Capítulo 9
Mas, acima de tudo, essa maneira de fazer sexo permitia que ela sempre mantivesse o distanciamento de que precisava. Porque para ela o sexo era simplesmente um prazer proibido, que explodia do baixo ventre e se irradiava pelo resto do corpo, deixando você sem fôlego e com a mente vazia. Isso era sexo para ela. Não havia sentimentos, não havia lugar para eles em sua cabeça já muito confusa, em sua alma desiludida.
- Se ele descobrir que fizemos isso de novo no quarto dos pais dele, eu cuidarei disso", ela garantiu, sabendo que Kaden nunca ficaria muito bravo com ela.
Ela e o garoto eram amigos há anos. Ela foi a primeira pessoa que ele conheceu no momento em que entrou no campus de Harvard. Kaden havia crescido em um subúrbio rico de Boston. Filha única, ela chegara por milagre a uma pequena família que precisava dar todo o seu amor a uma nova e preciosa criança.
Ela sempre teve um relacionamento maravilhoso com seus pais ricos, um neurocirurgião americano renomado e uma bióloga marinha que trabalhava no MIT. Assim, depois de se formar, ele nunca quis se afastar deles, escolhendo Harvard, que ficava a pouco mais de meia hora de casa.
Kaden era talvez o único que não estava apaixonado por ela, porque a conhecia bem demais para ser dominado pelo magnetismo do primeiro impacto. Ele sabia como ela podia ser cruel e disfuncional. Às vezes, até o assustava um pouco o fato de ele não conseguir entender se ela dizia certas coisas com sarcasmo ou se realmente estava falando sério. Ou talvez fosse por ter estudado psicologia que ele conseguia reconhecer os distúrbios comportamentais da garota.
Mas ele a amava. Apesar de todos os seus defeitos e daquelas qualidades quase intimidadoras, ela era uma pessoa agradável para se passar o tempo. Se você conseguisse ganhar a confiança dela, ela era uma linda garota com quem você poderia fazer confidências, sair, se divertir, chorar e criar lembranças indeléveis de sua vida.
E então ele sabia melhor do que ninguém o que havia acontecido durante sua infância e adolescência. Ele era o único, além dela, que conhecia todos os detalhes. É por isso que ela entendia um pouco de seu caráter e de sua maneira de fazer as coisas, afinal ninguém nunca havia lhe ensinado nada diferente.
Quando Carter a fez deitar-se de bruços no colchão, deslizando para trás dentro dela e soltando um gemido gutural, a garota instintivamente apertou as pernas, fazendo todos os músculos se contraírem. O rapaz começou a se mover em um ritmo acelerado e todos os pensamentos pareciam ter desaparecido da cabeça de Ember.
O sexo sempre foi seu remédio favorito, pois curava tudo.
Infalível, ou pelo menos por enquanto.
- Eu juro que vou matar você! - A voz de Kaden, juntamente com a mão batendo insistentemente na superfície da porta, chegou a seus ouvidos, interrompendo os gemidos e as investidas.
A garota virou a cabeça e olhou nos olhos de Carter. Então, os dois caíram na gargalhada, como duas crianças correndo atrás de uma piada. Eles adoravam provocar e irritar Kaden, achavam divertido quando ele usava aquela expressão séria e tentava falar alto.
- Meus pais dormem nessa cama! É possível que vocês não consigam encontrar outro lugar para acasalar como coelhos? - ele perguntou retoricamente, revirando os olhos e ficando cada vez mais convencido de que tinha sido uma boa ideia trancar o quarto sempre que eles estavam por perto.
Para os dois rapazes, entretanto, encontrar um lugar para fazer sexo em paz foi mais difícil do que o esperado. Nos dormitórios, eles já haviam feito isso várias vezes, mas sempre tinham de esperar que os vários colegas de quarto estivessem ocupados em algum lugar e, acima de tudo, certificar-se de que não havia supervisores por perto.
Uma vez, eles também tentaram fazer isso no carro de Carter, mas, além de ser bastante desconfortável, por ser um modelo esportivo e não um SUV, eles também estiveram perto de serem vistos pela polícia.
Você precisaria de uma casa, mas a de Ember estava fora de questão, além de ser em Seattle, ou seja, na costa oposta. Já a casa de Carter, que ficava a apenas duas horas de carro, ainda estava fora de cogitação, porque a garota nunca, jamais, iria querer correr o risco de encontrar seus pais. Ela não se dava mais bem com seus pais e certamente não estava interessada em conhecer os parentes de outras pessoas.
Portanto, sua única opção segura era a casa de Kaden, sempre que ele organizava uma festa para sua empresa.
