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O soquete

Capítulo 2: O soquete

Ter esperança

As horas seguintes da reunião foram estranhas. Eu não conseguia me livrar da imagem de Brett, seu rosto congelado em minha mente como uma pintura que eu não conseguia apagar. De repente, a livraria parecia menos quente, as paredes apertaram ao meu redor, como se cada raio de luz filtrando pelas janelas fosse uma extensão de sua presença.

Eu tentei me concentrar no meu trabalho. Mas com cada livro que guardo, para cada cliente que servi, meus pensamentos retornaram inexoravelmente a ele. Por que ele me olhou assim? Por que ele disse meu nome, como se sempre o conhecesse?

Ele estava tão calmo, quase ameaçando em sua serenidade. Ele havia falado para me assistir. Eu tremei. A ideia de que um homem pode me monitorar, me conheça sem que eu percebesse, me perturbou profundamente. Eu era apenas um livreiro simples, o que eu poderia?

Fechei os olhos por um momento, perseguindo meus pensamentos. Mas eles sempre retornavam. "Vejo você em breve", disse ele. Como se tudo isso fizesse parte de um plano que eu ainda não entendi.

Naquela noite, dormi tarde, minha mente sempre agitou. Eu senti que algo ruim ia acontecer, algo que eu não poderia impedir, e isso me escapou completamente. Mas eu não tinha ideia do que era.

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No dia seguinte, fui ao meu trabalho como sempre, mas o peso da reunião anterior foi mais pesado nos meus ombros. Cheguei à livraria um pouco mais cedo do que o habitual, esperando que a atividade do dia pudesse me ajudar a me distrair. Mas assim que empurrei a porta, senti -me observado. A impressão que ele estava lá, em algum lugar, me seguiu. Eu me forcei a ignorar esse sentimento, mas sabia que ele não iria parar por aí.

No final da manhã, quando reorganizei uma nova prateleira, a campainha da porta tocou. Eu olhei para cima, e meu coração se apertava. Era ele.

Brett entrou na mesma presença que me impressionou pela primeira vez. Desta vez, ele usava uma jaqueta de couro, menos formal, mas igualmente impressionante. Ele foi direto para o balcão sem sequer olhar em volta, como se soubesse exatamente para onde estava indo. Eu tentei manter minha calma.

-"Olá", eu disse, minha voz um pouco mais fria do que antes, mas eu não conseguia esconder totalmente a ansiedade que se levantou em mim.

Ele sorriu um pouco, um sorriso que não alcançou seus olhos.

-"Eu sabia que você estaria lá", ele respondeu calmamente, quase tão óbvio.

Eu estava me tendendo. Como poderia ser tão certo disso?

-"Eu ... trabalho aqui todos os dias", gaguejei, tentando encontrar uma explicação racional em sua presença. Mas seu olhar penetrante me impediu de me concentrar. Ele me viu como um livro aberto.

-"Eu sei", disse ele, olhando para mim intensamente. "É por isso que estou aqui."

Ele se sentou sem esperar por um convite. Eu não tinha escolha a não ser me sentar também, embora a idéia de me encontrar em uma mesa com esse homem estivesse terrivelmente desconfortável. Senti uma emoção correndo pelas costas, mas não conseguia parar. Ele tinha esse estranho poder de dar à luz sentimentos contraditórios em mim: uma mistura de atração e medo, curiosidade e desconfiança.

"Você ainda não entende, certo?" Ele disse, quebrando o forte silêncio.

- "Entenda o quê?" Eu respondi, tentando parecer indiferente, mas minha voz estava tremendo um pouco.

Brett olhou para mim por um longo tempo, quase divertido com minha tentativa de resistência. Então ele se inclinou levemente para a frente, como se eu o ouvisse cuidadosamente.

- "Você é importante, esperança. Você ainda não o conhece, mas em breve o descobrirá. Já é tarde demais para recuar."

Suas palavras eram senso de significado. Senti uma bola formada no estômago. Eu mal entendi o que ele quis dizer, mas parte de mim sabia que suas palavras não eram apenas fruto de um capricho.

-"Não sei o que você quer", eu disse em uma voz mais firme, embora minhas mãos traam minha agitação marcando nervosamente.

Brett se levantou e se aproximou de mim, deliberadamente, como um predador que está prestes a fazer seu movimento. Ele tinha essa certeza nele, uma certeza que o tornava quase invencível.

-"Você é mais precioso do que pensa", ele sussurrou, seu rosto alguns centímetros da minha. "E eu vou ter certeza de que você entende."

Eu permaneci congelado. A proximidade de Brett me desestabilizou. Senti meu coração bater mais alto no meu peito, uma ascensão adrenalina que me levou a fugir, mas outra parte de mim foi atraída por ele, curiosa para entender o que ele realmente queria. Ele não era como os outros homens que eu conheci. Havia algo profundo, perigoso nele.

Eu me forcei a desviar o olhar, tentando retomar meus sentidos.

-"Não tenho nada a ver com suas coisas", eu disse, mas minha voz estava menos segura do que deveria.

Brett sorri, um sorriso que não foi nada reconfortante.

- "É aqui que você está errado, esperança. Tudo agora faz parte do meu mundo. E você aprenderá a entender."

Ele me deixou lá, sem mais uma palavra, indo em direção à porta. Antes de atravessar o limiar, ele se virou para mim uma última vez.

- "Eu vou voltar."

E sem outro olhar, ele se afastou.

Eu estava congelado atrás do balcão, minhas mãos apertadas na madeira. Fiquei abalado, assustado, mas algo em mim, um brilho desconhecido, disse que não podia me livrar dele com tanta facilidade. O que ele queria não era apenas me conhecer. Ele tinha um plano. E eu ainda não sabia se pudesse evitá -lo.

Mas, basicamente, parte de mim se perguntou se eu ainda não estava muito envolvido.

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