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Capítulo 1

*Sienna*

Um grampo de cabelo... um grampo de cabelo é tudo o que eu preciso.

Ou um pé de cabra, talvez.

Fiquei trancada para fora de casa, depois que London e Amberly saíram. De novo. Normalmente, eu costumava contar com a carona de Cage do hospital para casa. Ele tinha uma cópia extra das chaves. Das minhas chaves, que haviam ficado sobre a mesa da cozinha essa tarde.

Mas, agora, eu não posso mais contar com Cage, Amberly vai passar o fim de semana na casa dos pais e London mal começou seu turno como barista no Brookes. Então isso me deixa em um grave dilema.

Grampo de cabelo ou pé de cabra?

Enquanto eu estudo as minhas opções, a porta do apartamento ao lado abre e eu quase vomito nos meus sapatos.

Nicholas Russel, o meu vizinho. Ele tem aquele sorrisinho displicente no rosto e aquele ar de indiferença forçada, que fazem mulheres tolas confundirem sua arrogância com um tipo de charme irresistível.

Como de costume, Nicholas não está sozinho - claro. Há uma loura com seios do tamanho de bolas de futebol pendurada no seu pescoço. O vestido dela mal cobre o útero de tão curto. É tão clichê que eu poderia estar dentro das páginas de um romance barato.

- Você me liga amanhã, Nick?

Eu sorrio comigo mesma.

Querida, ele não liga nunca.

Minha experiência pessoal como vizinha de Nick garante que aquele é o pior tipo de vagabundo. Além de nunca sair duas vezes com a mesma mulher, o cara não tem sequer um emprego! A não ser que estar em uma banda de rock amadora possa ser classificado como trabalho, o que eu duvido muito. A princípio, fiquei encucada em saber como é que ele pagava as próprias contas. Então, quando o primeiro aluguel chegou, eu entendi.

Ele não paga.

- É um golpe comum - Amberly disse, quando comentamos o assunto em uma noite da pizza. - O cara não paga e quando chega o aviso de despejo, ele se muda.

Aquilo não me surpreendeu nem um pouco. A mente diabólica combina com a fachada perigosa de astro do rock. Um astro do rock fracassado, convenhamos. Sua banda sobrevive da caridade dos bares espalhados pela cidade e ele não parece se envergonhar nem um pouco disso.

Por isso mesmo, não entendo o desespero das garotas em pularem no seu colo. Ou na sua cama. Nick Russel é o tipo de cara que eu pagaria uma grana para ver longe de mim. Como uma praga, uma doença. Ou um tsunami. Ele morava ali há menos de dois meses e já estava me enlouquecendo.

É por esse motivo que eu dei um apelido para ele.

- Boa noite, vizinha - o idiota abre um sorriso preguiçoso que fez meus olhos revirarem nas órbitas.

- Boa noite, peste. Como vai? Já conseguiu o dinheiro do aluguel desse mês?

Nick levanta as sobrancelhas e olha para a sua acompanhante, em sinal de advertência, como se ela fosse uma presença ilustre que não devesse ser incomodada com pequenos detalhes.

- Pode deixar. Eu ligo para você, linda.

Reviro os olhos. Todas as garotas para ele são "linda". O único motivo em que consigo pensar é que Nick é incapaz de lembrar o nome das garotas que leva para a cama, o que é nojento.

- Quando? - ela pergunta, ronronante.

- Quando eu tiver a chance de te levar a um lugar caro e bonito, do jeitinho que você merece.

- Ou seja, nunca. Desempregados não vão muito longe.

O último comentário é feito em tom de desabafo. Não tenho a menor intenção de que eles ouçam, mas é isso o que acaba acontecendo e a garota gira nos quadris, olhando para mim pela primeira vez desde que chegou ali. Seus olhos me medem da cabeça aos pés com um brilho de ameaça, antes de ela se virar para Nick de novo com uma pergunta silenciosa nos olhos.

- Não liga para ela. Sofre de transtorno bipolar, é tão triste...

- Ah, certo - ela passa a mão pelo peito dele por cima da camisa. - Vou esperar você ligar, Nick. Mas não demora porque eu posso esquecer a razão para eu ter ficado com você.

"Que razão?", eu me pergunto.