- Merda... - disse o garoto, sentando-se ao lado dela depois de gozar. Ele passou a mão na bunda dela enquanto os dois tentavam recuperar o fôlego.
E então Ember se levantou rapidamente da cama, sentindo imediatamente a necessidade de fazer xixi. Carter a seguiu e entrou no chuveiro. Alguns segundos depois, enquanto ela discutia se deveria ou não entrar com ele, sua mente começou a pensar novamente e seu humor mudou rápida e inesperadamente.
Ela correu para o quarto, sentindo toda a situação íntima começar a apertá-la, sufocá-la.
- Você quer voltar para o andar de baixo com os outros? - e a voz de Carter, que chegou aos seus ouvidos, seguida pela figura dele, lhe deu o golpe final.
- Acho que vou para o campus", disse ela em voz baixa, vestindo a roupa íntima e pegando o vestido. O rapaz vestiu a camisa, franzindo a testa, confuso com a declaração. Normalmente, Ember era sempre a última a sair de uma festa.
- Você quer que eu vá com você? ele perguntou, mas ela já tinha parado de ouvi-lo, saindo do quarto com os sapatos nas mãos.
A personagem de Ember costumava ser muito mal-humorada. E, naquele momento, ela só queria ir embora dali e ficar sozinha. De repente, ela não suportava mais ter o garoto e todas as suas atenções ao seu redor. Não suportava a música que vinha do andar de baixo e o cheiro de grama que agora permeava toda a casa.
No entanto, até poucos minutos atrás, nada disso havia lhe causado qualquer desconforto.
-ASCUA! Onde você está indo? Ela ouviu a voz de Kaden perfeitamente, mas decidiu ignorá-la. E enquanto ele pulava do sofá, abandonando a garota que se esfregava contra ele, para segui-la, Carter desceu as escadas apressadamente, ainda determinado a amarrar as calças.
Mas quando os dois chegaram à porta, a garota já estava longe. Ela havia saído para a chuva torrencial, que marcava o fim efetivo do verão.
-Você discutiu? Kaden perguntou, levantando uma sobrancelha e mantendo o olhar na figura de Ember, que estava se afastando cada vez mais.
- Não, do nada ela decidiu ir embora. Ela fez tudo sozinha", explicou Carter, balançando a cabeça e se afastando. - Você sabe melhor do que eu como ela pode ser mal-humorada", acrescentou ele, antes de voltar para a sala de estar.
Os passos de Ember logo se transformaram em uma corrida rápida, querendo chegar ao dormitório o mais rápido possível. Mesmo ela não conseguindo explicar essas mudanças repentinas em seu humor, disse a si mesma que talvez todas as emoções que ela sempre reprimiu, de tempos em tempos, lutavam entre si para vir à tona e uma, geralmente a errada, prevalecia sobre a outra.
Ela considerava essa uma teoria estúpida, até mesmo um pouco infantil, mas era o suficiente para evitar que ela se considerasse louca.
Tão absorta em seus pensamentos que nem se deu ao trabalho de verificar suas pernas, que continuavam a se mover, fazendo-a andar. E ela andou, por quilômetros e quilômetros, sem nem mesmo perceber o que estava ao seu redor.
Ela deixou os subúrbios para trás, atravessou a ponte Longfellow e seguiu em frente. Não se importava com o fato de a chuva continuar batendo em seu corpo frio, não se importava com o fato de seus pés queimarem de tantos passos. Ela precisava limpar a mente e simplesmente deixar os pensamentos em sua cabeça fluírem, livres, graças à solidão da noite que a cercava.
E então, de repente, como se despertasse de seu transe, ela percebeu que à sua frente estava a torre da Universidade de Harvard.
Ela estava caminhando há mais de uma hora, sem nem mesmo perceber. E isso era apenas mais uma confirmação do quanto sua mente era capaz de mantê-la prisioneira.
Ela contornou o prédio principal, continuou por mais alguns metros e finalmente se viu em frente ao prédio que abrigava seu quarto. Ela olhou para aqueles tijolos vermelhos, perfeitamente empilhados uns sobre os outros, a escuridão dominava tudo e a única luz vinha das janelas de alguns cômodos.
Um som fraco chamou sua atenção. Era o celular dela, vibrando em sua pequena bolsa. Ela ficou parada por mais alguns segundos, sem saber o que fazer. Por um lado, ela queria ignorar aquilo, entrar, ir para o quarto e dormir. Mas, por outro lado, a curiosidade de ver quem havia escrito para ela parecia prevalecer.
Ele pegou o telefone, tocou na tela e o acendeu.
- Seria melhor se você chegasse na sexta-feira de manhã, porque sua mãe e eu temos compromissos de trabalho. -