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Capítulo 1

Interessante .

Foi assim que descobri o comportamento dele.

Também é verdade que tive vergonha de ladrão por provocá-lo assim.

Digamos apenas que não é meu estilo, mas percebi alguma hesitação na reação dele.

Olhos semicerrados me repreendendo, lábios franzidos, mandíbula cerrada, peito subindo e descendo.

E não quero atirar muito alto, mas pensei ter visto o início do Parkinson em suas mãos.

Essa reação me fez sentir... bem.

Satisfeito.

A verdade é que agora me encontro no banheiro, em frente ao espelho, com essa subespécie de vestido nas mãos.

E mais, obrigado a usá-lo, pois é o único que se aproxima da decência.

Primeiro, é preto.

Nada de ouro, amarelo, fúcsia, lilás ou vários arlequins.

É algodão.

E nem rendado, nem cheio de lantejoulas irritantes.

Possui decote que expõe tanto os ombros quanto as clavículas, as mangas são longas e justas até a cintura, depois a saia cai suavemente e um pouco mais larga até o meio da coxa.

Ou pelo menos essa foi a primeira impressão.

Depois de colocado, não chega nem ao meio da coxa.

- Posso colocar algo seu? - grito para aquele que, calmo e feliz como a maioria dos homens, não terá que aguentar toda essa merda mental.

- Não porque? - responde com apatia.

- Não porque? - Eu o imito, fazendo caretas um tanto infantis.

Vou encontrar outro jeito.

Tento puxá-lo para baixo, tentando não usar muita força e evitar quebrá-lo, mas tudo que faço é causar outro problema.

Se eu abaixar a saia, o decote também desce.

Se eu levantar o decote a saia sobe também.

Seios ou bunda, qualquer um dos dois teria me traído.

- Putain! - xingo, colocando as mãos nas laterais da pia.

- Posso ver a causa de suas reclamações? - ele pergunta do outro lado da loja.

- Te odeio. - informo ele se olhando no espelho.

- Eu sei e é mútuo, então vamos acabar com essa farsa e sair do covil da vergonha. -

- A probabilidade de sucesso é baseada neste vestido? -

- Mais ou menos sim, então se você não sair eu entro. -

- Aqui, espere! - Meu Deus, que ansiedade.

-Alicia, temo que em cinco minha paciência acabe, - começa a contagem regressiva.

Droga, não sei mais o que consertar.

Devo baixar ou levantar?

Como se até cinco minutos atrás você nem tivesse se curvado diante dele.

Extremamente detalhado.

- Três, -

- Faltam mais quatro, idiota! - grito o fazendo rir.

Tento prender o cabelo com um bastão de madeira que encontrei no banheiro, mas graças ao meu mal de Parkinson o efeito desejado é quase escandaloso.

- Dois Um. -

Rui abre a cortina.

Abro a cortina.

Nós dois abrimos ao mesmo tempo, mas na direção oposta, e não nos deparamos com nada.

Contenho uma risada e, assim que ouço a dele, explodi também.

É incrível, quanto mais ele sente o meu, mais o dele aumenta.

Pela primeira vez, realmente rimos juntos?

E é uma risada real e libertadora, especialmente por causa de uma coisa estúpida, devo acrescentar.

Mas eu nunca quero parar.

Na verdade, é ele quem faz isso.

Puff, a magia acabou.

Só se ouve o eco do meu e, quando enxugo uma lágrima que me escapou, olhando para a dele, pronuncio o último verso estrangulado.

Por que você está tão sério agora?

E especialmente...

- A sério? - levanto uma sobrancelha - Um suéter preto e short bege? - pergunto olhando para sua roupa bem simples.

Ele me encara por alguns segundos e depois balança a cabeça: não sou eu que tenho que causar uma boa impressão. -

Franzo o nariz, sem entender suas palavras, mas dou de ombros.

É inútil pedir tanto.

- Então estamos praticamente terminando. - Sopro entediado na mecha que cai no meu rosto.

Eu o vejo sorrir e automaticamente eu também.

Outro momento.

Maldita seja.

Por que ele faz isso tão raramente?

Ela tem uma risada e um sorriso tão lindos que... isso nunca deveria parar.

Ele dá alguns passos mais perto, ainda sorrindo, e eu o vejo levantar uma mão e lentamente colocá-la atrás da minha cabeça.

Sinto uma leve pressão e todas as ondas, agora secas, caem livremente sobre meus ombros.

- Agora está melhor. - ele se agacha até minha altura, colocando a varinha de madeira em minhas mãos.

Não dou muita importância ao que ele acabou de dizer, limito-me a uma careta de desgosto enquanto continuo observando seus lábios que, estranhamente, ainda estão levantados.

Enquanto eu puder vou aproveitar.

- E só para constar, você também não deveria parar. - Ele aperta meu lábio inferior com dois dedos e se afasta, virando as costas para mim.