- Muito antes do que você imagina. Enquanto isso, vou dar algo para você não esquecer.

Virar o rosto me salva de ver Nicholas enfiar sua língua nojenta na garganta da garota, mas não me impede de ouvir os sons de prazer que ela emite. Se alguém é capaz de gozar com um beijo é essa garota. Credo! Eu tento me concentrar na busca do meu precioso grampo de cabelo, mas os gemidos dela estão me levando à beira da insanidade. Morro de medo de olhar e flagrar os dois pelados contra a parede do corredor.

Eu abano o pescoço. Um calor vai se espalhando pelo meu corpo. Que droga está acontecendo? Tiro o jaleco e enfio na bolsa, ao mesmo tempo em que ouço Nick sussurrando alguma coisa. Não entendo o que é, mas o som da sua voz é macio e suave como veludo.

Com um grunhido de satisfação, eu encontro o grampo escondido no fundo da bolsa. Fico tão ocupada, bancando o 007 e enfiando aquela droga no buraco da fechadura, que esqueço todo o resto.

P

or que tem que ser tão difícil? Parece tão mais fácil nos filmes de ação.

Franzo a testa, extremamente frustrada. Viro o grampo de lado, tento de outra forma. E nada. Se eu não conseguir, estarei fadada a esperar por London no corredor do prédio e isso quer dizer quatro ou cinco longas horas de chão duro e pescoço dolorido. Por isso, eu me empenho ainda mais. Estou quase de língua de fora agora. Continuo brigando com a porcaria da fechadura e nem percebo o meu inferno astral em forma de vizinho se aproximando.

Logo ele está prostrado ao meu lado com aquele sorrisinho desprezível no rosto.

- Sienna Connor... fazendo bico de chaveiro?

Aperto os lábios, me virando para ele com o que espero ser um sorriso gentil.

- Olá, Nick! O que aconteceu com a sua vítima nova? Conseguiu fugir?

- Até parece - ele bufa, revirando um par de olhos que parecem ter sido delineados com maquiagem. São olhos verdes e muito expressivos. - A linda é um amor. Muito doce e... feminina, diferente de algumas pessoas.

Sem pensar, eu abaixo a cabeça e olho para o que estou vestindo. Jeans, tênis e uma regata branca. Mas espera aí, essas são minhas roupas de trabalho! Isso e o jaleco de técnica em enfermagem do Hospital Saint Patrick, com o meu nome bordado no peito em letra cursiva azul.

Quando olho para cima, outra vez, ele está sorrindo.

Caramba, como sou idiota!

Determinada a não alimentar mais sua constante necessidade de atenção, eu dou as costas a Nick e continuo forçando a fechadura.

Resmungo qualquer coisa e ele prende o riso. O grampo ficou preso lá dentro. Com raiva, seguro a maçaneta e chacoalho com força.

- Força, Hulk - ele provoca.

- Cala a boca, idiota. Se não vai ajudar, por que não dá o fora?

- E onde está o seu gatão? - ele olha ao redor, encostando de lado na parede e cruzando os braços na altura do peito. - Não tenho visto muito ele por aí.

- Cage não vai mais aparecer por aqui com frequência - tento não demonstrar, mas ele acabou de enfiar o dedo e rasgar a ferida, mesmo sem saber ainda. Felizmente, não tenho por que mentir. Nick, provavelmente, vai descobrir em breve e a humilhação vai ser muito maior se eu for pega mentindo. - A relação não estava dando muito certo.

- Vocês terminaram?

- Sim.

- Não consigo imaginar o motivo - ele levanta uma única sobrancelha. - Os dois combinavam tanto.

- Trabalhadores esforçados?

- Mais ou menos isso - pigarreia com sarcasmo. - Enfim, foi um prazer conversar com você. Se cuida, linda.

Minhas costas enrijecem quando ouço o termo carinhoso.

Quando foi que eu virei "linda"? Desgraçado filho da mãe!

Fico olhando suas costas musculosas e a bunda apertada na calça, enquanto ele traça o caminho de volta para a sua porta, totalmente indiferente a minha situação humilhante.

Eu o xingo mentalmente e faço um gesto obsceno com as duas mãos, antes de fazer uma coisa da qual, provavelmente, vou me arrepender pelo resto da vida.

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