Capítulo 8
Permaneço em silêncio, com as mãos nos bolsos.
E por trás da sua pergunta, li muito mais.
Concordo com a cabeça entediado e depois ponho fim a tudo - Então, o que você decidiu? -
Ele bufa e se apoia no corrimão novamente - Em algumas horas você não terá mais notícias de Juo Nakamura. - ele conclui com um sorriso atrevido.
Ficamos imóveis por alguns segundos, piscando várias vezes, então vejo Alice gritar de alegria e se jogar em cima do gigante, que imediatamente a recebe.
- Você quer dizer... matá-lo? - ele pergunta inocentemente, levantando a cabeça do ombro.
Ela parece uma criança comparada a ele, que continua a abraçá-la e depois cai na gargalhada.
- Mas por quem você me levou? Claro que não. Tudo terminará como merece e você não terá nada com que se preocupar. - ele sorri para ela, fazendo-a cair.
Em tudo isso, minha reação não é igual à sua.
Sinto-me aliviado, mas também um pouco confuso.
Não pensei que ele concordaria tão facilmente porque normalmente os programas que Mizuki e eu demos a ele eram muito diferentes.
O que você viu lá de tão engraçado?
- Coisinha, que tal voltarmos para a sala para conversarmos com o jovem? -
E só agora percebo que os dois estão olhando para mim.
- Obrigado Eva. - ela sorri para ele e depois desaparece escada abaixo.
E senti seus olhos queimarem minhas costas.
- Não atormente esse pobre cérebro. Hiro irá buscá-lo em algumas horas. - ele diz me passando outro copo de rum.
Concordo com a cabeça, tomando um gole.
- Porque você fez isso? - Olho para o rosto dele, ainda me perguntando qual é a cor dos olhos dele.
Nunca os vi, mas imagino-os claramente de qualquer maneira.
- Você está realmente me perguntando? - ele sorri surpreso - Essa não é a pergunta que você deveria fazer, nós dois temos muito o que conversar mas, não tenho pressa, e você? -
Eu sorrio e balanço minha cabeça.
- Vejo que você está se recuperando bem desde que saiu daqui. -
Eu sabia que apresentaria esse discurso.
- Desde que você me tirou daqui, se é que alguma vez o fez. - Olho para ele com o canto do olho.
- Você não teve nada a ver com esses encrenqueiros e era meu dever fazer você entender. - confessa, observando toda a multidão comemorando.
E por isso estou muito grato.
Mas é claro que sempre foi difícil para mim contar a ele.
- De qualquer forma, repito, teremos outras oportunidades de conversar sobre isso porque tudo tem seu tempo e tenho certeza que na próxima vez que nos encontrarmos você voltará com todas as respostas e, quem sabe, talvez até consiga para dizer o que está na ponta da língua. – sorri lendo minha mente pela enésima vez.
É incrível.
Sorrio diante do homem mais extravagante e estranho que já conheci, com uma nova consciência.
Quando Hiro me disse que eu iria conhecê-lo, fiquei realmente desesperado só de pensar nisso.
Considerando que agora não me arrependo tanto.
- Mas Rui – me liga novamente.
-Há algo que você deveria saber. - diz ele com um tom que não augura nada de bom.
Já são quatro da manhã quando, estupefato, me despeço de Eva.
Estou quase no elevador, pronto e disposto a ir, mas uma figura muito familiar acha adequado prolongar esta noite difícil bloqueando meu caminho.
-Mizuki. -
-Rui. - ele sorri, cruzando os braços sobre o peito.
- Você tem que me dizer alguma coisa? -
- Ah, mas vamos lá - ele bufa - Você sabe que nunca fui de muitas palavras, sempre preferi... fatos. - ele sorri, passando os dedos pelo meu peito.
Farto de toda a situação, retiro minha mão dela.
- Quer que eu acredite que você está correndo em direção a ela? - parece ofendido.
E espere um minuto, quem está correndo para quem?
- Na verdade não estou correndo em direção a ninguém Mizuki, só estou cansado e gostaria de descansar. - Ele alegou.
- Ah, então devo ter me enganado! - sorri novamente - Por um momento pensei que fosse resgatá-lo. - morde o lábio.
Eu franzo minha testa.
- Que queres dizer? -
- Mas como? Você não viu nada? Ah, aí está – ele finge espanto, olhando para a nossa esquerda.
Sigo seu olhar e a figura manca de Drake me faz franzir ainda mais a testa.
- Drake, vejo que não saiu como você esperava. - a ruiva zomba.
- Cale a boca, Mizu. - Ele me encara, depois me encara, e antes de desaparecer na esquina, noto um sorriso estranho que provoca um salto em meu cérebro.
Começo a sentir um calor vindo do peito, que aos poucos chega às têmporas.
Cerro os punhos e olho para Mizuki, como se buscasse uma confirmação do que estou pensando.
E seu maldito sorriso, é isso.
Amaldiçoo enquanto ando pelo corredor longo e escuro, iluminado apenas por lâmpadas vermelhas fracas.
Acelero o passo e, assim que o vejo, cerro a mandíbula.