- Então... - Estou começando a sentir o início da taquicardia.

- Vou comer alguma coisa, já volto, - ele abre a porta e se vira, apontando o dedo para mim - Nem a um pé daqui. - ele me lembra antes de fechar.

Fico exatamente na mesma posição por cerca de três minutos.

É possível que meus pensamentos não possam ficar aqui?

Bato na têmpora direita enquanto tento recuperar uma cor mais natural.

Primeiro eu o beijo, depois até tenho um orgasmo, depois provoco ele me curvando com um brasileiro miserável por cima e por fim digo que praticamente adoro o sorriso dele.

Ei.

A ele.

- Quantos anos tenho eu? - ele me perguntou, levantando as mãos acima da cabeça.

Fecho os olhos e esfrego-os pensando que este dia é um dos mais longos da minha vida.

E são cerca de oito da tarde, ainda dá tempo até as duas da manhã.

Eu bufo e caminho até a varanda e sento na cadeira, puxando os joelhos até o peito.

Olho para o pôr do sol, agora lindo e desaparecido, e a frase que acabei de dizer me vem à mente.

- E só para constar, você também não deveria parar -

Não há nada que você possa fazer.

Hoje deve ser o dia do sorriso, já que não posso deixar de fazê-lo.

Cerca de meia hora depois, ouço a porta fechar e me viro automaticamente.

Vejo Rui carregando um carrinho cheio de bandejas.

- O que é isso? - Vou em direção a ele me equilibrando nos calcanhares.

- Comida. Você sabe, aquele tipo de comida que todo ser vivo precisa? - brinca ele, colocando o carrinho na frente da cama.

Reviro os olhos e sento na beirada deste último.

Dou um pulo e me inclino para frente, dada a graça com que ele se sentou ao meu lado.

Ele agarra meu braço e eu olho para ele, abrindo a boca.

Em teoria eu deveria ter agradecido, mas meu estômago levou a melhor e gemeu.

Um daqueles barulhos altos e desagradáveis.

- Veja bem, se alguém não quer se alimentar, as reclamações são um dos primeiros sinais de alerta. -

- Então o que estamos esperando? - Esfrego as mãos, ansiosa para descobrir os dois frascos à nossa frente.

Levo meus dedos até a primeira tampa de metal, mas antes que eles possam tocá-la, sinto minha mão sendo esbofeteada.

- Oh! - Retrato ela massageando-a e olhando para ele.

- Seja paciente e vamos jogar. -

Um que?

- Estou com fome. - Ele alegou.

- Eu também, mas você só vai comer se adivinhar o que eu pedi. - ele sorri, recostando-se e apoiando os cotovelos no colchão.

Eu bufei e balancei a cabeça.

Desde que estejamos com vontade de brincar, em vez de criticarmos um ao outro, tentarei agradá-lo.

Fico na frente dele e tento ajustar o vestido o melhor que posso sobre as coxas, depois de cruzar as pernas.

- Hum... Sushi? - começar.

ele nega com a cabeça.

- Hum, espaguete então? -

Ele balança a cabeça.

- Bife. - Eu tento de novo.

ele nega com a cabeça.

Já estou ficando nervoso.

Fecho os olhos e respiro fundo - hambúrguer, schnitzel, pãezinhos, pizza, tacos, salada - - cuspo tudo de uma vez com a única esperança de que ele acene para um deles.

- Salada? A sério? - Levante uma sobrancelha.

Dou de ombros.

Tremer.

Aquele maldito.

Cabeça.

- Oh vamos! Que chato! -

Ele concorda.

- Huh? - Eu franzo a testa.

- Bolas, veado. - esclarece.

Pisco cerca de quinze vezes, observando sua seriedade.

- Bolas de veado... - repito em um sussurro.

Vejo-o ocupado mordiscando a bochecha e então, depois de tossir, tira os sapatos e cruza as pernas na cama.

Estamos frente a frente, com os olhos apontados um para o outro e na mesma posição.

Ele se divertiu, eu estava definitivamente preocupado.

- Fecha teus olhos. - ordena ele, com aquele sorriso que não augura nada de bom.

Sim.

- Esqueça. - Coloco as mãos atrás de mim e estico os braços, desafiando-o com o olhar.

- Garanto que não são bolas de veado, mas você mesmo terá que adivinhar. -

Eu aperto os olhos - você acha que sou estúpido? -

- Não, acho que sim. Mas não estou mentindo para você. -

- Oh, que fofo - sorrio sem diversão.

Meu estômago improvisa outro sozinho e está tudo bem, já que não comi nada desde esta manhã.

Ele baixa os olhos para minha barriga e quando os traz de volta para os meus, sorri triunfante.

E também disse a ele que gosto quando ele faz isso.

Eu retiro tudo.

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