Capítulo três
- Então vai sem ninguém e deixa eles te queimarem na fogueira. - Deu os ombros com naturalidade.
A ideia da Gabi não era ruim, só quem conhece os meus pais sabe o quanto eles iriam conseguir destruir o meu Natal com o típico comentário "Mas e o pai?" ou com aquele olhar de piedade.
Céus, uma mulher não pode engravidar e não lembrar quem é o pai? Eu hein.
- Afinal, quem é ele? - Me dei por vencida. Confiava na Gabriela, ela não me colocaria em uma enrascada.
Pensando pelo dia que ela me chamou para um encontro às escuras, onde o boy dela era maravilhoso porém ronronava para comer - gostos peculiares lembra!?- e o meu batia no meu ombro, o detalhe é que eu fui de salto e me senti passeando com uma criança. Sem contar que ele era gago.
Acabo de me arrepender por ter perguntado.
- Ele é bonitão. - Elogiou animada. - Tem vinte e sete anos, a família é ótima, ele que é a ovelha negra. Mas não de maneira ruim ou violenta, ele ainda tem espírito de menino, talvez isso que falte em você.
- Pode ser que tenha um dentro de mim, você acha que falta menino?
- Não! - vira os olhos - Um pouco de animação sabe, positividade. Poxa, é Natal amiga.
Ela tinha razão. Não podia me excluir do mundo e me isolar no meu apartamento por conta de uma gestação.
Sou auto-suficiente para cuidar dessa criança, e depois da crise de pânico dos meus pais, eles vão querer alugar a casa da frente.
Os dois dias que seguiram foram de vômitos e enjoos, não sabia se era pelo fato da gravidez ou nervosismo já que o primo da Gabriela estava a caminho.
Vão ser apenas seis dias, o que pode acontecer de pior é ele dizer na ceia que é alugado.
A portaria interfonou e eu autorizei a entrada dele. Sinto as mãos soadas e o coração bater forte contra o peito, a ânsia vem novamente e eu tento ignorar enquanto ando pela sala de um lado para o outro. Resolvi mandar uma mensagem para a Gabi.
Amélia
Gabriela, já estou arrependida.
Gabriela está digitando...
A campanhia tocou.
Fechei os olhos com força e balancei a cabeça diversas vezes.
Tocou novamente. Ele sabia que eu estava ali, por que não esperava?
Mais uma vez.
Gabriela
Ele é um gato, vc vai adora. Bjs na criança
Bloqueei o celular após ele apertar a campanhia pela quarta vez e abri a porta.
Céus...
Alto, aproximadamente 1,80cm com cabelos negros e pele bronzeada, olhos castanhos penetrantes.
- Olá! - Deu um sorriso jovial, balançando a mão na frente do meu rosto.
- O-oi.
Ele é bonito demais.
E eu estou parecendo uma retardada.
Além de alugar ele pra ser pai do meu filho.
- Tem malas!? - Entrou sem ser convidado, andando com os braços soltos. - Posso ajudar?
- É, claro. - Fecho a porta e sigo o perfume gostoso que se instalou no meu apartamento.
- Estou ansioso. Gabi disse que é interior né? - Começou a falar e pegou as minhas duas malas uma em cada mão com facilidade.
As mesmas malas que eu tive que arrastar até a sala.
As veias saltaram no seu antebraço e os músculos do seus braços apareceram na sua camiseta branca.
Ele ainda estava sorrindo.
Tentei sorrir de volta, mas pela expressão dele não deve ter saído como eu esperava.
Marco me ajudou a trancar tudo e fez questão de abrir a porta do elevador. Desajeitado e atrapalhado, mas abriu.
Na portaria deu tchau para o porteiro como se fossem amigos, pegou a pequena mochila dele e jogou no ombro.
Tentei levar minha bolsa, mas ele não aceitou.
- Você está grávida, não pode carregar peso. - Insistiu, mas eu queria ajudar.
Abriu o porta-malas e colocou as malas lá cuidadosamente. Agradeço por isso.
- Estou um pouco assustada. - Comentei enquanto passávamos o cinto.
Depois de quase chutar ele, consegui convencer de que eu poderia dirigir sem entrar em trabalho de parto com um mês de gestação.
- Com o que? A gravidez ou sua família?
- Com você. - Falei e sorri com a falsa cara de espanto dele.
- Eu? - Colocou a mão no tórax, foi impossível não olhar o quanto ele era sexy. - Sou um amigo que está te ajudando.
- Sendo pago para me ajudar. - A forma como aquilo mexia comigo ficou explícita na minha voz.
- Quando a Gabi comentou, eu não pensei duas vezes antes de aceitar, Amélia. - Pela primeira vez seu tom de voz foi sério.
- A quantia foi boa? - Zombei e ele balança a cabeça.
- Nenhuma mulher tem que passar por isso sozinha. Eu posso ser o bode negro da família mas...
- Ovelha. - Céus! Por que eu o corrigi quando ele estava falando algo tão bonitinho?
- Você acabou com o momento. - Indagou e soltou uma gargalhada gostosa. Os dentes brancos reluziram e seria bom observá-lo assim por um tempo.
Em poucos minutos de viagem, Marco já havia contado da infância, adolescência e grande parte da vida adulta.
Falou o suficiente para me deixar mais tranquila e familiarizada com ele.
Enquanto ele ria da minha história do dia que engravidei, percebi que aquela viagem poderia ser melhor do que eu imaginava.