Ele se vira ao ouvir meus passos e para, encostado na parede - Aaah, está falando sério? - abra os braços.
- Onde? - pergunto me aproximando alguns centímetros dele.
- E o que diabos eu sei - - meus dedos em seus lábios, impedindo-o de terminar aquela bobagem.
Ele cai no chão, olhando para a mão manchada de sangue – O que diabos há de errado com você? Você está louco? -
Agarro a gola de sua camisa e o trago ao meu nível.
Ele começa a chutar quando não consegue mais sentir o chão sob seus pés.
- Onde? - Eu repito.
O fedorento sorri. Ele deve ter ido ver sua mãe para chorar. -
Ah, não
. Eu não quis dizer isso.
- Chega de merda! – cospe sangue enquanto me implora para parar.
Mas eu vejo preto.
Não sinto nada, exceto raiva.
Deixo-o ali, indefeso sob meus pés, e começo a correr.
Subo as escadas porque esperar o elevador não me permite desabafar o que sinto.
Quanto mais corro, mais espero que aquele verme não tenha feito nada com ele.
Subo o último degrau sem fôlego quando a vejo agachada na frente do nosso quarto.
Ele mantém a cabeça escondida entre os joelhos.
Corro em sua direção e assim que chego na frente dela, a vejo rapidamente enxugando as lágrimas.
Eu me ajoelho - Ei - pego seu rosto entre as mãos, me afogando naqueles grandes olhos vermelhos e brilhantes.
"Ei", ele responde, fungando.
- Você finalmente chegou, pensei que envelheceria aqui. - sorri.
Idiota.
Eu a pego no colo, pegando-a desprevenida - O que você está fazendo? - ele pergunta franzindo a testa, mas apesar disso ainda me envolve com os braços e as pernas.
Não respondo, entro na sala e coloco-o na primeira superfície que vejo.
A estante da entrada, aquela do espelho onde a vi passando um batom vermelho que me deixou pasma, imaginando aqueles lábios de muitas outras e infinitas formas.
O som de alguns objetos caindo no chão ecoa pela sala.
-Rui! - ele me repreende, sem tirar as mãos dos meus ombros - Agora o cheiro daquele creme vai invadir o quarto inteiro. - ele bufa, referindo-se ao creme de Eva.
Mas é quando ele balança a cabeça que percebo um detalhe que faz meu sangue gelar.
Ou ferva, não consigo entender nada agora.
E ela também deve ter notado, pois rapidamente esconde o pescoço com os dedos.
- Deixa-me ver. - Ele alegou.
- Não é nada, tire isso. - Ele desvia o olhar, me empurrando com a outra mão livre.
Mas isso não me move nem um centímetro.
- Tire sua maldita mão. - continuo num tom que não permite respostas.
Estreito as pálpebras ao ver que ela não está me ouvindo e com um gesto imediato abro suas coxas, me colocando no meio e bloqueando seus pulsos nas laterais do espelho.
Maldito filho da puta.
- Não é nada... o importante é que tenhamos a ajuda da Eva, certo? -
Não é nada?
Cerro os dentes sem tirar as íris daquele maldito lugar, agora bordô.
Eu sinto que sou responsável por tudo isso.
- Agora você tem que ficar parado. - digo, mas na verdade é como se alguém estivesse falando por mim.
- Porque- - Eu não dou tempo para ele terminar, corro ali mesmo.
Enevoado.
Impaciente.
Estou bravo porque não consegui parar essa merda.
"Ferm-" ele reclama, tentando se libertar.
Mas nada, na verdade.
Começo a chupar com mais força, sentindo minha língua borbulhar.
Será pior para mim?
Talvez, definitivamente.
Mas isso não importa mais para mim.
Não agora, quando gostaria de eliminar todos os vestígios disso.
Soltei um grunhido enquanto ela apertava as coxas em volta da minha pélvis.
E foda-se.
Sentir suas formas, seu cheiro e os pequenos gemidos que saem de seus lábios começam a criar uma situação perigosa lá embaixo.
Inspiro pelo nariz, tentando respirar mais já que estou começando a sentir falta de ar, e é quando dou uma pequena mordida que sinto ele tremer.
- Você está me machucando... - ele gagueja em um sussurro.
Eu imediatamente me afasto e foco meus olhos nos dele.
E meu Deus, que visão.
- Você fez outros? - pergunto, evitando enlouquecer com sua expressão confusa, mas ao mesmo tempo animada.
Ela balança a cabeça e eu solto seus pulsos, apoiando as mãos em suas coxas.
- Dei um chute tão forte na canela dele que ouvi um rangido, então aproveitei e fugi. - ele confessa mordendo o lábio.
Deixo escapar um suspiro de alívio e aceno.
Agora eu acho mesmo que tenho que separar, senão quem vai ter que amarrar sou eu.
- Mas agora foi você quem deixou tudo ainda mais constrangedor. - ele faz beicinho, tocando o local onde meus lábios haviam decidido morrer ali.
- Vindo de quem me beijou na frente de todo mundo, é engraçado. - Dou um passo para trás, insinuando um sorriso.