada no canto do banheiro da minha casa.

Pensei que não poderia ficar pior, mas eu não lembrava quem era o pai. Eu não lembrava de boa parte daquela festa em uma mansão imensa. Lembro apenas de olhos azuis e o corpo quente contra o meu, lembro do seu cheiro agradável e da voz rouca, mas se colocá-lo na minha frente, jamais reconheceria. Esse é um dos motivos pelo qual eu costumo não sair.

Abaixei a cabeça e coloquei ela entre as minhas pernas finas. Isso não pode estar acontecendo comigo, justo comigo. Grávida aos vinte e quatro anos de um homem desconhecido, parabéns você ganhou um prêmio de burra do ano.

Seria engraçadíssimo contar para os meus pais...meus pais.

- Porra! - Levantei a cabeça em choque.

Meus ombros pesaram e senti o gosto amargo subir pela minha garganta, foi o tempo de inclinar até o vaso e despejar tudo ali.

**

Gabriela entra no escritório apressada e tranca a porta assim que passa por ela. Os seus saltos fazem barulho até chegar na frente da minha mesa e apoiar as duas mãos, inclinando-se pra mim. Fez uma careta ao ver meu rosto com olheiras fundas e olhos vermelhos.

Por isso não aparecia no trabalho há três dias e ignorava qualquer tipo de mensagem.

Porém, hoje resolvi mandar um: to grávida. Pra ela.

- Você o que, Amélia? - Indagou, franzindo o cenho.

- Xi! - Adverti, a última coisa que eu queria era perder esse emprego.

- Grávida? - Perguntou baixinho. Acenei com a cabeça e ela fez uma careta triste.

- Pois é. Vou passar o natal grávida e isolada no meu apartamento sozinha.

- Não ia para os seus pais? - Questionou confusa.

- Se eu chegar lá grávida e ainda por cima sem um pai, eles morrem. Cidade pequena, meu pai é antigo, minha mãe então... Com certeza me prenderiam na parede e dariam chicotadas.

Era nítido o seu descontentamento com a situação, e após negar vinte vezes para ela que não precisava cancelar sua viagem pra ficar comigo, ela se rendeu e sentou na cadeira.

- Estou tão assustada. - Assumi, sentindo minha vista arder.

Ela levantou rapidamente e veio ao meu lado, dando um abraço acolhedor. Me desmanchei, pela primeira vez chorei feito uma criança assustada.

Gabriela sempre foi uma ótima amiga nos três anos do qual eu morava aqui. Incrivelmente prestativa e engraçada, com um gosto peculiar para homens.

- Você não vai ficar aqui sozinha. Não mesmo! - Avisou com um tom de voz mãe-mandona.

- E eu vou fazer o que, alugar um pai para o meu filho?

- Ei. - Pude ver uma lâmpada acender acima da sua cabeça, e não gostei disso.

Ela se afasta e cruza os braços pensativa.

- Tenho um primo...

- Gabriela Menezes... - Repreendi.

- Ele é um gato, só que não presta, porém faz tudo por dinheiro.

- E eu pensei que isso não poderia ficar pior. - A risada escapou entre os meus lábios.

- Ou podemos procurar o pai do bebê. - Da os ombros, parando na frente da mesa.

- Acho ótimo! - Falei em uma falsa empolgação -, podemos falar: olá, engravidei de você, quer passar o natal comigo?

Massageei as têmporas, aquilo estava me dando uma dor de cabeça danada.

Uma hora meus pais teriam que saber que eu estava grávida, mas queria adiar o máximo possível e de preferência dar a notícia com uma distância segura deles e dos seus julgamentos.

Me sentia uma adolescente, uma bela adolescente irresponsável.

**

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